República Democrática Alemã - Sociedade Socialista Avançada

Alexandre Babo


A Reforma Agrária. A Colectivização. Visita a duas Cooperativas


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De acordo com estabelecido em Potsdam, iniciou-se pouco tempo depois do fim da guerra a reforma agrária. Mais de um terço da terra era propriedade dos grandes latifundiários — os Junkers — que há séculos dominavam e exploravam a grande massa camponesa. Empresas industriais, bancos, organizações fascistas e a igreja tinham adquirido também grande parte da terra. Os pequenos proprietários com menos de 10 ha representavam cerca de 20% da totalidade do solo.

As primeiras medidas foram a expropriação dos grandes latifúndios e das terras pertencentes a criminosos de guerra, sem qualquer indemnização. A decisão foi tomada democraticamente num primeiro plebiscito, na Saxónia, em 30 de Junho de 1946, por uma maioria de 77,7% dos votos expressos. O exèmplo foi seguido nas outras províncias. As terras das organizações fascistas, bancos e grandes empresas industriais foram também expropriadas. Só os bens da igreja foram poupados.

Em relação à igreja seguiu-se, mais tarde, um critério diferente: o aluguer por 99 anos. Os grandes proprietários com mais de 100 ha eram cerca de 7 000; 4 142 criminosos de guerra foram expropriados. O total de terra, então expropriada somou 3 290 000 ha.

Em Setembro de 1945, no inicio da reforma agrária, foram distribuídos 2,7 milhões de hectares de terras dos latifundiários e nazis activos por cerca de meio milhão de camponeses com alguma ou nenhuma terra. Definidos os diferentes campos, começou uma vida nova para o povo e criaram-se as condições para a construção democrática
Em Setembro de 1945, no inicio da reforma agrária, foram
distribuídos 2,7 milhões de hectares de terras dos latifundiários
e nazis activos por cerca de meio milhão de camponeses com
alguma ou nenhuma terra. Definidos os diferentes campos,
começou uma vida nova para o povo e criaram-se
as condições para a construção democrática

Estas terras foram distribuídas democraticamente por 210 000 camponeses sem terra.

Estas medidas tiveram um duplo resultado: eliminar o domínio da fidalguia rural que era o cerne da reacção prussiana e unir as massas camponesas em torno dos partidos operários e dos seus dirigentes.

O factor político decisivo foi a unidade da classe operária após a libertação. Na tarefa da eliminação do fascismo e da reconstrução do país em bases verdadeiramente democráticas, o Partido Comunista e o Partido Social Democrata uniram-se estreitamente até à sua fusão em 1946 — no Partido Socialista Unificado (PSU), facto histórico de importância transcendente para todo o processo ulterior.

Outros partidos existentes, como a União Cristã Democrática, (CDU) Partido Liberal Democrático, (LDPD) Partido Nacional Democrático (NDPD) e Partido Camponês Democrático, (DBD) embora com menor projecção, formaram com o PSU uma frente unida anti-fascista, com o objectivo concreto e imediato da desnazificação e da reconstrução democrática do país.

Com eles colaboraram estreitamente os sindicatos, as organizações juvenis e a Federação das Mulheres, (DFD).

A reforma agrária seria impossível, assim como o extraordinário desenvolvimento da agricultura, sem a ajuda da classe operária e da União Soviética.

A União Soviética, enviando tractores e outra maquinaria e auxiliando com a sua experiência e técnica. A classe operária com a criação das estações de ajuda técnica e maquinaria (MTS), criaram aos camponeses condições de vida e desenvolvimento altamente favoráveis.

Em quase todos os centros populacionais se criaram estas estações de ajuda que alugavam máquinas aos camponeses a preços muito acessíveis.

A verdade, porém, é que as exigências de uma economia planificada, após 1948, com a fundação da RDA, se não coadunavam com o tipo de exploração individual e de pequenas propriedades.

Não era possível obter uma melhoria sensível das condições de vida e de trabalho dos camponeses nem o aproveitamento das técnicas modernas atingiam a produtividade necessária quando aplicadas em pequenas superfícies.

O país caminhava para a edificação do Socialismo.

Punha-se então um problema de resolução extremamente difícil — o sonho secular do camponês tinha sido a propriedade da terra que ele trabalhava e cultivava. Os pequenos proprietários, por outro lado, aproveitando a ajuda técnica que lhes era fornecida e a regularidade do mercado, tinham atingido uma situação económica florescente.

Como dizer-lhes agora — entreguem novamente as terras, formem cooperativas, prescindam das vantagens individuais! Extremamente difícil explicar-lhes os benefícios de um aparente sacrifício.

Nada foi imposto violentamente, pela força, o que teria certamente criado outros problemas ainda mais graves. Este trabalho de convencimento e de organização só foi possível com a coragem, o bom senso, a noção lúcida e inteligente das realidades que os dirigentes mostraram ter sempre em todas as eventualidades e em todos os sectores.

Por toda a parte, os militantes procuraram mostrar aos camponeses a vantagem da colectivização. Esse constante esclarecimento e a demonstração viva dessas vantagens acabou por obter o resultado presente.

A comparação entre as possibilidades e os benefícios da colectivização e os da exploração individual não deixava margem para dúvidas. Por isso os camponenses caminhavam voluntariamente para a colectivização que, em 1960, estava praticamente realizada.

Foram criadas três tipos de cooperativas (LPG):

Tipo 1 — Só o cultivo da terra se fazia em comum. Foi o mais usado nos primeiros tempos por corresponder, nesse tempo, a uma fraca preparação ideológica dos camponeses. Tipo 2 — A terra era cultivada em comum e a maquinaria e o gado eram propriedade colectiva. Tipo 3 — Tudo era comum, isto é, propriedade colectiva. Dado o progresso técnico e ideológico, é este o tipo quase geral de cooperativas. A propriedade é dos camponeses.

Além do lucro ou benefícios resultantes da exploração colectiva, os camponeses têm direito a 1/2 ha ou 1/4 ha, conforme os distritos, para cultivo próprio e venda livre.

Mas as vantagens da colectivização são de tal ordem que, por exemplo, no distrito de Rostock, só 2% dos camponeses ainda utilizam esse direito e em Cottbus está agora em curso uma grande campanha para entrega voluntária desses terrenos que, no conjunto, significam um valor altamente económico para o país.

Visitei duas cooperativas agrícolas médias —uma no distrito de Rostock, a uns sessenta quilómetros da cidade e outra, mais tarde, no distrito de Cottbus.

Um supermercado da cooperativa agrícola PG (Unidade de Produção Agrícola) — Distrito de Gera (Thuringia)
Um supermercado da cooperativa agrícola PG
(Unidade de Produção Agrícola) — Distrito de Gera (Thuringia)

Um dos aspectos que me impressionaram na RDA foi a franca explicação de todos os fenómenos e situações, a resposta imediata e sem restrições a todas as perguntas. Nenhum receio de mostrar a realidade, de referir os aspectos negativos ou menos positivos. Nada oculto, escondido.

E uma organização em todos os sectores verdadeiramente impressionante. Quando se faz uma pergunta concreta acerca de qualquer sector, não há nunca aquela hesitação, para nós vulgar, de pensar onde encontrar os elementos esclarecedores. Está sempre tudo à mão, no sítio próprio, porque nada foi descuidado.

Ostseewelle/Bastorf é uma cooperativa com 3500 ha, dos quais 2600 ha de área cultivada, 700 de pastagens e 200 de floresta. Vai fundir-se em 1975 com outra cooperativa, aumentando a sua área de exploração em 400O ha. É formada por 450 pessoas.

A cooperativa tem uma assembleia geral que elege um directório de dois em dois anos. De acordo com a planificação nacional, o Estado fixa-lhe determinadas metas de produção em cada sector de cultura.

Nesta, o cultivo da batata ocupa 400 ha e têm obtido a média de 25 toneladas por ha. Construíram um depósito com capacidade para 5000 toneladas, climatizado. Instalaram uma fábrica de descasque, o que lhes permite a entrega diária de batata, pronta a ser usada, para as grandes cozinhas da cidade.

Em 250 ha cultiva-se o trigo, em 350 o centeio, em 250 a cevada para cerveja, e em 200 aveia e cevada.

Possuem 80 tractores, 5 ceifeiras debulhadoras, 5 arran- cadoras de batata automatizadas. O trabalho da cooperativa é 100% mecanizado. O Estado garante a compra de toda a produção, a preço fixo.

Têm 1200 vacas que produzem 3500 kg/ano de leite por vaca. 6000 porcos — igualmente com venda assegurada ao Estado, 200 ovelhas e 20 cavalos, mas estes destinam-se unicamente aos desportos hípicos.

Cada membro da cooperativa tem direito a 1 vaca. É significativo que isto tende a desaparecer, a cair em desuso. Voluntariamente os camponeses vão deixando de exercer esse direito por lhes não trazer vantagens. Em 1969, havia na cooperativa, em regime de propriedade individual, 500 vacas. Presentemente só existem 40.

O rendimento da cooperativa passou de 6500 marcos anuais por pessoa, em 1968, para 14 017 marcos em 1974, com um lucro líquido anual de 1,7 milhões de marcos.

Todos os membros da cooperativa têm os mesmos deveres e direitos. A reforma, paga pelo Estado, é para as mulheres aos 60 anos e aos 65 para os homens. A cooperativa começou já a dar subsídios complementares.

As crianças têm as creches do agregado populacional a que pertencem, os infantários e escolas politécnicas. O camponês deixou de ser a sacrificada besta de carga, arrancando da terra com o esforço muscular o seu fraco sustento e o lucro do proprietário, afastado de todas as conquistas do homem no plano do progresso técnico ou cultural.

O trabalho do campo é, por vezes, considerado até mais privilegiado. Eles têm as suas bibliotecas, os seus centros culturais, musicais e desportivos. O nível de vida é muito elevado.

Em vez do êxodo do campo para a cidade que se verifica em todo o mundo capitalista, mesmo nos países mais desenvolvidos, aqui dá-se conta de um fenómeno inverso. Grande percentagem de jovens da cidade preferem o trabalho no campo.

Percorremos alguns campos de cultivo, vimos os parques de tractores, as oficinas próprias de reparação, a fábrica de descasque, armazéns e almoçámos com componentes da cooperativa num restaurante de camponeses.

Os elementos que fazem parte da cooperativa vivem em habitações próprias na vila mais próxima, alguns em pequenas vivendas construídas nas imediações da cooperativa. Como em todo o território da RDA, o problema habitacional é o problema número um e o esforço de construção chega a ser inacreditável. Em função do salário, seja mero aluguer ou aquisição de casa própria, nunca ultrapassa os 10%. Em capítulo especial me referirei a isto.

Sei que, tanto eu como os meus companheiros, nesta primeira viagem a Rostock, nos sentimos verdadeiramente emocionados ao entrar na càsa de um camponês.

Na nossa terra, sabemos como é. A incomodidade e o desconforto, quando não a miséria — terra batida e vida de mistura com os animais, sem condições mínimas de higiene. E é evidente que em nenhuma encontramos o uso dos meios mais normais do progresso — muito menos qualquer indício de vida cultural.

Entramos na casa que nós indicamos — à sorte. Era a hora do almoço. Uma habitação que faria as delícias de qualquer família da média burguesia lisboeta. Alcatifada, acolhedora, bem mobilada, TV, biblioteca, maples numa óptima sala de estar. Um quarto para o casal — muito jovem — e outro para o filho. Cozinha e casa de banho. É evidente que saímos dali com uma grande «nostalgia» das «delícias» do capitalismo burguês...

Nesta população activa de 450 pessoas com uma média de idade dos 45 aos 47 anos há 130 mulheres. Mais 60 crianças e jovens. Como em todo o território, a escolaridade gratuita e obrigatória é de 10 anos.

O pessoal técnico é constituído por 5 engenheiros agrónomos, 15 agentes rurais, 17 mestres de agricultura e 2 veterinários. (Estes não pertencem à cooperativa.)

Colheita de trigo em numa cooperativa
Colheita de trigo em numa cooperativa

Em Janeiro, durante a minha estadia em Cottbus fui visitar uma outra cooperativa. Fomos recebidos por três dirigentes. O presidente, um rapaz ainda, menos de vinte e oito anos, engenheiro agrónomo. Filho de camponeses da região, depois da formatura veio para ali e foi eleito presidente. Um outro, camponês individual, entrou para a cooperativa em 1960. Depois, fez estudos especializados sobre inseminação na fecundação dos porcos e faz parte da direcção. O terceiro é responsável pela instrução dos aprendizes. Na cooperativa existe uma escola com a frequência actual de 75 alunos. Só entrou para a cooperativa em 1960. Até aí era um agricultor individual. Depois estudou engenharia agrícola e pedagogia. Este homem é sólido e uma figura das mais apaixonantes com quèm contactei na RDA.

Esta cooperativa é formada pelo conjunto de três cooperativas com a superfície de 3500 ha — produção vegetal de 1100 ha.; Tencionam agora englobar mais duas aldeias, passando a ocupar uma superfície de 6500 ha.

Dedlcam-se fundamentalmente à produção de leite e à criação de porcos novos. Não se dedicam à engorda. Têm agora 3200 unidades. Possuem mais 1660 cabeças de gado vacum e 800 vacas.

Produção vegetal — batata e cereal. Produzem alimentos para os animais.

São; 174 membros activos. Há uma percentagem muito pequena de inactivos, com grandes dificuldades de adaptação, sobretudo por alcoolismo. Há 68 mulheres activas.

A situação das mulheres tem sido uma das suas maiores preocupações — têm um plano de evolução e incremento feminino, através de uma cuidadosa reciclagem, cuidados com a saúde, tanto na prevenção como no tratamento de doenças.

Na região já não há agricultores individuais. Cada camponês possui uma vaca, dois porcos e um terreno com a superfície de 1/4 de ha.

A cooperativa foi fundada em 1952. Esta é uma região onde desde tempos imemoráveis se fixou a única minoria étnica da RDA — os Sórbios. É um povo de origem eslava que por aqui ficou.

Até 1945, este pequeno povo vivia com grandes dificuldades. Não podia aprender o sórbio nas escolas e era proibida a sua utilização como língua quotidiana. Ensinavam-no de pais para filhos. Havia um padre que se dedicava, apesar disso, a estudos sobre a língua e literatura sórbia. Um dia confiscaram-Ihe todos os livros e manuscritos e deportaram-no para outra região.

«Apesar de todas as dificuldades e perseguições, nós, os sórbios, continuamos a cultivar e a defender as nossas tradições de língua e de cultura, embora o campo de acção fosse cada vez mais restrito» — diz-me Erwin Merschenz — o dirigente sórbio da cooperativa, homem na casa dos sessenta, moreno e forte, uns olhos azuis inteligentes e francos onde perpassava uma constante nota de humor e de determinação.

Depois de 1945, todas as dificuldades desapareceram. Foram autorizados a falar e escrever a sua língua, a desenvolver as suas tradições literárias, musicais, culturais. Nas escolas oficiais, as crianças sórbias aprendem, além do alemão, a língua sórbia. Essas escolas vão até à 10.ª classe. Depois, se quiserem continuar os estudos de cultura sórbia, têm uma escola superior em Cottbus. Em Bautzen (Dresden) há uma outra escola para o estudo superior de sórbio. Naquela freguesia há um grupo de dança e canto do folclore sórbio.

Mas voltemos à cooperativa.

Os salários na cooperativa oscilam entre um máximo de 1000 marcos mensais e 400, como mínimo.

O salário é igual para os homens e para as mulheres. Mas estas têm algumas justas vantagens. A que tiver 4 ou mais filhos recebe o salário completo, mas não tem que trabalhar o tempo todo, o que de resto é lei geral no país.

Estava muito interessado em ouvir o relato sincero de um camponês, proprietário individual, que me desse uma ideia da evolução social, através do seu caso pessoal. Este sórbio que me recordava camponeses da nossa terra, inteligente, daqueles que olham cara a cara e não receiam falar, pareceu-me indicado.

Perguntei-lhe: — A cooperativa foi fundada em 1952. O senhor só entrou para ela em 1960. Está muito satisfeito agora. Mas a verdade é que só entrou no final. Foi dos últimos. Porquê?

Respondeu-me como segue. As palavras são quase exactas, salvo alguma diferença de tradução.

— Fui mobilizado com 17 anos. Mandaram-me para França. Estive lá até ao fim da guerra. Fui prisioneiro dos americanos e só em 1946 saí do campo de concentração onde me tinham internado.

Encontrei a minha casa na mais reles miséria. Os meus pais tinham morrido. Tinha quatro irmãs mais novas para sustentar. A casa estava a cair e a propriedade que nos restava era de cerca de 5 ha. O Estado, através das estações de maquinaria, ajudava-nos muito, mas as dificuldades eram muito grandes. Casei e eu e a minha mulher trabalhávamos dia e noite para modificar o nosso destino e melhorar a terra. Tínhamos que produzir para nós a para todo o povo. Os outros agricultores faziam o mesmo.

E a verdade é que a vida a pouco e pouco ia melhorando. Em 1952, quando aqui se iniciou o movimento cooperativo não via nisso qualquer vantagem. Sobretudo não percebia a razão por que devia entregar à colectividade a terra que tinha herdado dos meus pais e que nós tínhamos desenvolvido com os nossos braços.

Ainda por cima, entre 1952 e 1960, todos nós, pequenos agricultores individuais, recebemos das estações de tractores um auxílio enorme. Toda a produção era vendida e nós tínhamos atingido um nível económico muito alto. A verdade é que, em certa medida; estávamos ricos.

Mas, paralelamente, ia observando o desenvolvimento das cooperativas, as novas possibilidades técnicas e administrativas que se abriam, as vantagens obtidas por aqueles que trabalhavam ali, as suas garantias de segurança.

Fazia-se uma grande propaganda para que aderíssemos à colectivização. Mas, sob o ponto de vista ideológico, a campanha foi difícil.- O Ocidente, sobretudo através da televisão que nós ouvíamos, quer quiséssemos ou não, fazia tudo para nos perturbar o espírito. Ameaçavam-nos com a miséria e o caos, no caso de aderirmos às cooperativas e na punição quando «libertassem» a nossa terra.

Nós, perante essa propaganda, mal preparados ideologicamente, mantínhamo-nos na expectativa. Mas pensávamos que ela não era verdadeira. A nossa evolução económica, a nossa melhoria de vida, tinha-se processado já dentro do novo Estado Socialista. Eles só tinham sido bons para nós e para todo o povo. Então interrogávamo-nos uns aos outros: se este Estado até aqui, não só nos ajudou como nos elevou a um nível até então nunca atingido, porque é que agora vai querer fazer uma política contra nós? Se o Estado defende a colectivização, então é porque sabe que ela é melhor para nós.

Por isso nós decidimos entrar com as nossas terras para uma cooperativa. E, então, escolhemos as cooperativas de tipo três — as nacionais. Assim, iniciámos o caminho da nossa grande transformação.»

Embora já soubesse a resposta, perguntei-lhe: Alguém terá saudades da propriedade individual? Alguém gostaria de voltar a esse sistema?

A reacção foi uma grande gargalhada, como se lhe fizesse a pergunta mais absurda. — Voltar? Olhe, pergunte às mulheres. Elas é que lhe responderão. Haverá alguma que queira passar os dias e as noites que (passava quando a terra era só delas? Digo-lhe mais: não é preciso, mas elas, as mulheres, defendiam a colectivização de armas nas mãos.

«Claro que nada foi fácil. A evolução, depois de 1960, foi um trabalho muito duro de transformação ideológica. Nós os camponeses, somos tradicionalmente desconfiados, mas justamente aqueles de nós que mais se haviam oposto à colectivização, agora, observando a evolução que íamos tendo, falo sobretudo daqueles que, como eu, tinham então mais de 40 anos, reuníamo-nos e dizíamos uns para os outros: Quem nos viu e quem nos vê?!

Actualmente ganhamos bem, vivemos como seres humanos. Antigamente éramos escravos das nossas propriedades. A nossa principal compensação é a do nosso trabalho e temos também uma participação proporcional ao terreno com que entramos para a cooperativa. Quer dizer, temos o salário normal, os prémios de trabalho e a divisão nos lucros.

Esse lucro é aplicado, sobretudo, na política social e sanitária. Uma das partes mais importantes é destinada às reservas para melhores instalações.

Temos entre nós uma célula do Partido, uma organização de juventude, um núcleo da associação de amizade com a U.R.S.S., um centro cultural e um clube desportivo.

Temos uma escola profissional.

Eu, em 1962, resolvi tirar um curso na escola nocturna. Quando tirei o meu primeiro diploma, fiquei muito orgulhoso e os camaradas entusiasmaram-me a continuar os estudos. Fui estudar pedagogia e, não contente com isso, aceitei uma delegação para fazer o curso de engenheiro agrónomo.

Já dobrei os 50 anos, sou engenheiro agrónomo, pedagogo e estou pronto a estudar sempre mais. Tenho dois filhos — uma rapariga e um rapaz. Ele estuda agronomia na Universidade Karl-Marx, em Leipzig, ela é economista, casou e trabalha num banco em Cottbus, mas vai estudar na Faculdade de Engenharia.

Agora, vem um neto, e pensei que era tempo de fazermos uma casita na montanha, para as férias. Espero ainda este ano ir lá com a família. São férias bem merecidas.

E agora, veja lá se alguém quer voltar às delícias do capitalismo. ..

Do sol a sol à semana dos 5 dias de trabalho. Da violência braçal à mecanização. Da insegurança total, dependente da chuva ou da seca, à garantia de férias pagas, de assistência, do acesso à cultura, às horas livres para gozar a vida, à reforma. De animal a homem digno. E a melhoria constante como perspectiva.

E isto que eu vi em Rostock e Cottbus, em duas cooperativas médias, verifica-se em todo o território da República Democrática Alemã.

Os camponeses têm a consciência da responsabilidade do seu sector no seio do seu país. Têm que assegurar cada vez mais e cada vez melhor o abastecimento da população, num Estado Socialista altamente industrializado, em que o solo se não presta a culturas extensivas. A superfície agrícola é de 6 290 000 ha. — correspondendo a cada habitante 0,7 ha. Só a utilização científica e intensiva, por processos industriais, do solo cultivável, permite a obtenção dos fins visados.


Inclusão 16/02/2015