Socialismo e Espiritismo

Léon Denis


Capítulo VII


capa

Os acontecimentos que se desenrolaram há alguns meses, suscitaram muitos comentários e preocuparam muitos Espíritos. A fim de permanecer no circulo das preocupações do momento que nos permite, desta vez, deixar em suspenso nosso assunto habitual para considerar do alto a questão política e social, como se a julgássemos do espaço.

Do ponto de vista da evolução encontramo-nos em uma esquina brusca após a qual será preciso reencontrar o caminho seguro. Toda sociedade é regida por princípios que, sob a ação do tempo revestem aspectos novos. Os recentes movimentos políticos, dissemos, são provocados por reencarnados que já desempenharam um papel importante nas épocas revolucionárias, seja na França seja no estrangeiro, pois que o espírito não é induzido a renascer no mesmo país. A França, vem, há séculos, representando no mundo as grandes tradições históricas: esta tradição que era realista foi quebrada pela revolução. Hoje é preciso reconstituir o prestígio da França por meio de uma direção nova inspirada em um ideal superior.

Pode-se já prever que o Espiritismo, caminhando a par com a ciência, se tornará, no futuro, a base das doutrinas religiosas chamadas a substituir os dogmas envelhecidos. Estes se adaptavam à mentalidade dos tempos em que foram estabelecidos mas não respondem mais às necessidades da Humanidade em marcha.

Segundo os meus artigos precedentes, eu me coloquei entre os socialistas. Mas tive o cuidado de dizer que não aceito o Socialismo sem a doutrina espiritualista que o tempera, o dulcifica, tirarei todo o caráter de áspera violência. Reprovo o Socialismo materialista que só semeia o ódio entre os homens e, por conseguinte, permanece infecundo e destrutivo, como se pode ver na Rússia. Sou evolucionista e não revolucionário.

Creio dever dar a palavra aos nossos guias e protetores invisíveis, dos quais muitos participaram da direção política do último século. Um entre eles nos disse:

“Vossa época tem uma grande importância. Vossos homens políticos em geral, não veem senão o sentido prático e antes material, a razão e o interesse são seus guias, e si está em grande parte o que constitui a política das esquerdas. Isso, porém, está longe de ser suficiente para assegurar a vida intelectual e moral de uma grande nação. Preciso chegar cedo ou tarde ás doutrinas espiritualistas para dar a esta política toda a sua grandeza e seu alcance.

“As mudanças de fachada causaram alguma surpresa, mas a política do vosso antigo Ministério parecia fazer reviver as tendências antigas que não podiam oferecer o suco necessário à obra do progresso.

“Teríamos preferido que a mudança de fachada se fizesse de começo, no terreno filosófico, por isso, o socialismo seria aclarado por uma luz mais viva e mais pura. Seria mais difícil fazer beneficiar as instituições humanas com o raio superior e teria podido desde o começo inspirá-las. Daí nossos sentimentos do ponto de vista psíquico; agora, do ponto de vista prático, desçamos à arena e procuremos o que se produziu.

“Os homens políticos que queriam fazer reviver as instituições do passado se chocaram com forças poderosas, desprendidas de todos os cuidados conservadores e animados de desejos de renovação. Qual será o resultado? Assistireis a lutas, a discórdias de onde nascerá, dentro de algum tempo, um novo partido.

“O golpe de força constitucional pode parecer um choque, mas do choque nasce à centelha. Lamentando que a evolução não parta de um ideal superior, não podemos, do Espaço, impedir as ideias de seguir suas marchas. Entretanto, correntes de ondas que nos são enviadas de mundos mais evoluídos, a fim de que vossas vistas se lancem para o futuro e que vossos dirigentes cheguem a compreender a existência da vida universal e suas leis.

“Do Espaço, trabalha-se para dilatar as concepções do homem de direita e a moderar os impulsos dos extremistas. É preciso saber esperar sem muito otimismo e preparar na ordem e na razão a eclosão dos princípios novos”.

Outra mensagem, de 6 de maio de 1924. Depois das eleições:

“A vontade soberana do povo decidiu que dois grandes princípios deveriam inspirar a direção política de vosso país no interior e no exterior. Se os cérebros dos homens políticos se impregnarem de forças do espaço, disso poderá resultar um certo bem. Devemos zelar para que Espíritos sábios forneçam intuições aos vossos homens de Estado.

“Quando os novos eleitos estiverem em face da realidade, deverão constituir, de inicio, uma maioria mais à esquerda. Se estas não se compuserem senão de homens conscienciosos, apaixonados pela liberdade e independência, resultará em uma política improfícua.

“É preciso um espírito novo comparável a um vinho generoso vertido nas veias do povo, um ardor maior e um desejo de ir em frente.

“Do ponto de vista científico, vê-se surgirem teorias novas e a política deve servir num movimento paralelo. A nova maioria vai se inspirar em doutrinas socialistas dos limites da justiça do bom senso e da razão.

“Em relação aos fenômenos científicos novos é preciso apresentar fatos políticos da mesma ordem O pensamento evoluiu, muito ardente, ele buscaria desviar-se. E preciso para vos fazer viver moralmente falando um certo entusiasmo que vos ajude a elevar para a vida superior.

“Choques se produziram na abertura das Câmaras, os republicanos se encontrarão face a face com os socialistas e estes últimos em desacordo com os comunistas. No começo, a fusão será laboriosa. Quando os futuros governantes se pronunciarem sobre os problemas a resolver, sua inclinação os levará para soluções pacíficas.

“Quatro anos de legislação são pouca coisa se, nesse lapso de tempo à política nova cometer alguma falta, a opinião voltará atrás. Hoje, a política de arbitragem parece tomar no mundo preponderância sobre aquela da luva de ferro.

“Para que vossa Terra evolua e o homem possa alcançar um outro planeta, é preciso renunciar às ideias militaristas. Uma nova era psíquica se prepara para vós. Sugestões apropriadas irão se produzir e não haverá outra guerra nos próximos quatro anos. E ensejou as críticas daqueles que se recusavam retornar ao passado. Deveis vos inspirar em instituições do futuro e não naquela do passado.

“A primeira medida será reforçar o espírito laico e fazer penetrar na instrução este espírito de beleza que dulcificando as disciplinas políticas, morais é científica, criará um impulso para a espiritualidade que não deverá jamais se enfraquecer.

“Nos séculos anteriores, a religião foi necessária. A espiritualidade simples ia de par com o ambiente cientifico apenas nascido e agora o vazio foi ocupado. As ondas fluídicas que nos envolvem afina o pensamento. Dizei a todos que o culto da beleza e do ideal, pode sozinho conduzir a humanidade para uma compreensão mais larga da vida universal”.

Outra mensagem, 30 de maio de 1924:

“A França neste momento vê se desenrolar um período instável que deve durar algum tempo. Assistireis a choques, mudanças de Ministérios, sobressaltos políticos, alianças de partidos que vos espantarão; depois a tempestade se acalmará e nascera no seio da Assembleia um partido novo, reconstituirá uma maioria mais estável e acarretará um período relativamente pacífico.

“De vosso antigo Presidente do Conselho aprecio a lealdade de seu amor ao Pais, sua facilidade no trabalho, mas, o que lhe falta, é uma espécie de intuição que lhe indique que certas possibilidades têm limites. É perfeitamente necessário fazer concessões para ganhar de novo o terreno perdido na luta política. Ele compreenderá o seu erro e começará um dia a tarefa iniciada. Em um regime republicano, é preciso que não seja o mesmo homem que governe constantemente; a natureza humana não pode exteriorizar todas as qualidades necessárias.

“Não estou completamente de acordo com os políticos que vão assumir o poder. Gostaria de aliar um ideal superior às ideias políticas e humanas. Os políticos atuais retiram tudo de seu Eu consciente. Os governos que vão se suceder são necessários para exercer uma compreensão entre os partidos de direita, de esquerda. Eles vão tomar à esquerda o que pode ser tomado em vossa sociedade atual.

“Creio que os homens que irão ser chamados ao governo serão obrigados a circunscrever seu programa em um circulo mais estreito.

“Do espaço eu posso dizer-vos que para estabilidade da França e do mundo, é preciso lançar mão de teorias humanitárias e de teorias nacionais, racionais e positivas. O dia em que vossa direção política estiver estabilizada, vossa ciência terá marchado, vossos cérebros estarão mais aptos a compreender que uma espiritualidade nova há de surgir e que a Humanidade deve se impregnar de racionalismo.

Nós projetamos radiações suscetíveis de dar as forças evolutivas necessárias para equilibrar o cérebro dos homens políticos a fim de alcançar um período de paz”.

Mensagem de 11 de julho:

“Do ponto de vista psíquico a situação europeia deve se aclarar. Do Espaço não podemos analisar cada pensamento humano do ponto de vista político, pois que tudo se traduz por mais ou menos pureza, por cores mais ou menos claras e densidades fluídicas variadas.

“Quando lançamos um olhar sobre as diversas prisões de vosso planeta vemos que as lutas são mais ou menos violentas. Na hora atual trata-se de se circunscrever um foco representando os apetites e o espírito de dominação em 1914. Dois meios estão à vossa disposição: anular os maus fluídos por uma vontade inquebrantável ou dissolvê-los projetando sobre os mesmos outros fluidos mais etéreos cuja natureza estará em relação com a elevação da consciência e o sentimento de justiça. Eis como se apresenta a carta psíquica de vosso campo de batalha política.

“A França e a Inglaterra poderiam, se o quisessem conjugar seus esforços para comprimir os círculos adversos. Fora preciso pouca coisa para isto, mas este pouco é difícil de realizar. A fé inglesa falta sinceridade; ela é reforçada por um pensamento preconcebido. Querendo evitar uma nova guerra com a Alemanha, ela atira a liderança do mundo ditando todas as suas vontades.

“Na França o ideal nacionalista não é suficientemente aliado a um ideal de justiça e de equidade. O que nos impede de agir do Espaço é que forças postas aí suscitam controvérsias incessantes.

“Fora preciso que o egoísmo inglês desse lugar a um sentimento de justiça que se confundiria fluidicamente com as emanações idealísticas francesas, as quais se quebram na lógica implacável de vossos aliados.

“Três forças estão, pois, presentes: a força brutal alemã, o ideal incompleto francês, o egoísmo e a lógica puritana inglesa.

“As conferências entre os dois primeiros-ministros não chegaram a um grande resultado. Na Inglaterra há em jogo interesses alemães e objetivos financeiros.

“Do Alto, desejar-se-ia que surgissem em vosso país homens honestos, íntegros, com um ideal formado de amor ao país e de justiça social. Vós os possuís mas em feixes separados.

“O ideal espírita vai crescer, mas, antes que vossos feixes radiantes se juntem aos nossos é preciso que a tempestade moral seja acalmada ”.

Posso acrescentar a clara visão destes grandes Espíritos que, todos, desempenharam um papel político importante quando de sua última jornada terrestre; como eles, eu sou republicano, não que eu considere nossa República como o mais perfeito dos governos. Todo este ponto de vista, eu compartilho com o ponto de vista de Montesquieu que escrevia que a República exige a sabedoria e a virtude. Falta à nossa, assim como dizem os nossos guias, o ideal superior, a tradição moral que faz a grandeza e a dignidade das nações.

A rigor eu me acomodaria, como outras tantas pessoas, em uma monarquia constitucional, se eu soubesse que ela pudesse dar mais paz e felicidade ao meu país. Mas acredito que uma restauração deste gênero é impossível, pois faltam os elementos necessários, isto é, o respeito à autoridade, o sentimento da hierarquia, o gosto pela disciplina.

Sou a favor da democracia, que, só ela, me parece capaz de assegurar a pacificação e o aproximamento entre povos. Os Estados despóticos e a política dos soberanos são naturalmente levados a usar da força para crescer seu poder, enquanto que as democracias, onde o conjunto dos cidadãos deve se pronunciar sobre as questões viáveis, são poucos favoráveis à guerra, que, longe de levantar, arruína os povos. Assim, em nossa época procuramos criar instituições bastante instáveis para regular a arbitragem dos conflitos entre nações.

Lembramos aqui as duas mais antigas repúblicas do mundo: a Suíça e os EUA, em suas obras fundamentais, se inspiraram em um ideal sagrado. O pacto de Grutli e o dos imigrantes de May Flower unia os contratantes em um laço federal sancionado por uma fé espiritualista e uma prece a Deus.

Este sentimento persistiu face à grandeza destes povos que sempre souberam reagir contra os usurpadores da política utilitária e materialista que tende a invadir o mundo. A França, ela também teve horas de idealismo e de espiritualidade. A Declaração dos Direitos do Homem e as publicações de 1848 disso fazem irrecusável testemunho; hoje, porém, ela parece ter esquecido este ideal superior que faz o prestígio das obras humanas. A última guerra alterou em muito os caracteres e as consciências, ela desencadeou apetites, cobiças sem limites.

Outrora, conheciam-se duas maneiras de fazer face às necessidades da existência: adquirir riquezas ou então restringir as necessidades procedendo com a economia. Este último meio, o meio seguro, entretanto cai em desuso. Quer se possuir a todo preço. As necessidades se multiplicaram a ponto de tornar a luta pela vida mais áspera, mais tirânica. Também o trabalho, as tarefas cotidianas, que se realizava outrora com alegria, com obstinação e bom humor, o trabalho - bem explícito, entretanto - se tornou para muitos uma contrariedade, um jugo que se suporta dificilmente.

Ignora-se que multiplicando as necessidades fictícias, atiçando os desejos, prepara-se à desgraça do ser, não apenas na Terra, mas também na vida do Espaço, pois, se as necessidades desaparecessem com o corpo, os desejos que são do espírito, persistem nele e as privações se fazem sentir no lado de lá onde a matéria não tem mais império. A ausência das coisas que nós muito amamos se torna uma causa de sofrimento.

Para todos estes males, qual será o remédio? Pode ser encontrada em uma renovação do espírito a do coração, isto é, numa educação nacional que explica ao homem o porquê de sua presença e de sua passagem sobre a Terra. Pois, de que serve conquistar os ares, as águas e todas as forças materiais, se o homem não aprende a conhecer, a discernir as finalidades de sua vida. E se o remédio não está em tudo e na ciência, ele virá pela prova, pois as causas amargas são as mais eficazes para o progresso e a depuração do ser. Mas eis que começa, por uma colaboração estreita com o mundo invisível, uma nova fase da evolução humana. Pois pelos esforços reunidos, dos habitantes da Terra e do Espaço se dissiparam as trevas e se curaram os males que ainda pesam sobre a Humanidade.


Inclusão 07/08/2018