O que trará a nossa revolução? Como será o novo mundo? Qual será o lugar do povo Negro nessa nova sociedade?
Não precisamos de ser profetas. Com base nas possibilidades atuais e nos novos caminhos já desbravados na União Soviética, é possível, pelo menos, traçar as linhas gerais da nova sociedade. Não se trata de visões vãs, extraídas do nada. Conhecemos as causas da nossa situação presente. Sabemos como as eliminar. Podemos prever com certeza o mínimo do que poderá ser alcançado uma vez que o capitalismo seja substituído pelo socialismo.
Este conhecimento deve inflamar-nos de grande entusiasmo na nossa tarefa atual de organização e luta. Pois sabemos, com toda a certeza, naquilo por que combatemos.
Os Estados Unidos Soviéticos
Os povos da União Soviética enfrentaram enormes dificuldades na edificação do Socialismo. Tratava-se de um país atrasado, com uma classe operária reduzida e ainda pouco instruída. Foi necessário erguer novas indústrias e ensinar aos camponeses os métodos modernos de agricultura.
Os futuros Estados Unidos Soviéticos, porém, herdarão um vasto património de indústrias de grande escala e de técnicas entre as mais modernas e avançadas do mundo. Disporão das maiores unidades industriais do planeta. Em grande parte do território, os agricultores já estarão familiarizados com os métodos modernos de cultivo e produção.
Existe já uma classe operária qualificada, formada nas técnicas mais desenvolvidas. As linhas ferroviárias atravessam todo o país. Uma imensa riqueza foi já criada.
Além disso, o país é rico em recursos naturais — terras férteis, carvão, minérios, petróleo, energia hídrica, madeira, entre outros — que poderão ser convertidos em fontes de prosperidade inimaginável para a população.
Uma vez que essa riqueza deixe de ser propriedade privada e passe a pertencer à república soviética, poderá ser utilizada não para a exploração do ser humano, mas para satisfazer plenamente as necessidades do povo.
Hoje, milhões de pessoas não têm trabalho e, por conseguinte, carecem dos meios de subsistência. Sob uma América Soviética, a nossa indústria poderá operar a todo o vapor, produzindo uma quantidade colossal de bens essenciais à vida. Quase de um dia para o outro, a miséria humana poderá ser erradicada. E não apenas isso: as longas jornadas de trabalho, o ritmo desumano de produção, o trabalho penoso de crianças e idosos — tudo isso deixará de ser necessário. Num país de tamanha abundância, será possível reduzir a duração do dia de trabalho, estabelecer um ritmo de laboração mais saudável e, ainda assim, produzir em quantidade mais do que suficiente para satisfazer todas as necessidades da sociedade e criar novo capital para o crescimento e a expansão futuros. As oportunidades de educação e cultura serão ilimitadas.
Tudo isto deve ser tido em conta ao considerarmos como será o destino dos Negros numa América Soviética.
Em primeiro lugar, todos os obstáculos, barreiras e discriminações serão abolidos. Todas as oportunidades criadas na América Soviética serão partilhadas por igual por Negros e brancos. A indústria, a agricultura, os serviços públicos e sociais estarão abertos a todos, em igualdade de condições, como cidadãos da República Soviética.
Mas isto, por si só, não seria suficiente. O capitalismo deixou um legado que terá de ser eliminado para que a verdadeira igualdade possa existir. O capitalismo atrasou e impediu o progresso do povo Negro, por isso os trabalhadores Negros não tiveram as mesmas oportunidades que os trabalhadores brancos de se tornarem trabalhadores qualificados; os Negros foram impedidos de se tornar técnicos altamente especializados e peritos; a discriminação excluiu-os da igualdade de oportunidades no domínio da educação, da ciência, das profissões liberais, do conhecimento da gestão, entre outros. Assim, a América Soviética terá diante de si a necessidade de eliminar esta desigualdade herdada do capitalismo.
A política fundamental de um Governo Soviético em relação ao povo Negro seria, assim, a de criar oportunidades de avanço e progresso relativamente maiores para os Negros do que para os brancos. Dar-se-ia especial ênfase à formação de um número crescente de trabalhadores Negros qualificados, à educação técnica e outra, e ao incentivo para que cada vez mais Negros se dedicassem à engenharia, às ciências, entre outros campos. As escolas técnicas, os colégios e as universidades — a maioria dos quais hoje estão fora do alcance ou fechados para os Negros — seriam colocados à disposição dos Negros, até numa medida proporcionalmente superior à do restante da população. Esta é a única forma de abolir os privilégios especiais dos brancos. Um Governo Soviético deverá conferir maiores benefícios aos Negros do que aos brancos, pois os Negros partiram de condições muito mais desfavoráveis. Este é o verdadeiro teste da igualdade. Esta é a única forma de estabelecer a base para uma igualdade real.
Qualquer ato de discriminação ou de preconceito contra um Negro tornar-se-á um crime ao abrigo da lei revolucionária. A base material do preconceito racial e da opressão deixará de existir, pois o capitalismo terá sido abolido. No entanto, seria totalmente utópico acreditar que, no dia seguinte à revolução, todo o preconceito desaparecerá. O capitalismo deixará para trás alguns desses males, tal como deixará outros resíduos de ideias e preconceitos capitalistas, como um fétido vestígio do passado. Mas estes serão combatidos sistematicamente pelo Governo Soviético e pelo Partido Comunista até serem extintos. Então, já não se tratará de erradicar as bases materiais desses preconceitos, mas apenas de eliminar os seus últimos resquícios.
O Socialismo refará o homem. Para a primeira geração dos novos Soviéticos Americanos, o preconceito racial e a discriminação surgirão como uma horrível doença de uma era passada.
Nos assuntos de Estado, nas atividades políticas do país, na gestão e em todas as fases da vida pública, com a eliminação de todas as discriminações, o Negro desempenhará um papel de destaque, tal como hoje os georgianos, tajiques, ucranianos, entre outros, figuram entre os dirigentes da União Soviética e do seu Partido Comunista.
Os horrores dos guetos segregados e sobrelotados desaparecerão. Todas as zonas residenciais das cidades estarão abertas aos Negros. Não haverá áreas segregadas. Se, por exemplo, os Negros quiserem permanecer no Harlem, serão perfeitamente livres de o fazer, de o embelezar e de o desenvolver.
Mas se desejarem viver noutras partes da cidade, melhor localizadas, mais perto de locais de trabalho, ou por outros motivos, também serão livres para o fazer. Na verdade, será encorajada a convivência e a mistura de povos de todas as nações e de todas as raças, pois isso acelerará a destruição de todas as formas de separatismo transmitidas como herança do capitalismo e tenderá a amalgamar livremente todos os povos.
Assim, de um modo geral, vemos as tremendas possibilidades para o Negro na América soviética. Sem privilégios para os brancos que os Negros também os não terão, plena igualdade de direitos - este é o mínimo que se pode esperar de uma América soviética.
Mas hoje cerca de oito milhões de Negros, dois terços do povo Negro, vivem na área da plantação e em torno dela, na parte mais atrasada do país. O trabalho principal terá de ser realizado aí. É aí que a base económica real para a igualdade, para a realização social e política da igualdade, deve ser garantida.
A República Soviética Negra
Presume-se aqui que a nova República Negra, criada como resultado da revolução pela terra e pela liberdade, será uma República Soviética, tendo resolvido a questão da autodeterminação em favor de uma federação com os Estados Unidos Soviéticos. Nessas circunstâncias, propomos delinear, nos seus aspetos principais, a transformação que poderá — e certamente ocorrerá — nesse território.
A extensão territorial efetiva dessa nova República corresponderia, com grande probabilidade, à atual região onde os negros constituem maioria populacional. Por outras palavras, corresponderia aproximadamente à zona das plantações. Certamente incluiria cidades como Richmond e Norfolk (Virgínia); Columbia e Charleston (Carolina do Sul); Atlanta, Augusta, Savannah e Macon (Geórgia); Montgomery (Alabama); Nova Orleans e Shreveport (Luisiana); Little Rock (Arkansas); e Memphis (Tennessee). No delineamento efetivo das fronteiras dessa República, outras cidades industriais poderão ser incorporadas. A definição final dessas fronteiras dependerá, em larga medida, das providências adotadas para assegurar um desenvolvimento económico abrangente e equilibrado à República Negra. Trataremos dessa questão em seguida.
Qual será a base material do poder político? Quem exercerá o poder político nesse território? Atualmente, o poder político encontra-se nas mãos dos senhores das plantações e dos capitalistas. A democracia que permite aos eleitores escolherem este ou aquele representante dos interesses dos grandes proprietários de terra e dos capitalistas restringe-se apenas a uma parcela da população branca. Os Negros estão, na prática, quase totalmente excluídos desse processo. Há, nessa região, menos democracia do que em qualquer outra parte do país.
Como resultado da revolução, os senhores das plantações e os capitalistas serão derrubados. As classes anteriormente exploradas da população ascenderão ao poder. Serão elas os trabalhadores, os antigos meeiros, os pequenos arrendatários e os pequenos proprietários rurais. Como os Negros constituem a maioria, especialmente entre as classes exploradas, os novos órgãos governamentais serão predominantemente compostos por Negros. A efetivação de uma verdadeira democracia nesse território — uma democracia voltada para a maioria da população e não para uma minoria, como ocorre sob o capitalismo — resultará em que os Negros passem a desempenhar o papel principal na nova autoridade governamental.
No entanto, seria incorreto afirmar que o novo governo constituirá uma ditadura dos Negros. O poder político não se fundamenta em características raciais, mas sim em critérios de classe. O novo poder político será uma ditadura dos trabalhadores e dos pequenos agricultores. Como a maioria dos trabalhadores e dos pequenos agricultores neste território é composta por Negros, é natural que eles constituam a maior parte do corpo dirigente dos novos órgãos governamentais locais — nas cidades, distritos, condados e regiões.
Tem-se demonstrado que o Soviete é a forma internacional desse tipo de poder governamental. Os primeiros Sovietes foram criados pela Revolução Russa de 1905, e consolidaram-se como forma de ditadura do proletariado com a Revolução Russa de 1917. Desde então, nas revoluções ocorridas na Alemanha, Hungria, Áustria, Espanha, China, Cuba e outros países, os Sovietes também surgiram como expressão do poder dos trabalhadores e camponeses. Os Sovietes que emergirão no Velho Sul terão, em linhas gerais, a seguinte configuração:
Surgirão localmente, de maneira dispersa, à medida que a revolução se inicie, e expandir-se-ão à medida que ela se desenvolva. Procuremos agora visualizar a composição de um desses Sovietes, que exercerá o poder em determinada localidade. Nesse Soviete, haverá representantes dos meeiros, dos rendeiros e dos trabalhadores assalariados das plantações; também haverá representantes, por exemplo, dos operários de uma serração local ou de uma fábrica de fertilizantes, de uma descaroçadora de algodão, uma fábrica de óleo de semente de algodão ou uma fábrica têxtil da região. Poderá haver ainda um ou dois pequenos proprietários rurais pobres.
Esse Soviete representará os interesses dos trabalhadores das fábricas e das plantações, bem como dos camponeses pobres. Ele corporificará a aliança entre os trabalhadores e os camponeses pobres. Será uma ditadura dessas classes, exercendo seu poder para defender as conquistas da revolução e derrotar todas as tentativas dos antigos senhores das plantações e capitalistas de promover a contrarrevolução.
À medida que as conquistas da revolução forem sendo consolidadas, esses territórios soviéticos se unirão para formar a nova República Negra Soviética. O órgão soviético central da República será composto por representantes dos mesmos interesses que estão presentes nos Sovietes locais. O termo “República Soviética Negra”, não significa, por conseguinte, uma república ou um governo composto exclusivamente por Negros. Tanto brancos quanto Negros participarão do novo poder — trabalhadores brancos e Negros, meeiros brancos e Negros. No entanto, a denominação “República Soviética Negra” expressa o fato de que a democracia plena, juntamente com o papel relevante desempenhado pelos Negros na própria revolução, colocaram os Negros nos órgãos de governo em conformidade com sua maioria real.
Deve também ter-se em mente que a atual classe dominante do Sul é composta inteiramente por brancos. A revolução privará de direitos políticos e expropriará a atual classe dominante e exploradora. Isso, evidentemente, será feito com base em distinções de classe, e não de raça. No entanto, resultará, inevitavelmente, na redução do número de cidadãos brancos com direitos políticos.
Temos, de certo modo, uma situação semelhante em nossa própria história. Entre os anos de 1867 e 1877, uma ditadura revolucionária governou o Sul. O objetivo dessa ditadura era impedir que os antigos senhores de escravos retornassem ao poder. Tratava-se de uma ditadura dos capitalistas do Norte e da classe média do Sul, apoiada principalmente pelos anteriormente escravizados Negros — muitos dos quais integravam o exército que patrulhava o Sul ou participavam de clubes de rifles e milícias organizados localmente. Essa ditadura também contava, especialmente em sua fase inicial, com o apoio dos agricultores brancos pobres.
Os governos dos condados nas regiões das plantações eram compostos quase inteiramente por Negros. Em diversos estados, os Negros constituíam a maioria nos órgãos legislativos estaduais e ocupavam muitos dos principais cargos do governo estadual. Vários Negros foram eleitos para o Senado e para a Câmara dos Representantes em Washington. Se, naquela época, houvesse uma democracia plena em vigor, os Negros teriam obtido uma representação ainda mais ampla nos governos estaduais e nacionais. Com a derrota desses governos revolucionários, os Negros foram completamente privados de seus direitos políticos.
Sob o governo revolucionário dos Sovietes, contudo, a plena democracia para a maioria será assegurada mediante a criação da necessária base económica desta democracia.
A Base Económica da Igualdade
A Terra
Entre as primeiras ações de um governo soviético estará a promulgação de um decreto reconhecendo a confiscação das grandes propriedades de terra, onde esta já tenha ocorrido, ou autorizando a confiscação, sem qualquer indenização, caso ainda não se tenha concretizado, convertendo toda a terra de propriedade privada em propriedade coletiva do povo, bem como a confiscação de todo o gado e instrumentos de trabalho pertencentes aos grandes proprietários para uso do povo.
Dessa maneira, a destruição do sistema de plantações no Sul seria autorizada de acordo com a legislação revolucionária.
A terra passaria a ser propriedade do povo em seu conjunto. Os Sovietes locais ou comités agrários, compostos pelos camponeses pobres e trabalhadores agrícolas, poderiam então determinar a distribuição da terra entre os antigos rendeiros e meeiros. Embora a terra permanecesse como propriedade da República, seria dividida entre os camponeses pobres, cujo direito de cultivar suas parcelas seria reconhecido. Aqueles que já possuíam pequenas propriedades seriam autorizados a continuar a trabalhar nelas, podendo inclusive receber terras adicionais, após a satisfação das necessidades dos sem-terra.
Todas as dívidas e obrigações anteriores seriam canceladas. O financiamento, os bancos e o crédito estariam agora sob controlo do Estado Soviético. Com a eliminação de todas as forças restritivas, como as antigas instituições de crédito e o sistema de plantações, uma transformação completa da agricultura no Sul tornar-se-ia possível. A região mais atrasada sob o capitalismo poderia ser convertida em uma fonte de bem-estar para sua população. O algodão, a mais importante cultura comercial, que sob o capitalismo representa o flagelo de milhões de trabalhadores, poderia agora ser transformado em instrumento de rápido desenvolvimento económico e social.
Certamente a partir das enormes plantações tal como atualmente existem, vão desenvolver-se dois tipos de empreendimentos agrícolas nas primeiras fases do Poder Soviético. Existem cerca de 40.000 plantações no Sul. O tamanho médio das plantações é de aproximadamente 725 acres, mas pouco mais da metade dessa área é cultivada por rendeiros e meeiros. O restante é trabalhado diretamente pelo proprietário com o uso de trabalhadores assalariados. O algodão é cultivado na seção da plantação destinada aos rendeiros, enquanto a outra parte é utilizada como reserva de terras e para o cultivo de forragens.
Por um lado, as áreas atualmente ocupadas pelos rendeiros, juntamente com uma parte das terras de reserva, poderiam ser convertidas em pequenas propriedades, trabalhadas pelos antigos rendeiros. Por outro lado, uma boa parte da seção da plantação cultivada por trabalho assalariado poderia ser transformada em fazendas estatais modelo ou em coletivos agrícolas. Estas poderiam servir, desde o início, como exemplos imediatos para que os pequenos proprietários vizinhos também formassem coletivos. As vantagens dessa forma de agricultura — a forma socialista — tornar-se-iam evidentes de imediato.
Algumas dessas plantações têm dimensões imensas. Existem, por exemplo, mais de 400 plantações com área média de cerca de 3.500 acres, dos quais 1.700 acres são atualmente cultivados pelos próprios proprietários com o uso de trabalhadores assalariados. A maior plantação do mundo está localizada em Scott, Mississippi, e pertence a Oscar Johnson(20), um dos altos funcionários da AAA (Administração do Ajustamento Agrícola(21)). Essa plantação cobre 37.000 acres. Em plantações desse porte, o uso de maquinaria moderna e de métodos agrícolas mais recentes e científicos — cujos benefícios serão partilhados pelos próprios produtores — servirá como um estímulo extraordinário para a formação de propriedades agrícolas gigantescas, surgidas a partir das mais pequenas.
A transformação técnica da agricultura tornar-se-á agora possível, pela primeira vez, no velho Sul. Atualmente, uma riqueza incalculável é perdida devido à erosão do solo, causada pelos métodos retrógrados impostos pelo sistema de crédito e de plantações. O solo fértil está a ser exaurido ou simplesmente levado pelas águas. Com o auxílio de especialistas com formação, fornecidos pelo Governo Soviético, novos métodos agrícolas serão implementados.
Em vez da agricultura unilateral baseada numa única cultura — exigida pelos banqueiros e credores — será possível desenvolver uma agricultura diversificada e planeada. As terras de qualidade inferior poderão ser retiradas da produção agrícola e reflorestadas; culturas alimentares poderão ser cultivadas em outras áreas, e o solo poderá ser restaurado por meio da rotação de culturas e do plantio de forragens, entre outras práticas. A criação de gado substituirá a criação de mulas, à medida que o trator e outras máquinas agrícolas substituírem a tração animal. As imensas fazendas coletivas poderão tornar-se verdadeiras fábricas de cultivo de algodão. A terra, não mais fragmentada em pequenos lotes arrendados, poderá agora ser arada por tratores, semeada por máquinas de plantio e lavrada por equipamentos agrícolas modernos. A ceifeira-debulhadora mecânica de algodão, cuja introdução foi atrasada pelo atual sistema de cultivo, poderá enfim ser utilizada de forma eficiente. Haverá uma enorme economia de trabalho humano. Centenas de milhares de famílias rurais terão, então, acesso a possibilidades de lazer e tranquilidade, fartura e abundância, educação e cultura.
O planeamento social tornará isso possível. A melhor aproximação do capitalismo ao “planeamento” foi a destruição de milhões de acres de algodão sob a Administração do Ajustamento Agrícola (AAA) e a Lei Bankhead. O novo planeamento, no entanto, visará não à destruição, mas sim à produção e à distribuição.
De onde virão os recursos e o capital para essa transformação da agricultura no Sul? Atualmente, os banqueiros, outros credores, as grandes casas de intermediários e de comércio, bem como os grandes proprietários de terras, obtêm enormes lucros provenientes das regiões algodoeiras. Grande parte do excedente atualmente produzido nessas regiões é apropriado pelos capital financeiro sob a forma de juros extorsivos, que em alguns casos chegam a atingir 700% ao ano. Esse parasitismo deixará de existir. Todo o algodão será vendido diretamente a agências governamentais, seja pelas explorações agrícolas coletivas e estatais, seja pelas cooperativas de pequenos proprietários. O crédito governamental será disponibilizado à parcela mais pobre da população agrícola e às cooperativas em condições facilitadas. Assim, o capital gerado pelo cultivo do algodão não mais fluirá para os cofres de Wall Street, mas será utilizado para o desenvolvimento da agricultura do Sul e para a melhoria das condições de vida dos seus trabalhadores.
Entretanto, esta não será a única fonte de capital. O governo da República Negra poderá destinar à agricultura fundos adicionais provenientes das receitas do Estado, obtidas em grande parte da indústria estatal.
Em terceiro lugar, haveria ainda um auxílio maior por parte do Governo Central Soviético dos Estados Unidos. A principal política do Governo Central Soviético em relação à República Negra seria estabelecer as bases materiais da plena igualdade por meio da elevação rápida do nível económico dessa região. Fundos seriam imediatamente destinados ao desenvolvimento agrícola e industrial do Sul; técnicos e especialistas qualificados seriam disponibilizados. Esta foi exatamente a política adotada pelo governo da União Soviética em relação às áreas atrasadas onde viviam as nações anteriormente oprimidas. Se a União Soviética conseguiu realizar isso, mesmo com seus recursos relativamente limitados, o Governo Central Soviético deste país poderá fazê-lo em escala ainda maior. Esta questão está relacionada com a da industrialização do Sul.
Indústria
Em comparação com o restante do país, a indústria na área de plantações do Sul é hoje muito pouco desenvolvida e desequilibrada. Com exceção das cidades industriais de fiação de algodão, não existem indústrias importantes de grande escala na Cintura Negra. O único centro industrial pesado encontra-se em Birmingham, localizado logo ao norte do extremo setentrional da Cintura Negra do Alabama. A indústria têxtil, de longe a maior do Sul, está concentrada na região do Piedmont das Carolinas do Norte e do Sul e na parte nordeste da Geórgia. As indústrias de fibras sintéticas e de tabaco também se localizam fora da área de plantações. As únicas indústrias situadas dentro da área propriamente dita de plantações são aquelas estreitamente ligadas à agricultura, como fábricas de fertilizantes, descaroçadores de algodão, produção de óleo de sementes de algodão, madeira e terebintina.
A política básica do governo soviético, nesse sentido, seria a de industrializar esta região. As indústrias já existentes passariam para as mãos do Estado Soviético. Mesmo antes da construção de novas indústrias, os primeiros passos provavelmente seriam: abrir a indústria têxtil aos trabalhadores Negros; incorporar à República Negra uma área tão importante como Birmingham, a fim de criar uma base para a indústria de fabrico de maquinaria; modernizar e aprimorar as fábricas de fertilizantes, de descaroçamento de algodão e outras instalações industriais semelhantes; aplicar métodos científicos na exploração dos pinhais, que, sob o sistema capitalista competitivo, estão sendo rapidamente exauridos; e desenvolver a indústria de móveis em estreita ligação com o aproveitamento florestal.
Um dos principais problemas certamente seria o fornecimento de maquinaria agrícola. O desenvolvimento de uma indústria de grande escala, em ligação com a região de Birmingham, estaria na ordem do dia. Birmingham não foi desenvolvida até seu pleno potencial devido à concorrência dos centros produtores de aço do Norte. Contudo, todos os especialistas na área reconhecem que Birmingham é ideal para se tornar o centro de uma vasta indústria metalúrgica. Encontram-se nas proximidades os recursos necessários de carvão, minério e dolomita. A cidade poderia tornar-se o grande centro de fabricação de tratores e outras máquinas agrícolas, que seriam uma força decisiva na realização do socialismo nas antigas terras de escravidão.
Esta região também é rica em recursos hidrelétricos. O capitalismo apenas começou o desenvolvimento da energia elétrica no Sul, e esse crescimento foi atrasado pela insuficiência de indústrias capazes de utilizar tal energia. Sob a economia planificada de um Estado Soviético, a velha indústria seria reconstruída e novas indústrias surgiriam.
Indicamos apenas algumas das possibilidades. Possibilidades ainda maiores se desdobrariam numa América Soviética. Isto é importante e certo: com o derrube do poder dos latifundiários e capitalistas e o estabelecimento da República Negra Soviética, a zona mais atrasada dos Estados Unidos transformar-se-á numa área avançada e próspera. Os ricos recursos do território, até aqui desperdiçados e saqueados pelos capitalistas, serão aproveitados pelos próprios trabalhadores e agricultores, com o auxílio da classe operária do Norte e dos recursos do Norte. Assim seria estabelecida a base material para a igualdade dos Negros. E os chamados brancos pobres também seriam libertados da pobreza, da extrema exploração e do atraso.
A Realização da Igualdade Social
Quando os escravizados foram libertos no Sul em resultado da Guerra Civil, os mercados de escravos e as casas de leilão foram incendiados pelos antigos cativos. Pode-se imaginar com que júbilo o povo libertado do Sul agora queimará os sinais de segregação racial ("jim-crow"), símbolos da escravidão capitalista tanto dos brancos quanto dos Negros. A fogueira dos sinais "jim-crow" iluminará o caminho para a verdadeira liberdade.
O poder dos trabalhadores e dos pequenos agricultores criará, pela primeira vez, uma cultura para as massas do Sul. Novos e modernos edifícios escolares surgirão aos milhares. O analfabetismo, a vergonha do Sul, será erradicado. Escolas técnicas e universidades também se tornarão produtos do Sul. Consideramos perfeitamente seguro prever que o sistema público de ensino, em todos os seus ramos, se desenvolverá no Sul a uma taxa que superará todos os recordes anteriores da história do capitalismo americano.
Muito precisará ser feito no campo da proteção à saúde. Pela primeira vez as doenças da pobreza — pelagra, ancilostomíase, etc. — que hoje assolam as massas sulistas encontrarão um inimigo mais forte. Este inimigo será vitorioso porque, ao mesmo tempo, eliminará a pobreza, a principal causa dessas enfermidades. Cuidados médicos profissionais e hospitais públicos estarão, também pela primeira vez, amplamente disponíveis para as massas Negras e para os brancos pobres. A atual propriedade do Presidente Roosevelt na Geórgia, assim como outros resorts dos milionários, poderão ser transformados em sanatórios, hospitais, clubes, etc. Palm Beach poderá tornar-se um refúgio para os trabalhadores e agricultores exaustos. As florestas de pinheiros também poderão ser utilizadas como estâncias de saúde. Todos os melhores locais e resorts da atual classe dominante poderão ser convertidos em centros de descanso para as massas.
Muito também terá de ser feito no campo da educação socialista da população branca. A revolução terá removido a base material do preconceito, mas a educação socialista eliminará até mesmo os resquícios desse preconceito.
Somente com base no socialismo se cria a possibilidade do pleno e igual desenvolvimento do povo Negro. Sob o poder esclavagista e sob o poder capitalista, o povo Negro foi impedido de se desenvolver, oprimido e perseguido. Sob o poder dos trabalhadores e dos pequenos agricultores, poderá florescer e realizar todas as suas potencialidades. Somente então, como um povo pleno e emancipado, poderá ocupar seu lugar indiscutível e igualitário ao lado de todos os povos do mundo.
Este é apenas um vislumbre de um futuro glorioso para as massas. Conquistas como essas não são fáceis de alcançar. Elas são fruto de árduas lutas. Mas por que não direcionarmos as nossas energias e capacidades — que hoje as classes exploradoras usam em seu benefício — em nosso próprio benefício?
Devemos começar agora — organizando-nos, preparando nossas forças nas lutas diárias por melhores condições, aprendendo “a assumir o controlo”. Acima de tudo, devemos construir e apoiar o único partido revolucionário da classe trabalhadora: o Partido Comunista. Este Partido, composto por firmes revolucionários e trabalhadores militantes, está a formar e a liderar a classe trabalhadora e as massas oprimidas rumo ao seu grande objetivo.
Junta-te ao Partido Comunista, ajuda a criar a poderosa e grandiosa vanguarda que conduz as massas rumo ao Socialismo.