A luta pela unidade da classe operaria contra o fascismo

Georgi Dimitrov


I - O fascismo e a classe operária


capa

Camaradas: Já o VI Congresso da Internacional Comunista prevenira o proletariado internacional sobre a gestação de uma nova ofensiva fascista, chamando-o à luta contra ela. O Congresso salientou que

«quase em toda parte existem tendências fascistas e germes de um movimento fascista em forma mais ou menos desenvolvida».

Sob as condições da profundíssima crise geral do capitalismo, do revolucionamento das massas trabalhadoras o fascismo passou à ofensiva declarada. A burguesia dominante cada vez mais procura sua salvação no fascismo para empregar medidas excepcionais de espoliação contra os trabalhadores, para preparar uma guerra imperialista de rapina e de assalto contra a União Soviética, para preparar a escravização e divisão da China e impedir, por meio de tudo isto, a revolução.

Os círculos imperialistas tentam descarregar todo o peso das crises sobre os ombros dos trabalhadores. Para isto, necessitam do fascismo.

Tratam de resolver o problema dos mercados mediante a escravização dos povos débeis, mediante o aumento da opressão colonial e uma nova partilha do mundo por meio da guerra. Para isto, necessitam do fascismo.

Tentam atalhar o crescimento das forcas da revolução por meio da destruição do movimento revolucionário dos operários e camponeses e do assalto militar à União Soviética, baluarte do proletariado mundial. Para isto, necessitam do fascismo.

Em uma série de países — particularmente na Alemanha — estes círculos imperialistas conseguiram, antes da viragem decisiva das massas para a revolução, infligir ao proletariado uma derrota e instaurar a ditadura fascista.

Mas a característica da vitória do fascismo é precisamente a circunstância de que esta vitória mostra, por um lado, a debilidade do proletariado, desorganizado e paralisado pela politica divisionista social-democrata de colaboração de classe com a burguesia, e, por outro lado, revela a debilidade da própria burguesia, que tem medo que se realize a unidade de luta da classe operária, teme a revolução e não está em condições de manter sua ditadura sobre as massas com os antigos métodos da democracia burguesa e do parlamentarismo.

O Caráter de classe do fascismo

O fascismo no Poder, camaradas, é, como acertadamente o definiu o XIII Pleno do Comitê Executivo da Internacional Comunista, a ditadura terrorista descarada dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas e mais imperialistas do capital financeiro.

A modalidade mais reacionária do fascismo é o fascismo de tipo alemão. Tem a ousadia de chamar-se nacional-socialismo, apesar de não ter nada de comum com o socialismo. O fascismo hitleriano não é apenas um nacionalismo burguês, é um chauvinismo bestial. É o sistema de governo do banditismo político, um sistema de provocações e torturas contra a classe operária e os elementos revolucionários da massa camponesa, da pequena burguesia e dos intelectuais. É a crueldade e a barbárie medievais, a agressividade desenfreada contra os demais povos e países.

O fascismo alemão atua como tropa de choque da contrarrevolução internacional, como incendiário principal da guerra imperialista, como iniciador da cruzada contra a União Soviética, a grande pátria dos trabalhadores de todo o mundo.

O fascismo não é uma forma de Poder estatal que esteja, como se pretende, «por cima de ambas as classes do proletariado e da burguesia», como afirmou, por exemplo, Otto Bauer. Não é «a pequena burguesia sublevada que se apoderou do aparelho do Estado», como declara o socialista inglês Brailsford. Não; o fascismo não é um poder situado por cima das classes, nem o poder da pequena burguesia ou do lumpemproletariado sobre o capital financeiro. O fascismo é o Poder do próprio capital financeiro. É a organização do ajuste de contas terroristas com a classe operária e a parte revolucionária dos camponeses e dos intelectuais. O fascismo em política exterior é o chauvinismo em sua forma mais brutal que cultiva um ódio bestial contra os demais povos.

É preciso salientar de modo especial este caráter verdadeiro do fascismo porque a dissimulação da demagogia social deu ao fascismo, numa série de países, a possibilidade de arrastar consigo as massas da pequena burguesia desajustadas pela crise, e até alguns setores das camadas mais atrasadas do proletariado que jamais seguiriam o fascismo se tivessem compreendido seu verdadeiro caráter de classe, sua verdadeira natureza.

O desenvolvimento do fascismo e a própria ditadura fascista revestem-se, nos diversos países, de formas diferentes, segundo as condições históricas, sociais e econômicas, as particularidades nacionais e a posição internacional de cada país. Em alguns países, principalmente onde não conta com uma ampla base de massas e onde a luta entre os diversos grupos no campo da própria burguesia fascista é bastante dura, o fascismo não se decide imediatamente a acabar com o parlamento e permite aos demais partidos burgueses, assim como à social-democracia, certa legalidade. Noutros países, onde a burguesia dominante teme a próxima eclosão da revolução, o fascismo estabelece seu monopólio político ilimitado, ora de golpe e bordoada, ora intensificando cada vez mais o terror e o ajuste de contas com todos os partidos e agrupamentos rivais. Isto não faz com que o fascismo, no momento em que se agrava de um modo especial sua situação, deixe de estender sua base para combinar — sem alterar seu caráter de classe — a ditadura terrorista descarada com uma grosseira falsificação do parlamentarismo.

A ascensão do fascismo ao Poder não é uma simples troca de um governo burguês por outro, mas a substituição de uma forma estatal da dominação de classe da burguesia, a democracia burguesia, por outra: a ditadura terrorista declarada. Passar por alto esta diferença seria um erro grave que impediria o proletariado revolucionário de mobilizar as mais amplas camadas dos trabalhadores da cidade e do campo para lutar contra a ameaça da tomada do Poder pelos fascistas assim como de aproveitar as contradições existentes no campo da própria burguesia. Não obstante, não menos grave e perigoso é o erro de não apreciar suficientemente o significado que têm para a instauração da ditadura fascista as medidas reacionárias da burguesia que se intensificam atualmente nos países da democracia burguesa, medidas que reprimem as liberdades democráticas dos trabalhadores, restringem e falseiam os direitos do parlamento e agravam as medidas de repressão contra o movimento revolucionário.

Camaradas, não é possível representar a subida do fascismo ao Poder de uma forma tão simplista e fácil, como se um comitê qualquer do capital financeiro tomasse a resolução de implantar em tal ou qual dia a ditadura fascista. Na realidade, o fascismo chega geralmente ao Poder em luta recíproca, às vezes exasperada, com os antigos partidos burgueses ou com determinada parte destes em luta até no seio do próprio campo fascista, que muitas vezes conduz a choques armados, como vimos na Alemanha, Áustria e outros países. Tudo isto, no entanto, não diminui a significação do fato de que, antes da instauração da ditadura fascista, os governos burgueses atravessam habitualmente uma série de etapas preparatórias e realizam uma série de medidas reacionárias que facilitam diretamente o acesso do fascismo ao Poder. Todo aquele que não lutar nestas etapas preparatórias contra as medidas reacionárias da burguesia e contra o fascismo em ascensão não estará em condições de impedir a vitória do fascismo, senão que, pelo contrário, a facilitará.

Os chefes da social-democracia encobriram e ocultaram às massas o verdadeiro caráter de classe do fascismo e não lutaram contra as medidas reacionárias cada vez mais graves da burguesia. Sobre eles pesa grande responsabilidade histórica, pelo fato de, nos momentos decisivos da ofensiva fascista, uma parte considerável das massas trabalhadoras da Alemanha e de diversos outros países fascistas não reconhecer no fascismo a fera sedenta de sangue do capital financeiro, seu pior inimigo, e destas massas não estarem preparadas para fazer-lhe frente.

De onde nasce a influência do fascismo sobre as massas? O fascismo consegue atrair para si as massas, porque apela de forma demagógica para suas necessidades e exigências mais candentes. O fascismo não só instiga os preconceitos profundamente arraigados nas massas, como especula também com os melhores sentimentos destas, com sua sede de justiça, e, às vezes, até com suas tradições revolucionárias. Por que os fascistas alemães, esses lacaios da grande burguesia e inimigos mortais do socialismo, se fazem passar perante as massas por «socialistas» e apresentam sua subida ao Poder como uma «revolução»? Porque se esforçam em explorar a fé na revolução, a atração pelo socialismo que vive no coração das amplas massas trabalhadoras da Alemanha.

O fascismo age a serviço dos interesses dos imperialistas mais agressivos, porém se apresenta diante das massas disfarçado em defensor da nação ultrajada e apela para o sentimento nacional ferido, como fez, por exemplo o fascismo alemão, que arrastou consigo as massas com a palavra de ordem de «Contra Versalhes!»

O fascismo aspira à mais desenfreada exploração das massas, porém, delas se aproxima com uma demagogia anticapitalista, muito hábil, explorando o ódio profundo dos trabalhadores contra a burguesia rapinante, contra os bancos, os «trustes» e os magnatas financeiros, e lançando as palavras de ordem mais sedutoras em determinado momento para as massas que não alcançaram a maturidade política. Na Alemanha: «o bem comum está acima do bem particular», na Itália: «nosso Estado não é um Estado capitalista e sim um Estado corporativo»; no Japão: «por um Japão sem exploradores»; nos Estados Unidos: «pela divisão das riquezas», etc.

O fascismo entrega o povo à voracidade dos elementos mais corrompidos e venais, mas apresenta-se diante dele com a reivindicação de um «governo honrado e insubornável». Especulando com a profunda desilusão das massas em relação aos governos da democracia burguesa, o fascismo se indigna hipocritamente em face da corrupção (veja-se, por exemplo, o caso Barmat e Sklaret, na Alemanha; o caso Staviski, na França e outros).

O fascismo atrai, no interesse dos setores mais reacionários da burguesia, as massas decepcionadas que abandonam os antigos partidos burgueses impressiona estas massas pela violência de seus ataques contra os governos burgueses, por sua atitude irreconciliável com os antigos partidos da burguesia.

Deixando atrás todas as outras variedades de reação burguesa, por seu cinismo e sues mentiras, o fascismo adapta sua demagogia às características nacionais de cada país e inclusive às características das diferentes camadas sociais dentro de um mesmo país. E as massas da pequena burguesia e uma parte dos operários levados ao desespero pela miséria, o desemprego forçado e a insegurança de sua existência, se convertem em vítimas da demagogia social e chauvinista do fascismo.

O fascismo chega ao Poder como o partido de choque contra o movimento revolucionário do proletariado, contra as massas populares em efervescência, porém representa sua subida ao Poder como um movimento «revolucionário» dirigido contra a burguesia, em nome de «toda a nação» e para «salvar a nação». (Recordemos a «marcha» de Mussolini sobre Roma, a «marcha»; de Pilsudski sobre Varsóvia, a «revolução» nacional-socialista de Hitler na Alemanha, etc.).

Mas qualquer que seja a máscara com que se disfarce, qualquer que seja a forma em que se apresente, qualquer que seja o caminho por que suba ao Poder,

Que proporciona às massas o fascismo vitorioso?

O fascismo prometeu aos operários um «salário justo»; na realidade, lhes deu um nível de vida ainda mais baixo, mais miserável. Prometeu trabalho aos desempregados; e no final de contas lhes proporcionou mais fome e um trabalho servil: o trabalho forçado. Na verdade, o fascismo converte os operários e os desempregados em párias da sociedade capitalista, desprovidos de prerrogativas, destrói seus sindicatos, arrebata-lhes o direito de greve e de imprensa operária, envolve-os pela força nas organizações fascistas, rouba-lhes os fundos dos seguros sociais, converte as fábricas e as oficinas em quartéis onde reina o despotismo desenfreado dos capitalistas.

O fascismo prometeu à juventude trabalhadora abrir-lhe um caminho amplo para um porvir esplendoroso. Na realidade, trouxe à juventude dispensa em massa das fábricas, campos de trabalho e exercícios militares incessantes, visando uma guerra de rapina.

O fascismo prometeu aos empregados, aos modestos funcionários, aos intelectuais, assegurar-lhes a existência acabar com a onipotência dos «trusts» e com a especulação do capital bancário. Na prática, trouxe-lhes maior desespero e insegurança no dia de amanhã, os submeteu a uma nova burocracia formada por seus partidários mais obedientes; criou uma ditadura insuportável dos «trusts» e semeou em proporções nunca vistas a corrupção e a decomposição.

O fascismo prometeu aos camponeses arruinados e depauperados acabar com a vassalagem das dividas, suprimir o pagamento das rendas e até expropriar sem indenização a terra dos latifundiários em favor dos camponeses sem terra e arruinados. Na realidade, entrega os camponeses trabalhadores à escravidão sem precedentes dos «trusts» e do aparelho do Estado fascista e aumenta até o indizível a exploração das grandes massas camponesas pelos grandes agricultores, os bancos e os usuários.

«A Alemanha será um país camponês ou não será nada», declarou solenemente Hitler. Mas que têm obtido os camponeses da Alemanha sob Hitler? Uma moratória que já está revogada? Ou a lei regulando o regime hereditário das fazendas camponesas, que expulsa do campo milhões de filhos e filhas de camponeses, convertendo-os em mendigos? Os assalariados do campo veem-se convertidos em semiservos, aos quais foi arrebatado até o direito elementar de livre circulação. Aos camponeses trabalhadores foi tirada a possibilidade de vender os produtos de sua propriedade no mercado.

E na Polônia?

«O camponês polaco — escreve o jornal polonês «Czas» — emprega métodos e meios que só se aplicaram, seguramente, nos tempos da Idade Média: conserva o fogo na estufa e o empresta a seus vizinhos; divide em vários fragmentos os pavios de cera. Os camponeses dão uns aos outros a água de sabão usada. Fervem os barris de arenques para obter água salgada. Isto não é nenhum conto, mas a verdadeira situação reinante no campo, da qual qualquer pessoa pode convencer-se por si mesma».

E isto, camaradas, não o escreve nenhum comunista mas um jornal reacionário polonês!

Isto não é tudo, mas não é pouco. Dia após dia, nos campos de concentração da Alemanha fascista, nos porões da Gestapo (política secreta), nas masmorras polacas, nos calabouços da polícia secreta búlgara e finlandesa, na «Glawnjatsçh» de Belgrado, na «Siguranza» romana, nas Ilhas italianas, os melhores filhos da classe operária, os camponeses revolucionários, os que lutam por um futuro mais belo para a humanidade, são submetidos a torturas violentas e zombarias tão repugnantes que diante delas empalidecem os crimes mais abomináveis da polícia secreta czarista. O criminoso fascismo alemão converte os maridos, em presença de suas mulheres, em massas de carne sangrenta, envia às mães em pacotes postais as cinzas de seus filhos assassinados. A esterilização se converteu num meio política de luta. Aos presos antifascistas encerrados nas câmaras de tortura inoculam pela força substancias venenosas, rompem-lhes as mãos, arrancam-lhes os olhos, enforcam-nos, injetam-lhes água com uma bomba, recortam-lhes cruzes gamadas na pele viva.

Tenho diante de mim um resumo estatístico do Socorro Vermelho Internacional sobre os assassinados, feridos, presos, mutilados e torturados mortalmente na Alemanha, Polônia, Itália, Áustria, Bulgária e Iugoslávia . Somente na Alemanha, sob o governo dos nacional-socialistas, foram assassinadas mais de 4.200 pessoas; detidas 317.800; e 218.600 operários, camponeses, empregados e intelectuais antifascistas, comunistas, social-democratas e membros das organizações cristãs de oposição foram feridos e submetidos a torturas cruéis. Na Áustria, desde os combates de fevereiro do ano passado, foram assassinadas 1.900 pessoas; 10.000 feridas e mutiladas; e 40.000 operários revolucionários detidos pelo governo fascista «cristão». E este resumo está muito longe de ser completo.

É difícil encontrar palavras com que expressar toda nossa indignação ao pensar nas torturas que hoje sofrem os trabalhadores em diversos países fascistas. As cifras e fatos que assinalamos não refletem nem a centésima parte do quadro verdadeiro da exploração e das torturas, do terror dos guardas brancos, que enchem a vida cotidiana da classe operária nos diversos países capitalistas. Nenhum livro, por volumoso que fosse, poderia dar uma ideia clara das incontáveis bestialidades do fascismo contra os trabalhadores. Com profunda emoção e ódio contra os verdugos fascistas inclinamos as bandeiras da Internacional Comunista ante a memória inolvidável de John Scheer, de Piede Schulze, de Lutgens, na Alemanha; de Koloman, Walisch e Munichreiter, na Áustria; de Sallai e Furst, na Hungria; de Kofardshiewe, Lutibrodski e Wovkow na Bulgária; ante a memória dos milhares e milhares de operários comunistas, social-democratas e sem partido, camponeses, representantes dos intelectuais progressistas que deram sua vida lutando contra o fascismo.

Desta tribuna, saudamos o chefe do proletariado alemão e Presidente de honra de nosso Congresso, o camarada Thaelmann. (Grande ovação; todos os delegados se põem de pé). Saudamos os camaradas Rakosí, Gramsci (grande ovação; todos os delegados se põem de pé), Antikainen, J. Panow. Saudamos o chefe dos socialistas espanhóis Largo Caballero, encarcerado pelos contrarrevolucionários, Tom Mooney, que conta já 18 anos de cárcere, e todos os milhares de prisioneiros do capital e do fascismo (grandes aplausos) e lhes gritamos: «Irmãos de luta! Companheiros de armas! Não vos esquecemos. Estamos convosco! Empregaremos todas as horas de nossa vida, até a última gota de nosso sangue, para arrancar-vos e para arrancar todos os trabalhadores do ignominoso regime fascista». (Grande ovação, todos os delegados se põem de pé).

Camaradas: Já Lenin nos avisara que a burguesia pode conseguir, caindo sobre os trabalhadores com o terror mais feroz, rechaçar durante um período de tempo mais ou menos curto as forças crescentes da revolução, mas que apesar disso não poderá salvar-se do naufrágio.

«A vida — escrevia Lenin — seguirá seu curso. Pode a burguesia arrebatar-se, enfurecer-se até o paroxismo, exceder-se, cometer loucuras; vingar-se com antecedência dos bolcheviques e procurar extermina (na Índia, na Hungria, na Alemanha, etc.) centenas de milhares de bolcheviques do amanhã ou de ontem; ao proceder assim, a burguesia procede como todas as classes condenadas pela história ao naufrágio. Os comunistas devem saber que, aconteça o que acontecer, o futuro lhes pertence. Por isto, podemos e devemos associar, na grande luta revolucionária, o maior entusiasmo à mais serena e sóbria apreciação das convulsões da burguesia».(1)

Sim; se nós e o proletariado do mundo inteiro marcharmos com firmeza pela senda que nos traçou Lenin, a burguesia se desmoronará, apesar de tudo (aplausos).

É inivitável a vitória do fascismo?

Por que e de que modo pode triunfar o fascismo?

O fascismo é o pior inimigo da classe operária e dos trabalhadores. O fascismo é o inimigo das nove décimas partes do povo alemão, das nove décimas partes do povo austríaco, das nove décimas partes dos outros povos dos países fascistas. Como e de que modo pode triunfar este inimigo encarniçado?

O fascismo pode chegar ao Poder, antes de tudo, porque a classe operária, graças à política de colaboração de classe com a burguesia praticada pelos chefes da social-democracia, se achava dividida, política e organicamente desarmada, frente à burguesia que desenvolve sua ofensiva, e os Partidos Comunistas não eram suficientemente fortes para levantar as massas e conduzi-las à luta decisiva contra o fascismo, sem a social-democracia e contra ela.

Assim acontece! Que os milhões de operários social-democratas, que agora sofrem com seus irmãos comunistas os horrores da barbárie fascista, meditem seriamente sobre isto: se, no ano de 1918, quando estalou a revolução na Alemanha e na Áustria, o proletariado alemão e austríaco não tivesse seguido a direção social-democrata, de Otto Bauer, Friedrich Adler e Renner, na Áustria; de Ebert e Scheidemann, na Alemanha, e sim marchado pelo caminho dos bolcheviques russos, pela senda de Lenin, hoje não haveria fascismo nem na Áustria, nem na Alemanha, nem na Itália, nem na Hungria, nem na Polônia, nem nos Balcãs. Não seria a burguesia e sim a classe operária a senhora da situação na Europa, desde há muito tempo. (Aplausos).

Fixemo-nos, por exemplo, na social-democracia austríaca. A revolução de 1918 elevou-a a uma altura enorme. Tinha o Poder em suas mãos; tinha fortes posições dentro do exército, dentro do aparelho do Estado. Apoiando-se nelas, poderia matar em germe o nascente fascismo, mas foi cedendo sem resistência, uma após outra, as posições da classe operária. Permitiu à burguesia fortalecer seu poder, anular a Constituição, limpar o aparelho do Estado, o exército e a polícia de funcionários social-democratas, arrebatar aos operários seus depósitos de armas. Permitiu aos bandidos fascistas assassinar impunemente operários social-democratas, aceitou as condições do acordo de Ruttenberg, que abriu as portas das fábricas aos elementos fascistas. Ao mesmo tempo, os chefes da social-democracia enganavam os operários com o programa de Linz, no qual se previa a eventualidade do emprego da força armada contra a burguesia e a instauração da ditadura do proletariado, assegurando-lhes que, se as classes governantes apelassem para a violência contra a classe operária, o partido responderia com o apelo à greve geral e à luta armada. Como se toda a política de preparação do ataque fascista contra a classe operária não fosse uma cadeia de atos de violência, encobertos por meio de formas constitucionais! Mesmo nas vésperas dos combates de fevereiro e no transcurso destes, a direção da social-democracia austríaca abandonou o heróico «Schitzbund», que lutava isolado das amplas massas, e condenou o proletariado austríaco à derrota.

Era inevitável a vitória do fascismo na Alemanha? Não, a classe operária alemã poderia tê-la impedido.

Mas, para isso, precisava ter conseguido estabelecer a frente única proletária antifascista, obrigar os chefes da social-democracia a por fim a sua cruzada contra os comunistas e aceitar as reiteradas propostas do Partido Comunista sobre a unidade de ação contra o fascismo.

Não se devia ter dado por satisfeita, ante a ofensiva do fascismo e a gradual liquidação das liberdades democrático burguesas, pela burguesia, com as formosas resoluções da social-democracia, mas deveria ter respondido com uma verdadeira luta de massas que estorvasse a realização dos planos fascistas da burguesia alemã.

Não devia ter permitido a proibição da Liga de Combatentes da Frente Vermelha (Rote Frontkampferbund), pelo governo Braun-Severing, mas estabelecer contato de luta entra a «Rot Frontkampferbund» e a «Reichsbanner» que abrangia quase um milhão de filiados e obrigar Braun e Severing a armar ambas as organizações para repelir e destruir os bandos fascistas.

Precisava ter obrigado os dirigentes da social-democracia, que estavam à frente do governo da Prússia, a tomar medidas de defesa contra o fascismo, deter seus chefes, suprimir sua imprensa, confiscar-lhes os recursos materiais e os recursos dos capitalistas que subvencionavam o movimento fascista, dissolver suas organizações, tomar-lhes as armas, etc.

Além disso, precisava ter conseguido que se estabelecesse e ampliasse a assistência social sob todas as formas, que se concedesse uma moratória e subsídios aos camponeses atingidos pela crise, à custa de aumentos nos impostos sobre os bancos e «trusts», para garantir por este meio o apoio dos camponeses trabalhadores. Nada se fez, por culpa da social-democracia alemã, e, graças a isto, pode triunfar o fascismo.

Haviam de triunfar inevitavelmente a burguesia e a nobreza na Espanha(2) país onde as forças da insurreição proletária se combinam tão vantajosamente com a guerra camponesa?

Os socialistas espanhóis estiveram representados no governo desde os primeiros dias da revolução. Estabeleceram por acaso contato de luta entre as organizações operárias de todas as tendências políticas, incluindo os comunistas e os anarquistas? Fundiram a classe operária numa só organização sindical? Acaso exigiram a confiscação de todas as terras dos latifundiários, das igrejas e dos conventos em favor dos camponeses, para conquistá-los para a revolução? Tentaram lutar pela autodeterminação nacional dos catalães, dos bascos, pela libertação do Marrocos? Limparam o exército de elementos monárquicos e fascistas, preparando a passagem das tropas para o lado dos operários e dos camponeses? Dissolveram a guarda civil, verdugo de todos os movimentos populares, tão odiada pelo povo? Vibraram algum golpe contra o partido fascista de Gil Robles, contra o poderio do clero católico? Não, não fizeram nada disto. Repeliram as repetidas propostas dos comunistas sobre a unidade de ação contra a ofensiva da reação dos burgueses e dos latifundiários e do fascismo. Promulgaram uma lei eleitoral que permitiu à reação conquistar a maioria nas Cortes e uma série de leis em que se decretavam duras penalidades contra os movimentos populares, leis que servem agora para julgar os heróicos mineiros das Astúrias. Fuzilaram por mão da guarda civil os camponeses que lutavam pela terra, etc., etc.

Assim, a social-democracia preparou ao fascismo o caminho do Poder, do mesmo modo na Alemanha, na Áustria e na Espanha, desorganizando e levando a cisão às fileiras da classe operária.

Camaradas, o fascismo triunfou também porque o proletariado foi encontrado isolado de seus aliados naturais. O fascismo pode triunfar porque conseguiu arrastar consigo as grandes massas camponesas, graças ao fato de a social-democracia, em nome da classe operária, ter feito uma política que era no fundo anticamponesa. O camponês via desfilar pelo Poder uma série de governos social-democratas que personificavam, a seus olhos, o poder da classe operária, mas nenhum deles lhes entregava a terra. A social-democracia não incomodou em nada os latifundiários, resistiu às greves dos operários agrícolas e a consequência disto foi que os operários agrícolas da Alemanha, muito antes da subida de Hitler ao Poder, abandonaram os sindicatos reformistas passando-se na maioria dos casos para os «Capacetes de Aço» e para os nacional-socialistas.

O fascismo pode triunfar também porque conseguiu penetrar nas fileiras da juventude, enquanto a social-democracia desviava a juventude operária da luta de classes; o proletariado revolucionário não desenvolveu entre a juventude o necessário trabalho de educação e não prestou a suficiente atenção à luta por seus interesses e as aspirações especificas.

O fascismo captou a ânsia de atividade combativa aguçada entre a juventude e atraiu uma parte considerável desta para seus destacamentos de combate. A nova geração da juventude masculina e feminina não passou pelos horrores da guerra. Sofre em sua pele todo o peso da crise econômica, do desemprego forçado e da decomposição da democracia burguesa. Não tendo perspectiva alguma para o futuro, setores consideráveis da juventude se mostraram especialmente accessíveis à demagogia fascista que lhes pintava um porvir sedutor se o fascismo triunfasse .

Em relação a isto, muito menos devemos passar por alto a série de erros cometidos pelos Partidos Comunistas, erros que refreavam nossa luta contra o fascismo. Em nossas fileiras existia um imperdoável menosprezo do perigo fascista, que ainda não se desvaneceu em muitos lugares. Concepções do tipo das que antes podíamos encontrar em nossos Partidos, como aquela de que «a Alemanha não é a Itália», no sentido de que o fascismo pode triunfar na Itália, mas sua vitória estava excluída na Alemanha, por ser um país industrialmente mais desenvolvido, um país de cultura muito elevada, com uma tradição de quarenta anos de movimento operário, um país em que é impossível o fascismo; ou e concepção que se mantém hoje de que nos países da democracia burguesa «clássica» não há base para o fascismo, semelhantes concepções podiam e podem contribuir para amortecer a vigilância diante do perigo fascista e dificultar a mobilização do proletariado para a luta contra o fascismo.

Poderíamos citar também muitos casos em que os comunistas se viram surpreendidos inopinadamente por um golpe fascista. Recordai-vos da Bulgária onde, a direção de nosso Partido adotou uma posição «neutra», oportunista em sua essência, em relação ao golpe de Estado de 9 de junho de 1923; da Polônia, onde, em maio de 1926, a direção do Partido Comunista, que interpretou de uma maneira errônea as forças motrizes da revolução polonesa, não soube distinguir o caráter fascista do golpe de Estado de Pilsudski e foi a reboque dos acontecimentos; da Finlândia, onde nosso Partido, baseando-se numa falsa ideia da fascistização lenta, gradual, deixou produzir-se o golpe de Estado fascista preparado por um grupo dirigente da burguesia, golpe de Estado que apanhou de surpresa o Partido e a classe operária.

Quando o nacional-socialismo se tornou um movimento de massas ameaçador na Alemanha, havia camaradas como Heinz Neumann, para os quais o governo de Bruning já era o da ditadura fascista, que declaravam carrancudos:

«Se o Terceiro Reich de Hitler chegar um dia, será somente a um metro e meio debaixo da terra e com o poder operário, vencedor, por cima dele».

Nossos camaradas da Alemanha menosprezaram durante muito tempo o sentimento nacional ferido e a indignação das massas contra Versalhes; observavam uma atitude desdenhosa com relação aos atritos dos camponeses e da pequena burguesia; demoraram em estabelecer um programa de emancipação social e nacional e quando o formularam não souberam adaptá-lo às necessidades concretas e ao nível das massas. E nem sequer souberam popularizá-lo amplamente entre elas.

A necessidade de desenvolver a luta de massas contra o fascismo foi substituída em vários países pelos raciocínios estéreis sobre o caráter do fascismo em geral e por uma estreiteza sectária a respeito da posição e solução das tarefas políticas atuais do Partido.

Camaradas, se falamos das causas da vitória do fascismo, se salientamos a responsabilidade histórica da social-democracia na derrota da classe operária, se anotamos também nossos próprios erros na luta contra o fascismo, não é simplesmente pelo prazer da remover o passado. Não somos historiadores situados à margem da vida; somos militantes da classe operária e estamos obrigados a dar uma resposta à pergunta que atormenta a milhões de operários: «É possível impedir, e por que meios, a vitória do fascismo? E respondemos a esses milhões de operários: sim, camaradas, pode fechar-se a passagem ao fascismo. É absolutamente possível. Isso depende de nós mesmos, dos operários, dos camponeses, de todos os trabalhadores!

Impedir a vitória do fascismo depende antes de tudo da atitude combativa da própria classe operária, da coesão de suas forças num exército combatente que lute unido contra a ofensiva do capital e do fascismo. O proletariado, ao estabelecer sua unidade de luta, paralisaria a influência do fascismo sobre os camponeses, sobre a pequena-burguesia urbana, sobre a juventude e os intelectuais, conseguiria neutralizar uma parte deles e fazer a outra passar para seu lado.

Em segundo lugar, depende da existência de um forte partido revolucionário que saiba dirigir acertadamente a luta dos trabalhadores contra o fascismo. Um partido que exorta sistematicamente os operários a retroceder ante o fascismo e permite à burguesia fascista fortificar suas posições, é um partido que conduz os operários inevitavelmente à derrota.

Em terceiro lugar, depende da política acertada da classe operária com relação aos camponeses e às massas pequeno-burguesas da cidade. É preciso aceitar estas massas tal como são e não como desejaríamos que fossem. Só no decorrer da luta superarão suas dúvidas e vacilações, e, se o proletariado as ajudar politicamente, se elevarão a um grau superior de consciência e de atividade revolucionária.

Em quarto lugar, depende da atenção vigilante e da atuação oportuna do proletariado revolucionário. não devemos deixar que o fascismo nos surpreenda, nem deixar-lhe a iniciativa; é preciso vibrar-lhe os golpes decisivos quando ainda não conseguiu concentrar suas forças; não lhe permitir firmar-se; fazer-lhe frente a cada passo em que se manifeste; não lhe permitir a conquista de novas posições; como se esforça com êxito, por consegui-lo, o proletariado francês. (Aplausos).

Eis as condições mais importantes para impedir que o fascismo cresça e suba ao Poder.

Fascismo é um poder feroz, porém precário

A ditadura fascista da burguesia é um poder feroz, porém precário. Em que residem as principais causas da precariedade da ditadura fascista?

O fascismo, que pretende superar as divergências e as contradições existentes no campo da burguesia, vem aguçar ainda mais estas contradições. O fascismo tenta estabelecer seu monopólio político destruindo violentamente os demais partidos. Mas a existência do sistema capitalista, a existência de diferentes classes, a aprovação das contradições de classe, conduzem inevitavelmente ao enfraquecimento e destruição do monopólio político do fascismo. Não ocorre o mesmo no país soviético, onde a ditadura do proletariado é exercida também por um partido monopolista, mas onde este monopólio político corresponde aos interesses da sociedade sem classes. Num país fascista, o partido dos fascistas não pode manter por muito tempo seu monopólio, porque não está em condições de propor-se a missão de suprimir as classes e as contradições de classe. Suprime a existência legal dos partidos burgueses, mas alguns destes continuam vivendo ilegalmente e o Partido Comunista avança também dentro da ilegalidade, tempera-se e dirige a luta do proletariado contra a ditadura. Deste modo o monopólio político do fascismo tem que desmoronar necessariamente sob os golpes das contradições de classe.

Outra das causas da precariedade da ditadura fascista baseia-se em que o contraste entre a demagogia anticapitalista do fascismo e a política de rapinante enriquecimento da burguesia monopolista permite desmascarar a natureza de classe do fascismo e vai enfraquecendo e reduzindo sua base de massas.

Além disto, a vitória do fascismo provoca o ódio profundo e a indignação das massas, contribui para infundir-lhes espírito revolucionário e imprime um poderoso impulso à frente única do proletariado contra o fascismo. Realizando a política do nacionalismo econômico (autarquia) e apropriando-se da maior parte das rendas da nação para a preparação da guerra, o fascismo solapa toda a economia do país e aguça a guerra econômica entre os Estados capitalistas. Imprime aos conflitos que surgem no seio da burguesia o caráter de choques violentos e muitas vezes sangrentos, minando, assim, a estabilidade do Poder estatal fascista aos olhos do povo. Um poder que assassina seus próprios partidários, como aconteceu na Alemanha, a 30 de junho do ano passado, um poder como o fascista contra o qual luta de armas na mão outra parte da burguesia fascista! (o «Putsch» nacional-socialista da Áustria, as lutas violentas de diversos grupos fascistas contra os governos fascistas da Polônia, da Bulgária, Finlândia e outros países), este poder não poderá manter durante multo tempo sua autoridade aos olhos das amplas massas pequeno-burguesas.

A classe operária precisa saber explorar as contradições e conflitos existentes no campo da burguesia, mas não deve nutrir a ilusão de que o fascismo pode asfixiar-se por si só. O fascismo não se destruirá automaticamente. Só a atividade revolucionária da classe operária fará com que os conflitos que surgem inevitavelmente no campo da burguesia sejam aproveitados para minar a ditadura fascista e derrubá-la.

Ao liquidar os restos da democracia burguesa e elevar a violência descarada a sistema de governo, o fascismo solapa as ilusões democráticas e a autoridade da lei aos olhos das massas trabalhadoras. Isto acontece com maior razão nos países como, por exemplo, a Áustria e Espanha, onde os operários lutaram de armas nas mãos contra o fascismo. Na Áustria, a luta heróica do «Schitzbund» e dos comunistas fez tremer desde o início, apesar da derrota, a firmeza da ditadura fascista. Na Espanha, a burguesia não conseguiu por uma mordaça fascista nos trabalhadores. As lutas armadas da Áustria e da Espanha fizeram com que massas cada vez mais extensas de classe operária adquirissem consciência da necessidade da luta revolucionária de classes.

Apenas filisteus monstruosos, lacaios da burguesia, como o mais antigo teórico da Segunda Internacional, Karl Kautsky, podem fazer censuras aos operários e dizer-lhes que na Áustria e na Espanha não deveriam ter empunhado as armas. Que aspecto apresentaria hoje o movimento operário na Áustria a na Espanha se a classe operária destes países se tivesse deixado guiar pelos conselhos traidores dos Kautsky? A classe operária destes países sofreria uma profunda desmoralização em suas fileiras.

«Os povos — disse Lenin — não passam em vão pela escola da guerra civil, É uma escola dura e em seu programa, se é completo, entram também inevitavelmente os triunfos da contrarrevolução, a ira dos reacionários enfurecidos, o ajuste de contas feroz do antigo poder com os rebeldes, etc. Mas só os pedantes inveterados e os espíritos mumificados podem choramingar, lamentando-se de que os povos passem por esta escola cheia de tormentos; esta escola ensina às classes oprimidas a fazer a guerra civil e lhes ensina como triunfa a revolução, acumula nas massas dos escravos atuais o ódio que os escravos atemorizados, torpes e ignorantes levam eternamente no íntimo e que conduz os escravos já conscientes do opróbio de sua escravidão às façanhas históricas mais grandiosas».(3)

A vitória do fascismo na Alemanha provocou, como é sabido uma nova onda de ofensivas fascistas, que conduziu na Áustria à provocação de Dolfuss, na Espanha a novas agressões da contrarrevolução contra as conquistas revolucionárias das massas, na Polônia à reforma fascista da Constituição e na França incitou os destacamentos armados dos fascistas a uma tentativa de golpe de Estado em fevereiro de 1934. Mas esta vitória e a fúria da ditadura fascista provocaram no plano internacional um contramovimento de frente única proletária contra o fascismo. O incêndio do Reichstag, que era o sinal para a ofensiva geral do fascismo contra a classe operária, o assalto contra os sindicatos e outras organizações operárias e sua espoliação, os gritos dos antifascistas torturados nas masmorras dos quartéis fascistas, e nos campos de concentração revelam palpavelmente às massas onde conduziu o jogo divisionista e reacionário dos chefes da social-democracia alemã, que repeliram as propostas dos comunistas para lutarem unidos contra o fascismo agressor, e os convencem da necessidade de unificar todas as forças da classe operária para a destruição do fascismo.

Na França, a vitória de Hitler imprimiu também um impulso decisivo à criação de frente única da classe operária contra o fascismo. A vitória de Hitler não originou nos operários somente temor pela sorte dos operários alemães, não acendeu apenas o ódio contra os verdugos de seus irmãos de classe alemães, como ainda fortaleceu sua decisão de não permitir de nenhum modo que aconteça em seu país o que sucedeu com a classe operária na Alemanha. A poderosa corrente para a frente única em todos os países capitalistas põe em evidência que os ensinamentos da derrota não passaram em vão. A classe operária começa a agir de um modo novo. A iniciativa dos Partidos Comunistas na organização da frente única e a abnegação sem limites dos comunistas, dos operários revolucionários na luta contra o fascismo, aumentaram em proporções nunca vistas a autoridade da Internacional Comunista. Ao mesmo tempo, desenvolveu-se uma crise profunda no seio da Segunda Internacional, crise que se manifesta com uma clareza especial e acentuada depois da bancarrota da social-democracia alemã. Os operários social-democratas podem convencer-se cada vez mais palpavelmente de que a Alemanha fascista, com todos seus horrores e barbárie, é, em última análise, uma consequência da política social-democrata de colaboração de classe com a burguesia. Estas massas vêem cada vez mais claro que o caminho pelo qual os chefes da social-democracia levaram o proletariado não pode ser percorrido de novo. Jamais se deu no campo da Segunda Internacional um transtorno ideológico tão grande. No seio de todos os partidos social-democratas se opera um processo de diferenciação. Em suas fileiras se destacam dois campos básicos: junto ao campo existente dos elementos reacionários, que tentam por todos os meios manter de pé o bloco da social-democracia com a burguesia e repelem raivosamente a frente única com os comunistas, começa a formar-se o campo dos elementos revolucionários que duvidam da justeza da política de colaboração de classe com a burguesia, que lutam pela criação de uma frente única com os comunistas e começam a passar-se cada vez em maior escala para as posições da luta revolucionária de classes.

Assim, o fascismo que surgiu como resultado da decadência do sistema capitalista, atua, portanto, em última instância, como um fator de sua ulterior decomposição. Assim, o fascismo que se impõe como dever enterrar o marxismo, o movimento operário revolucionário, o que faz como resultado da dialética da vida e da luta de classes é contribuir para que se desenvolvam as forças destinadas a ser seus coveiros, os coveiros do capitalismo. (Aplausos).


Notas de rodapé:

(1) Lenin: «A doença infantil do esquerdismo no comunismo». (retornar ao texto)

(2) Alusão à derrota das Astúrias em 1934. (retornar ao texto)

(3) Lenin: «Matérias Inflamáveis na política mundial». Ed. russa. (retornar ao texto)

Inclusão: 21/10/2020