Exigimos

J. V. Stálin

28 de agosto de 1917


Primeira publicação: “Rabótchi” (“O Operário”), n.° 4. 28 de agosto de 1917. Editorial.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 256-259.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
HTML: Fernando Araújo.
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Os acontecimentos precipitam-se. Após a Conferência de Moscou, a rendição de Riga e o pedido de repressões. Após o fracasso das repressões contra os soldados na frente, boatos provocatórios acerca de um “complô dos bolcheviques” e novos pedidos de repressões. Depois que os boatos provocatórios foram desmascarados, a ação aberta de Kornílov que reclama seja derrubado o governo provisório e se proclame a ditadura militar. Ademais o partido de Miliukov, o partido da liberdade do povo, sai do governo, como durante as jornadas de julho, apoiando com isso abertamente o complô contrarrevolucionário de Kornílov.

As consequências foram a marcha dos regimentos de Kornílov sobre Petrogrado com o fim de instaurarem a ditadura militar, a destituição de Kornílov por parte do governo provisório, a declaração de Kerenski sobre a crise, a saída de Kíchkin do partido cadete, implicado no complô, a formação do chamado Diretório Revolucionário.

Segue-se daí:

É um fato que a contrarrevolução tinha necessidade do “complô bolchevique” para desimpedir o caminho a Kornílov, que marcharia sobre Petrogrado para “reprimir os bolcheviques”.

É um fato que toda a imprensa burguesa, da Rússkaia Vólia e da Bírjovka ao Nóvoie Vrêmia e ao Riétch, apoiou Kornílov, espalhando insistentemente, nestes últimos dias, boatos sobre o “complô dos bolcheviques”,

É um fato que a ação atual de Kornílov é somente a continuação das conhecidas intrigas do alto-comando contrarrevolucionário, que no mês de julho cedeu Tárnopol e no mês de agosto Riga, para explorar os “reveses” na frente e com isso obter a vitória “definitiva” da contrarrevolução.

É um fato que o partido cadete encontrou-se agora, como no mês de julho, no mesmo campo dos traidores na frente e dos piores contrarrevolucionários no interior.

Nosso Partido tinha razão ao denunciar os cadetes como inspiradores da contrarrevolução burguesa.

Nosso Partido tinha razão ao exigir que se combatesse resolutamente a contrarrevolução e fossem presas as pessoas “comprometidas” (Kalédin, etc.) desde princípios de junho.

A contrarrevolução não começou ontem e não começou com o complô de Kornílov. Começou ela pelo menos em junho, quando o governo, passando à ofensiva na frente, começou a pôr em prática a política das repressões; quando os generais contrarrevolucionários, cedendo Tárnopol e atirando toda a culpa disso em cima dos soldados, conseguiram a introdução da pena de morte na frente; quando os cadetes, sabotando o governo desde julho e confiando no apoio do capital aliado, obtiveram a hegemonia do governo provisório no interior; enfim, quando os líderes mencheviques e social-revolucionários do Comitê Executivo Central, ao invés de romperem com os cadetes e de unirem-se aos manifestantes de julho, voltaram suas armas contra os operários e os soldados.

Esses são os fatos e seria ridículo negá-los.

Na luta que ora se desenrola entre o governo de coalizão e o partido de Kornílov, não estão na liça a revolução e a contrarrevolução, mas dois métodos diferentes da política contrarrevolucionária, pelo que o partido de Kornílov, o pior inimigo da revolução, que entregou; Riga, não hesita em romper as hostilidades contra Petrogrado para preparar as condições necessárias à restauração do velho regime.

Os operários e os soldados tomarão todas as medidas para repelir com resolução os bandos contrarrevolucionários de Kornílov, se estes aparecerem na Petrogrado revolucionária.

Os operários e os soldados não permitirão que as mãos sujas dos inimigos da revolução emporcalhem a capital da Rússia.

Defenderão com o próprio peito a bandeira de luta da revolução.

Mas defenderão a bandeira da revolução não para substituir uma ditadura, cujo espírito lhes é estranho, por outra ditadura igualmente estranha, mas para abrir a estrada ao triunfo completo da revolução russa.

Agora, enquanto o país sufoca no torniquete da guerra e no esfacelamento e os corvos da contrarrevolução preparam-lhe uma ruína certa, a revolução deve encontrar em si as forças e os meios indispensáveis para salvá-lo do desastre e da desagregação. O de que se necessita não é mudar alguns grupos “no governo” por outros, nem brincar com a ditadura, mas liquidar completamente a contrarrevolução burguesa e tomar medidas decisivas no interesse da maioria dos povos da Rússia.

Para tal fim o Partido bolchevique reivindica:

  1. — O afastamento imediato, no interior e na frente, dos generais contrarrevolucionários, sua substituição por generais eleitos pelos soldados e pelos oficiais e, de um modo geral, a adoção na prática de uma completa democratização do exército.
  2. — A reconstituição das organizações revolucionárias dos soldados, as únicas capazes de estabelecer a disciplina democrática no exército.
  3. — A anulação dos decretos repressivos de toda a espécie e, em primeiro lugar, da pena de morte.
  4. — A passagem imediata, à disposição dos comitês camponeses, de todas as terras dos latifundiários, assegurando animais de tração e instrumentos agrícolas aos camponeses pobres.
  5. — A introdução, por lei, da jornada de trabalho de oito horas e a organização do controle democrático sobre as fábricas, sobre as oficinas, sobre os bancos, assegurando a maioria aos representantes operários.
  6. — A completa democratização das finanças e em primeiro lugar a taxação desapiedada dos capitais e das propriedades capitalistas e o confisco dos escandalosos lucros de guerra.
  7. — A organização de um justo sistema de trocas entre a cidade e o campo, para que a cidade receba os abastecimentos necessários e o campo as mercadorias indispensáveis.
  8. — A proclamação imediata do direito dos povos da Rússia à autodeterminação.
  9. — A restauração das liberdades, a proclamação da república democrática e a convocação imediata da Assembleia Constituinte.
  10. — A anulação dos tratados secretos com os aliados e o oferecimento de condições para uma paz geral democrática.

O Partido declara que sem se pôr em prática essas reivindicações é impossível salvar a revolução que há seis meses está sufocada no torniquete da guerra e no esfacelamento geral.

O Partido declara que o único meio para pôr em prática essas reivindicações é a ruptura com os capitalistas, a liquidação completa da contrarrevolução burguesa e a passagem do poder para as mãos dos operários, dos camponeses e dos soldados revolucionários. Essa é a única saída que pode salvar da catástrofe o país e a revolução.


Inclusão: 18/02/2024