O problema de libertação Negra tem dois lados. O primeiro é a questão da igualdade. Sobre este aspeto perguntamos: Que deve se feito para remover as bases materiais da particular opressão e perseguição dos Negros e para acabar com os linchamentos, a segregação, a ostracização social bem como a super exploração nos campos e na indústria?
O segundo aspeto é comum a todos os trabalhadores e explorados, quer brancos quer Negros. Sobre este aspeto perguntamos: O que deve ser feito para acabar com a exploração salarial, o desemprego, a pobreza, a crise e a guerra?
Estas questões não estão completamente separadas, mas sim interligadas uma com a outra. Vamos primeiro considera-las separadamente e depois demonstrar como a solução para a primeira flui da solução para a segunda.
A Rebelião de uma Nação Oprimida
A opressão particular dos Negros nos Estados Unidos está firmemente enraizada nos resquícios da escravatura. Todos sabemos que apesar de a escravatura ter sido abolida na sequência da Guerra Civil, a liberdade – mesmo a que os trabalhadores brancos têm sob o capitalismo – não foi instaurada. Elementos do antigo sistema esclavagista permanecem até hoje.
Estes resquícios da escravatura podem ser divididas em aspetos económicos e sociais. Os mais importantes vestígios económicos da escravatura são o sistema de plantações e a agricultura de rendeiros do Sul, que já descrevemos. Mas a existência destes sistemas no Sul não apenas escraviza os Negros na região da Cintura Negra (Black Belt), como também oprime a população Negra em todo o país. Afeta igualmente a população branca no Sul. Existem muitos meeiros brancos cujas condições são apenas um pouco melhores do que as dos Negros. Eles não serão libertados dos resquícios do sistema de escravidão enquanto os Negros não forem libertados.
O legado social mais importante do sistema de escravidão é a ideia de “superioridade branca” e o preconceito racial. Estas ideias não foram eliminadas porque a escravidão não foi totalmente erradicada. Alexander Stephens(14), o vice-presidente da Confederação, afirmou que o alicerce do Sul repousava "sobre esta grande verdade física, filosófica e moral de que o Negro não é igual ao homem branco, que a escravidão — subordinação à raça superior — é a sua condição natural e normal." Esta continua a ser a filosofia da classe dominante do Sul nos dias de hoje.
Para perceber completamente o quanto o esclavagismo ainda permanece no Sul apenas precisamos de saber que a grande maioria dos Negros ainda vive nas terras das antigas plantações que utilizavam pessoas escravizadas. As plantações permaneceram e aprisionaram uma grande parte da população Negra do Sul. Nesse território – a Cintura Negra (Black Belt) – os Negros são a maioria da população. No entanto, é exatamente aí que se situa o centro da escravização dos Negros.
Enquanto as plantações e o sistema de rendeiros continuarem será impossível aos Negros obter a igualdade. Porque para se elevar acima do nível da plantação é preciso acabar com a plantação e dividir a terra pelos que a trabalham.
E isso só será possível através do poder organizado das massas de rendeiros e camponeses explorados. Contudo, estas alterações profundas não se produzirão de um dia para o outro, elas só podem ser conseguidas através de organização, preparação e liderança adequadas. O rápido crescimento do Sindicato dos Rendeiros do Alabama e a Associação dos Camponeses do Arkansas mostram que a situação está madura para que este tipo de organizações cresçam.
Esta revolução agrária também agregará as centenas de milhares de rendeiros brancos e camponeses pobres que sofrem sob os sistemas de plantação e de crédito. Também eles verão a necessidade de derrubar os grandes latifundiários das suas costas, de escapar à tirania dos usurários e dos donos do crédito e de dar a terra aos trabalhadores sem-terra.
Há setenta e cinco anos o Norte entrou em guerra com o objetivo de destruir o poder dos esclavagistas. Isso, também foi uma revolução. Mas não foi acabada. A nossa tarefa é acabá-la.
Mas a revolução não acaba com a ocupação das terras. Tal será apenas o início de uma completa e profunda mudança na terra do terror linchador. Consideremos o local onde esta revolução agrária terá lugar: precisamente na região das plantações, onde os Negros são hoje a secção mais oprimida da população e onde formam a maioria da população. Imaginemos uma revolução desse tipo a ocorrer no Delta do Rio Mississippi. Aqui existem vastas plantações. Em alguns condados, os Negros representam até 90 a 95 por cento da população total; em toda esta área, não são menos de 60 por cento. Com o poder dos proprietários das plantações destruído, um novo tipo de governo será estabelecido pelos agricultores e trabalhadores deste território. Pela primeira vez, Negros e brancos pobres e oprimidos poderão realmente usufruir da democracia. Os Negros desempenharão o papel principal tanto na revolução agrária como nos novos governos revolucionários.
O mesmo acontecerá em toda a região das plantações – desde o sudeste da Virgínia, passando pelas Carolinas e pelo centro da Geórgia, atravessando o Alabama, o Mississippi e a Louisiana, chegando até ao Arkansas e a partes do Tennessee e do Texas. Surgirá então a oportunidade de realmente estabelecer as bases para a liberdade dos Negros. Esta terra, onde os Negros foram escravizados durante gerações, poderá finalmente ser transformada numa terra livre. Poderá ser proclamada como um novo país, onde a terra foi libertada dos exploradores, onde a maioria – o povo Negro – governa com a cooperação das massas brancas do território.
As massas brancas apoiarão este novo governo porque o seu direito à terra será também reconhecido e porque pela primeira vez também eles terão direito à escola pública gratuita e a serem libertas do jugo dos usurários, etc.. O velho Sul desaparecerá. Os Negros regressarão ao que é seu.
O verdadeiro teste da liberdade dos Negros na Cintura Negra (Black Belt) é o seu direito à autodeterminação. A não ser que possam escolher livremente entre si o tipo de relacionamento que este novo governo terá com os Estados Unidos não serão livres. Se os capitalistas ainda estiverem no poder em Washington podemos ter a certeza que se oporão e tentaram esmagar a rebelião do povo Negro. O povo Negro vai precisar de aliados poderosos para prosseguir e defender a sua revolução pela liberdade. Terão esse aliado na classe operária, a força dirigente nas lutas de todas as camadas oprimidas da população dos Estados Unidos contra a exploração capitalista.
Devemos agora considerar a revolução que terá lugar por todo o país.
A Revolução Proletária
O capitalismo está a parir a revolução. Os Estados Unidos foram criados como resultado de uma revolução contra a dominação britânica. Reforçou-se como resultado de uma revolução contra os esclavagistas em 1861. Hoje o capitalismo está em decadência. Já não consegue garantir os meios de subsistência dos que produzem. É um sistema ultrapassado. Deve dar o lugar a um novo sistema social. Tem de ser operada uma mudança completa que apenas pode ser resultado de uma revolução social.
Que tipo de mudança precisamos para acabar com a escravatura salarial, o desemprego e a guerra? O capitalismo baseia-se na propriedade privada das máquinas, fábricas, caminhos-de-ferro, terra e todos os outros meios de produção. Os meios de produção estão nas mãos de um pequena classe, os capitalistas. Os maiores princípios do capitalismo são a propriedade privada e os lucros. Milhões de trabalhadores produzem em conjunto os bens necessários à vida. Mas esses bens tornam-se propriedade daqueles que são proprietários das máquinas, da terra, etc., enquanto os trabalhadores não têm o dinheiro com que os comprar. As crises acontecem e as pessoas sofrem. Os capitalistas conquistam colónias numa corrida pelos lucros e pelo saque. O capitalismo pare a guerra.
Apenas uma coisa pode acabar com a existência do capitalismo: a expropriação dos capitalistas. Retirar-lhes a propriedade dos meios de produção e coloca-la nas mãos dos trabalhadores que produzirão não para obter lucros mas para garantir as necessidades da sociedade. A classe operária está na posição de poder produzir esta mudança. Apenas ela, através dos seus esforços organizados e apoiada pelo resto da população oprimida, pode verdadeiramente transformar o sistema sob o qual vivemos. Esta mudança basilar é inevitável. Os operários são empurrados para ela pelo próprio capitalismo.
Mas qualquer tentativa de implementar estas mudanças desencadeará imediatamente a reação dos capitalistas e do poder do seu Estado. Este poder de Estado consiste não só nos órgãos governamentais, mas também do exército, da polícia e dos tribunais. Para expropriar os capitalistas os operários precisam em primeiro lugar de se livrar da maquinaria governamental existente e de instituir um governo da classe operária. Este tipo de revolução foi levada a cabo com sucesso na Rússia em 1917, sob a liderança do Partido Comunista.
Esta é a mudança basilar. Uma tal revolução liberta os operários da escravatura salarial e da opressão dos capitalistas. Os trabalhadores ficam no poder. O governo operário suprime todas as tentativas dos capitalistas de restaurar o antigo sistema. Sob este novo governo operário, que garante na mais vasta democracia para as massas, começa a construção do socialismo. Só então será possível ter planeamento social para satisfazer as necessidades de todas as massas, abolir o desemprego e abolir a guerra pelos lucros.
Mas para levar a cabo a revolução e para a defender os operários precisam do apoio de outras camadas exploradas da população. Embora os operários estejam em posição de organizar e liderar tal revolução eles não a conseguem fazer sozinhos. Têm aliados na população. Esses aliados são:
1. A massa de pequenos camponeses pobres, que são explorados pelas grandes empresas, pelos fundos, pelos monopólios e pelos banqueiros; a classe média das cidades, os técnicos, os profissionais liberais, os pequenos empresários, etc. que sofrem sob o capitalismo e têm tudo a ganhar sob o socialismo.
2. O povo oprimido Negro.
3. Os povos oprimidos das colónias americanas – as Filipinas, Cuba, e os povos da América Central e do Sul que estão sob a dominação capitalista dos Estados Unidos.
Entre os mais importantes aliados da classe operária estão os Negros dos Estados Unidos. Este facto determina a relação entre os dois aspetos da revolução que se está a desenvolver no país.
A Combinação de Duas Revoluções
A revolução pela terra e pela liberdade no Sul e a revolução proletária no todo do país vão desenvolver-se de mão dada. Cada uma fortalecerá e apoiará a outra. A classe operária – branca e Negra – dirigirá ambas.
Como é que acontece que os trabalhadores brancos não só queiram, mas tenham de apoiar a luta pela libertação dos Negros?
Em primeiro lugar, porque os trabalhadores não conseguirão derrubar o capitalismo sem a ajuda do povo Negro. É por isso que dizemos que é inevitável que os trabalhadores brancos, mesmo os trabalhadores brancos do Sul, lutem pela liberdade dos Negros e apoiem a luta do povo Negro. Fá-lo-ão porque o precisam para a sua própria vitória.
Os trabalhadores brancos do Sul, em particular, apoiarão os Negros na sua luta. Pois, no Sul, o poder dos proprietários de terras e dos capitalistas é mais ameaçador precisamente na Cintura Negra (Black Belt). Aí, a luta de classes é muito intensa. Este é o ponto mais fraco do capitalismo. Imagine o alarme que tomará conta da classe dominante do país quando a luta na região das plantações alcançar o estágio de revolução! A revolução que irromper aqui pode, de facto, ser a faísca para a revolução proletária em todo o país. Os trabalhadores brancos compreenderão que a luta do povo Negro pela liberdade enfraquece o poder dos seus próprios opressores, os capitalistas.
Entre a revolução proletária e a revolução do povo Negro por terra e liberdade, existe um elo vivo. Esse elo é a classe trabalhadora. É entre os trabalhadores que a solidariedade se desenvolve primeiro e é mais forte., Esta solidariedade entre os trabalhadores brancos e Negros é forjada nas cidades e vilas do Sul e nos grandes centros industriais do Norte. Aqui reside a liderança dos dois aspetos da revolução.
Mas também é necessário que exista um grupo consciente e organizado de trabalhadores, que compreenda a necessidade da revolução e que lidere as massas nas suas lutas diárias rumo a esse objetivo. Esse é o papel do Partido Comunista. Os comunistas não se limitam a falar sobre a futura revolução; lutam ativamente pelos interesses diários das massas. Nos sindicatos e outras organizações da classe trabalhadora, nas greves, nas manifestações e eleições, nós, comunistas, esforçamo-nos, enquanto desempenhamos um papel de liderança nas lutas das massas, em convencê-las do caminho correto e revolucionário a seguir.
E uma das nossas principais linhas de atividade foi sempre a de desenvolver desde já a solidariedade entre os trabalhadores brancos e as massas Negras, construir esta aliança na nossa vida diária e nas nossas lutas, para garantir a combinação dos dois aspetos da revolução americana.
Na construção desta solidariedade de classe há uma divisão de trabalho, mas com um objetivo comum, entre os trabalhadores brancos e os Negros. Os trabalhadores brancos devem perceber que a principal responsabilidade de construir a unidade da classe operária recai sobre os seus ombros. Devem ser eles a liderar a luta contra o preconceito racial no seio das massas brancas. Devem recordar-se que durante séculos os povos Negros foram oprimidos pelas nações brancas. Entre os Negros existe uma profunda desconfiança de todos os brancos. O sistema de plantação e o capitalismo criaram a desconfiança e ela não pode ser afastada só com palavras. O preconceito racial polui o ar deste país. Depois de terem sido excluídos de vários sindicatos, de terem sido ostracizados por várias camadas de brancos, não existe qualquer razão para que os Negros sejam convencidos por meras palavras. Eles apenas podem ser convencidos por ações. Se eles virem grandes números de trabalhadores brancos a lutar pelos direitos dos Negros, a lutarem contra o preconceito racial, a insistirem na igualdade de tratamento em todos os lugares, então terão razões para confiar nos trabalhadores brancos como aliados. Esta é a única forma de ultrapassar a desconfiança. Nenhum trabalhador branco merece o nome de comunista se não levar a cabo uma luta constante contra todas as manifestações de preconceito racial entre trabalhadores.
Os trabalhadores Negros para conseguirem a solidariedade de classe trabalhadora têm a obrigação de lutar contra o “patriotismo Negro” e contra a “solidariedade de raça”. Devem lutar constantemente contra as ideias de pessoas como Du Bois porque, como vimos anteriormente, elas reforçam a desconfiança dos Negros nos trabalhadores brancos. Nenhum Negro tem o direito de se chamar Comunista a não ser que lute constantemente contra os dirigentes da “raça”, a não ser que denuncie constantemente o papel daqueles que defendem a separação entre brancos e Negros, a não ser que defenda a unidade de interesses das massas Negras e da classe operária. O Comunista Negro é primeiro e acima de tudo um expoente da revolução proletária porque percebe que só ela garantirá não só a liberdade dos Negros mas a emancipação de todos os trabalhadores.
Como será resolvida a questão da autodeterminação?
Os Comunistas lutam pelo direito à autodeterminação dos territórios da Cintura Negra. Tal significa que não só os Negros nunca mais serão oprimidos mas também significa que assumirão a sua legítima posição como maioria da população da Cintura Negra que são. Significa igualmente o direito da República Negra de determinar as suas relações com os Estados Unidos.
Não se pode prever antecipadamente em que circunstâncias se colocará em termos definitivos a questão do direito à autodeterminação do povo Negro na região da Cintura Negra. Existem duas possibilidades distintas:
Primeira: A revolução na região das plantações pode amadurecer antes da revolução proletária no país como um todo. Esta é uma possibilidade devido ao fato de que o capitalismo é mais fraco no Sul, e as massas Negras escravizadas na terra são uma força revolucionária de grande poder. É certo, no entanto, que a revolução na região das plantações não pode atingir o seu auge e pressionar pela vitória a menos que o capitalismo em todo o país enfrente dificuldades, já seriamente ameaçado pelo movimento ascendente da classe trabalhadora. Nessa situação, a rebelião do povo Negro daria nova força e aceleraria a revolução proletária. A classe trabalhadora, liderada pelo Partido Comunista, viria em auxílio das massas no Sul para impedir que a classe dominante capitalista do Norte suprimisse a revolução na Cintura Negra. Nessas circunstâncias, os comunistas na Cintura Negra favoreceriam, e fariam tudo ao seu alcance para conquistar o apoio do povo trabalhador da Cintura Negra para obter a completa independência da república capitalista do Norte. Pois a independência total da região da Cintura Negra (Black Belt) significaria maior liberdade para os Negros e um enfraquecimento significativo do poder do capitalismo no país como um todo. Todos os comunistas defenderiam o direito do povo Negro de fazer sua escolha.
Segunda: A revolução proletária pode derrubar o capitalismo e estabelecer um Governo Soviético no país como um todo antes que a revolução atinja o seu auge na Cintura Negra. No entanto, é importante ter em mente que as duas fases da revolução não se desenvolverão separadamente. Assim, enquanto os trabalhadores lideram o ataque contra o capitalismo, a tomada revolucionária das terras das plantações e das grandes explorações agrícolas pode, ao mesmo tempo, estar a decorrer no Sul. Mas, uma vez que os trabalhadores tomem o poder nos Estados Unidos, a revolução por terra e liberdade será acelerada e concluída. Um dos primeiros passos do governo soviético central será conceder o direito de autodeterminação ao povo Negro da Cintura Negra.
Tal significaria que o povo Negro da Cintura Negra terá o direito de escolher por si próprio a federação ou a separação com os Estados Unidos como um todo. O Poder Soviético, os trabalhadores e o seu governo, garantirão este direito: primeiro porque não existirá nenhuma razão para a anexação pela força da República Negra. Com o derrube do capitalismo a base de toda a exploração será eliminada, e com ela a base em que assenta a exploração e a opressão dos Negros. Segundo, a livre união dos povos na base da igualdade torna-se possível mas apenas através da escolha feita pela maioria do povo. O próprio facto de que a classe operária vitoriosa e o seu governo soviético garantirem uma liberdade de escolha completa e ilimitada será em si mesma uma garantia da liberdade pleno sentido da palavra. Sob estas circunstâncias os Comunistas Negros defenderiam e lutariam por uma federação com a República Soviética dos Estados Unidos porque essa via seria no melhor interesse dos Negros e de todos os trabalhadores. Contudo, na circunstância de a decisão for contra a federação o Partido Comunista e o Governo Soviético respeitariam a vontade dos Negros.
Ao declarar a nossa posição sobre esta questão, somos guiados não apenas pelos princípios teóricos do Partido Comunista, mas também pela experiência concreta da Revolução Russa. Nesse contexto, uma série de desenvolvimentos na solução da questão da autodeterminação ocorreram simultaneamente. Os Russos, cuja classe dominante oprimia os outros povos dentro do Império Czarista, representavam apenas cerca de 45% da população da antiga Rússia. Tanto durante a primeira revolução em março de 1917, quando o czar foi deposto, como durante a segunda revolução em novembro de 1917, quando o poder dos capitalistas e latifundiários foi destruído e o Governo Soviético foi estabelecido, os trabalhadores contaram com o apoio dos camponeses não apenas na Rússia central, mas também em várias regiões periféricas onde viviam povos nacionais oprimidos. Mas a revolução não se desenvolveu de forma uniforme em todo o lado. Nessas circunstâncias, como foi resolvida a questão da autodeterminação?
A primeira ato do Governo Soviético foi de emitir um decreto garantindo o direito à autodeterminação de todas as nações do antigo Império Russo e completa igualdade de direitos no seio da Federação das Repúblicas Soviéticas. Nas regiões que não estavam ocupadas por tropas de potências estrangeiras e onde os trabalhadores tinham conseguido estabelecer autonomamente um governo socialista soviético, estes governos federara-se na República Socialista Soviética central. Apenas à medida que a revolução se desenvolvia nas outras regiões e os exércitos da intervenção contrarrevolucionária estrangeira foram sendo derrotados é que foram sendo estabelecidos governos soviéticos. Embora a classe operária russa tivesse fornecido ajuda direta aos povos das regiões periféricas contra os exércitos intervencionistas e os contrarrevolucionários nenhuma destas regiões foi forçada a federar-se com as restantes repúblicas soviéticas. Até hoje a constituição da União Soviética permite o direito à autodeterminação a todas as nações que fazem parte da União.
Mas houve outros desenvolvimentos. Em algumas regiões o povo estava ainda sob a influência de líderes contrarrevolucionários que eram apoiados por potências estrangeiras. Houve casos em que a revolução proletária foi sufocada e outros em que o proletariado não era suficientemente forte ou não se libertara da influência dos dirigentes burgueses e, consequentemente, foi incapaz de dirigir a revolução à vitória. Um destes casos foi o da Finlândia que fazia parte do Império Russo. Em finais da Grande Guerra a Finlândia foi dominada pelo Exército alemão que ajudaram a classe dominante finlandesa a derrotar a revolução proletária e a estabelecer uma república independente sob dominação capitalista. Tentou o Governo Soviético forçar a Finlândia a integrar-se na União das Repúblicas Soviéticas? Pelo contrário Lenine, como presidente do Conselho de Comissários do Povo da República Socialista, reconheceu ele próprio ao representante da República finlandesa o direito de secessão desse país e deu-lhe sanção oficial para o fazer.
"Estou bem recordado da cena em Smolny" disse Lenine mais tarde, "Quando me coube a responsabilidade de conceder a carta a Svinkhovod, o representante da burguesia finlandesa que tinha desempenhado o papel de carrasco. Ele apertou amigavelmente a minha mão e trocámos elogios. Que desagradável foi isso! Mas tinha de ser feito porque, na altura, a burguesia persuadiu falsamente o povo, as massas trabalhadoras, a acreditar que os moscovitas eram chauvinistas e que os grandes russos queriam esmagar os finlandeses"
E se o Governo Soviético não tivesse concedido aos finlandeses o direito de se separarem e tentasse mantê-los à força, isso significaria anexação. As massas finlandesas teriam visto o Governo Soviético como um opressor estrangeiro, não melhor do que o Tsarismo. Hoje, os finlandeses estão sob a dura e brutal ditadura reacionária da burguesia finlandesa, mas não haverá dúvida de que, uma vez derrubada esta burguesia, não haverá hesitação em se federar com a União Soviética.
O Governo Soviético e o Partido Comunista reconheceram os direitos de todas as nações que anteriormente tinham sido oprimidas pelo Czarismo. A União Soviética é composta por mais de 100 nações e minorias nacionais diferentes. A opressão dessas nações é agora impossível porque as massas daquela nação que anteriormente as oprimia derrubaram a burguesia e os proprietários de terras e estão a construir o socialismo. Estas numerosas nações vivem em completa harmonia umas com as outras. Elas receberam ajuda direta dos grão-russos na construção da sua indústria, na melhoria da sua agricultura e na conquista da igualdade económica total com os outros povos da União Soviética.
A revolução proletária primeiro eliminou as bases da opressão nacional. Depois, começou rapidamente a estabelecer as bases da igualdade. Pois muitos destes povos anteriormente oprimidos tinham visto o seu desenvolvimento travado pelo Czarismo. Era necessário levar a cabo o desenvolvimento da indústria e da agricultura nas regiões onde viviam as nações antes oprimidas, a um ritmo ainda mais rápido do que na Rússia Central. Assistimos aqui ao desenvolvimento mais rápido de povos que toda a história pode mostrar. Povos nómadas foram retirados da sua condição de atraso, desenvolvendo-se quase da noite para o dia numa sociedade industrial e agrícola moderna, sem ter de passar pela fase do capitalismo. O desenvolvimento cultural é igualmente rápido. A base da desigualdade está a desaparecer rapidamente, mesmo nas áreas mais atrasadas.
A União Soviética provou a correção do programa comunista. Se, na antiga “prisão das nações”, onde a questão da libertação nacional e dos preconceitos nacionais é muito mais complicada do que nos Estados Unidos, tal sucesso notável foi alcançado, pode haver alguma dúvida sobre a realização de um sucesso igual e até maior aqui?
A Via Revolucionária
Vimos que uma mudança basilar pode garantir aos Negros a possibilidade de ter uma vida decente, os direitos dos seres humanos e o estatuto de igualdade e honroso respeito em todas as esferas pública e social. A classe dominante não permitirá tal mudança.
As massas exploradas devem, por isso, organizar-se para fazer uso do seu direito à revolução.
A revolução não é uma questão de escolha própria. Ela é-nos imposta pelo próprio capitalismo, que nos degrada, que nos atira para o pó, que nos torna a vida insuportável. Enquanto existir exploração e opressão, haverá revoluções.
O caminho revolucionário foi sempre o caminho do progresso humano. O capitalismo surgiu como resultado de uma revolução contra o feudalismo e a nobreza na Europa. O socialismo surgiu na Rússia como resultado de uma revolução contra o capitalismo. A revolução marcou o nascimento e o progresso dos Estados Unidos. Agora, é necessária outra revolução para remover um sistema em decadência e abrir caminho para um novo progresso. Mas a revolução proletária difere de todas as outras revoluções da história. Todas as revoluções anteriores resultaram na ascensão de uma nova classe exploradora ao poder, que suprimia a maioria do povo. A revolução proletária, por sua vez, resulta na ascensão da maioria ao poder, suprimindo a minoria exploradora e eliminando a base de toda exploração e opressão. Somente então será criada a possibilidade de acabar com todas as classes. A sociedade, organizada em um novo sistema social e económico — o sistema socialista — poderá agora fornecer em abundância as necessidades da vida.
A via revolucionária não tem sido estranha ao povo Negro nos Estados Unidos. As lutas revolucionárias glorificaram a sua história. Será que já esquecemos as corajosas lutas dos povos africanos pela vida e pela liberdade contra os mercadores de escravos da Europa e das colónias americanas? Mesmo os poucos episódios que foram preservados na história escrita testemunham a luta determinada dos Negros contra a escravização desde o primeiro momento. O povo Negro pode encontrar inspiração nas tentativas revolucionárias de Gabriel(15), Denmark Vesey(16), Nat Turner(17) e nos milhares de combatentes anónimos que participaram nas inúmeras revoltas de escravos nos Estados Unidos, bem como no "percurso clandestino". Muitos Negros participaram na guerra revolucionária das colónias americanas contra os britânicos. A própria Guerra Civil foi uma revolução na qual os Negros — aqueles que até ontem eram escravos — lutaram pela terra e pela liberdade. Essa gloriosa década da Guerra Civil, durante a qual o Negro em armas combateu contra os cães de fila da reação pelos direitos de cidadania e pela posse da terra, é hoje um exemplo vivo heroico e revolucionário acalentando as aspirações dos Negros à Liberdade.
Em tempos mais recentes, poderemos nós esquecer a heroica luta dos ceifeiros de Elaine(18), no Arkansas (1919), e de Camp Hill(19) e Reeltown, no Alabama (1931 e 1933), contra os senhores das plantações? Ou os milhares de trabalhadores Negros que lutaram ombro a ombro com os trabalhadores brancos nas greves e nos piquetes de greve? E noutras partes do mundo: a gloriosa tradição da Revolução Haitiana, dos Maroons da Jamaica, dos rebeldes vitoriosos da Guiana Holandesa, das manifestações de Scottsboro, em Cuba e em África?
Durante a Guerra Civil, e imediatamente após, as massas Negras combateram com bravura. Foram derrotadas — pois não dispunham de aliados. A classe dominante do Norte traiu-as. Mas hoje possuem um aliado poderoso e absolutamente digno de confiança: a classe trabalhadora. Juntos, podem criar um novo mundo.