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J. V. Stálin

3 de outubro de 1917


Primeira publicação: “Rabótchi Put” (“O Caminho Operário”), n.° 26. 3 de outubro de 1917. Artigo não assinado.
Fonte: J. V. Stálin, Obras. Editorial Vitória, Rio de Janeiro, 1953, págs. 327-329.
Tradução: Editorial Vitória, da edição italiana G. V. Stálin - "Opere Complete", vol. 3 - Edizione Rinascita, Roma, 1951.
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.


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O campo tem fome

Agora todos falam na crise alimentar das cidades. O pesadelo da “mão descarnada” da fome ameaça as cidades. Mas ninguém quer admitir que a fome fez sua aparição também no campo. Ninguém quer compreender que agora uma boa metade das “desordens nos campos” e dos “pogroms” estala justamente por causa da fome.

Eis o que diz a carta de um camponês sobre as “desordens” nos campos:

“Desejo pedir-vos que expliqueis a nós ‘gente ignorante, camponeses’, qual é a causa dos pogroms. Acreditais que os pogroms sejam feitos por malandros, por vagabundos e por esfarrapados bêbedos, mas estais algo enganados. Não são vagabundos e esfarrapados, mas indivíduos que se tornaram bêbedos pela fome. Eu vos escrevo por exemplo a respeito da comuna de Arefinsk, que faz parte do distrito de Muromsk. Aqui desejam fazer-nos morrer de fome. Dão-nos cinco funts(1) por mês, de farinha, por pessoa. Procurai compreender e colocar-vos dentro de nossas roupas. Como é possível viver assim? As devastações não as fazem só os bêbados de vinho, mas nós mesmos, ‘embebedados pela fome’” (vide “Bírjovka”).

Os cães da burguesia que escrevem no Dién e na Rússkaia Vólia rosnam incessantemente sobre a riqueza do campo, sobre a abastança do camponês, etc. Os fatos, ao invés, falam incontestavelmente da fome e da exaustão que reinam nos campos, do escorbuto e de outras doenças que ali se difundem por causa da fome. E com o passar do tempo a situação no campo torna-se cada vez mais grave, uma vez que o governo de KerenskiKonoválov destina ao campo novas expedições punitivas em vez do trigo, e o inverno que se aproxima promete ao camponês novos e ainda mais graves sofrimentos.

O mesmo camponês escreve:

"Aproxima-se rapidamente o inverno, os rios gelarão e então nos restará morrer de fome. A estação ferroviária está longe da nossa região. Desceremos pelas estradas em busca de pão. Chamai-nos como quiserdes, mas é a fome que nos impele a fazer isso” (“Bírjovka”).

Essa é a eloquente narrativa de um camponês.

Os conciliadores social-revolucionários e mencheviques decantaram como uma panaceia a coalizão e o governo de coalizão. Agora possuímos quer a “coalizão” quer o “governo de coalizão”. Perguntamos:

Que pode dar o governo ao campo esfomeado além das expedições punitivas?

Sentem os senhores conciliadores que a carta sincera desse camponês pronuncia a sentença de morte contra esse mistifório de coalizão?

A fome nas fábricas

As regiões industriais sofrem provas ainda mais duras. A fome, que visita frequentemente a população industrial, recrudesce agorá entre ela com particular violência, A Rússia, que antes da guerra exportava anualmente de 400 a 500 milhões de puds de trigo, agora, durante a guerra, não está em condições de alimentar seus operários. Nas fábricas cessa-se o trabalho, os operários fogem porque nas regiões industriais falta o pão, faltam os víveres.

Eis o que nos comunicam de diversas localidades:

“Telegrafam de Chúia que em todo o distrito foi suspenso o trabalho das serrarias. Falta o pão. A refinaria de açúcar de Koriukovo está ameaçada de fechamento por que faltam os víveres para os operários. As beterrabas começam a apodrecer. Doze mil trabalhadores do cotonifício de Iartsevo (governadoria de Smolensk) acham-se em uma situação desesperada. As reservas de farinha e de cevada estão completamente esgotadas. O comitê de alimentação da governadoria acha-se na impossibilidade de prestar auxílio. Os operários, que não obtiveram víveres, começam a agitar-se; desordens são inevitáveis. O conselho dos chefes de seção da fábrica de papel da companhia Kuvchinov (governadoria de Tver) telegrafa: Os operários estão sob a ameaça cia fome, por toda a parte nos é recusado o trigo: pedimos auxílio imediato. A direção da fábrica da companhia Mórokin de Vitchuga: a questão dos víveres vai assumindo um aspecto alarmante. Os operários passam fome e agitam-se. É indispensável tomar medidas extraordinárias para o aprovisionamento. O comitê de fábrica da companhia enviou ao ministério o seguinte telegrama: Pedimos encarecidamente que enviem aos operários fornecimentos extraordinários de farinha porque aqui começou a fome.”

Esses são os fatos.

As regiões agrícolas lamentam-se porque recebem das regiões industriais pouquíssimas mercadorias. Elas, por sua vez, enviam pouco trigo às regiões industriais. Mas a falta de trigo nas regiões industriais provoca o êxodo dos operários, a diminuição do trabalho nas fábricas e portanto a ulterior diminuição da quantidade de mercadorias que afluem ao campo, o que por sua vez provoca uma nova diminuição da quantidade de trigo que aflui às fábricas, um ulterior aumento da fome nas fábricas e novas fugas de operários das fábricas.

Perguntamos:

Qual é a saída desse círculo vicioso que aperta num torniquete de ferro os operários e os camponeses?

Que pode ainda propor o chamado governo de coalizão além dos famosos “ditadores” que ele envia secretamente às regiões industriais esfomeadas?

Apercebem-se os senhores conciliadores de que a burguesia imperialista, que eles continuam apoiando, empurrou a Rússia num beco, do qual a única saída é o fim cia guerra de rapina?


Notas de fim de tomo:

(1) Funt: medida de peso equivalente a 410 gramas. (retornar ao texto)

Inclusão: 18/02/2024