Ser Comunista, uma opção cotidiana

Diógenes Arruda

Abril de 1978


Primeira Edição: Jornal A Classe Operária, abril de 1978

Transcrição: Thales Caramante

HTML: Fernando Araújo.


SALVADOR (BAHIA) — Um dos mais importantes problemas de princípio é o do significado, dimensão e sentido que têm de ser comunista a vida inteira e conservar sempre a cor vermelha. Dia a dia, reaviva-se e torna-se mais cadente a sua atualidade. É ilusório pensar que se trata de uma postura fácil e simples a da pessoa que deseja ser comunista como opção de vida. Propor a si mesmo esta opção e mantê-la de forma ininterrupta e consequente na conduta, na atividade e na ação é uma construção quotidiana. Porque o comunista não é um revolucionário qualquer, mas um revolucionário-proletário obrigatoriamente organizado e militante, com ideologia socialista-proletária, com política e atividade de vanguarda que correspondam aos interesses de classe do proletariado.

Concepção Proletária do Mundo Como Bússola

Ser comunista a vida inteira e conservar sempre a cor vermelha é uma postura difícil e complexa para cumprir em toda a linha. Não se trata de ser uma espécie de super homem. Nada disto. No comunista há, como não poderia deixar de haver, deficiências, debilidades, falhas e erros. Mas suas qualidades especiais precisam ser sempre muito maiores, qualidades estas que devem ser aperfeiçoadas através de novos conhecimentos e de novas lutas, destacando-se a importância que representam na sua formação os ensinamentos revolucionários extraídos da experiência da luta de classes do proletariado e do partido, teoricamente generalizada. E não pode ficar somente aí. Para além disto, deve procurar, na prática da luta revolucionária, também enriquecê-las com muitas outras características do verdadeiro combatente proletário- revolucionário.

Para tanto, é preciso, porém, que em cada atividade e em todas as atividades do Partido, em cada coisa e em todas as coisas de sua vida, o comunista tenha uma atitude e um comportamento crítico e revolucionário e a coragem de praticar a autocrática. Mas sempre do ponto de vista proletário-revolucionário e de partido, isto é, utilizando-as adequadamente com oportunidade, como métodos provados para a correção consciente de falhas e erros, extraindo ensinamentos revolucionários, a fim de poder lutar mais e melhor pela vitória da revolução, do socialismo e do comunismo. No entanto, apesar de seu grande valor, ainda não é suficiente. É preciso muito mais do que isto, pois o passo decisivo é a transformação real e concreta do comunista, visando a melhorar e aperfeiçoar constantemente suas qualidades proletário-revolucionárias na prática.

Ser comunista não é um ato de proclamação solene nem apenas um comprometimento formal, é, antes e acima de tudo, uma transformação real e consciente nas ideias e práticas, no comportamento ideológico e moral, na elevação do nível da compreensão política e das aptidões práticas, no desempenho das atividades partidárias e das responsabilidades no sentido da crescente aquisição de pontos de vista proletário-revolucionários e não de outras quaisquer características. Esta transformação ininterrupta e consequente na concepção de vida, na conduta, na atividade e na ação do comunista não é, como foi erradamente propagado em certos círculos revolucionários, uma simples questão de convivência com os camponeses pobres, por exemplo; porque estes, as suas lutas, ideias, práticas, objetivos, hábitos, costumes etc., jamais poderão ser fatores essenciais para a formação ideológica, política e moral do comunista do ponto de vista de classe do proletariado e de seu partido marxista-leninista, da concepção proletária do mundo enfim. Seria uma tergiversação do marxismo-leninismo se aceitássemos que uma espécie de filosofia proudhoniana da miséria pudesse representar o fundamento das ideias e práticas comunistas; ou mais explicitamente, uma concepção do mundo que não é proletária, mas camponesa, essencialmente pequeno-burguesa, portanto. É possível que chegue a formar democratas- revolucionários, mas nunca autênticos combatentes marxista-leninistas. Qualquer tipo de confusão teórica neste ponto nodal da construção proletário-revolucionária do Partido impossibilita a completa formação marxista-leninista de seus dirigentes e militantes, não os transformando jamais em autênticos combatentes de vanguarda do proletariado, capazes de resolver corretamente não apenas os problemas da hegemonia do proletariado no processo da revolução democrática, mas também e principalmente os da direção proletária no processo da revolução socialista, os quais só podem ser enfrentados de forma consequente com a força e a coerência da concepção proletária do mundo. O fundamento dos pontos de vista ideológicos, políticos e práticos do comunista jamais pode ser outro senão a filosofia marxista-leninista, a qual expressa e defende integralmente os interesses proletários de classe e de partido.

Adotar conscientemente a opção de vida de ser sempre comunista e conservar sempre a cor vermelha representa a mais radical transformação nas ideias e prática de um combatente de vanguarda, porque baseada numa tomada de consciência crítica e revolucionária verdadeiramente proletária e não pequeno-burguesa, não importa que seja rural ou urbana; representa uma participação militante na prática revolucionária da luta de classes do proletariado e de seu partido, com ideologia, política e conduta proletárias consequentes, porque só o proletariado, e não qualquer outra classe ou camada social, é a força verdadeiramente revolucionária na luta pela vitória completa da revolução, do socialismo e do comunismo. Significa, portanto, um histórico comprometimento partidário, tanto orgânico e político como ideológico, do ponto de vista de classe do proletariado e de sua missão histórico- universal, que tem por base todos os aspectos do marxismo-leninismo, todas as partes integrantes da concepção proletária do mundo. Esta questão é essencialmente de princípio porque, como nos ensina Lênin, a diferença fundamental entre os autênticos comunistas e os “companheiros de viagem” — muito comum nas fileiras de qualquer Partido Comunista que tem de enfrentar a etapa democrática da revolução - é que estes “não assimilam senão alguns aspectos do marxismo, certas partes da nossa concepção do mundo”. E Lênin diz claramente: “O socialista, para poder dominar os acontecimentos, em vez de ser um joguete deles, precisa ter uma concepção firme e amadurecida do mundo”. Lênin nos indica que Marx e Engels traçaram esta concepção do mundo proletária, “com, clareza e brilhantismo geniais”, já no Manifesto do Partido Comunista, de 1848: “o materialismo consequente, aplicado também ao campo da vida social; a dialética, como a doutrina mais completa e profunda do desenvolvimento; a teoria da luta de classes e do papel revolucionário histórico- universal do proletariado, criador da sociedade nova, da sociedade comunista”. Estes são os componentes fundamentais, destacados por Lênin, da concepção proletária do mundo, a qual, mais explicitamente, constitui um sistema coerente e harmônico de pontos de vista ideológicos, políticos, morais etc. Sobre o mundo e a vida social e individual, sobre determinados fenômenos e acontecimentos ou a sua totalidade, pontos de vista que sintetizam a experiência de muitos séculos de luta das classes oprimidas contra seus opressores e expressam os interesses mais vitais da classe operária e de todos os trabalhadores na sua luta pela total emancipação e para transformar revolucionariamente a sociedade.

A importância fundamental com que se reveste a necessidade da completa assimilação por parte dos comunistas da concepção proletária do mundo está em que ela nos dá, de acordo com os exclusivos interesses de classe do proletariado, convicções científicas e atitudes revolucionárias firmes que são indispensáveis à luta ininterrupta e consequente pela vitória total da revolução, do socialismo e do comunismo. Apoiando-se rigorosamente na concepção proletária do mundo, ou mais concretamente, na concepção proletária do desenvolvimento social, os comunistas têm todas as condições de elaborar corretamente a política da revolução brasileira na etapa democrática e na etapa socialista, assim como de empreender sempre uma atividade consequentemente proletário-revolucionária. A assimilação da concepção proletária do mundo é, portanto, o fator essencial para nos transformar em verdadeiros proletários-revolucionários no comportamento, na atividade e na ação, é a força propulsora por excelência para sermos comunistas a vida inteira e conservamos sempre a cor vermelha.

Revolucionarizar as Ideias e Práticas no Fogo da Luta de Classes

Ao ressaltar, certa vez, a têmpera bolchevique de Thaelmann, o camarada Dimitrov disse que o verdadeiro revolucionário, o verdadeiro dirigente proletário, forma-se no fogo da luta de classes e na assimilação da doutrina marxista-leninista. Acentuou que não basta ter temperamento de revolucionário, é preciso forjar em si próprio um caráter e uma vontade de aço, com uma inflexibilidade verdadeiramente bolchevique. Indicou ainda que não basta saber o que fazer, é preciso ter a coragem de levá-lo a cabo, estar sempre pronto para fazer, por qualquer preço, tudo o que possa realmente servir à classe operária, ser capaz de subordinar toda a sua vida aos interesses do proletariado e de seu partido marxista-leninista.

A vida do comunista não pode deixar de ser senão um aprendizado cotidiano, um desenvolvimento ininterrupto no sentido de se forjar por inteiro com a têmpera especial do verdadeiro combatente proletário-revolucionário de vanguarda, com a consciência, os sentimentos e a conduta, a personalidade, enfim, do autêntico marxista-leninista e de homem de ação consequentemente revolucionário digno e fiel discípulo de Marx, Engels, Lênin e Stálin. É verdade que a coletividade partidária engendra no comunista uma força nova e dinâmica, não propriamente da simples soma de quantos integram o Partido, mas principalmente através do conteúdo novo e da poderosa força material e espiritual que nasce da unidade de consciência, de vontade e ação; mas é verdade também que tudo lhe é adverso na sociedade capitalista em que vive e luta: ideologia e psicologia dominantes, normas de conduta moral, hábitos e costumes, pesados encargos familiares, vida dura que tem de suportar, dificuldades e vicissitudes que deve superar, perseguições policiais a enfrentar etc. Justamente por isso é preciso ter grande força de vontade e ânimo forte para lutar e aprender, aprender e lutar continuamente, aliando a prática à teoria e a teoria à prática, sem jamais cair na autossatisfação pelo que aprendeu porque sempre tem algo novo a aprender, nem tampouco pelo que fez porque muito mais tem de fazer cada dia e principalmente no futuro. E preciso estar de fato disposto a fazer constantemente todos os esforços necessários, não importam quais sejam, para se temperar nas batalhas da luta de classes e através do aperfeiçoamento ininterrupto de suas experiências, de seus conhecimentos políticos, organizativos e ideológicos. Para ser o melhor entre os melhores combatentes revolucionários de vanguarda do proletariado, o comunista deve dar provas reais de capacidade política e prática no curso da própria luta, expressa concretamente nas suas proposições justas e adequadas, no seu espírito de decisão e de abnegação para a ação e na ação sendo o primeiro em afrontar as dificuldades e o primeiro em suportar os sacrifícios. O autêntico comunista é um soldado do Partido, organiza a sua vida de acordo com os interesses do Partido e livra-se de tudo o que possa criar obstáculos insuperáveis à sua atividade revolucionária, sabendo que pode ser convocado para qualquer tarefa e que deve estar sempre disposto a cumpri-la, custe o que custar. Justamente por tudo isto, não pode se deixar influenciar por qualquer tipo de autossatisfação, que leva irremediavelmente a posições estranhas aos interesses do proletariado e do Partido.

Os pequenos desvios, com o correr do tempo, vão descorando o vermelho da vida do militante, na medida em que, ao ir se perdoando das primeiras acomodações, vai adquirindo pouco a pouco os vícios aconchegantes da vida cotidiana pequeno-burguesa e mesmo burguesa, menos dura e mais enganosa, muitas vezes exigida por familiares e pela vida profissional. Não deve, portanto, buscar inventar pretextos para tentar enganar a si próprio o aos camaradas, nem tampouco justificações para sua falta de firmeza proletária, pois cada ato de cedência significa antes de tudo o ingresso num processo de autodestruição como proletário- revolucionário. Ao contrário, deve enfrentar confiante e corajosamente o espelho do coletivo partidário porque somente ele lhe dará a medida de seu amadurecimento revolucionário e a ajuda necessária para o seu desenvolvimento proletário. A crítica, e só a crítica, do coletivo partidário, ausente de conciliação e amiguismo, porém cheia de calor e camaradagem comunistas, ajuda, alimenta e estimula a quotidiana construção proletário-revolucionária do combatente de vanguarda que deseja honestamente se desenvolver como um autêntico marxista-leninista.

Ser comunista é uma conduta de vida. E não apenas num momento, numa tarefa ou num combate, mas em todos os momentos, em todas as tarefas e em todos os combates. E tudo fazer para se conservar e se aperfeiçoar como um proletário-revolucionário firme, intrépido e realizador, tendo a luta como seu elemento e lutando sempre com t enacidade, valentia e paixão. E ser um combatente implacável e audaz contra os inimigos de classe do proletariado e do Partido e dar sempre provas diante deles de firmeza proletária-revolucionária inabalável e de coragem exemplar, com o sacrifício da própria vida se assim for necessário. E seguir, contra os inimigos de classe do proletariado e do Partido, esta máxima de Horácio: “Se não sou a lâmina que corta, serei a pedra que afia”. Mas é também praticar a camaradagem proletária com seus companheiros de ideais e de luta em todos os momentos de sua vida e em qualquer campo de batalha partidário.

Ser comunista é estar vigilante dia após dia para não ir mudando de cor nas batalhas da luta de classes, em qualquer campo que se desenvolvam e por mais complicadas e duras que sejam. E ter força de vontade de aço para revolucionarizar suas ideias e práticas de forma ininterrupta e consequente, a fim de pensar, lutar e viver sempre como um autêntico proletário-revolucionário, colocando a ideologia socialista- proletária como bússola e a política proletária do Partido em primeiro plano em toda a sua atividade revolucionária. E fazer tudo, indo até o aparentemente impossível, para manter sempre viva a sua cor vermelha e assim avançar em todos os aspectos da sua concepção de vida: no comportamento, na atividade, na ação.

Ser comunista é uma construção marxista-leninista permanente, uma prática proletário-revolucionária consequente, uma opção quotidiana.


Inclusão: 08/08/2022