A Propósito da Reorganização de Nossas Forças

Luiz Carlos Prestes

22 de Maio de 1944


Primeira Edição: Editorial Vitória, 1947.
Fonte: Luiz Carlos Prestes, Problemas Atuais da Democracia, Editorial Vitória, 1947, pág: 61-62.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo, julho 2008.
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«A propósito da reorganização de nossas forças» é o título de um informe que chegou às minhas mãos, sem assinaturas mas que termina com a declaração: «soldados disciplinados do povo brasileiro e de seus legítimos líderes».

Infelizmente, na base das informações enviadas, não posso dar nenhuma resposta às questões finais que me são dirigidas.

Na análise que fazem é bem possível que haja muita coisa verídica, acertada e justa, mas sua linha geral é a mesma da do autor da entrevista citada, de maio de 1943, a Diretrizes.(1) Quer dizer, é uma linha evidentemente oportunista e liquidacionista de pequeno-burgueses em pânico e sem perspectiva.

Digo-o com lástima e simplesmente porque não posso deixar de repudiar da maneira mais veemente aquela degradante entrevista que se pretende agora sub-repticiamente amenizar neste informe.

Nestas condições, não posso receber senão com as mais sérias dúvidas e reservas as informações gerais que agora me fornecem, bem como as acusações que fazem a terceiros.

Não me parece útil entrar numa discussão abstrata sobre formas de organização, mas devo lembrar a quem tanto teme o nome do partido que igualmente perigoso é o de Luís Carlos Prestes; não seria o caso então, a fim de evitar provocações, de acabar logo com a vida de tão incômodo indivíduo ou mesmo convidá-lo a que se suicide de uma vez?...

Os trotskistas não podiam desejar nada de melhor. E autorizado por quem fala esse senhor em nome de comunistas presos? Não mereceriam estes ao menos algum respeito?

Os companheiros vêem as coisas superficialmente e, tais quais os nossos adversários, supõem que as modificações havidas noutros países foram uma simples questão de mudar de nome ou buscar uma nova máscara. Qualquer que seja o nosso nome, desde que lutemos organizadamente contra a reação, teremos de enfrentar perseguições e provocações. No Brasil, justamente porque o fascismo ainda predomina, faltam as principais razões que determinaram as modificações havidas nos Estados Unidos e demais países citados. A verdade é que, se nos países democráticos, em que o Partido Comunista tem vida mais ou menos legal, cabe aos comunistas fazer as maiores concessões para ampliar seu campo de ação, ao contrário, nos países em que predomina o fascismo, em que tudo é ilegal, o Partido Comunista, mesmo reduzido a um só homem, deve resistir como fanal de esperança e esteio firme da luta contra a reação. Todos os que lutarem de fato contra o fascismo serão sempre em tais países acusados ou chamados de comunistas.

Mas não percamos tempo com tolices e vamos à prática. Os companheiros, pelo que vejo, se não são comunistas, são ao menos antifascistas e é nesta qualidade que querem lutar. O que propõem no parágrafo a do item 5º me parece justo, com a restrição, porém, de que não vejo nenhuma possibilidade prática, nas condições atuais em nossa terra, de que tal organismo de massas possa ser legal. Quando nos COMENTÁRIOS de LCP se fala em «formas possíveis e imagináveis» o que se pretende dizer é justamente ilegais, apesar do governo, por cima de suas leis, já que no Brasil de hoje, legalmente, nada de útil e eficiente é possível fazer. É isto que os convido a fazer, independentemente da atividade dos grupos comunistas, por acaso existentes e que acusam de tão feias coisas. Na situação do Brasil, todos os antifascistas devem agir com a maior audácia e iniciativa, certos de que agindo todos no mesmo sentido, logo que forem conquistadas algumas das liberdades populares, será relativamente fácil unificar organicamente os principais grupos antifascistas. Mas agora, de início, o trabalho precisará ser ilegal, tão ilegal quanto é de fato essa nossa troca de bilhetes. Os que são contra o trabalho ilegal que se metam debaixo da cama e esperem ou desesperem, porque talvez nem mesmo os empregos que solicitam não lhes dê o governo.

Rio de Janeiro, 22 de Maio de 1944.


Notas:

(1) Referência à entrevista do camarada Fernando Lacerda, que mais tarde em autocrítica perante o Partido, reconheceu a posição falsa da sua entrevista. (retornar ao texto)

Inclusão 25/07/2008