Posição do CC do POSDR (Bolchevique) na Questão da Paz Separada e Anexionista

V. I. Lénine

26 de Fevereiro de 1918

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Escrito: a 24 de Fevereiro de 1918.

Primeira edição: a 26 (13) de Fevereiro de 1918 no n.º 35 do Pravda. .
Fonte: Obras Escolhidas em Três Tomos, 1977, tomo 2, pág: 481 a 483. Edições Avante! - Lisboa, Edições Progresso - Moscovo

Tradução: Edições "Avante!" com base nas Obras Completas de V. I. Lénine, 5.ª ed. em russo, t. 35, pp. 389-392.

Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo

Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Editorial "Avante!" - Edições Progresso Lisboa - Moscovo, 1977.


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Queridos camaradas!

O Bureau de Organização do CC considera necessário dirigir-se a vós para explicar os motivos que levaram o CC a concordar com as condições de paz propostas pelo governo alemão. O Bureau de Organização dirige-se a vós, camaradas, com esta explicação de uma ampla informação a todos os membros do partido do ponto de vista do CC, que representa todo o partido no período entre os Congressos. O Bureau de Organização considera necessário indicar que no CC não houve unanimidade na questão da assinatura das condições de paz. Mas uma vez que se adoptou uma decisão, deve ser apoiada por todo o partido. Nos próximos dias realizar-se-á o congresso do partido, e apenas nele se poderá resolver a questão de até que ponto o CC exprimiu correctamente a posição efectiva de todo o partido. Até ao congresso, todos os membros do partido, em nome do dever de partido, em nome da manutenção da unidade nas nossas próprias fileiras, aplicam a decisão do seu órgão dirigente central, do CC do partido.

A necessidade absoluta de assinar no presente momento (24 de Fevereiro de 1918) a paz anexionista, incrivelmente dura, com a Alemanha é provocada acima de tudo pelo facto de não termos exército, de não podermos defender-nos.

Todos sabem por que todos nós nos tornámos defensistas, a favor da defesa da pátria, depois de 25 de Outubro de 1917, depois da vitória da ditadura do proletariado e dos camponeses pobres.

Do ponto de vista da defesa da pátria é inadmissível deixarmo-nos arrastar para um conflito militar quando não temos exército e quando o inimigo está armado até aos dentes, magnificamente preparado.

É impossível à República Socialista Soviética fazer a guerra tendo de modo evidente a imensa maioria das massas operárias, camponeses e de soldados que elegem os Sovietes contra a guerra. Isso seria uma aventura. Outra coisa será se esta guerra terminar, ainda que seja com uma paz arquidura, e o imperialismo alemão quiser depois fazer novamente uma guerra ofensiva contra a Rússia. Então a maioria dos Sovietes estará certamente a favor da guerra.

Fazer a guerra agora significa objectivamente cair na provocação da burguesia russa. Ela sabe muito bem que a Rússia está agora indefesa e seria derrotada mesmo por insignificantes forças alemãs, às quais bastaria cortar as principais linhas férreas para tomar pela fome Petrogrado e Moscovo. A burguesia quer a guerra, pois quer o derrubamento do Poder Soviético e o acordo com a burguesia alemã. Confirma-o com toda a clareza o triunfo dos burgueses em Dvinsk e Réjitsa, em Venden e Hapsal, em Minsk e Drissa quando da entrada dos alemães.

A defesa da guerra revolucionária neste momento converte-se inevitavelmente numa frase revolucionária. Pois sem exército, sem a mais séria preparação económica, para um país camponês arruinado fazer a guerra moderna contra um imperialismo avançado é uma coisa impossível. A resistência ao imperialismo alemão, que nos esmagaria, depois de nos ter feito prisioneiros, é absolutamente necessária. Mas seria uma frase oca a exigência: resistir precisamente por meio de uma insurreição armada e precisamente agora, quando uma tal resistência é evidentemente sem esperança para nós, evidentemente vantajosa tanto para a burguesia alemã como para a russa.

É também uma frase a defesa da guerra revolucionária neste instante, com o argumento do apoio do movimento socialista internacional. Se com a nossa aceitação inoportuna do combate contra o imperialismo alemão lhe facilitamos a derrota da República Soviética, prejudicaremos e não ajudaremos o movimento operário alemão e internacional e a causa do socialismo. É necessário apenas ajudar os internacionalistas revolucionários dentro dos seus países com um trabalho sistemático, tenaz e multilateral, mas ir para a aventura da insurreição armada quando ela é evidentemente uma aventura é indigno de um marxista.

Se Liebknecht vencer em 2-3 semanas (isto é possível) livrar-nos-á, naturalmente, de todas as dificuldades. Mas seria simplesmente uma estupidez e transformaríamos em escárnio a grande palavra de ordem da solidariedade dos trabalhadores de todos os países se nos ocorresse garantir perante o povo que Liebknecht vencerá, sem falta e obrigatoriamente, nas próximas semanas. São precisamente os que pensam assim que convertem numa frase perfeitamente oca a grande palavra de ordem: «jogámos tudo na revolução mundial».

A situação assemelha-se, objectivamente, à do Verão de 1907. Então esmagou-nos e fez-nos prisioneiros o monárquico russo Stolípine, e agora o imperialista alemão. Então a palavra de ordem de insurreição imediata revelou-se uma frase oca que se apoderou, infelizmente, de todo o partido dos socialistas-revolucionários. Agora, no momento actual, a palavra de ordem de guerra revolucionária é claramente uma frase que entusiasma os socialistas-revolucionários de esquerda, que repetem os argumentos dos socialistas-revolucionários de direita. Estamos prisioneiros do imperialismo alemão, espera-nos uma luta longa e difícil para derrubar este pioneiro do imperialismo mundial; esta luta é absolutamente o combate último e decisivo pelo socialismo, mas começar esta luta com a insurreição armada neste momento contra o pioneiro do imperialismo é uma aventura em que nunca se lançarão os marxistas.

A preparação multilateral, firme e sistemática da capacidade defensiva do país, da autodisciplina em todo o lado e em toda a parte, a utilização da dura derrota para elevar a disciplina em todos os domínios da vida com vista ao ascenso económico do país e à consolidação do Poder Soviético — eis a tarefa do dia, eis a preparação da guerra revolucionária de facto e não em palavras.

Em conclusão, o Bureau de Organização considera necessário indicar que, na medida em que até agora a ofensiva do imperialismo alemão não cessou, todos os membros do partido devem organizar uma resistência unânime. Se com a assinatura da paz, ainda que seja dura em extremo, for impossível conseguir tempo para nos prepararmos para novas batalhas, o nosso partido deve indicar a necessidade de pôr em tensão todas as forças para opor a resistência mais franca.

Se se puder ganhar tempo, conseguir uma trégua ainda que breve para o trabalho de organização, temos o dever de o conseguir. Se não nos for dado um adiamento, o nosso partido deve chamar as massas à luta, à autodefesa mais enérgica. Estamos convencidos de que todos os membros do partido cumprirão o seu dever para com o partido, para com a classe operária do seu país, para com o povo e o proletariado. Mantendo o Poder Soviético prestamos o melhor, o mais forte apoio ao proletariado de todos os países na sua luta incrivelmente dura, difícil, contra a sua burguesia. E não há nem pode haver agora maior golpe para a causa do socialismo do que a derrocada do Poder Soviético na Rússia.

Com saudações fraternais
O Bureau de Organização do CC do POSDR (bolchevique)


Inclusão 23/01/2011