Trotsky e o Trotskismo

Trotsky, Liquidador do Partido do Proletariado


A sua Atividade Fracionista. A sua Luta Contra Lenine e os Bolcheviques


capa

Durante os anos de reacção que se seguiram à derrota da revolução de 1905, Lenine insistia na necessidade de modificar a táctica do Partido de acordo com as transformações da situação. Lenine exigia que se aproveitassem para o trabalho revolucionário todas as possibilidades legais conquistadas pela revolução e que se utilizasse a tribuna da Duma do Império através dos deputados eleitos pela classe operária. Em 1907, Kamenev levantou-se contra a linha de Lenine. Foi um dos partidários mais insistentes do «boicote», do sectarismo das belas frases que condenavam a classe operária ao isolamento e reduziam o Partido ao papel de uma seita destacada das necessidades quotidianas do proletariado e do movimento revolucionário. Numa brochura especial dirigida contra Lenine, Kamenev defendeu o boicote e declarou-se contra a utilização das possibilidades legais, dos sindicatos, das organizações culturais, etc. Nessa ocasião, Zinoviev marchou durante muito tempo lado a lado com Kamenev.

Trotsky, cuja palavra de ordem era a união sem princípios «de todas as fracções» do POSDR, esforçava-se então por colocar os bolcheviques sob a direção dos liquidadores mencheviques e por destruir o bolchevismo enquanto partido independente. Lenine lutava sem tréguas contra Trotsky e sublinhava nestes termos o extremo perigo da sua posição:

Trotsky e os seus pares — os «trotskistas e os conciliadores» — são mais perigosos do que qualquer outro liquidador, porque os liquidadores convictos expõem francamente o seu ponto de vista e os operários distinguem facilmente os seus erros, enquanto que os senhores Trotsky & C.ª enganam os operários, dissimulam o mal e agem de modo que se torna impossível descobri-lo e curar-se dele. Todos os que sustentam o grupo de Trotsky sustentam uma política de mentiras e de intrujices face aos operários, uma politica que dissimula o liquidacionismo. (Tomo XV, p. 218, ed. r.)

Para lutar contra os bolcheviques, Trotsky convocou em 1912 a dita conferência de Agosto durante a qual se constitui um bloco sem princípios composto de diferentes tendências e fracções. A conferência convocada por Trotsky teve por palavra de ordem o mais franco liquidacionismo. Renunciou à luta pela República na Rússia, pela jornada de 8 horas, pela confiscação das terras; abandonou todas as outras reivindicações, assim como todos os princípios do programa social-democrata.

Sublinhando a política aventureirista do trotskismo, Lenine falava nestes termos do bloco de Agosto:

É precisamente partindo de «princípios fundamentais» que devemos reconhecer, na exacta acepção do termo, o carácter aventureirista deste bloco. Trotsky não ousa declarar que considera Potressov e os partidários do boicote da Duma como verdadeiros marxistas, como verdadeiros defensores dos princípios da social-democracia. A posição de um aventureirista tem de particular o fato de o obrigar constantemente a fazer ziguezagues. (Tomo XV, pp, 68-69, ed. r.)

E Lenine prossegue:

Além disso, declaramos, em nome de todo o Partido, que Trotsky conduz uma política hostil ao Partido, que destrói a legalidade do Partido, que se embrenha na via das aventuras e da cisão. Idem, p. 65.)

Tal é a característica autêntica de Trotsky, dada por Lenine.

A seguir, damos uma série de textos, de Lenine relativos a este período.


A Crise de Unificação do Nosso Partido


Basta pôr a questão para vermos como são ocas as frases da resolução de Trotsky e para nos apercebermos que servem na realidade para defender a posição de Axelrod, Alexinski e consortes.(1)

As primeiras palavras da resolução de Trotsky revelam o pior espírito conciliador. Efectivamente, a sua conciliação é uma conciliação com pessoas, com capelinhas e não com uma linha de ação, com uma ideologia política determinada. É nisto que consiste a profunda diferença entre o «conciliacionismo» de Trotsky e consortes (que, em última análise, serve sobretudo aos liquidadores e aos extremistas, e que é tanto mais perigoso para o Partido quanto mais habilmente se cobre de declamações em favor do Partido e contra as facções) e o verdadeiro espírito de partido, que procura depurar o Partido da tendência liquidadora e do otzovismo.

No tocante à importância e às condições da realização da unidade do Partido, duas concepções são possíveis...

Uma, põe em primeiro plano «a conciliação de determinadas pessoas, de grupos e de instituições», cuja unidade de perspectivas sobre o trabalho do Partido e a direção a dar a este trabalho é considerada como uma coisa secundária. Esforça-se por abafar os desacordos em vez de procurar as suas raízes e de determinar a sua importância e condições objetivas. «Conciliar as pessoas e os grupos», eis o principal. Uma vez que ninguém se entende sobre o estabelecimento de uma linha de ação comum, é preciso interpretar esta linha de forma que ela seja assimilável para todos. Numa palavra, regula-se pelo princípio: Vive e deixa viver os outros!

Esta é a conciliação vulgar, que conduz infalivelmente à diplomacia de capelinhas. Mascarar as raízes do desacordo, evitar falar delas, afastar a todo o custo os conflitos, neutralizar as tendências hostis, tal é o objetivo deste «conciliacionismo». É evidente que, num período em que o Partido ilegal tem a sua base de operações no estrangeiro, esta diplomacia de capelinhas abre totalmente as portas às «pessoas, grupos e instituições» que desempenham o papel de «intermediários honestos» em todas as tentativas de conciliação e de arbitragem...

Os mencheviques pediam ao órgão central a instituição da arbitragem e propunham como árbitros um membro do Bund e Trotsky que tinham de desempenhar o papel de alcoviteiras e casar «determinados indivíduos, grupos e instituições» sem exigir de ninguém a renúncia ao «liquidacionismo».

É esta mentalidade de alcoviteira que constitui toda a base ideológica da política conciliadora de Trotsky e de lonov.(2) Os seus queixumes e lamurias sobre a não realização da união são os queixumes e os gemidos da alcoviteira que vê fracassar as suas diligências.

O abortar das esperanças que Trotsky e lonov alimentavam na unificação com determinadas pessoas, grupos e instituições, independentemente da atitude destas face à corrente liquidadora é tão somente um insucesso de intermediários que se colocam num ponto de vista tão falso quão miserável, mas não significa de modo nenhum o fracasso da unificação do Partido...

Nenhuma ideia levantou na assembleia plenária uma indignação tão furiosa e por vezes tão cómica como a ideia da «luta sobre as duas frentes». Toda a alusão a este assunto punha fora de si os mencheviques e os otzovistas. Esta indignação é historicamente explicável, porque os bolcheviques conduziram realmente a luta em duas frentes, do mês de Agosto de 1906 até Janeiro de 1910, contra os liquidadores e os extremistas. Esta indignação não deixava de ser cómica porque os que se irritavam contra os bolcheviques mostravam por essa sua atitude que tinham culpas, que continuavam a ser tocados ao vivo por qualquer censura dirigida à tendência liquidadora e ao otzovismo. Não se pode falar de corda na casa de um enforcado.

A proposta de Trotsky no sentido de substituir as palavras «a luta em duas frentes» por «o triunfo por meio do alargamento e da intensificação» obteve o mais vivo apoio dos mencheviques e do grupo Vpériod... A aceitação desta proposta teve por único resultado obscurecer e diluir uma passagem da resolução.

Eis um exemplo que mostra bem o vazio das palavras de Trotsky e de lonov. Para esclarecer algumas tentativas de liquidação de Mikhail, de Yuri(3) e consortes, o Comité Central perdeu tempo e forças que teriam sido mais bem empregues se consagradas ao alargamento e à intensificação imediata do verdadeiro trabalho social-democrata. Sem os atos de Mikhail, de Yuri e consortes, sem o «liquidacionismo» daqueles que erradamente continuamos a considerar como nossos camaradas, o alargamento a a intensificação do trabalho social-democrata ter-se-iam processado muito melhor, porque a luta interna não teria absorvido as forças do Partido. Se, por alargamento e intensificação do trabalho social-democrata, se entende o desenvolvimento imediato da agitação, da propaganda, da luta económica num espírito verdadeiramente social-democrata, todo o tempo despendido a ultrapassar os desvios de certos sociais-democratas é, por assim dizer, tempo roubado à ação positiva e daí resulta que a frase relativa à eliminação dos desvios por meio do alargamento, etc... não tem sentido nenhum.

Efectivamente, esta frase exprime um vago desejo, um voto simplório e inofensivo para que houvesse menos lutas internas entre os sociais-democratas. Além deste voto anódino, esta frase não quer dizer nada; não passa de um suspiro dos conciliadores! oh! se houvesse menos lutas contra a liquidação e o otzovismo!...

Compreende-se a apreciação prática que deriva desta «apreciação do momento» feita por Trotsky e por lonov. Não se produziu nada de particular, apenas uma querela da fracção. Instalam-se novas alcoviteiras e o golpe está dado. A diplomacia de capelinha explica tudo. Fornece todas as receitas práticas. De um lado, homens que ardem por se bater, do outro, partidários da conciliação; então basta aqui suprimir toda a alusão à «base», ali não referir esta ou aquela instituição, acolá fazer uma concessão aos formalismos no tocante aos modos de convocação da conferência... é a história velha mas sempre nova das capelinhas no estrangeiro...

É por isso que os esforços de Trotsky e de lonov com vista à reconciliação são agora tão lamentáveis como ridículos. Só uma incompreensão total dos fatos pode explicar esses esforços, que são agora inofensivos, porque ninguém os apoia, a não ser os diplomatas de círculos no estrangeiro... Os conciliadores à Trotsky e lonov enganaram-se tomando as condições particulares que permitiram à diplomacia conciliadora instalar-se na assembleia plenária pelas condições gerais da vida atual do Partido. Graças à existência de tendências profundas para a reconciliação (para a unificação do Partido) nas duas facções principais, esta diplomacia desempenhou um certo papel na assembleia plenária, mas enganaram-se tomando-a por um fim em si, por um instrumento que lhes permitiria navegar constantemente entre pessoas, grupos e instituições...

Tendo sido impelidos para o primeiro plano na assembleia plenária(4), tendo obtido a possibilidade de desempenhar um papel na qualidade de intermediários e de juízes para pôr fim à divisão, para dar satisfação às pretensões dirigidas contra o bureau central, os conciliadores à Trotsky e lonov imaginaram que, enquanto existissem as pessoas, os grupos e as instituições em questão, poderiam brincar aos intermediários. Erro ridículo. Os intermediários sáo necessários quando é preciso determinar a medida das concessões necessárias para obter o entendimento...

Agora os intermediários já não são necessários, já não têm qualquer papel a desempenhar porque já não se trata da medida das concessões, e isso porque todas as concessões (mesmo as mais excessivas) foram feitas na assembleia plenária...

Se Trotsky e lonov tivessem agora a ideia de querer reconciliar o Partido com as pessoas, os grupos e as instituições em questão, seriam para nós, bolcheviques e mencheviques partiitsi,(5) apenas traidores ao Partido e nada mais...

Todos os conciliadores sem carácter, como lonov e Trotsky, que defendem ou justificam estas pessoas, perdem-nas na realidade ligando-as ainda mais fortemente à tendência liquidadora, e esse é o seu maior crime...

Pelo contrário, tudo se torna perfeitamente compreensível se não nos recusarmos a ver o que está na base de tudo, que é o agrupamento definitivo de todos os independentes russos e a sua definitiva reconciliação com a «utopia reaccionária» do restabelecimento e da consolidação do Partido ilegal...

Os pontos de vista de lonov e de Trotsky, que querem ser considerados como estranhos a qualquer fracção são de fato característicos a este respeito (Pravda, n.° 12, e resolução de Viena). Trotsky recusa-se obstinadamente a ter em conta os mencheviques partiitsi...

Tentar, apesar de todos os fatos em contrário, apresentar a luta de Plekhanov contra o grupo de Goloss(6) como uma briga literária entre fracções é muito simplesmente pôr-se do lado do grupo dos independentes partidários da legalidade contra o Partido.

Março-Maio de 1910.
V. I. Lenine: «Notas do um publicista»,
Obras completes,
tomo XIV, pp. 291-338, ed. r.


A Política de Aveturas e de Cisão de Trotsky


A resolução Trotsky convidando as organizações locais a preparar uma «Conferência de todo o Partido» fora do Comité Central e contra ele apenas exprime o objetivo prosseguido pelo grupo do Goloss: aniquilar as instituições centrais, odiosas a todos os liquidadores e acabar ao mesmo tempo com o Partido enquanto organização. Não basta esclarecer estas manobras dirigidas contra o Partido pelo grupo do Goloss e por Trotsky, é preciso também combatê-las. Os camaradas que prezam o Partido e desejam a sua restauração devem pronunciar-se categoricamente contra aqueles que, guiados por considerações de fracção e de capelinha, se esforçam por destruí-lo...

É preciso compreender porque é que é insensato, indigno, ridículo, elaborar resoluções acerca da comunidade de ação com pessoas como Potressov e consortes(7). Quando o Partido compreender que se encontra em face de duas políticas inconciliáveis, que se trata aqui do social-democratismo e do liberalismo, encontrará facilmente uma saída. Então saberemos criar um aparelho «legal» que não servirá aos liquidadores para entravar a ação do Partido...

A resolução de Viena (26 de Novembro da 1910) compreende três partes:

  1. uma declaração de guerra à Gazette Ouvrière(8) (combater este jornal, que é uma «nova empresa fraccional», segundo a expressão de Trotsky);
  2. uma parte polémica contra a linha do bloco «dos bolcheviques e de Plekhanov»;
  3. a declaração de «que a assembleia do clube de Viena (isto é, Trotsky e o seu circulo) decide criar uma base para a preparação e a convocação da conferência do POSDR».

Não nos deteremos na primeira parte. Trotsky tem toda a razão quando diz que a Gazette Ouvrière é uma «empresa privada» e que não está de modo algum «autorizada a falar em nome do Partido».

Infelizmente, Trotsky esquece-se de que ele próprio e a sua Pravda também não têm autoridade para o fazer. Ele declara que a assembleia plenária reconheceu a ação da Pravda como útil, mas não diz que esta mesma assembleia nomeou um representante do CC para a redação da Pravda. Calar este fato referindo por outro lado as decisões da assembleia plenária em relação à Pravda é simplesmente enganar os operários, e isto tanto mais fraudulentamente que no mês de Agosto de 1910 Trotsky afastava da Pravda o representante do CC. Após este acontecimento, após a ruptura do laço que o ligava ao CC, o jornal de Trotsky é apenas uma «empresa privada», incapaz, além disso, de cumprir os compromissos assumidos. Até à próxima reunião do CC, o único juiz da atitude da Pravda face ao CC é o representante nomeado pela assembleia plenária, o qual definiu a actuação de Trotsky como contrária aos estatutos.

Eis o que resulta da questão levantada tão a propósito por Trotsky sobre os que estão autorizados a falar em nome do Partido.

Enquanto os liquidadores independentes, partidários da legalidade, sabotarem o CC russo, enquanto o grupo de Goloss sabotar o CC estrangeiro, o órgão central fica sendo a única instituição autorizada a falar em nome do Partido.

É por isso que declaramos, em nome do Partido, que Trotsky conduz uma política nefasta ao Partido, que viola a legalidade do Partido, que se enreda na via das aventuras e da cisão quando, na sua resolução, sem dizer uma única palavra do CC (como se estivesse combinado com o grupo do Goloss para não reconhecer o CC), anuncia, em nome de um grupo estrangeiro, a criação de uma base para a convocação de uma Conferência do POSDR...

Trotsky escreve na sua resolução que a luta conduzida por «leninistas e plekhanovistas» já não tem presentemente nenhuma base de princípios. (Substituindo por personalidades as correntes do bolchevismo e do menchevismo antiliquidador, Trotsky quer mostrar o seu desdém, mas apenas consegue mostrar a sua incompreensão)...

É uma mentira descarada dizer que, em todas as correntes do Partido, se chegou à firme convicção de que é neçessário restabelecer a ação ilegal. Cada número do Goloss mostra que os golossistas olham o grupo de Potressov e consortes como uma corrente do Partido, e mais, que colaboram sistematicamente com este grupo. Não será ridículo e vergonhoso, um ano depois da assembleia plenária do CC, jogar às escondidas, enganar-se a si mesmo e enganar os operários recorrendo a disfarces oratórios, quando se trata da aplicação de decisões e não de frases?

Trotsky olha ou não olha Potressov e os seus consortes (nitidamente designados no órgão centra!) como uma «corrente do Partido?» Esta questão é precisamente a da aplicação das decisões da assembleia plenária, e há já um ano que o órgão central pôs a questão de uma forma clara, nítida, precisa, de forma a tornar impossível qualquer evasiva...

Trotsky guarda silêncio sobre esta verdade incontestável, porque ela o incomoda, dado o objetivo real da sua política. Ora, este objetivo torna-se cada vez mais claro, cada vez mais evidente, mesmo para os membros menos clarividentes do Partido. Este objetivo é o bloco de Potressov e dos otzovistas contra o Partido, bloco que è sustentado e organizado por Trotsky. A adopção das resoluções de Trotsky (no género da de Viena) pelo grupo de Goloss, todo o apoio da Pravda aos extremistas, todas as bisbilhotices tendentes a fazer crer que na Rússia apenas os extremistas e os trotskistas atuam, a propaganda da Pravda em favor da escola fraccíonista do grupo Vpériod, o apoio dado por Trotsky a esta escola, tudo isto são fatos impossíveis de esconder por muito tempo.

A política de Trotsky é a «colaboração amigável» da Pravda com as fracções dos Potressov e dos adeptos do grupo Vpériod. Neste bloco os papéis distribuem-se de uma forma muito clara: Potressov e consortes continuam o seu trabalho pela legalidade do Partido e pela destruição da social-democracia: os golossistas formam a sucursal estrangeira desta fracção e Trotsky assume o papel de advogado, assegurando ao público ingénuo que «entre todas as correntes do Partido se estabeleceu uma política social-democrata firme». Os extremistas do grupo Vpériod utilizam também os serviços deste advogado, que defende a liberdade da sua escola fraccíonista e encobre a sua política com uma fraseologia oficial hipócrita. Este bloco apoia muito naturalmente a «base» Trotsky e a conferência convocada por Trotsky, porque os Potressov e as gentes do Vpériod têm aqui tudo o que necessitam: liberdade para a sua fracção, proteção às suas actuações e quem advogue em sua defesa diante dos operários.

É por isso que, colocando-nos do ponto de vista dos «princípios», só podemos considerar este bloco como um bloco de aventureiros no sentido rigoroso do termo...

A razão essencial por que este novo bloco está votado ao fracasso, seja qual for o seu sucesso junto de elementos rotineiros e quaisquer que sejam as bases que Trotsky consiga reunir por intermédio dos extremistas e de Potressov, é que ele é absolutamente desprovído de princípios. A teoria do marxismo, os princípios de toda a sua filosofia, de todo o nosso programa a de toda a nossa táctica estão agora no primeiro plano na vida do Partido... É preciso expor de novo os princípios do marxismo às massas, é preciso pôr de novo na ordem do dia a defesa da teoria marxista. Declarando que a aproximação dos mencheviques partlitsi e dos bolcheviques é efémera e desprovida do fundamento político, Trotsky mostra a profundidade da sua ignorância e o vazio das suas próprias concepções. Foram precisamente os princípios do marxismo que triunfaram na luta dos bolcheviques contra as ideias anti-sociais-democratas, na luta dos mencheviques partiitsi contra os Potressov e os golossistas...

Os resultados da colaboração amigável de Potressov com os extremistas e Trotsky não se manifestaram ainda; até aqui apenas se viu diplomacia de capelinha...

O bloco de Trotsky, de Potressov e dos extremistas é precisamente uma aventura, do ponto de vista dos princípios.

O ano que decorreu desde a assembleia plenária mostrou-nos que o grupo Potressov e a fracção do Vpériod incarnam precisamente esta influência burguesa sobre o proletariado. Passar em silêncio este fato evidente é fazer o jogo dos aventureiros, porque até aqui ainda ninguém ousou dizer abertamente que Potressov e os seus consortes não têm nada de «liquidacionismo», nem que ele está de acordo com a linha do Partido de reconhecer o otzovismo como uma «nuance legal»...

Enfim, em terceiro lugar, Trotsky conduz uma política aventureirista do ponto de vista de organização, porque, tal como já dissemos, esta política é contrária aos estatutos do Partido, e, organizando uma Conferência em nome de um grupo estrangeiro (ou em nome de duas fracções hostis ao Partido: os golossistas e os extremistas), Trotsky compromete-se directamente na via da cisão.

Janeiro de 1911.
V. I. Lenine: «Sobre a situação no Partido»,
Obras completas, tomo XV, pp. 60-70, ed. r.


Sentido Histórico da Luta no Interior do Partido


O assunto indicado neste capitulo é tratado nos artigos que Martov e Trotsky publicaram nos números 50 e 51 da Neue Zeit(9). Martov expõe aí os pontos de vista do menchevismo. Trotsky deixa-se arrastar pelos mencheviques ocultando a sua atitude atrás de frases sonoras. Para Martov, «a experiência russa» reduz-se à «vitória da grosseria blanquista e anarquista sobre a cultura marxista» (isto é, do bolchevismo sobre o menchevismo). «A social-democracia russa quis demasiado falar à russa» e não se inspirou suficientemente na táctica «europeia». Em Trotsky voltamos a encontrar uma «filosofia da história» análoga. Para ele, a causa da luta é «a adaptação dos intelectuais marxistas ao movimento de classe do proletariado». No primeiro plano, Trotsky coloca «o espírito sectário, o individualismo dos intelectuais, o fetichismo ideológico». «A luta para influenciar um proletariado ainda pouco amadurecido politicamente», tal é, segundo ele, o fundo da questão.

I

A teoria que vê na luta do bolchevismo contra o menchevismo uma luta para influenciar um proletariado ainda pouco amadurecido politicamente não é nova. Encontramo-la desde 1905 (ou desde 1903), numa multidão de livros, de brochuras, de artigos da imprensa liberal.

É verdade que o proletariado russo é, no tocante a maturidade política, inferior ao proletariado ocidental. Mas, de todas as classes da sociedade russa, foi precisamente o proletariado que deu provas da maior maturidade política. A burguesia liberal, que se conduziu entre nós de forma tão baixa, tão cobarde, tão ridícula a tão traidora como a burguesia alemã em 1848, detesta o proletariado precisamente porque este se mostrou, em 1905, suficientemente maduro do ponto de vista político para lhe arrancar a direção do movimento e desmascarar impiedosamente a duplicidade dos liberais.

É uma Ilusão acreditar, declara Trotsky, que o menchevismo e o bolchevismo lançaram raízes profundas nas profundezas do proletariado.

Eis um espécime das frases sonoras e vazias na arte das quais o nosso Trotsky se tornou mestre. Não é «nas profundezas do proletariado», mas no conteúdo económico da revolução russa que é necessário procurar as raízes do desacordo entra bolcheviques e mencheviques. É por ignorarem este conteúdo que Martov e Trotsky não viram o sentido histórico da luta interna do Partido russo. O essencial não é saber se as fórmulas teóricas das nossas dissensões penetraram profundamente nesta ou naquela camada do proletariado; o importante é que as condições económicas da revolução de 1905 conduziram o proletariado a tomar uma atitude hostil à burguesia liberal, não só na questão da melhoria das condições de existência dos operários, mas também na questão agrária e em todas as questões políticas da revolução. Falar das diferentes correntes em luta na revolução, limitando-se a colar-lhes as etiquetas de «sectarismo» ou de «grosseria», e não dizer uma palavra sobre os interesses económicos fundamentais do proletariado, da burguesia liberal e do campesinato democrático é rebaixar-se ao nível dos jornalistas dos boulevards...

A luta do bolchevismo e do menchevismo está estreitamente ligada à história da primeira e da segunda Duma. Tratava-se de saber se era necessário sustentar os liberais; ou trabalhar para lhes arrancar a direção do campesinato. Por isso, explicar as nossas cisões pela influência dos intelectuais, pela imaturidade das massas, é repetir com uma ingenuidade pueril todas as lendas liberais.

Trotsky engana-se radicalmente, pela mesma razão, quando pretende que, na social-democracia internacional, as cisões se produziriam por causa da «adaptação da classe revolucionária às condições estreitas do parlamentarismo» e, na social-democracia russa, pela adaptação dos intelectuais ao proletariado.

Tal como esta adaptação era politicamente limitada do ponto da vista do objetivo final, social-democrata, escreve Trotsky, assim também as suas formas eram incoerentes, e grande era a sombra ideológica que projectava.

Esta fraseologia verdadeiramente «incoerente» não passa da «sombra ideológica» do liberalismo. Martov e Trotsky põem no mesmo plano períodos históricos diferentes, opondo a Europa, que há muito havia concluído a sua revolução burguesa, à Rússia, que está em vias de lazer a sua. Na Europa, o trabalho social-democrata consiste essencialmente em preparar o proletariado para lutar pela conquista do poder contra a burguesia, que domina já completamente o Estado. Na Rússia trata-se simplesmente da fundação de um Estado burguês moderno, que será semelhante à monarquia dos junkers (no caso da vitória do tsarismo sobre a democracia) ou da República camponesa, burguesa-democrática (no caso da vitória da democracia sobre o tsarismo). Ora, a vitória da democracia na Rússia contemporânea só é possível se as massas rurais marcharem com o proletariado revolucionário e não com os liberais, que desempenham um papel duplo. Esta questão não está ainda historicamente resolvida. As revoluções na Rússia não terminaram ainda e, na luta pela forma do regime burguês na Rússia, o conteúdo político real do trabalho social--democrata é mais vasto do que nos países em que não há nenhuma luta pela confiscação das grandes propriedades pelos camponeses, em que as revoluções burguesas já terminaram há muito...

II

As considerações de Martov sobre a revolução russa e as de Trotsky sobre a situação atual da social-democracia russa confirmam de forma concreta a falsidade dos seus pontos de vista essenciais.

Comecemos pelo boicote. Martov chama ao boicote uma abstenção política, um processo de anarquistas e sindicalistas e, além disso, fala unicamente de 1906. Trotsky diz que

a tendência para o boicote se manifesta através da história do bolchevismo: boicote dos sindicatos, da Duma do Império, das administrações locais, etc....;

... que esta tendência é o «resultado de um medo sectário de se mergulhar nas massas e representa o radicalismo da abstenção intransigente». No que diz respeito ao boicote dos sindicatos e das administrações locais, Trotsky afirma coisas absolutamente falsas. É absolutamente falso que o boicote se manifeste através de toda a história do bolchevismo. Este constltui-se definitivamente enquanto corrente, na Primavera e no Verão de 1905, antes de ter surgido a questão do boicote. O bolchevismo declarou em Agosto de 1906, no seu órgão oficial, que as condições históricas que tinham exigido o boicote tinham desaparecido.

Trotsky deforma o bolchevismo, porque nunca pode assimilar pontos de vista um pouquinho mais precisos sobre o papel do proletariado na revolução burguesa russa...

Não tendo compreendido o significado histórico e económico da separação dos elementos não sociais-democratas do POSDR na época da contra-revolução, Trotsky fala aos seus leitores alemães da «desagregação» das duas fracções, da «desagregação» e da «decomposição» do Partido.

Isto é falso. E este erro põe desde logo à vista a completa incompetência teórica de Trotsky. Este último não compreendeu absolutamente em nada por que é que o CC, na sua assembleia plenária, declarou que o liquidacionismo e o otzovismo eram a «manifestação da influência burguesa sobre o proletariado».

Efectivamente, o Partido desagrega-se e decompõe-se ou, pelo contrário, consolida-se e saneia-se quando dele se destacam correntes que condenou e que representam a influência burguesa sobre o proletariado?

Em segundo lugar, este erro exprima na prática a política propagandista da fracção Trotsky. Agora, desde que o representante do CC foi afastado da redação da Pravda, toda a gente vê que o trabalho de Trotsky não passa de uma tentativa de criação de uma fracção. Fazendo propaganda para a sua fracção, Trotsky não se importa, de modo nenhum, de contar aos alemães que o Partido se desloca, que as duas fracções se desagregam, e que ele, Trotsky, salva tudo. Vimos agora – e a recente resolução dos trotskistas (em nome do Clube de Viena, em 26 de Novembro de 1910) mostra-o com uma evidência particular — que, isolados, os liquidadores e os extremistas confiam em Trotsky.

Eis mais um exemplo que demonstrará até onde vai o descaramento de Trotsky, rebaixando o Partido e fazendo-se valer perante os alemães: Trotsky escreve que as massas operárias na Rússia olham «o Partido social-democrata como de fora do seu círculo» e fala dos «sociais-democratas sem social-democracia».

Como á que Potressov e consortes não abraçariam Trotsky por semelhantes discursos?...

Quando Trotsky fala em detalhe aos camaradas alemães da inépcia do otzovismo, que descreve como a «cristalização» de uma tendência para o boicote, natural em todo o bolchevismo, e quando, a seguir, em duas palavras, recorda que «o bolchevismo não se deixou abater pelo otzovismo», mas que o combateu resolutamente, ou melhor, com frenesi, o leitor alemão não pode aperceber-se da sábia perfídia de semelhante exposição. A «restrição mental» jesuítica de Trotsky consiste em calar um pequenino, um pequeníssimo «detalhe». «Esquece-se» de referir que, desde a Primavera de 1909 a fracção bolchevique, numa assembleia oficial dos seus representantes, rejeitou, excluiu os otzovistas. Mas precisamente este «detalhe» embaraçava Trotsky, que queria a todo o custo falar da «desagregação» da fracção bolchevique (e em seguida do Partido) e não da decadência dos elementos não sociais-democratas.

Vemos agora Martov como um dos chefes dos liquidadores, chefe tanto mais perigoso visto ser habiIíssimo a defender os liquidadores com expressões quase marxistas. Mas Martov expõe abertamente concepções que influenciaram correntes inteiras do movimento operário de massa de 1903 a 1910, enquanto que Trotsky representa apenas as suas próprias flutuações e nada mais. Em 1903, era menchevique; afastou-se do menchevismo em 1904, para aí regressar em, 1905 fazendo alarde de uma fraseologia ultra-revolucionária; afastou-se de novo em 1906; em fins de 1905 preconizava acordos eleitorais com os cadetes (isto é, estava realmente de novo com os mencheviques) e, na Primavera de 1907, declarava no congresso de Londres que se diferenciava de Rosa Luxemburg «mais por nuances individuais do que por tendências políticas». Hoje, Trotsky plagia a ideologia de uma fracção, amanhã a de uma outra e, por esta razão, proclama-se acima das fracções. Em teoria, Trotsky não está de acordo em nada com os liquidadores e os otzovistas, mas, na prática, está de acordo em tudo com os golossistas e o grupo Vpériod.

É por isso que, como Trotsky diz aos camaradas alemães que representa a «tendência geral do Partido», eu tenho de declarar que ele apenas representa a sua fracção e apenas goza de uma certa confiança junto dos otzovistas e dos liquidadores. Eis fatores que mostram a exactidão da minha afirmação. Em Janeiro de 1910, o nosso Partido tinha estabelecido uma ligação estreita com o jornal de Trotsky, a Pravda, delegando um representante do CC para o conselho de redação. Em Setembro de 1910, o órgão oficial central do Partido publica um artigo no qual se diz que o representante do CC teve de romper com Trotsky porque este conduzia uma política contrária ao espírito do Partido, Em Copenhague, Plekhanov, na qualidade de representante dos mencheviques partíitsi e de delegado da redação do órgão central, o autor destas linhas, na qualidade de representante dos bolcheviques, e um camarada polaco ergueram um protesto categórico contra a forma como Trotsky relata, na imprensa alemã, os assuntos do nosso Partido.

Que o leitor julgue agora se Trotsky representa a «tendência geral do Partido» ou se representa uma tendência da social-democracia russa geralmente hostil ao Partido.

Abril de 1911.
V. I. Lenine: «O sentido histórico da luta no interior do Partido na Rússia»,
Obras completas, tomo XV, pp. 10-23, ed. r.


Extrato de uma Resolução do 2.º «Grupo Parisiense do POSDR»(10)


Pessoas como Trotsky, com as suas frases anfigúricas sobre o POSDR, são «a praga do nosso tempo». Querem fazer facilmente a sua carreira pregando o acordo com toda a gente, mesmo com Potressov e os otzovistas, e forçosamente guardam silêncio sobra as condições políticas deste acordo. Na realidade, pregam a capitulação perante os liquidadores, perante os fundadores de um partido operário estolipiniano...

A assembleia chama a atenção dos operários sociais-democratas sem distinção de fracção para o fato de que os chefes estrangeiros do grupo Vpériod e o redactor da Pravda, Trotsky, conduzem uma política de apoio aos liquidadores e de união com eles contra o Partido e as suas decisões.

Julho de 1911.
V. I. Lenine: «Resolução do 2.º grupo parisiense do POSDR, sobre a situação no Partido».
Obras completas, tomo XV, pp. 197-200, ed. r.


A Todas as Organizações, Grupos, Círculos do Partido Social-Democrata


Manifesto da Comlssão de organização para a convocação de uma conferência pan-russa

Trotsky, naturalmente, obrigou-se a repetir todos os can-cans dos liquidadores estrangeiros sobre a pretensa apropriação do dinheiro do Partido pela Conferência e sobre as «expropriações no interior do Partido» (ver o n.º 21 da Pravda em que Trotsky, «com a morte na alma», reproduz todas estas histórias). Não vamos incidir novamente nesta triste campanha. Trotsky, como todos os outros membros do Partido que leem o órgão central, sabe muito bem que o CC, reunido em sessão plenária, submeteu esta questão do dinheiro à decisão de três camaradas estrangeiros, que gozam de uma grande autoridade junto dos operários russos. O Partido publicou a sua decisão sobre este assunto no n.º 11 do órgão central. Ora, agora que estes camaradas se pronunciaram contra os planos cisionistas dos golossistas e exprimiram a sua confiança no nosso Comité de organização, Trotsky solta altos gritos a propósito das expropriações no interior do Partido.

Um pouco de pudor, senhores! Diremos a Trotsky e aos da sua igualha: não levanteis uma miserável e vergonhosa campanha de mentiras à volta desta questão de dinheiro. Não façais assim a felicidade dos Menchikov e dos Izgoïev! A decisão dos camaradas estrangeiros sobre esta questão de dinheiro é formalmente obrigatória para todos nós — assim decidiu o Partido — e moralmente é-o ainda mais. Porque, camaradas, sabeis quem são estes «detentores» estrangeiros que, segundo parece, sancionam e encobrem «expropriações no interior do Partido». São Karl Kautsky, Franz Mehring e Clara Zetkin, nossos guias, cujos nomes são queridos a todos os sociais-democratas russos...

Assinalemos ainda uma característica geral das intervenções do grupo de Trotsky sobre as questões de táctica e sobre as questões de principio no Partido. No seu arsenal, Trotsky só encontra armas contra a esquerda do Partido. Diga-se a propósito que uma tal política apenas serve aos golossistas e aos oportunistas de todas as espécies. Daí a unanimidade palpável que se estabeleceu entre o grupo Trotsky e o Goloss, órgão da liquidação do Partido. Estranha forma de estar fora das fracções!

1 de Agosto de 1911.
«Documentos e materiais».
Obras completas de Lenine, tomo XV, p. 593, ed. r.


Nota da Redação Sobre a Correspondência de São Petersburgo


Trotsky e todos os conciliadores do seu género são bastante mais perigosos do que os próprios liquidadores. Efectivamente, os liquidadores convictos expõem abertamente os seus pontos de vista aos operários e é fácil mostrar-lhes os seus erros, enquanto que os trotskistas enganam os operários, dissimulam o mal e tornam impossível o diagnóstico e a cura. Sustentar o grupo Trotsky é ajudar a enganar os operários, é ocultar o «liquidacionismo». Dar, na Rússia, inteira liberdade de ação a Potressov e consortes e, no estrangeiro, ocultar os seus atos com frases revolucionárias, tal é o fundo da política trotskista.

1 de Setembro de 1911.
V. I. Lenine: «Do campo do Partido «operário» estolipiniano».
Obras completas,
tomo XV, p. 218, ed. r.


A Nova Fracção dos Conciliadores ou os Virtuosos


O «conciliacionismo» é um conjunto de tendências, de aspirações, de pontos de vista, estreitamente ligados à própria essência do problema que se punha perante o POSDR, na época da contra-revolução (1908-1911)... O seu porta-voz mais consequente foi Trotsky...

Trotsky e os «trotskistas inconsequentes» asseguram que não formam uma fracção pois... o único objetivo do seu agrupamento (em fracção) é precisamente a destruição de todas as fracções, a propaganda da unificação, etc... Mas todas as afirmações deste género não passam de gabarolices e de subterfúgios pela simples razão que o fato da existência de uma fracção não poderia ser invalidado pelo objetivo que ela prossegue, seja qual for, aliás, a excelência deste objetivo...

Trotsky fornece-nos inúmeros projectos de unificação sem nenhum principio na base. Para tomar um exemplo recente, recordemos como ele punha nas nuvens a Via Ouvrière(11) de Paris, dirigida por um comité partidário de «conciliadores» e se golossistas. Eis, dizia, um exemplo admirável: «nem bolchevique, nem menchevique, mas social-democrata revolucionário». Só que o nosso palrador esquecia que nâo há social-democrata revolucionário a não ser o que compreende quanto é nocivo o pseudo-social-democratismo, o social-democratísmo anti-revolucionário, isto é, o liquidacionismo e o otzovismo na Rússia de 1908-1911, e que sabe lutar contra tais tendências, contrárias ao espírito social-democrata.

18 de Outubro de 1911.
V. I, Lenine: «Sobre a nova fracção dos conciliadores ou virtuosos»,
Obras completas, tomo XV, p. 228-238, ed. r.


A Diplomacia de Trotsky e a Plataforma dos «Partiitsi»


Eis um editorial pomposo de titulo sonoro: «Avante!»(12):

Operários conscientes, diz-se neste artigo, vós não tendes presentemente palavra de ordem mais importante e mais geral do que a de liberdade de associação, de reunião e de greve.

A social-democracia, lemos mais adiante, convida o proletariado à luta pela República... Mas para que esta luta não seja a palavra de ordem oca de alguns eleitos é preciso que vós, operários conscientes, ensineis as massas a compreender a necessidade da liberdade de coligação e de lutar por esta reivindicação.

A frase revolucionária serve aqui para mascarar e justificar a falsidade do liquidacionismo. Porque é que a palavra de ordem da República é uma palavra de ordem oca para alguns, quando a República significa a impossibilidade de dissolver a Duma? Liberdade de coligação e de Imprensa? Libertação dos camponeses submetidos às violências e às exações de Markov, Romanov, Pourichkévitch? Não é evidente que é preciso substituir aqui os termos e que é a palavra de ordem de coligação que fica «oca» e vazia de sentido se não se liga à palavra de ordem de República?

É inútil exigir à monarquia tsarista a «liberdade de associação» se não se explica às massas a incompatibilidade desta liberdade com o tsarismo e a necessidade da República para uma tal liberdade. A apresentação na Duma de projectos de lei sobre a liberdade de associação, as interpelações e os discursos devam precisamente fornecer-nos, a nós, sociais-democratas, a ocasião e o objecto da nossa propaganda em favor da República.

«Os operários conscientes devem ensinar as massas a compreender, pela experiência, a necessidade da liberdade de associação.» Este é o velho refrão do antigo oportunismo russo, já tão repisado pelos economistas. A experiência verdadeira das massas é a dissolução dos seus sindicatos pelo ministro, as violências quotidianas dos governantes e dos chefes da polícia. Mas pôr em primeiro plano a palavra de ordem da liberdade de associação e não a de República, é frasear como intelectual oportunista afastado das massas.

Trotsky sabe muito bem que, nas suas publicações legais, os liquidadores unem precisamente a palavra de ordem de liberdade de associação às palavras de ordem: Abaixo o partido ilegal! Abaixo a luta pela República! A tarefa de Trotsky consiste em encobrir o «liquidacionismo» lançando poeira aos olhos dos operários.

É impossível discutir com Trotsky sobre o fundo das questões, porque ele não tem nenhuma ideia firme. Pode-se e deve-se discutir com os liquidadores e com os otzovistas convictos, mas não se deve discutir com um homem que se diverte a encobrir os erros de uns e de outros: deve-se desmascará-lo como um diplomata de baixo calibre.

8 de Dezembro de 1911.
V. I. Lenine: «Sobre a diplomacia de Trotsky e uma plataforma dos liquidadores»,
Obras completas, tomo XV. pp. 302-304, ed. r.


Os Liquidadores Contra o Partido


O pobre homem mentiu de novo, e de novo se enganou nos seus cálculos.(13)

O bloco preparado com tanto barulho contra a Conferência de 1912, sob a alta direção dos liquidadores, desagrega-se agora por todos os lados porque os liquidadores deixaram transparecer demasiado as suas intenções. Os camaradas polacos recusaram participar no comité de organização. Plekhanov, na sequência de uma correspondência trocada com o representante deste comité, chegou a precisar alguns detalhes curiosos:

  1. que a conferência projectada deve ser a conferência «constituinte» de um novo partido;
  2. que a convocação desta conferência assenta num principio anarquista;
  3. que esta conferência é convocada pelos liquidadores.

Tendo o assunto sido deste modo esclarecido por Plekhanov, não é de admirar que os «bolcheviques-conciliadores» se tenham armado de coragem e resolvido a apanhar em flagrante delito de mentira Trotsky que os colocou entre os partidários do comité de organização.

Este comité na sua composição atual, com o seu desejo evidente da impor em todo o Partido a sua atitude organizada, não oferece a menor garantia da convocação de uma verdadeira Conferência de todo o Partido.

É isto o que hoje dizem os nossos partiitsi. Onde estão pois agora os nossos extremistas que outrora se tinham apressado a manifestar a sua simpatia ao comité da organização? Não sabemos, o que aliás pouco interessa. O que interessa, é que foi irrefutavelmente estabelecido por Plekhanov o carácter liquidador da conferência convocada pelo comité da organização e os conciliadores tiveram de aceitar este fato. Que resta então? Os conciliadores evidentes e Trotsky...

Neste bloco, os liquidadores continuam a gozar inteira liberdade de prosseguir a sua linha de ação no Jivoié Diélo(14) e no Nacha Zaria(15) e, no estrangeiro, Trotsky encarrega-se de os encobrir com a sua fraseologia revolucionária, que nada lhe custa e que em nada compromete os seus aliados.

Esta história comporta uma lição para os que, no estrangeiro, suspiram pela unidade e recentemente publicaram em Paris uma folha chamada Pour le Parti. Para construir o Partido, não basta gritar pela unidade, é necessário ter um programa político, um programa de ação. O bloco dos liquidadores, de Trotsky, dos extremistas, dos polacos, dos bolcheviques-partiitsi, dos mencheviques de Paris estava condenado a desmoronar-se, porque assentava na ausência de princípios, na hipocrisia e na fraseologia oca. Quanto aos suspiradores, fariam bem em começar por saber com quem é que querem a unidade. Se a querem com os liquidadores, porque é que não o dizem sem rodeios? Se são contra a fusão com os liquidadores, por que unidade é que suspiram?

Só a Conferência de Janeiro e os órgãos eleitos por ela unem presentemente todos os militantes do POSDR Fora desta Conferência não há nada, a não ser as promessas dos bundistas e de Trotsky relativas à convocação de uma conferência «liquidacionista».

25 de Abril de 1912.
V. I. Lenine: «Os liquidadores contra o Partido»,
Obras completas, tomo XV, pp. 461-463, ed. r.


A Desagregação do Bloco de Agosto


Todos os que se interessam pelo movimento operário e pelo marxismo na Rússia sabem que em Agosto da 1912 se constituiu um bloco composto pelos liquidadores, por Trotsky, pelos letões, pelos bundistas e pelos caucasianos...

Desde então, passou-se exatamente um ano e meio. Ora, em Fevereiro de 1914, Trotsky, o «verdadeiro» defensor da plataforma de Agosto, funda uma nova revista que, desta vez, «nada tem de fraccionista» e que se propõe como objetivo a «unificação» do Partido...

Como então dissemos, o bloco de Agosto de 1912 tinha como único fim mascarar os liquidadores. Ei-lo dissolvido. Nem mesmo os seus amigos russos puderam permanecer unidos. Os unificadores não conseguiram unir-se entre si e daí resultaram duas tendências «de Agosto»: os partidários do Loutch (Nacha Zaria e Journal Ouvrier du Nord) e os trotskistas (Borba). Os dois campos brandiam cada um, um farrapo da bandeira do bloco de Agosto e gritavam com toda a força; «Unidade!»

Qual é a tendência da Borba?

Os liquidadores têm uma fisionomia especial: são liberais e não marxistas. Trotsky não tem fisionomia nenhuma, nem nunca a teve; limita-se a andar de cá para lá, entre os liberais e os marxistas e a lançar palavras de efeito e frases sonoras.

Não se encontra na Borba nenhuma opinião precisa sobre nenhuma das questões litigiosas.

Isto parece inverosímil e contudo é verdadeiro. Nem uma palavra sobre a questão do trabalho clandestino.

Trotsky partilha as ideias da Axelrod, Zassoulitch, Dan, Sedov(16)? Não diz nada sobre isso. É a favor de um partido legal? É impossível fazer com que o diga.

Nem sequer uma palavra sobre os discursos liberais dos Ejov e dos outros loutchistas a propósito das greves. Silêncio total sobre a revogação do programa relativo à questão nacional.

Nem uma palavra sobre as intervenções de L. Sedov e dos outros loutchistas contra as três palavras de ordem adoptadas pelos bolcheviques depois dos acontecimentos do Lena.

Trotsky afirma que é pela união das reivindicações parciais e do objetivo final, mas não diz absolutamente nada sobre o que pensa relativamente à realização desta união pelos liquidadores.

28 de Maio de 1914.
V. I. Lenine; «A desagregação do bloco de Agosto»,
Obras completas. tomo XVII, pp. 251-253. ed. r.


A Violação da Unidade ao Grito de «Viva a Unidade!»


Os velhos militantes marxistas russos conhecem bem Trotsky e é inútil falar-lhes dele. Mas a jovem geração operária não o conhece e é necessário falar-Ihe dele, porque ele é uma figura típica dos cinco grupos estrangeiros que flutuam entre os liquidadores e o Partido.

No tempo da velha Iskra (1901-1903), estes elementos hesitantes que iam continuamente dos economistas para os iskristas e vice-versa, eram denominados «equilibristas».

Nós entendemos por «liquidacionismo» uma corrente ideológica que tem a mesma fonte do menchevismo e do economismo, que se desenvolveu no decurso dos últimos anos e cuja história se ligou intimamente à política e à ideologia da burguesia liberal.

Os «equilibristas» proclamam-se acima das fracções, pela simples razão de que tomam as suas ideias emprestadas, agora a uma fracção, logo a uma outra. De 1901 a 1903, Trotsky foi um Iskrista fogoso e, no congresso de 1903, foi. segundo Riazanov, o «cacete de Lenine». Em fins de 1903, torna-se menchevique encarniçado, isto é, troca os iskristas pelos economistas e declara que existe um abismo entre a antiga e a nova Iskra. Em 1904-1905, afasta-se dos mencheviques, sem todavia se conseguir fixar, colaborando agora com Martynov (economista), proclamando logo a doutrina ultra-esquerdista da «revolução permanente». Em 1906-1907, reaproxima-se dos bolcheviques e declara-se solidário com a posição de Rosa Luxemburg.

No período da emigração, após longas tergiversações, evolui de novo para a direita, e em Agosto de 1912, faz bloco com os liquidadores. Agora, abandona de novo estes últimos, embora no fundo repita as suas ideias.

Tais tipos são característicos, enquanto despojos de grupos e formações históricas do último período, quando a massa operária russa estava ainda em letargia como uma corrente, uma fracção, «numa potência» e cada grupo podia dar-se ao luxo de se apresentar negociando a sua ação com uma outra.

É preciso que a jovem geração russa saiba com quem tem de se haver, quando certas pessoas erguem pretensões inacreditáveis e não querem ter em atenção nem as decisões pelas quais o Partido determinou, em 1908, a sua atitude face ao »liquidacionismo», nem a experiência do movimento operário russo contemporâneo, que realizou, de fato, a unidade da maioria na base do reconhecimento integral destas decisões.

8 de Maio de 1914.
V. I. Lenine: «Sobre a violação da unidade ao grito de «Viva a unidade!»,
Obras completas,
tomo XVII, pp. 393-394, ed. r.


Notas de rodapé:

(1) Axelrod e Alexinski pertenciam ao grupo dos mencheviques liquidadores. (Nota da edição francesa.) (retornar ao texto)

(2) lonov era o colaborador de Trotsky na Pravda (órgão trotskista editado em Viena). (Nota da edição francesa.) (retornar ao texto)

(3) Mikhail e Yuri eram os representantes dos mencheviques no Comité Central que deveria dirigir o trabalho do Partido na Rússia. Recusaram participar neste trabalho. (Nota da edição francesa.) (retornar ao texto)

(4) Esta assembleia plenária do Comité Central teve lugar em 1910. Foi feita aí uma última tentativa para unificar fracções. A assembleia plenária censurou as tendências liquidadoras enquanto desvios de direita e o otzovismo enquanto desvio da esquerda e decidiu a supressão das fracções. Mas os liquidadores sabotaram esta resolução. (Nota da edição francesa.) (retornar ao texto)

(5) Mencheviques de esquerda, que, com Plekhanov, se erguiam então contra os liquidadores e colaboravam com os bolcheviques. (Nota da edição francesa.) (retornar ao texto)

(6) Órgão dos mencheviques liquidadores (Martov, Dan, Martynov, etc.). (Nota da edição francesa.) (retornar ao texto)

(7) Potressov pertencia ao grupo dos liquidadores. (Nota da edição francesa.) (retornar ao texto)

(8) A Gazette Ouvrière era o órgão dos liquidadores. (Nota da edição francesa.) (retornar ao texto)

(9) Órgão teórico da social-democracia alemã antes da guerra, dirigido por Karl Kautsky, (Nota da edição francesa.) (retornar ao texto)

(10) Esta resolução foi escrita por Lenine. (Nota da edição francesa.) (retornar ao texto)

(11) Órgão mensal «operário social-democrata», publicado em 1911 em Paris, em língua russa, onde colaboraram «bolcheviques conciliadores» e liquidadores. (Nota da edição francesa.) (retornar ao texto)

(12) O artigo «Avante!» foi publicado na Pravda de Trotsky como correspondência de Sâo 'Petersburgo. (Nota da edição francesa.) (retornar ao texto)

(13) Trata-se aqui duma comunicação da Pravda trotskista segundo a qual os mencheviques partiitsi e os liquidadores estariam dispostos a apoiar o trabalho do comité de organização proposto por Trotsky. (Nota da edição francesa.) (retornar ao texto)

(14) Órgão dos liquidadores. (Nota da edição Francesa.) (retornar ao texto)

(15) Órgão da ala direita dos liquidadores, que defendia a criação de um novo partido operário legal reconhecido pelo tsarlsmo. (Nota da edição francesa.) (retornar ao texto)

(16) Axelrod, Zassúlitch, Dan e Sedov pertenciam ao grupo dos liquidadores. (Nota da edição francesa.) (retornar ao texto)

Inclusão 09/04/2014