As condições da vitória da Revolução Russa

J. V. Stálin

17 de março de 1917


Primeira publicação: “Pravda” (“A Verdade”), n.° 12. 17 de março de 1917. Assinado: K. Stálin.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 21-24.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
HTML: Fernando Araújo.
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A revolução caminha. Deflagrada em Petrogrado, estende-se pela província, ganhando pouco a pouco toda a imensa Rússia. Não basta. A revolução passa inevitavelmente das questões políticas às sociais, às questões que dizem respeito à organização da vida dos operários, dos camponeses, tornando mais profunda a crise em curso.

Tudo isso não pode senão suscitar alarma em determinados círculos da Rússia dos ricos. A reação dos latifundiários e do tzarismo levanta a cabeça. A camarilha imperialista repica os sinos. A burguesia financeira estende a mão à decrépita aristocracia feudal para que juntas organizem a contrarrevolução. Hoje essas forças ainda são débeis e vacilantes, mas amanhã podem reforçar-se e mobilizar-se contra a revolução. Sem descanso, elas de qualquer maneira desenvolvem sua atividade reacionária, reunindo forças em todas as camadas da população, inclusive no exército...

Como esmagar a contrarrevolução no início?

Quais as condições indispensáveis para a vitória da revolução russa?

Uma das particularidades da nossa revolução está no fato de que até agora tem tido como base Petrogrado. Os conflitos e os tiroteios, as barricadas e as vítimas, a luta e a vitória surgiram principalmente em Petrogrado e em suas imediações (Kronstadt, etc.). Limitou-se a província a colher os frutos da vitória e a exprimir sua confiança no governo provisório.

A dualidade do poder, a divisão do poder que de fato se operou entre o governo provisório e o Soviet dos Deputados Operários e Soldados de Petrogrado, e que não dá trégua aos mercenários da contrarrevolução, reflete esse fato. Eis o quadro: o Soviet dos Deputados Operários e Soldados de Petrogrado, como órgão da luta revolucionária dos operários e soldados, e o governo provisório, como órgão da burguesia moderada, aterrorizada com os “excessos” da revolução e que encontrou um ponto de apoio na inércia da província.

Aqui está o ponto fraco da revolução, uma vez que uma situação dessas acentua a separação entre a província e a capital, a falta de contato entre uma e outra.

Mas a revolução, à medida que se aprofunda, conquista também a província. Organizam-se os soviets locais de deputados operários. Os camponeses entram para o movimento e se organizam em suas associações. O exército se democratiza e se organizam associações locais de soldados. A inércia da província transforma-se numa recordação do passado.

Em vista disso o governo provisório sente que o terreno lhe foge sob os pés.

Ao mesmo tempo, diante da nova situação, já não basta mais o Soviet dos Deputados Operários de Petrogrado.

Torna-se necessário um órgão para todo o país que dirija a luta revolucionária de todos os democratas da Rússia, que tenha autoridade suficiente para fundir num todo único as forças democráticas da capital e da província e para transformar-se, no momento necessário, de órgão da luta revolucionária do povo, em órgão do poder revolucionário, que mobilize todas as forças revolucionárias, que mobilize todas as forças vivas do povo para combater a contrarrevolução.

Somente o Soviet dos Deputados Operários, Soldados e Camponeses de Toda a Rússia pode ser esse órgão.

Essa é a primeira condição da vitória da revolução russa.

Prossigamos. A guerra, como tudo na vida, tem, além dos lados negativos, também um lado positivo. Foi este o de ter dado ao exército, através da mobilização de quase toda a população adulta da Rússia, um espírito popular, facilitando por isso a união dos soldados com os operários insurretos. Assim se explica justamente a relativa facilidade com que a revolução deflagrou e saiu vitoriosa.

Mas o exército é móvel, e não estável, sobretudo porque se transfere continuamente de um lugar para outro, de acordo com as exigências da guerra. O exército não pode permanecer eternamente no mesmo lugar para defender a revolução da contrarrevolução. É necessário, portanto, uma outra força armada, o exército dos operários armados, ligados naturalmente aos centros do movimento revolucionário. E se é justo sustentar que uma revolução não pode vencer sem uma força armada, sempre pronta a servi-la, nossa revolução não poderá dispensar sua guarda operária, indissoluvelmente ligada à causa da revolução.

Armar imediatamente os operários, formar a guarda operária: essa é a segunda condição para a vitória da revolução.

Na França, por exemplo, o traço característico dos movimentos revolucionários era constituído pelo fato incontestável de que os governos provisórios sempre nasciam nas barricadas, e por isso eram revolucionários, mais revolucionários, aliás, do que as assembleias constituintes que convocavam em seguida e que normalmente se reuniam depois da “pacificação” do país. Assim se explica exatamente por que os revolucionários mais hábeis da época esforçavam-se para realizar seus programas antes que o governo convocasse a Assembleia Constituinte, retardando-lhe a convocação. Queriam assim colocar a Assembleia Constituinte em face do fato consumado das reformas já realizadas.

Entre nós as coisas passam-se de outro modo. O governo provisório não esteve nas barricadas, mas ao lado das barricadas. Esse é o motivo por que não é revolucionário e não faz senão arrastar-se a reboque da revolução, recalcitrando e tropeçando. E a julgar pelo fato de que, à medida que se aprofunda, a revolução põe em primeiro plano os problemas sociais da jornada de trabalho de oito horas e da confiscação da terra e faz a província participar do movimento revolucionário, pode-se afirmar com segurança que a futura Assembleia Constituinte de todo o povo será muito mais democrática do que o atual governo, eleito pela Duma de 3 de junho.

É de temer, além disso, que o governo provisório, espantado com o desenvolvimento que toma a revolução e imbuído de tendências imperialistas, possa servir, numa determinada situação política, de escudo “legal” e de máscara à contrarrevolução que se organiza.

Por isso não se deve em nenhuma hipótese protelar a convocação da Assembleia Constituinte.

Com esse objetivo é indispensável convocar o mais breve possível a Assembleia Constituinte, única instituição representativa de todas as camadas sociais, que pode coroar a obra da revolução e aparar as asas da contrarrevolução que levanta a cabeça.

Convocação imediata da Assembleia Constituinte: essa é a terceira condição para a vitória da revolução.

Tudo isso se deve fazer sob a condição geral de que as negociações de paz se iniciem o mais breve possível e de que esta guerra desumana termine, pois uma guerra prolongada, com a crise financeira, econômica e alimentar dela proveniente, constitui o escolho que pode despedaçar a nave da revolução.


Inclusão: 18/02/2024