República Democrática Alemã - Sociedade Socialista Avançada

Alexandre Babo


Dresden. O Museu Militar. O Museu Alemão da Higiene. O Palácio da Cultura


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Nada mais errado e até estúpido que as afirmações feitas nos países capitalistas quanto à falta de estímulo para o trabalho, para todas as iniciativas criadoras, num mundo como o socialista em que não há um lucro. (Lucro no sentido capitalista, é claro.)

Numa sociedade socialista esse estímulo existe de uma forma muito mais vasta, como é evidente, visto que ali todo o povo, todas as classes trabalhadoras estão profundamente interessadas na produção, na melhoria quantitativa e qualitativa em todos sectores da economia, porque sabem que o lucro, o resultado, se não destina a enriquecer o patronato, mas a ser investido em formas de aumentar o seu bem-estar.

E têm consciência de que em qualquer local que ocupem, o seu esforço é importante. Quanto à iniciativa criadora, os factos falam por si.

Os Movimentos Inovadores — têm exactamente como finalidade interessar os trabalhadores no processo de produção, estudando os seus sectores e fazendo propostas para melhor aproveitamento das técnicas ou sobre economia de material e até para melhoramentos das próprias máquinas.

O produto das propostas apresentadas pelos inovadores ultrapassou, em 1971, 2900 milhões de marcos e, em 1972, 3200 milhões de marcos. 30% dos inovadores são jovens e 17% são mulheres.

Os colectivos de trabalho têm na empresa o encargo de vigiar pelo cumprimento do plano e cooperarem com a administração da empresa com propostas sobre as formas de gestão. Nisto estão interessados muitos milhões de trabalhadores.

Para darmos um quadro, embora muito sintético, do desenvolvimento da indústria na RDA, temos que ter em conta um factor muito importante — a RDA produz lenhite, o que lhe permite instalar centrais térmicas que fornecem 80% da energia produzida no país. Sal de potassa, sobretudo empregado na fabricação de fertilizantes. Além disto, os silicatos, sobretudo a sílica de quartzo, que é empregada nos materiais de construção, nalgumas indústrias químicas, na cerâmica, incluindo os isoladores.

O Zwinger de Dresden apresenta-se de novo como o tesouro arquitectónico na margem do Elba
O Zwinger de Dresden apresenta-se de novo como
o tesouro arquitectónico na margem do Elba

Outras matérias-primas são inexistentes ou existem em quantidades mínimas. Isto obriga à compra de metais, de minérios e matérias para a indústria têxtil e química.

Em contrapartida, não há dúvida que a região da Alemanha que hoje é a RDA, era uma das regiões da Europa mais industrializada e com largas tradições neste campo — especialmente na construção mecânica, na têxtil, na óptica e na mecânica de precisão.

A RDA tem indústrias imensamente variadas, mas tem sectores, sobretudo aqueles que entram no plano de integração socialista, e muito mais desenvolvidos. Assim, a indústria de construção mecânica e automóvel concentra-se principalmente em Karl-Marx-Stadt, Leipzig, Erfuhrt, Magdeburg e Dressau e ocupa 28% da população activa; a indústria ligeira espalha-se por todo o país e ocupa 16,4%; a electrónica e aparelhagem situa-se em Berlim, lena e Dresden e ocupa 13,6% e a indústria química, 11,1%, concentrando-se em Berlim, Schwedt e lena.

Portanto, o primeiro lugar é ocupado pela metalúrgica.

Os investimentos para a indústria cresceram de 1950 para 1973, de 3,6 biliões de marcos para 37,2 biliões.

A RDA ocupa na escala da produção industrial no mundo um lugar cimeiro.

Dresden, no vale do Elba, é talvez uma das mais belas cidades da RDA, de tradições seculares que a tornaram conhecida em todo o mundo. Burgo medieval de comércio e artesanato, era uma das vias de acesso às minas de prata de Erzgebirge que lhe traria uma primeira glória. Cerca de 1500 tornou-se residência dos príncipes de Saxe, o que alterou completamente a sua fisionomia. Construiu-se então um castelo e a cidade tornou-se um centro de arte, em pleno Renascimento, mas o seu grande esplendor foi atingido no séc. XVIII no reinado de Augusto Frederico II, o Forte, e do seu sucessor, monarcas que ficaram na História pelo fausto e o luxo (além, é claro, de todas as injustiças e crueldades aliadas a estes ornamentos). Foram eles os construtores do castelo Zwinger, da catedral, de ricos palácios por toda a cidade, do célebre Palácio Japonês e de todo um conjunto barroco que fez a celebridade de Dresden em todas as cortes europeias. No século seguinte, o aparecimento das grandes fábricas fez da cidade um centro capitalista.

Na revolução democrática dirigida pela burguesia em 1849, muitos dos espíritos mais progressivos da época, como Richard Wagner, combateram nas ruas de Dresden. Mais tarde, após a guerra de 1914-18, o operariado que tinha aderido quase em massa ao Partido Comunista levou ali a cabo grandes acções na luta operária. Também por isso o fascismo foi feroz nesta cidade, mas não conseguiu quebrar o ânimo dos seus combatentes que se escondiam nas montanhas. Durante os últimos anos do nazismo criou-se ali um quartel-general do Comité Nacional da «Alemanha Livre».

A cidade de Dresden ressurgida das ruínas. Na fotografia: uma vista do velho mercado com a igreja de Santa Cruz em primeiro plano
A cidade de Dresden ressurgida das ruínas.
Na fotografia: uma vista do velho mercado
com a igreja de Santa Cruz em primeiro plano

Finalmente, na noite de 13 para 14 de Fevereiro de 1945, os comandos aliados americanos e ingleses, já conhecedores de que Dresden ficaria integrada na zona de ocupação soviética, decidiram arrasá-la, embora a guerra estivesse praticamente terminada e não existissem ali quaisquer objectivos militares. E, assim, os defensores da liberdade e da civilização chamada ocidental destruíram de um dia para o outro Dresden — a que os séculos tinham construído e cujo valor artístico era património do mundo. Como Hiroshima e outras infâmias, era esta uma primeira (?) punhalada, não só no povo vencido mas nos seus aliados de armas — a União Soviética — que lhes salvaram o pêlo e a fortuna.

Nessa noite de horror, as bombas «democratas» mataram 35000 homens, mulheres e crianças e arrasaram quase por completo todos os monumentos históricos, como o castelo, a ópera, o Zwinger, a Sophienkirche, a galeria de pintura. 80 000 prédios foram destruídos totalmente. Dresden estava então cheia de refugiados que precediam o avanço das tropas soviéticas a 50 km da cidade. O bombardeamento anglo-americano foi feito com 3 450 aviões, em vários raids. O número de 35 000 mortos sabe-se hoje não corresponder à realidade. Novas investigações falam em 200 000, mas nunca se saberá a quantidade exacta de vítimas.

Mas o objectivo «aliado» de entregar à zona soviética uma Dresden morta para sempre não resultou. Alemães e soviéticos conseguiram reanimá-la. Conta-se que milhares de voluntários desentulharam 18 milhões de metros cúbicos de escombros e organizaram o abastecimento da cidade e os transportes. Depois começaram a reconstrução. Muitos daqueles monumentos históricos foram reconstruídos e um cidade nova surgiu. Digna em beleza e em harmonia, no traçado urbanístico, nos edifícios, da velha cidade barroca. Alguns estigmas do crime praticado estão à vista, julgo que voluntariamente, e dão à cidade uma nota de austera dignidade. De resto dificilmente se poderá pensar, atravessando os conjuntos de bairros modernos — 52 000 prédios novos até 1971 — ou mesmo nas pontes que atravessam o Elba ou nas amplas avenidas, que a morte, a brutalidade e a violência desnecessária ali pairaram tão recentemente.

Os cientistas de amanhã: estudantes da Universidade Técnica de Dresden
Os cientistas de amanhã: estudantes da
Universidade Técnica de Dresden

Dresden continua as tradições do seu passado — grande centro industrial, científico e cultural. Institutos científicos de electrónica, de informática, de técnica de mecânica de cálculo, de electrónica molecular. Uma das maiores Universidades de formação politécnica superior da Europa, a Academia de Medicina «Carl Gustav Carus», Escola Superior de Música, Escola Superior de Artes Plásticas, Academia Militar «Friedrich Engels» e tantas, tantas instituições ligadas à ciência e à cultura são a resposta do socialismo à noite de 13 para 14 de Fevereiro de 1945, a resposta do socialismo dada ao mundo, numa forma concreta, exacta.

A Biblioteca regional de Saxe tem quase um milhão de volumes e arquivos das partituras de Vivaldi e João Sebastião Bach.

A tradição musical da cidade de Dresden é conhecida em todo o mundo e a ela estão ligados os nomes de Hasse, Bach, Haendel, Weber, Wagner, Richard Strauss.

Duas grandes orquestras — a Sinfónica e a Filarmónica — continuam essa tradição. O mesmo se passa com a Ópera, Teatro e Ballet.

Os museus e as exposições de arte constituem fonte de cultura e recreio para todos os trabalhadores
Os museus e as exposições de arte
constituem fonte de cultura e
recreio para todos os trabalhadores

Na galeria de pintura de Zwinger, entre os mestres alemães, flamengos, franceses, espanhóis e italianos, podemos ver a «Madona Sistina» de Rafael.

Os inter-hotéis da Prager Strasse, os cafés, o novo cinema, os restaurantes e os belíssimos estabelecimentos são o centro de uma cidade que é hoje visitada e admirada por gente de todos os pontos da RDA, do mundo socialista e também do mundo capitalista.

Mas para lá do que qualquer publicação poderá mostrar, tiveram para mim um especial interesse, além de uma entrevista com o reitor da Universidade, as visitas ao Museu Militar, ao Museu Alemão da Higiene e ao Palácio da Cultura.

O Museu Militar por ser o contrário do que encontramos em museus congéneres no mundo ocidental. Quando percorremos os Inválidos em Paris, sentimos a glorificação dos feitos militares dos exércitos franceses, a glorificação da guerra e um verdadeiro endeusamento de um símbolo e de uma realidade do espírito de conquista e dominação violenta dos outros povos — Napoleão.

Aqui, encontramos exactamente o contrário. A condenação da guerra, a desmistificação da sua falsa glória, a demonstração de que ela é provocada pelas classes dominantes à custa da «carne para canhão» dos explorados, destacando, pelo contrário, a luta secular do povo alemão, desde a revolta dos camponeses às lutas operárias e à revolta contra o nazismo. Este é mostrado em toda a sua torpeza e sádica crueldade. A luta heróica das classes trabalhadoras noutros países, em especial na Rússia, desde a revolta de 1905 à Revolução vitoriosa de Outubro, surge-nos em toda a sua força e sentido histórico. A formação da União Soviética e a luta contra o nazi-fascismo culmina com a derrota final deste em Maio de 1945.

Um museu ideológica e tecnicamente modelar. Ver «Les Invalides» ou outros semelhantes e o Museu Militar de Dresden é confrontar duas faces bem diferenciadas do mundo, duas éticas, duas ideologias, duas civilizações. Numa, o culto da valentia guerreira, deformando toda a desumanidade que implica, na outra, o culto da luta heróica (esta, sim) contra a guerra, pela libertação das classes trabalhadoras, pela paz.

O Museu Alemão da Higiene, organizado sob o ponto de vista técnico como um exemplo invulgar da museologia moderna, é essencial a quem deseje conhecer a realidade da RDA, a sua obra no campo da prevenção da doença, na defesa da criança, da mãe, do homem em geral, na protecção do trabalho e contra doenças e acidentes, na defesa do meio ambiente, na defesa da saúde autêntica do homem e da mulher, até do amor — do amor físico que se não pretende ocultar ou considerar como espécie de vergonha com que os homens e as mulheres fazem filhos — mas de um amor que é natural e são como o crescer das árvores e o desabrochar das flores, como os regatos e os rios, as fontes e o mar.

A «Mulher de Vidro» no museu de higiene de Dresden chama sempre a atenção dos visitantes
A «Mulher de Vidro» no museu de higiene de Dresden
chama sempre a atenção dos visitantes

Museu que é o repositório de uma obra que é mais bela e mais maravilhosa que as cruzadas e as descobertas. A ciência, a técnica, numa sociedade harmoniosa e sem classes, onde não há exploração do homem pelo homem, postas ao serviço da saúde deste, da sua força, da sua alegria, do seu prazer de viver e de amar. Um museu que ajuda todo o povo alemão a aprender a conhecer a natureza que o rodeia, todo o mecanismo do seu corpo e da sua vida, tudo o que é necessário para a defender, para se defender. Ali está a célebre mulher de vidro — transparência do corpo humano e de todos os seus órgãos, de todas as suas funções que são evidenciadas em pormenor, através dos mecanismos eléctricos que qualquer visitante pode manejar.

Porque aqui a ciência e a técnica estão ao serviço de todos os homens e não de alguns — este museu é a imagem mais perfeita, mais extraordinária, mais elucidativa e até mais irrespondível da RDA e do Socialismo.

Por isso, muito justamente, na entrada, deparamos com esta frase:

«A melhor profilaxia é o Socialismo»

Este museu é um auxiliar das escolas. Não um museu no sentido que já se lhe colou ao termo — resíduo de coisas passadas e mortas — mas de uma força autêntica. Um museu vivo, uma dinâmica de vida.

O Palácio de Cultura de Dresden, cidade de 500 mil habitantes, pode ser um paradigma do socialismo e de um tipo de cultura não elitária, massiva.

Este edifício de linhas modernas (embora perfeitamente enquadradas num conjunto harmónico com a reconstrução na cidade da sumptuosidade barroca de outrora), foi construído há cinco anos e é frequentado anualmente por cerca de um milhão de pessoas.

Pertence ao Conselho Municipal e é financiado por ele.

O plano anual de actividades é de quatro milhões de marcos, mas as despesas ultrapassam os cinco milhões. Por esse motivo, recebe um subsídio de um milhão e quinhentos mil marcos. Assim, o plano é feito no sentido de, incluindo o subsídio, as despesas serem iguais às receitas.

Trabalham ali 220 colaboradores (funcionários), em vários sectores: direcção artística, formação de programas, plano organizativo, trabalho metódico em colaboração com os clubes e as empresas industriais.

O projecto do edifício foi realizado pela Universidade Técnica de Dresden, sob a direcção do Prof. Dichl. Como o centro da cidade foi destruído, tiveram de encarar a conjugação entre a nova arquitectura e os edifícios históricos. Enquadra-se num conjunto formado pelo Palácio Zwinger, o Palácio Real e as Igrejas. O Palácio da Cultura tem forma quadrada, de tecto plano, com 100x100 metros e 220 metros de altura.

A ampla entrada dá para a ala dos foyers do grande auditório. A ala direita é totalmente ocupada pelos restaurantes e bares. A ala esquerda é ocupada pelas múltiplas salas para as actividades dos diversos clubes juvenis, e o teatro de bolso. A parte posterior é destinada à administração, escritórios, armazéns e vestiários dos artistas.

O grande auditório tem quatro funções específicas e essenciais:

1. — A realização de concertos que ocupam, mais ou menos, metade da programação anual. Nestes, têm especial relevância os concertos escolares, isto é, destinados a alunos dos diversos escalões escolares. Estes concertos estão incluídos nos planos pedagógicos das várias escolas. De acordo com as idades dos alunos, organizam-se concertos para que os jovens tomem contacto com a evolução musical, criando-se condições propícias para a audição de corais. Para os mais velhos, sinfonias completas, operetas, óperas e ballet. Estas audições têm uma frequência anual de 100 000 jovens. Outra parte destina-se ao público adulto. Vêm aqui as orquestras mais conhecidas, como a Sinfónica e a Filarmónica da cidade, cuja fama é mundial. Elas tanto tocam para os adultos como para os jovens.

2. — Programas de variedades para a Rádio e Televisão são destinados exclusivamente ao público da casa. O Palácio não tem conjuntos privativos. Este critério foi o seguido, por a direcção considerar que, desta forma, poderia haver programas culturais de actividades múltiplas e mais diversificadas.

3. — Realização de grandes congressos internacionais, como por exemplo o Congresso Internacional do Pão e dos Cereais. Igualmente se efectuam aqui as conferências dos Delegados do Distrito de Dresden e o Congresso do Partido Socialista Unificado.

4. — Bailes, realizados nos fins de semana. Isto é possível, porque o chão pode, mecanicamente, nivelar-se com o palco. A capacidade da sala para estes bailes é de 800 pessoas, por se não utilizarem os camarotes nem os balcões.

Estes bailes são organizados pela juventude e pelas empresas de economia socializada.

O Teatro de Bolso tem 192 lugares e está preparado para todas as actividades, destinando-se a música de câmara, teatro, apresentação de solistas, canto, danças, etc. Também é ocupado por exibição de arte popular, como teatro operário, teatro político de amadores, cinema de amadores, fantoches, corais juvenis, etc. Todas as semanas se realiza ali uma conferência organizada pela sociedade URANIA sobre problemas mais agudos de carácter económico, científico e ideológico. Este teatro é muitíssimo procurado dadas as dimensões e maior possibilidade de comunicação. No entanto, a ocupação média é de 80 a 85% neste teatro e 90% no grande auditório.

Há outras salas de reunião, também com 192 lugares, com as paredes amovíveis. Realizam-se ali espectáculos com a duração de uma hora, a hora e meia, dos mais variados e também bailes. Tem instalação de bufetes móveis. Destinam-se sobretudo às actividades das brigadas de trabalho socialista das empresas. Esses espectáculos são organizados pelas próprias empresas.

Também se fazem reuniões juvenis de todo o tipo, musical ou outro, e organizam-se discotecas.

Ligado directamente ao Palácio da Cultura existe também um clube juvenil com 300 membros que realiza um trabalho político e ideológico de muito interesse.

Há séries de apresentação de discos ou de danças, etc., escolhem-se temas determinados para prestar informações políticas e económicas, para o que são convidadas diversas personalidades especializadas. Esses programas juvenis são organizados pelos jovens. Uma secção dedicada aos problemas internacionais preocupa-se fundamentalmente com a solidariedade. Nesses grupos colaboram muitos estudantes estrangeiros da Universidade Técnica de Dresden. Há grupos dedicados à América Latina, África, Ásia, à Amizade Germano-Soviética e a Cuba.

Estes grupos teriam mais dificuldade em realizar essas actividades noutro local da cidade.

A direcção também estimula a criação de grupos deste género nas grandes empresas que, então, podem ali realizar as suas actividades e organizar os seus programas.

Também o Palácio funciona como Centro de consulta para os outros clubes. Em relação ao trabalho internacional a direcção assume a responsabilidade consultiva para todo o distrito de Dresden.

Estão ali também instalados clubes de artes plásticas, de canto, de trabalho com crianças, de trabalhos manuais e de cinema.

Os membros de cada clube podem assistir às actividades dos outros clubes.

Toda a orientação e organização dos clubes juvenis é da sua inteira responsabilidade. A direcção do Palácio da Cultura limita-se a indicar uma colaboradora que se dedica exclusivamente à coordenação das actividades dos jovens com a programação geral.

É essa também a forma de colaboração com as empresas e com os reformados que aqui organizam actividades próprias.

Dada a extensão destas actividades, tudo tem que obedecer a uma rigorosa planificação.

A direcção presta-o seu auxílio técnico, a sua experiência e até as suas ligações, para a concretização das actividades dos vários sectores, com artistas nacionais e estrangeiros, etc. Uma das formas de ajuda é a seguinte: organizam-se regularmente reuniões com os responsáveis das brigadas de trabalho nas empresas, para lhes comunicar toda a programação cultural em Dresden e facilitar os contactos entre esses organismos culturais e os seus sectores de empresa.

Outra actividade e função muito importante é a colaboração com os agrupamentos de arte popular de Dresden. Têm uma secção responsável pela programação e ajuda dessas actividades, como pintura, desenho, música de sopro, jazz, ao todo 14 especialidades englobadas no seu plano geral, que ali fazem não só exibições como ensaios. Cerca de 100 artistas populares fazem semanalmente os seus ensaios ali. Muitos deles colaboram em espectáculos no grande auditório, em colaboração com os grandes agrupamentos profissionais.

Também ali se realizam em muitos dos seus salões, exposições das mais variadas — pintura, escultura, fotografia, cartazes, etc.

Assisti ali a um concerto de piano para rapazes e raparigas entre os dez e os catorze anos. Um espectáculo inesquecível, o daqueles jovens, saúde, beleza, esperança — seguindo um concerto da polícia da cidade.

Não há dúvida que os que lutaram e morreram, os que tudo sacrificaram pelo socialismo, não o fizeram em vão.

Podia agora falar das belezas de Dresden, das praças, das ruas, dos recantos, das pontes sobre o Elba onde se reflectem nas águas de um verde escuro as sombras dos grandes arvoredos, das frontarias dos palácios, das silhuetas de pedra lavrada, dos cafés, restaurantes, bares onde é bom estar, ver as pessoas, saborear o prazer de viver. Falar dos passeios turísticos pelas redondezas onde a paisagem se transforma, entre as grandes planícies verdejantes, os bosques e florestas de ferro e aço contorcidos dos grandes centros industriais e os repentinos alcantilados graníticos, abismos sobre nova vegetação e rios azulados. Falar de castelos feudais, de palácios-museus, da Estalagem de Adão, que não é do tempo dele mas de tempos recuados e onde se come deliciosamente. Falar do que se come e do que se bebe. Também é um prazer na vida quando é acessível a todos e não representa, como entre nós, uma ofensa dos que podem a tantos que passam fome.

Podia falar do prazer que dá deparar constantemente com crianças e jovens, que o são saudavelmente, deliciosamente e senti-los felizes.

Falar de Dresden como de Cottbus, de Rostock, de Berlim, de Frankfurt, de qualquer terra da R. D. A, para dizer: — há terras melhores, belezas mais impressionantes, mas não assim, no mundo capitalista. Nada supera em encanto, em beleza, certas perspectivas de Paris, Roma ou Londres. Mas a cada passo se nos depara a insolência de um privilégio, a revolta de uma injustiça, a amargura de um sofrimento ou de uma miséria.

A dois passos da rua Rivoli podemos encontrar o pobre de pedir, o chulo, a prostituta, o gangster, o agente da CIA, o que vende fotografias pornográficas ou cigarros de marijuana. Há o que trabalhou o dia todo e come uma sanduíche e uma «demi» e há o que gasta num jantar com o seu «ballet rose» o que chegava para uma família inteira num ano.

Os jovens aqui usam «blue jeans» e cabelos compridos, mas quando têm vinte anos não parecem ter trinta ou mais, não trazem no rosto o estigma da frustração, do desinteresse ou da raiva incontrolada, do ódio — desperdício, da auto-mutilação da sua própria humanidade. De um modo geral, as raparigas são bonitas, apetitosas, corpos prometedores, decerto fazem o amor e não têm tabús. Mas, no entanto, que incomensurável diferença! A diferença entre a saúde e a doença, entre a lucidez e a calma e o frenesim e o delírio. Picante, às vezes, mas cansativo.

Na rua Rivoli ou na Via Venetto. Ou noutra cidade ocidental. Nas ruas «fechadas» da Alemanha Federal, no «trottoir» dos mais diversos pontos de Paris, de Londres, de Madrid ou de Lisboa, nas «montras» da Holanda e da Bélgica, onde a venda do sexo atinge os requintes da sociedade de consumo, há qualquer coisa de estragado e podre.

Na RDA não detectei, durante mais de um mês em que lá estive, por duas vezes, fosse onde fosse, o menor indício de prostituição. Haverá? Suponho ser muito difícil encobri-lo. É a única terra que eu conheço em todo o mundo, onde a não vi. Puritanismo ou farisaísmo? De forma nenhuma. Nenhum tabú sexual de nenhuma espécie.

Talvez nenhuma cidade da RDA me impressionasse tanto como conjunto de estranha beleza como Nuremberg, na R. F. A., mas não poderei esquecer nunca o espectáculo degradante do seu «bas-fond», asqueroso, repugnante. Queria falar, sim, deste mundo diferente. Nesta ausência de contradições. Nível de vida excepcional, é verdade. Onde viver é um prazer que não é estragado pela ideia da injustiça.

O espectáculo da solidariedade da RDA para com os povos que lutam pela independência e a liberdade é tão constante e tão presente como o esplendor da sociedade socialista desenvolvida.

Queria falar de duas sensações — as mais vincadas — neste país. A par de uma extrema aplicação ideológica, em todos os sectores da vida, o ambiente de autêntica liberdade, o menor sintoma de receio, de medo, de necessidade de defesa.


Inclusão 16/02/2015