Sobre a Violação da Unidade Encoberta com Gritos de Unidade

V. I. Lénine

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III. Sobre a Desagregação do Bloco de Agosto


Mas existe ainda outro meio, e muito importante, de verificar a justeza e a veracidade das acusações de cisionismo lançadas por Trótski. Vós achais que são precisamente os «leninistas» os cisionistas? Muito bem. Admitamos que tendes razão.

Mas, se tendes razão, porque é que então todas as outras fracções e grupos não demonstraram, sem os «leninistas» e contra os «cisionistas», a possibilidade de unidade com os liquidacionistas?... Se somos nós os cisionistas, porque é que então vós, os unificadores, não vos unificastes entre vós e com os liquidacionistas? Pois com isso teríeis mostrado de facto aos operários a possibilidade da unidade e a sua utilidade!...

Recordemos a cronologia.

Em Janeiro de 1912 os «cisionistas» «leninistas» declaram que são o partido sem liquidacionistas e contra eles.

Em Março de 1912 contra estes «cisionistas» unificam-se nas suas folhas russas e nas páginas do Vorwärts, jornal social-democrata alemão, todos os grupos e «fracções»: liquidacionistas, trotskistas, vperiodistas, «bolcheviques-partidistas» «mencheviques-partidistas». Todos juntos em boa harmonia, unanimemente, coordenados, de uma só voz, insultam-nos de «usurpadores», «mistificadores» e de outros qualificativos não menos ternos e carinhosos.

Muito bem, senhores! Mas nada teria sido mais fácil para vós do que unir-vos contra os «usurpadores» e dar aos «operários avançados» um exemplo de unidade! Será que os operários avançados, se tivessem visto por um lado a unidade de todos contra os usurpadores, a unidade tanto dos liquidacionistas como dos não liquidacíonistas, e, por outro lado, apenas os «usurpadores», os «cisionistas», etc, não teriam apoiado os primeiros??

Se as divergências são apenas inventadas ou exageradas, etc, pelos «leninistas», e de facto é possível a unidade dos liquidacionistas, dos plekhanovistas, dos vperiodistas, dos trotskistas, etc, porque é que não o demonstrastes em dois anos com o vosso exemplo?

Em Agosto de 1912 reuniu-se a conferência dos «unificadores». Logo começou a divisão: os plekhanovistas negaram-se por completo a ir, os vperiodistas foram mas saíram com protestos e com o desmascaramento do carácter fictício de todo esse empreendimento.

«Unificaram-se» os liquidacionistas, os letões, os trotskistas (Trótski e Semkóvski), os caucasianos, o grupo de sete. Unificaram-se? Nós declarámos já então que não, que isso era apenas uma camuflagem do liquidacionismo. Desmentiram-nos os acontecimentos?

Exactamente um ano e meio depois, em Fevereiro de 1914, verifica-se:

  1. Que o grupo de sete se desagrega Buriánov afasta-se dele.
  2. Que no novo «grupo de seis» que ficou Tchkheídze e Tulíakov ou outro qualquer não conseguem pôr-se de acordo sobre a resposta a Plekhánov. Declaram na imprensa que lhe vão responder, mas não podem responder.
  3. Que Trótski, desaparecido realmente há já muitos meses do Lutch, se separa, editando a «sua» revista: a Borbá. Chamando a esta revista «não fraccionária», Trótski diz deste modo claramente (claramente para todos os que conheçam minimamente o assunto) que a Nacha Zariá e o Lutch se revelaram na opinião dele, de Trótski, unificadores «fraccionistas», isto é, maus.

Se você é unificador, caro Trótski, se você declara ser possível a unidade com os liquidacionistas, se você se mantém juntamente com eles na posição das «ideias fundamentais, formuladas em Agosto de 1912» (Borbá n.° 1, p. 6, Da redacção), porque é que então você próprio não se unificou com os liquidacionistas na Nacha Zariá e no Lutch?

Quando no Sévernaia Rabótchaia Gazeta, ainda antes do aparecimento da revista de Trótski, saiu a venenosa nota sobre a «não esclarecida» fisionomia da revista e de que «nos círculos marxistas se falava bastante» sobre ela, o Put Právdi (n.° 37)(3), como é natural, teve de desmascarar a mentira: «nos círculos marxistas falava-se» da nota secreta de Trótski contra os lutchistas; a fisionomia de Trótski e o seu afastamento do Bloco de Agosto estão plenamente «esclarecidos».

4) Án, conhecido chefe dos liquidacionistas caucasianos, que se pronunciara contra L. Sedov (e recebera por isso uma repreensão pública de F. Dán e C.a), aparece agora na Borbá. Fica «não esclarecido» se os caucasianos desejam ir agora com Trótski ou com Dán.

5) Os marxistas letões, que eram a única organização plenamente incontestável no «Bloco de Agosto», afastaram-se formalmente dele, declarando (1914) na resolução do seu último congresso, que

«a tentativa por parte dos conciliadores de se unificarem a qualquer preço com os liquidacionistas (conferência de Agosto de 1912) revelou-se inútil, e os próprios unificadores caíram na dependência ideológico-politica dos liquidacionistas».

Isto foi declarado, depois de uma experiência de ano e meio, por uma organização que se mantém ela própria numa posição neutral, não desejando entrar em ligação com nenhum dos dois centros. Tanto maior peso deve ter para Trótski esta resolução de pessoas neutrais!

Já chega, parece?

As pessoas que nos acusavam de cisionismo, de não querermos ou não sabermos entender-nos com os liquidacionistas, não se entenderam elas próprias com eles. O Bloco de Agosto revelou-se uma ficção e desagregou-se.

Escondendo aos seus leitores esta desagregação Trótski engana-os.

A experiência dos nossos adversários demonstrou que temos razão, demonstrou a impossibilidade de trabalhar com os liquidacionistas.

IV. Conselhos de um Conciliador ao «Grupo de Sete»

O artigo de fundo do n.° 1 da Borbá, A Cisão da Fracção na Duma, contém conselhos do conciliador aos sete deputados liquidacionistas (ou que vacilam para o lado do liquidacionismo) da Duma de Estado. A chave destes conselhos é a seguinte frase:

«dirigir-se ao grupo de seis em primeiro lugar em todos os casos em que é necessário chegar a acordo com outras fracções» (p. 29).

Eis o conselho sensato que entre outras coisas tem pelos vistos o efeito de provocar divergências entre Trótski e os liquidacionistas-lutchistas. Desde o próprio início da luta das duas fracções na Duma, depois da resolução da conferência de Verão (1913)[N309], os pravdistas mantiveram precisamente este ponto de vista. A fracção operária social-democrata da Rússia também depois da divisão declarou mais de uma vez na imprensa que continua a manter-se nesta posição, apesar das repetidas recusas dos «sete».

Desde o próprio início, desde a resolução da conferência de Verão, nós pensámos e pensamos que os acordos sobre as questões do trabalho na Duma são desejáveis e possíveis: se tais acordos foram praticados mais de uma vez com os democratas camponeses pequeno-burgueses (os trudoviques), eles são naturalmente tanto mais possíveis e necessários com os políticos operários pequeno-burgueses, liberais.

Há que não exagerar as divergências, há que encarar a realidade de frente: o «grupo de sete» são pessoas que vacilam para o lado do liquidacionismo, que ontem seguiam completamente Dán, hoje olham ansiosamente de Dán para Trótski e vice-versa. Os liquidacionistas são um grupo de legalistas que se afastaram do partido e que fazem uma política operária liberal. Dada a sua negação da «clandestinidade», nem sequer se pode falar de unidade com este grupo nos problemas da construção do partido e do movimento operário. Quem pensa de outra forma está profundamente enganado, não tem em conta a profundidade das transformações ocorridas depois de 1908.

Mas acordos com este grupo fora do partido ou próximo do partido sobre questões isoladas são, naturalmente, admissíveis: nós devemos sempre obrigar também este grupo, assim como os trudoviques, a fazer a escolha entre a política operária (pravdista) e a liberal. Por exemplo, na questão da luta pela liberdade de imprensa revelaram-se claramente nos liquidacionistas vacilações entre a colocação liberal da questão, negando ou esquecendo a imprensa não censurada, e a política contrária, operária.

No quadro da política da Duma, onde não são levantadas directamente as questões mais importantes, extra-Duma, os acordos com os sete deputados operários liberais são possíveis e desejáveis. Neste ponto Trótski passou dos liquidacionistas para a posição da conferência de Verão (1913) do partido.

Só que não se deve esquecer que, do ponto de vista do grupo fora do partido, entende-se por acordo algo completamente diferente do que habitualmente entendem por isso as pessoas do partido. Para as pessoas sem partido o «acordo» na Duma é a «elaboração da resolução ou da linha tácticas». Para as pessoas do partido o acordo é a tentativa de atrair outros para a realização da linha do partido.

Por exemplo, os trudoviques não têm partido. Entendem por acordo a «livre», por assim dizer, «elaboração» de uma linha, hoje com os democratas-constitucionalistas, amanhã com os sociais-democratas. Ao contrário, nós entendemos por acordo com os trudoviques uma coisa completamente diferente: nós temos decisões do partido sobre todas as questões importantes de táctica, e nunca nos afastaremos destas decisões; entrar em acordo com os trudoviques significa para nós atraí-los para o nosso lado, convencê-los da nossa razão, não renunciar às acções comuns contra os cem-negros e contra os liberais.

Até que ponto Trótski se esqueceu (não foi em vão que ele esteve com os liquidacionistas!) desta diferença elementar entre os acordos do ponto de vista do partido e sem partido, mostra-o a seguinte divagação sua:

«É necessário que pessoas de confiança da Internacional reúnam ambas as partes da nossa representação parlamentar cindida e examinem com elas aquilo que as une e aquilo que as cinde... Pode ser elaborada uma resolução táctica pormenorizada que formule a bases da táctica parlamentar...» (n.° 1, pp. 29-30).

Eis uma imagenzinha característica e típica da colocação liquidacionista da questão! O partido é esquecido pela revista de Trótski: valerá a pena, com efeito, lembrar semelhante ninharia?

Quando na Europa (e Trótski gosta de falar fora de propósito de europeísmo) chegam a acordo ou se unificam diferentes partidos, as coisas passam-se assim: os seus representantes encontram-se e esclarecem em primeiro lugar os pontos de divergência (precisamente aquilo que a Internacional colocou na ordem do dia para a Rússia, não incluindo de modo algum na resolução a afirmação irreflectida de Kautsky de que «o velho partido não existe»). Uma vez esclarecidos os pontos de divergência, os representantes estabelecem que decisões (resoluções, condições, etc.) sobre questões de táctica, de organização, etc, devem ser apresentadas aos congressos de ambos os partidos. Se se consegue estabelecer um projecto de decisões comuns, os congressos decidem adoptá-las ou não; se se estabelecem propostas diferentes, da mesma maneira os congressos de ambos os partidos as examinam em definitivo.

Para os liquidacionistas e para Trótski são «simpáticos» apenas os modelos europeus de oportunismo, mas de forma alguma os modelos de espírito de partido europeu.

A «resolução táctica pormenorizada» será elaborada pelos deputados da Duma!! Os «operários avançados» russos, com os quais não é por acaso que Trótski está tão descontente, podem ver claramente neste exemplo até que ponto chega em Viena e em Paris o ridículo projectismo dos grupinhos no estrangeiro, que convenceram mesmo Kautsky de que na Rússia «não há partido». Mas se às vezes se consegue enganar os estrangeiros neste ponto, os «operários avançados» russos (correndo o risco de provocar um novo descontentamento ao terrível Trótski) rir-se-ão na cara destes projectistas.

«As resoluções tácticas pormenorizadas — dir-lhes-ão eles — são elaboradas entre nós pelos congressos e conferências do partido (não sabemos como se faz entre vós, os sem partido), por exemplo de 1907, 1908, 1910, 1912 e 1913. Daremos a conhecer com satisfação aos estrangeiros não informados, bem como aos russos de fraca memória, as nossas decisões de partido, e com maior satisfação ainda pediremos aos representantes do grupo de sete ou aos 'agostistas' ou aos 'levicistas'[N310], ou ainda a quem quer que seja", que nos dêem a conhecer as resoluções dos seus congressos ou conferências, que levem ao seu próximo congresso a questão precisa sobre a atitude para com as nossas resoluções ou para com as resoluções do congresso letão neutral de 1914, etc.»

Eis o que dirão os «operários avançados» da Rússia aos diversos projectistas, eis o que já disseram, por exemplo, na imprensa marxista, os marxistas organizados de Petersburgo. Quererá Trótski ignorar estas condições publicadas para os liquidacionistas? Tanto pior para Trótski. O nosso dever é advertir os leitores de como é ridículo o projectismo «unificador» (do tipo da «unificação» de Agosto?), que não quer ter em conta a vontade da maioria dos operários conscientes da Rússia.

V. As Concepções Liquidacionistas de Trótski

Trótski procurou falar o mínimo possível na sua nova revista quanto ao fundo das suas concepções. O Put Právdi (n.° 37) já assinalou que Trótski não disse uma palavra sequer nem sobre a questão da clandestinidade nem sobre a palavra de ordem de luta por um partido legal, etc.(4) Eis porque, entre outras coisas, neste caso nós falamos do pior fraccionismo, quando uma organização separada quer surgir sem qualquer fisionomia ideológico-política.

Mas se Trótski não quis expor directamente as suas concepções, uma série de passagens da sua revista mostra que ideias ele põe em prática pela calada e às escondidas.

Lemos logo no primeiro artigo de fundo do primeiro número:

«A social-democracia de antes da revolução era entre nós um partido operário somente pelas suas ideias e pelos seus objectivos. Na realidade ela representava em si a organização da intelectualidade marxista, que levava atrás de si a classe operária que despertava».

Esta é uma cantilena liberal e liquidacionista há muito conhecida, que serve de facto de introdução à negação do partido. Esta cantilena baseia-se na deturpação dos factos históricos. Já as greves de 1895-1896 criaram um movimento operário de massas, ligado tanto ideológica como organicamente à social-democracia. E também nestas greves, na agitação económica e não económica, «a intelectualidade levava atrás de si a classe operária»!!?

Ou então eis os dados exactos sobre os crimes contra o Estado nos anos de 1901-1903 em comparação com a época anterior:

Por cada 100 participantes no movimento libertador (processados por crimes contra o Estado), o número de pessoas por profissões era:

Época Na agricultura Na indústria e comércio Profissões liberais e estudantes Ocupações indeterminadas e sem ocupação
1884-1890
7,1
15,1
53,3
19,9
1901-1903
9,0
46,1
28,7
8,0

Vemos que nos anos 80, quando não existia ainda partido social-democrata na Rússia, quando o movimento era «populista», predominava a intelectualidade: ela dá mais de metade dos participantes.

Este quadro muda por completo nos anos de 1901-1903, quando já existia o partido social-democrata, quando realizava o seu trabalho o velho Iskra, A intelectualidade já está em minoria entre os participantes no movimento, os operários («indústria e comércio») são já muito mais do que os intelectuais, e os operários e camponeses em conjunto são mais de metade do número total.

Foi precisamente na luta de correntes dentro do marxismo que se manifestou a ala intelectual-pequeno-burguesa da social-democracia, começando pelo «economismo» (1895-1903), continuando com o «menchevismo» (1903-1908) e o «liquidacionismo» (1908-1914). Trótski repete as calúnias liquidacionistas contra o partido, temendo referir-se à história de vinte anos de luta de correntes dentro do partido.

Eis outro exemplo:

«Na sua atitude para com o parlamentarismo, a social-democracia russa passou pelos mesmos três estádios... (como noutros países)... primeiro o 'boicotismo'... depois o reconhecimento de princípio da táctica parlamentar, mas...» (magnífico 'mas', o mesmo 'mas' que Chtchedrine traduziu com a frase: as orelhas não crescem mais alto do que a testa, não crescem!) "... com objectivos puramente de agitação... e, por fim, a transferência para a tribuna da Duma... de reivindicações imediatas...» (n.° 1, p. 34).

Novamente uma deturpação liquidacionista da história. A diferença entre o segundo e o terceiro estádios foi inventada para fazer passar furtivamente o reformismo e o oportunismo. O boicotismo, como estádio na «atitude da social-democracia face ao parlamentarismo» não existiu nem na Europa (ali houve e continua a haver o anarquismo), nem na Rússia, onde o boicote, por exemplo, da Duma de Bulíguine se referia somente a determinada instituição, nunca se relacionando com o «parlamentarismo», e foi fruto da luta peculiar do liberalismo e do marxismo pela continuação da arremetida. De como esta luta se reflectiu na luta das duas correntes dentro do marxismo, Trótski nem abre a boca!

Se se aborda a história, há que explicar as questões concretas e as raízes de classe das diversas correntes; quem desejar estudar de modo marxista a luta de classes e a luta de correntes pela participação na Duma de Bulíguine verá aí as raízes da política operária liberal. Mas Trótski «aborda» a história para fugir às questões concretas e inventar uma justificação ou um simulacro de justificação para os oportunistas actuais!

"... De facto todas as correntes — escreve ele — empregam um e o mesmo método de luta e de construção». — "Os gritos sobre o perigo liberal no nosso movimento operário são simplesmente uma grosseira caricatura sectária da realidade» (n.° 1, pp. 5 e 35).

Esta é uma defesa muito clara dos liquidacionistas e muito irritada. Mas nós permitir-nos-emos, no entanto, tomar pelo menos um pequeno facto dos mais recentes — Trótski lança apenas frases, nós gostaríamos que os próprios operários meditassem neste facto.

O facto é que o Sèvernaia Rabótchaia Gazeta escrevia no seu número de 13 de Março:

«Em vez de se sublinhar a tarefa precisa, concreta, que a classe operária tem diante de si — obrigar a Duma a rejeitar o projecto de lei (sobre a imprensa), propõe-se uma vaga fórmula de luta por 'palavras de ordem não truncadas', paralelamente com a publicidade da imprensa ilegal, o que só pode debilitar a luta dos operários pela sua imprensa legal."

Eis a defesa documental, clara e precisa da política liquidacionista e a crítica da pravdista. Pois bem, haverá uma pessoa que saiba ler e escrever que diga que ambas as correntes empregam nesta questão «um e o mesmo método de luta e de construção»? Haverá uma pessoa que saiba ler e escrever que diga que os liquidacionistas não aplicam aqui uma política operária liberal? que o perigo liberal no movimento operário é aqui uma invenção?

Trótski evita os factos e as referências concretas porque eles desmentem implacavelmente todas as suas irritadas exclamações e frases pomposas. Evidentemente que dar-se ares e dizer «grosseira caricatura sectária» é muito fácil. Acrescentar umas palavrinhas ainda mais mordazes, ainda mais pomposas, sobre a «emancipação em relação ao fraccionismo conservador» também não é difícil.

Mas não será isto demasiado barato? Não sairá esta arma do arsenal da época em que Trótski brilhava perante os estudantes liceais?

Os «operários avançados», com os quais Trótski se irrita, quererão no entanto que se lhes diga directa e claramente: aprovais o «método de luta e de construção» que está expresso com exactidão na citada avaliação da campanha política concreta? sim ou não? se sim, então isso é política operária liberal, isso é traição ao marxismo e ao partido, e falar de «paz» ou de «unidade» com tal política, com grupos que a aplicam, significa enganar-se a si próprio e aos outros.

Não? — então dizei-o explicitamente. Porque o operário actual não se surpreende, não se satisfaz e não se assusta com frases.

Diga-se de passagem: a política pregada pelos liquidacionistas na passagem citada é estúpida mesmo do ponto de vista liberal, pois a aprovação de uma lei na Duma depende dos «zemtsi-outubristas» do tipo de Bennigsen, que já mostrou as suas cartas à comissão.

* * *

Os velhos participantes no movimento marxista na Rússia conhecem bem a figura de Trótski, e não vale a pena falar-lhes dela. Mas a jovem geração operária não a conhece, e é necessário falar, pois trata-se de uma figura típica de todos os cinco grupinhos no estrangeiro, que de facto também vacilam entre os liquidacionistas e o partido.

Nos tempos do velho Iskra (1901-1903), para esses vacilantes e trânsfugas que passavam dos «economistas» para os «iskristas» e vice-versa, havia uma alcunha: «trânsfugas de Túchino» (assim chamavam na Época da Confusão311 na Rússia aos guerreiros que fugiam de um campo para o outro).

Quando falamos de liquidacionismo, designamos certa corrente ideológica, que foi crescendo com os anos, e ligada pelas raízes ao «menchevismo» e ao «economismo» em vinte anos de história do marxismo, ligada à política e à ideologia de determinada classe, a burguesia liberal.

Os «trânsfugas de Túchino» declaram-se acima das fracções com base na única razão de que eles «tomam de empréstimo» as ideias hoje de uma fracção e amanhã de outra. Trótski era um «iskrista» apaixonado nos anos de 1901-1903, e Riazánov chamou ao seu papel no congresso de 1903 papel de «cacete leninista». Nos fins de 1903 Trótski era um menchevique apaixonado, isto é, dos iskristas passou para os «economistas»; proclama que «entre o velho e o novo Iskra há um abismo». Nos anos de 1904-1905 afasta-se dos mencheviques e ocupa uma posição vacilante, ora colaborando com Martínoveconomista») ora proclamando a «revolução permanente» de um esquerdismo absurdo. Em 1906-1907 aproxima-se dos bolcheviques e na Primavera de 1907 declara-se solidário com Rosa Luxemburg.

Na época da desagregação, após longas vacilações «não fraccionistas», vai de novo para a direita e em Agosto de 1912 entra num bloco com os liquidacionistas. Agora de novo afasta-se deles, mas entretanto repete no fundo as suas mesmas ideiazinhas.

Tais tipos são característicos como restos das formações históricas de ontem, quando o movimento operário de massas na Rússia ainda dormia e qualquer grupinho «estava à vontade» para se apresentar a si próprio como corrente, grupo, fracção — numa palavra, uma «potência» que fala de unificação com outros.

É preciso que a jovem geração operária saiba bem com quem trata, quando apresentam incríveis pretensões pessoas que não querem ter em conta de modo algum nem as decisões do partido, que desde 1908 determinaram e estabeleceram a atitude para com o liquidacionismo, nem a experiência do movimento operário actual na Rússia, que criou de facto a unidade da maioria na base do pleno reconhecimento das citadas decisões.

Assinado: V. lline


Notas de rodapé:

(3) Ver V. I. Lénine, Obras Completas, 5." ed. em russo, t. 25, pp. 1- 4. (N. Ed.) (retornar ao texto)

(4) Ver V. I. Lénine, Obras Completas, 5.a ed. em russo, t. 25, pp. 1-4.(N. Ed.) (retornar ao texto)

Notas de fim de tomo:

[N309] Lénine refere-se à conferência do CC do POSDR com os funcionários do partido (devido às condições de clandestinidade, a conferência foi denominada conferência de Verão). A conferência efectuou-se de 23 de Setembro a 1 de Outubro (6-14 de Outubro) de 1913 na aldeia de Porónine (perto de Cracóvia), onde na altura vivia V. I. Lénine. Uma das questões fundamentais debatidas na conferência foi a questão nacional, que se destacava então entre outras questões da vida social da Rússia. O relatório respeitante à questão nacional foi apresentado por Lénine. A conferência, baseando-se no programa do partido, rejeitou decididamente a exigência oportunista dos mencheviques e bundistas de «autonomia cultural nacional» e aprovou as teses programáticas elaboradas por Lénine sobre a questão nacional. A conferência aprovou a resolução de incluir na agenda do próximo congresso a questão do programa nacional.
Na resolução sobre a fracção social-democrata na Duma, a conferência exigiu a igualdade de direitos das partes bolchevique e menchevique da fracção e condenou resolutamente as acções da parte menchevique da fracção que, aproveitando-se da maioria casual de um só voto, infringia os direitos elementares dos deputados bolcheviques, os quais representavam uma maioria esmagadora dos operários da Rússia. Por indicação de Lénine e do CC do partido dos bolcheviques, os deputados bolcheviques saíram da fracção social-democrata unida em Outubro de 1913 e formaram uma fracção independente dos bolcheviques na Duma de Estado,«fracção operária social-democrata da Rússia».
No relatório referente ao congresso socialista internacional a ser realizado em 1914 em Viena, Lénine propunha que fossem enviados ao congresso o maior número possível de delegados das organizações clandestinas e legais, planeando realizar, simultaneamente com esse congresso, também o congresso do partido.
A conferência terminou com o discurso de encerramento de Lénine. Dada a ímportància das questões debatidas e das decisões tomadas quanto a estas, a Conferência de Porónine teve o significado duma conferência do partido. (retornar ao texto)

[N310] Lewicistas: membros do PPS-lewica (ler levitsa), partido operário polaco formado em 1906, em consequência da cisão que se verificou no seio do Partido Socialista Polaco, um partido reformista e nacionalista que fora criado em 1892. (retornar ao texto)

Inclusão 04/08/2006