Quem é Contra a Unidade?

Georgi Mikhailovich Dimitrov

10 de Abril de 1914


Primeira edição: «Rabotnitcheski Vestnik» N.° 280 de 10 de Abril de 1914. Assinado: G. Dimitrov.
Fonte:
Dimitrov e a Luta Sindical. Edições Maria da Fonte, Tradução: Ana Salema e Carlos Neves; Biografia e notas: Manuel Quirós.
Transcrição: João Filipe Freitas
HTML:
Fernando A. S. Araújo
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Como grupo sem comparação mais forte numérica e financeiramente, e sob qualquer outro ponto de vista, a nossa Central Sindical teria por completo o direito de insistir irredutivelmente para que fosse reconhecida pela Internacional como representante natural do movimento sindical búlgaro e que fosse justamente a ela que a Internacional confiasse também a tarefa de restabelecer a unidade da organização sindical em algumas profissões em que, entre nós, continua a haver uma certa dispersão das forças trabalhadoras. Tanto mais que os representantes dos sindicatos ligados à central dos socialistas da direita, reconhecendo eles próprios serem uma minoria, sempre afirmaram, de resto, tanto entre nós como diante da Internacional, que no domínio da luta sindical, apoiam os mesmos princípios e táctica defendidos também pelas uniões sindicais social-democratas. Declararam igualmente isso, categórica e solenemente, nas conferências comuns com a participação do camarada K. Léguine. Nestas condições, nada seria mais natural e normal do que o facto de ver a minoria aliar-se à maioria, criar organizações sindicais unidas e pôr fim à cisão sindical e às discórdias fraternas entre os operários, para que os operários organizados de todas as profissões possam lutar unindo as suas forças contra a exploração capitalista e pela defesa dos seus interesses operários vitais.

Ora, a fim de acelerar e facilitar o processo de restabelecimento da unidade completa do movimento sindical entre nós, para criar também a base de uma união sindical perfeitamente digna para essa minoria, sem que esta última, tendo durante anos existido em organizações independentes, se sinta humilhada e reunida à força à maioria, a nossa Central Sindical fez uma grande concessão ao aceitar tratar a central dos socialistas da direita como parte contratante igual nas conversações e fez já a conhecida proposta, segundo a qual os próprios operários organizados dos dois lados podem discutir num congresso comum, em representação proporcional e em conjunto, o processo prático que permita realizar, da mais segura forma, a unidade necessária do movimento sindical, sem expor este movimento ao perigo de ser desorganizado e transformado em arena de todas as espécies de lutas intestinas que voltariam a quebrar a unidade criada. Neste congresso puramente operário, depois de uma discussão, das mais sérias e completas, sobre as condições e as relações de facto que presidiram à criação e ao desenvolvimento do movimento sindical búlgaro, os próprios operários das organizações das duas centrais sindicais, sem ingerência externa ou qualquer pressão, terão toda a possibilidade, o mais judiciosa e utilmente para eles e para toda a classe operária, de decidir todas as questões referentes ao carácter, táctica, forma de organização e atitude para com os partidos políticos do movimento sindical unido.

Evidentemente que nesse congresso comum — como acontece em todos os outros congressos operários— a minoria submeter-se-á à vontade e às concepções da maioria, mas isso não seria um acto maioritário ou de terror para com a minoria; seria uma submissão de boa vontade da parte de todos os operários organizados pela vontade proletária manifestada pela unidade da organização sindical, para a supressão das discórdias fraternas entre operários e para uma luta unânime contra o inimigo operário comum — o capitalismo. As decisões do Congresso serão a expressão viva das reivindicações dominantes no seio dos próprios operários organizados, das suas ideias e concepções respeitantes às vias que asseguram os melhores sucessos na luta da classe operária contra a exploração e a tirania capitalista.

Tudo isso é já de tal modo claro e compreensível para a massa operária organizada dos dois campos operários discutindo entre si, que não há necessidade de explicações promenorizadas ou provas. Não resta senão passar à sua aplicação prática pelas organizações próximas das duas centrais, com toda a boa vontade proletária indispensável em tal caso.

Contudo, somos obrigados aqui a verificar o facto indigno de os chefes da central sindical dos socialistas de direita não terem apenas rejeitado sem qualquer discussão e sem terem compreendido a franca proposta que lhes fez a Central Sindical Social-Democrata, como dispenderam ainda todos os esforços para afastar os operários, nas suas organizações, das discussões calmas e para que recorram aos velhos métodos da intriga, da calúnia e da instigação, para aprofundar ainda mais o abismo que separa, por um lado, os sindicatos social-democratas e, por outro, as organizações sindicais dos socialistas de direita.

O camarada Karl Léguine que, em nome de oito milhões de proletários sindicalizados, tinha proclamado a imperiosa necessidade da unidade do movimento sindical e do combate às discórdias fraternas entre operários, não tinha ainda abandonado o território do nosso país, e já os inspiradores da central dos socialistas de direita atacavam furiosamente as Uniões Sindicais Social-Democratas e os seus activistas e representantes, anunciando, com um toque de clarim, uma «nova vergonha dos socialistas de esquerda», recomendando aos seus operários uma luta das mais indignas com os seus irmãos das Uniões Sindicais Social-Democratas e que furassem mesmo sistematicamente as nossas greves.

Nenhuma dúvida: tudo isso desmascara com clareza os dirigentes e os inspiradores da central sindical concorrente que não desejam a verdadeira e digna união das organizações sindicais e que se inspiram na única ideia de salvar a capelinha política em falência, nas mãos dos quais continua a ser um lamentável instrumento.

Porque é claro como o dia que, se se deixasse aos operários das organizações das duas centrais a tarefa de resolver por si próprios todos os problemas que dizem respeito à unidade da sua organização e da sua luta, seria um golpe mortal desferido contra a capelinha dos socialistas «obchtodeltsi»(1) e contra a sua intelectualidade venal.

Devemos, contudo, declarar que nenhum operário consciente pode participar em luta tão suja e que as nossas Uniões Sindicais Social-Democratas lhes reservam todo o seu desprezo. Pelo contrário, trabalharão ainda com mais zelo na reaproximação e no entendimento com os operários das organizações filiadas na central dos socialistas de direita e na realização, num futuro imediato, da unidade do movimento sindical.

Os operários nada têm a disputar entre si: devem pôr-se de acordo e unir-se para a luta comum contra o capitalismo.

E unir-se-ão, apesar de todas as criminosas provocações que os socialistas «obchtodeltsi» gritam, por que os próprios operários organizados nos sindicatos concorrentes não podem, em caso algum, colocar mais alto os interesses e os cálculos da capelinha dos socialistas de direita do que a necessidade de se unir e lutar em conjunto com os seus irmãos das Uniões Sindicais Social-Democratas, para a defesa dos seus interesses de classe proletária e para o triunfo do socialismo.


Notas de rodapé:

(1) Partidários da acção comum. (retornar ao texto)

Inclusão 30/08/2014