A viagem triunfal

Fidel Castro

17 de Março de 2008


Fonte: Cuba Debate - Contra o Terrorismo Midiático

Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo


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As agências de notícias transmitiram rápido. As notícias não são risíveis, mas irónicas sim. Cada qual disse o seu. Houve uma competição, isto é, competiram. Também chegaram imagens fílmicas de Dick Cheney, o autor intelectual, e seu discípulo McCain; aparecem disciplinadamente entre numerosas pessoas, numa espécie de sala de aulas com cadeiras simples, em que se encontra todo o tipo de chefes treinados na arte de matar. Utilizarei frases simples e algumas opiniões de alunos, professores, repórteres e instituições que refletem a crua realidade.

Do próprio discurso de Cheney, transmitido pela omnipresente CNN, foram tomadas as seguintes palavras:

“Temos progredido na frente de segurança, mas também no governo.”

“Quando a gente vem aqui, depois de vários anos, e vê como se têm desenvolvido os acontecimentos ―de fato esta semana é o quinto aniversário desde que lançamos a guerra em Março de 2003―, muitas coisas boas têm acontecido e não apenas nos últimos 15 meses.”

“O nível de violência e de baixas militares, bem como de civis tem diminuido muitíssimo, portanto, isso tem sido um grande sucesso.”

“Foram anos difíceis, porém tivemos êxito naquilo que fizemos e o esforço bem valeu a pena.”

“Fico feliz de estar aqui, e estou muito contente de regressar a Washington na próxima semana para informar-lhe ao Presidente acerca do importante progresso que temos atingido no Iraque.”

Respondendo uma pergunta, disse:

“Eu acho que o fato de que o Presidente tomou a decisão que tomou há mais de um ano, de não reduzir os nossos níveis de forças no Iraque, mas antes pelo contrário aumentá-los e acrescentar cinco unidades de combate, isso descarta qualquer noção de que ora seja aqui, no Iraque, ora na região, a gente poderia esperar que nós fôssemos embora.”

“A gente está convencida de que nós estamos aqui para ficar e terminar a missão.”

“Temos o benefício de um ano de êxitos. Eu acho que os estadunidenses podem falar de que o que está acontecendo no Iraque é um sucesso.”

Pelas 9h:50 se interrompe a transmissão para dar passo a um relatório sobre as palavras de Bush relativas ao estado da economia.

“Neste momento estamos lidando com uma situação difícil”, declarou o Presidente.

A transmissão é de novo interrompida e o repórter acrescenta que “o presidente Bush disse que os Estados Unidos estão controlando a situação da economia, que está em crise, ainda que tudo está sob controle. Pelo menos essas foram as palavras do Presidente estadunidense”.

Neste momento, Alan Greenspan publicava no Financial Times:

“A actual crise financeira nos Estados Unidos será julgada como a mais grave desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Esta crise deixará numerosas vítimas.”

Some-se a isso que, enquanto Bush falava, o ouro atingia um preço de 1 023.68 dólares a onça Troy e 112 dólares o barril de petróleo.

As notícias se acumulam.

“Segunda-feira 17 de Março de 2008: Milhões de iraquianos têm pouco ou nenhum acesso à água potável ou serviços médicos e sanitários cinco anos depois da invasão chefiada pelos Estados Unidos, segundo um relatório da Cruz Vermelha”, transmite BBC Mundo e continua:

“A situação humanitária no Iraque está entre as mais críticas do mundo.”

“Milhões de pessoas estão abandonadas à sua sorte.”

“Algumas famílias gastam uma terceira parte do seu salário médio mensal de 150 dólares em comprar água potável.”

“Os serviços médicos no Iraque estão agora em pior estado do que nunca e os serviços disponíveis são caros demais.”

“Os hospitais do Iraque carecem de pessoal qualificado e de medicamentos básicos, os hospitais públicos têm apenas 30 mil leitos quando se precisam 80 mil.”

“Muitos dos mortos no atual estado de violência não foram jamais identificados.”

“O fato de que exista mais segurança nalgumas partes do Iraque não deve distrair a atenção da situação extrema que vivem milhões de pessoas que, essencialmente, foram abandonadas à sua sorte.”

Um relatório de Anistia Internacional, divulgado por DPA, adverte:

“As violações dos direitos humanos são uma constante em todo o país, onde milhões de iraquianos dependem da ajuda humanitária para sobreviver.”

“Foram investidos milhões de dólares em segurança, mas dois de cada três iraquianos ainda não têm acesso a água potável, e quase um de cada três ―uns oito milhões de pessoas― depende da ajuda de emergência.”

“Não se sabe com certeza o número exato de pessoas assassinadas no Iraque desde a invasão estadunidense em Março de 2003.”

“Os julgamentos que se levam a cabo são habitualmente injustos, com confissões de culpabilidade presumivelmente obtidas sob tortura.”

Por outra parte, a agência ANSA informa:

“O Vice-presidente estadunidense Dick Cheney se reuniu hoje em Bagdad com o Primeiro-ministro iraquiano Nuri Al Maliki, ao passo que uma série de explosões sacudiram a capital iraquiana causando pelo menos dois mortos e vários feridos.”

“Cheney se reuni, também, com o candidato republicano para as eleições presidenciais estadunidenses de Novembro, John McCain, quem chegou no domingo, também surpresamente, ao Iraque.”

“Pouco depois da chegada de Cheney, registrou-se no centro de Bagdad uma violenta explosão, ao que parece um disparo de morteiro lançado contra a Zona Verde de máxima segurança da capital, onde estão localizadas as embaixadas e os principais prédios governamentais.”

“O general Kassim Atta, porta-voz das operações de segurança em Bagdad, declarou que uma terceira bomba estourou hoje contra um automóvel civil na praça de Tahariyat, na zona central do bairro Karrada, provocando a morte de um civil e três feridos.”

A agência norte-americana AP dá conta que:

“Explosões estremeceram esta capital na segunda-feira durante a visita do virtual candidato presidencial republicano e do Vice-presidente Dick Cheney.”

“Helicópteros artilhados sobrevoaram o centro de Bagdad e a fortificada Zona Verde, onde se encontra a sede do governo iraquiano e as embaixadas dos Estados Unidos e da Grã-bretanha, porém não houve detalhes iniciais sobre a causa das explosões.”

“O Vice-presidente realiza a sua terceira visita ao Iraque, onde os Estados Unidos têm uma força de 160 mil soldados e tem sofrido a morte de quase quatro mil efectivos.”

“McCain, quem tem apostado seu futuro político a um êxito militar dos Estados Unidos no Iraque, reuniu-se na segunda-feira com o Primeiro-ministro Nuri Al Maliki, pouco antes de que o líder iraquiano iniciasse conversações separadas com Cheney.”

“Al Maliki disse que ele e o Vice-presidente discutiram as atuais negociações sobre um acordo de segurança a longo prazo entre ambos os países.”

“A embaixada dos Estados Unidos em Bagdad disse que não podia confirmar versões de que a Zona Verde tinha sido atacada com mísseis após a chegada de Cheney.”

Mais adiante DPA informa e acrescenta:

“Um atentado triplo causou hoje a morte a duas pessoas e feriu outras sete na capital iraquiana, Bagdad, horas depois da chegada de surpresa do Vice-presidente dos Estados Unidos Dick Cheney.”

“A primeira bomba explodiu contra uma patrulha da polícia no bairro ocidental de Mansur. Um agente morreu e outro resultou ferido.”

“Uma segunda explosão no bairro de Zayuna causou feridas a três civis, ao passo que no centro da cidade um civil perdeu a vida e outros três resultaram feridos, informou o general Kassim Atta.”

Mas não foi apenas na capital iraquiana:

“A 42 vítimas mortais e 58 feridos se elevou o número de vítimas num dos atentados em Karbala, a 110 quilômetros de Bagdad”, comunicou EFE.

Noutro telex acrescentava que era

“um atentado suicida perpetrado por uma mulher que estourou a carga explosiva que levava grudada ao corpo.”

“Entre 25 e 36 mortos e dezenas de feridos causou hoje um atentado suicida”, informou por sua vez ANSA.

Com esses dados, que se incrementam por hora, a de Cheney, foi ou não uma viagem triunfal?

Fidel Castro Ruz
17 de Março de 2008
20h:17


Inclusão: 04/09/2021