A verdade sobre nossa derrota na frente

J. V. Stálin

18 de agosto de 1917


Primeira publicação:Proletári” (“O Proletário”), n.° 5. 18 de agosto de 1917.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 218-221.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
HTML: Fernando Araújo.
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Publicamos em outra parte do jornal algumas passagens de dois artigos, que têm o caráter de documentos, sobre as causas da derrota das nossas tropas na frente, no mês de julho.

Os dois artigos, quer o de Arsênio Méritch (publicado no Dielo Naroda) quer o de V. Boríssov (publicado no Nóvoie Vrêmia,(1) esforçam-se por fazer um exame desapaixonado da derrota de julho, repelindo as acusações baratas que indivíduos infames veicularam contra os bolcheviques.

Tanto mais precioso, por isso mesmo, o que se declara e se admite nesses artigos.

O artigo de A. Méritch fala principalmente dos culpados da derrota. Culpados são “os ex-gendarmes e os ex-guardas” e antes de mais nada “alguns automóveis” — pertencentes não se sabe a quem — que, em debandada, se infiltravam entre as tropas que defendiam Tárnopol e Tchernoviz, ordenando aos soldados que se retirassem. O autor contudo não diz que automóveis eram e como os comandantes puderam permitir que se levasse a efeito essa manifesta provocação. Mas o autor fala claramente e de maneira precisa de retirada devida uma provocação” de traição efetuada segundo um plano imaginado e estudado de antemão e diz que está se realizando um inquérito e que logo “o segredo será desvendado”.

E os bolcheviques? E a “traição do bolchevismo”?

Sobre esse argumento, não há, no artigo de A. Méritch, nem uma linha, nem uma palavra!

O artigo de V. Boríssov publicado no Nóvoie Vrêmia é mais interessante ainda. O artigo fala não tanto dos culpados, quanto das causas da derrota.

O artigo declara abertamente que “exculpa o bolchevismo da acusação infundada de ser responsável pela nossa derrota”, que não se trata do bolchevismo, mas de “causas mais profundas” que é preciso esclarecer e eliminar. Mas quais são essas causas? Antes de mais nada o fato de que a tática da ofensiva não serve para nós porque temos “generais incompetentes”, porque nossas tropas estão mal “equipadas” e os soldados desorganizados. Além disso, a ingerência de elementos “diletantes” (incompetentes) que exigiram com insistência e conseguiram a ofensiva de junho. Enfim, a tendência excessiva do governo no sentido de seguir os conselhos dos aliados acerca da necessidade da ofensiva, sem levar em conta a situação real existente na frente.

Em suma: “nosso” despreparo geral transformou a ofensiva em uma aventura sanguinária.

É confirmado assim tudo aquilo que repetidamente os bolcheviques e a Pravda haviam previsto e pelo que foram perseguidos por quem quer que tivesse vontade de fazê-lo.

Assim falam os que ainda ontem nos acusavam de sermos culpados da derrota na frente.

Estamos longe de julgar-nos satisfeitos com as revelações e considerações estratégicas ou de outro gênero do Nóvoie Vrêmia que agora julga necessário “exculpar os bolcheviques da acusação infundada de serem responsáveis pela nossa derrota.”

Também estamos longe de considerar como exaustivas as informações de A. Méritch.

Mas não podemos deixar de observar que, se pelo jornal governista Dielo Naroda não é mais possível calar a respeito dos verdadeiros culpados da derrota, se até (até!) o Nóvoie Vremia de Suvórin, que ainda ontem acusava os bolcheviques de serem culpados da derrota, julga hoje necessário “exculpar os bolcheviques” da acusação, isso significa que não se pode esconder uma sovela num saco, que a verdade sobre a derrota salta aos olhos de, maneira demasiado evidente para que se possa ignorá-la, que a verdade sobre os culpados da derrota, que os próprios soldados põem a nu, está para chicotear o rosto dos próprios acusadores, que calar, ainda, significa atrair sobre o pela alguma desgraça…

Evidentemente a acusação contra os bolcheviques como culpados da derrota, forjada pelos inimigos da revolução, do tipo dos senhores do Nóvoie Vremia e sustentada pelos “amigos” da revolução, do tipo dos senhores do Diélo Naroda, caiu irreparavelmente aos pedaços.

Por isso, e somente por isso, esses senhores decidiram-se agora a começar a falar nos verdadeiros culpados da derrota.

Não é verdade que esses senhores recordam muito de perto aqueles ratos previdentes que são os primeiros a abandonar o navio que está para afundar?...

Que conclusões tirar daí?

Dizem-nos que está em curso um inquérito sobre a derrota na frente e além disso asseguram-nos que logo “o segredo será desvendado”. Mas, que garantia existe de que os resultados do inquérito não serão silenciados, que o inquérito será conduzido objetivamente, que os culpados terão o castigo que merecem!

Portanto, apresentamos uma primeira proposta: conseguir que da comissão de inquérito participem os representantes dos próprios soldados.

Somente a presença dos soldados pode garantir que os culpados da “retirada devida a uma provocação” sejam efetivamente descobertos!

Essa é a primeira conclusão.

Falam-nos das causas da derrota e sugerem-nos que não se repitam os velhos “erros”. Porém, quem nos garante que os “erros” sejam efetivamente erros e não um “plano estudado de antemão”? Quem pode garantir que após haverem “provocado” a rendição de Tárnopol não se “provoque” também a rendição de Riga e de Petrogrado, para minar o prestígio da revolução e restaurar depois sobre suas ruínas o velho e odiado regime?

Portanto apresentamos uma segunda proposta: instituir o controle dos representantes dos soldados sobre as ações de seus comandantes, substituindo imediatamente todos os elementos suspeitos.

Somente esse controle pode colocar a revolução ao abrigo das provocações criminosas em vasta escala.

Essa é a segunda conclusão.


Notas de fim de tomo:

(1) Nóvoie Vrêmia (Tempo Novo), jornal publicado em Petersburgo desde 1868, órgão dos círculos reacionários da nobreza e da burocracia. A partir de 1905 tornou-se um dos órgãos das centúrias negras. Foi suprimido em fins de outubro de 1917. (retornar ao texto)

Inclusão: 18/02/2024