Ainda a respeito de Estocolmo(1)

J. V. Stálin

9 de agosto de 1914


Primeira publicação: “Rabótchi i Soldat” (“O Operário e o Soldado”), n.° 15. 9 de agosto de 1914. Editorial.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 197-200.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.


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A guerra continua. Seu carro ensanguentado prossegue terrível e inexorável. Pouco a pouco a guerra transforma-se de europeia em mundial, envolvendo sempre novos Estados na sua atividade nefasta.

Ao mesmo tempo a Conferência de Estocolmo fracassa e perde sua importância.

A “luta pela paz” e a tática da “pressão” sobre os governos imperialistas, proclamadas pelos conciliadores, tornaram-se “palavras destituídas de sentido”.

Às tentativas dos conciliadores no sentido de apressar o fim da guerra e de ressuscitar a Internacional Operária, através de um entendimento entre as “maiorias defensistas” dos diferentes países, sofreram um fracasso completo.

O projeto fantástico de uma Conferência em Estocolmo, aprovado pelos mencheviques e pelos social-revolucionários e em torno do qual se tece a rede das intrigas imperialistas, deve transformar-se inevitavelmente ou em uma parada impotente ou num brinquedo nas mãos dos governos imperialistas.

A viagem através da Europa(2) dos delegados do Congresso dos Soviets de Toda a Rússia, e a diplomacia “socialista” dos defensistas, com a organização de solenes banquetes oficiais com os representantes do social-imperialismo anglo-francês: não é esse o caminho que leva ao restabelecimento da fraternidade internacional dos operários, e todos o vêem agora claramente.

Nosso Partido tinha razão em querer desligar-se de Estocolmo desde a Conferência de Abril.

O desenrolar da guerra e toda a situação internacional agravam inevitavelmente as lutas de classe, assinalando o início de uma época de grandiosos conflitos sociais.

Aqui e somente aqui devem ser procurados os caminhos democráticos que levam à liquidação da guerra.

Fala-se em “evolução” nas concepções dos social-patriotas anglo-franceses e na sua decisão de ir a Estocolmo, etc.

Mas esse fato modificará talvez as coisas? Será que os social-patriotas russos e austro-alemães não decidiram também (antes ainda dos anglo-franceses!) participar da Conferência de Estocolmo? Quem pode sustentar que essa decisão tenha apressado o fim da guerra?

O partido de Scheidemann, que participa da preparação da Conferência de Estocolmo, cessou talvez de apoiar o seu governo que dirige a ofensiva e invade a Galícia e a Romênia?

Os partidos de Renaudel e de Henderson, que falam da “luta pela paz” e de Estocolmo, acaso não apoiam ao mesmo tempo os seus próprios governos, que invadem a Mesopotâmia e a Grécia?

Diante desses fatos, que valor poderiam ter suas discussões em Estocolmo para obter a cessação da guerra?

As belas palavras sobre a paz mascaram o apoio decidido à política de guerra e de agressão: quem não conhece esses métodos velhos e revelhos com os quais o imperialismo engana as massas?

Dizem que agora as circunstâncias mudaram em relação ao passado e que por conseguinte deve mudar também nossa atitude para com Estocolmo.

Sim, as circunstâncias mudaram, mas não a favor de Estocolmo, e sim exclusivamente contra ela.

Uma mudança foi determinada antes de mais nada pelo fato de que a guerra, de europeia tornou-se mundial, estendendo e aprofundando além de qualquer descrição a crise geral.

Por isso as probabilidades de êxito, que teriam uma paz imperialista e a política de “pressão” sobre os governos, reduziram-se ao mínimo.

A segunda mudança consistiu em que a Rússia tomou o caminho da ofensiva na frente, adaptando às exigências da política de ofensiva a vida interna do país, mediante a repressão das liberdades. Uma vez que, em definitivo, é preciso compreender que a política da ofensiva é incompatível com a “máxima liberdade” e que desde junho iniciou-se um desvio no desenvolvimento da nossa revolução. Por isso os bolcheviques “acharam-se” na prisão e os defensistas transformaram-se em fautores da ofensiva e exercem a função de carcereiros.

Por isso a situação dos “defensistas”, fautores da “luta pela paz” tornou-se insustentável, porque se anteriormente era-lhes possível falar na paz sem temerem ser tachados de falsidade, agora, após a política de ofensiva, por eles sustentada, os discursos sobre a paz soam como escárnio em sua boca.

Qual é o significado disso tudo?

O significado é que as discussões “entre companheiros” sobre a paz, em Estocolmo, e o derramamento de sangue que de fato ocorre na frente, são absolutamente inconciliáveis e que a contradição entre esses dois fatos tornou-se gritante, tangível.

Por esse motivo o fracasso da Conferência de Estocolmo é inevitável.

Em vista disso nossa atitude para com Estocolmo mudou algo.

Antes nós desmascarávamos os projetos fantásticos de Estocolmo. Agora não vale mais a pena quase desmascará-los, porque desmascaram-se sozinhos.

Antes era necessário marcá-los com ferro em brasa, porque consistiam num “jogo de paz” que iludia as massas. Agora não vale mais a pena quase marcá-los, porque não se golpeia um homem morto.

Mas daí se deduz que o caminho de Estocolmo não é o caminho que leva à paz.

O caminho que leva à paz não passa por Estocolmo mas através da luta revolucionária dos operários contra o imperialismo.


Notas de fim de tomo:

(1) Havia-se começado a falar na Conferência de Estocolmo em abril de 1917, quando o social-democrata dinamarquês Borgbierg se dirigira a Petrogrado e convidara, em nome do Comitê unificado dos partidos operários da Dinamarca, Noruega e Suécia, os partidos socialistas da Rússia a participarem de uma conferência a realizar-se na capital sueca para discutir a conclusão da paz. O Comitê Executivo, composto de social-revolucionários e de mencheviques, e em seguida também o Soviet dos Deputados Operários e Soldados de Petrogrado, decidiram participar da Conferência de Estocolmo e tomar a iniciativa de convocá-la. A VII Conferência bolchevique de Toda a Rússia (Conferência de Abril) pronunciou-se resolutamente contra a participação na Conferência de Estocolmo, desmascarando-lhe o caráter imperialista. A 6 de agosto, na sessão do Comitê Executivo Central em que a questão da Conferência foi discutida, Kámenev propôs tomar parte nela. A fração bolchevique do Comitê Executivo Central exprimiu seu desacordo com a proposta de Kámenev; o Comitê Central do Partido condenou a linha por ele seguida e decidiu expor o ponto de vista do Partido no órgão central do Partido. Em 9 de agosto de fato o Rabótchi i Soldat publicou o artigo de Stálin "Ainda a respeito de Estocolmo" e em 16 de agosto o Proletári publicou a carta de Lênin "A proposta de Kámenev ao Comitê Executivo Central acerca da Conferência de Estocolmo". A Conferência não se realizou. (retornar ao texto)

(2) Em abril de 1917 o Comitê Executivo do Soviet dos Deputados Operários e Soldados de Petrogrado decidiu enviar uma delegação aos países neutros e aliados para preparar a Conferência de Estocolmo. O I Congresso dos Soviets dos Deputados Operários e Soldados de Toda a Rússia sancionou a decisão do Soviet de Petrogrado. A delegação dirigiu-se à Inglaterra, França, Itália e Suécia, países nos quais manteve contatos com os representantes dos diversos partidos socialistas. Nas principais cidades da Itália os representantes mencheviques, Goldenberg e Smirnov, foram acolhidos pelos operários com o brado de “Viva Lênin!” (retornar ao texto)

Inclusão: 18/02/2024