Trechos Escolhidos sobre Literatura e Arte

Marx, Engels, Lenine e Stalin


Segunda Parte: Lenine e Stalin
II — TOLSTOI, ESPELHO DA REVOLUÇÃO RUSSA


1. — LEON TOLSTOI, ESPELHO DA REVOLUÇÃO RUSSA.
capa

Os seis artigos de Lenine dedicados a Tolstoi, um em setembro de 1908, quando do 80.° aniversário do autor de Guerra e Paz, os cinco outros, no dia seguinte ao de sua morte em 7 (20) de novembro de 1910, constituem um conjunto único na crítica marxista.

Lenine procurava ardentemente na literatura, a expressão da realidade/ dessa realidade revolucionaria russa que ele seja de maneira tão penetrante e que incarnava em si nas horas decisivas. Entre os romancistas contemporâneos da revolução de 1905, Tolstoi e Gorki foram os que mais o impressionaram e nele se gravaram porque representavam o mais fielmente as duas classes revolucionarias, as duas forças motrizes da revolução russa: os camponeses e o proletariado. O idealismo de Jaurès(1) saudou em Tolstoi um grande místico que nos auxilia “a reencontrar o sentido da simplicidade, da fraternidade, da vida profunda e misteriosa”. Plekhanov coloca-se num ponto de vista materialista: vê em Tolstoi o representante da aristocracia rural em seu declínio, que os progressos do capitalismo arruínam pouco a pouco. O amor do mujik professado por Tolstoi, sua nostalgia de uma vida simples e patriarcal seu hino ao trabalho manual, as maldições que lança ao maquinismo e às formas novas da exploração dos homens, tudo isso parece a Plekhanov a reação natural de um grande senhor, que assiste à derrocada de sua classe, e que, maldizendo o capitalismo, busca um refúgio supremo no seio de uma utopia camponês.

Para Lenine o que caracteriza a obra de Tolstoi é que ela reflete a psicologia da massa camponesa com todas suas contradições, Lenine não separa, em Tolstoi, o artista do pensador. No realismo do escritor, encontramos a simplicidade do camponês. A revolta dos mujik e sua apatia, seus ódios e seu desespero, se prolongam na ideologia do profeta de Iasnaia Poliana.

Pode parecer, à primeira vista, estranho e artificial unir o nome do grande artista à revolução que ele manifestamente não compreendeu e da qual manifestamente se afastou. Não se pede chamar espelho de um fenômeno aquilo que, evidentemente, não o reflete de maneira exata. Mas nossa revolução éum fenômeno extremamente complexo; na massa de seus realizadores imediatos e de seus participantes, há muitos elementos sociais que, também, não compreendiam manifestamente o que se passava, que se afastavam também das tarefas históricas verdadeiras que lhes eram destinadas pelo decorrer dos acontecimentos. E, se temos diante de nós um artista verdadeiramente grande, ele deve ter refletido em suas obras, pelo menos, alguns dos aspectos essenciais da revolução.

A imprensa russa legal, cheia de artigos, de cartas e de notícias sobre o 80.° aniversário de Tolstoi, muito pouco se interessa pela análise de suas obras do ponto de vista do caráter da revolução russa e de suas forças motoras. Toda essa imprensa transborda, até causar náuseas, de hipocrisia, de uma dupla hipocrisia; hipocrisia oficial e hipocrisia liberal. A primeira é a grosseira hipocrisia dos escrevinhadores vaiais que tinham, ontem, ordem de perseguir L. Tolstoi e que têm, hoje, ordem de achar nele o patriota e guardar as conveniências diante da Europa. Esses escrevinhadores são pagos pelo que escrevem, todo mundo sabe, e não enganarão mais ninguém. Muito mais requintada, e, por isso mesmo, muito mais nociva e perigosa, é a hipocrisia liberal. Se escutarmos os Balalaikine(2) da Reietch(3), sua simpatia por Tolstoi é a mais completa e a mais calorosa. Realmente, essa declamação calculada e essas frases pomposas sobre “o grande buscador de Deus” não são mais que falsidades, porque o liberal russo não tem nem fé no deus de Tolstoi nem simpatia pela crítica de Tolstoi ao regime existente. O liberal russo se apega a um nome popular para aumentar seu pequeno capital politico; para desempenhar o papel de chefe da oposição nacional, ensaia abafar, sob o trovejar das frases, a necessidade de uma resposta direta e clara à questão; de onde vêm as contradições gritantes da tolstochtchina(4), quais os defeitos e quais são as fraquezas de nossa revolução que ela reflete?

As contradições nas obras, as opiniões e a doutrina da escola de Tolstoi, são, realmente, gritantes. De um lado, o artista genial que não somente pinta quadros incomparáveis da vida russa, mas também deu à literatura mundial, obras de primeira ordem. De outro lado, um latifundiário fazendo o “simples em Cristo”(5). De um lado, um protesto notavelmente enérgico, direto e sincero contra a hipocrisia e a falsidade sociais, de outro, o “tolstoiano”, isto é, esse ser débil, gasto e histérico, denominado intelectual russo que, batendo publicamente no peito, diz: ‘‘Eu sou mau, eu sou um vilão, mas me ocupo de meu autoaperfeiçoamento moral; não como mais carne e me alimento agora de bolinhos de arroz”. De um lado, a crítica implacável da exploração capitalista, a denuncia das violências do Estado, da comédia da justiça e da administração, a revelação de toda a profundeza das contradições entre o crescimento das riquezas, as conquistas da civilização e o crescimento da miséria, da selvageria e dos sofrimentos das massas operarias; de outro lado, o inocente que prega a não resistência ao mal pela violência. De um lado, o realismo o mais nítido, o arrancar de todas as máscaras, sejam quais forem; de outro lado, a predicação de uma das coisas mais ignóbeis que existem no mundo, a saber, a religião, a tendência para substituir os popes funcionários do Estado pelos popes por convicção, ou seja, uma propaganda em favor do reino dos popes em sua forma a mais requintada, — por isso mesmo, a mais nojenta; Em verdade:

Tu és miserável, e tu és fecunda
Tu és poderosa e tu és sem forças,
Mãe Rússia!(6)

É evidente que, com tais contradições, Tolstoi não podia absolutamente compreender o movimento operário, seu papel na luta pelo socialismo, nem a revolução russa. As contradições nas opiniões e a doutrina de Tolstoi não são obras do acaso, mas a expressão das condições nas quais se desenrolava a vida russa durante o último terço do século XIX. O campo patriarcal, que mal acabava de se libertar do direito de servidão, fora entregue ao Capital e ao fisco para ser literalmente pilhado. Os antigos princípios da economia camponesa e da vida camponesa, que se tinham mantido no decorrer dos séculos; foram demolidos com uma incrível rapidez. Deve-se assim julgar as contradições nas opiniões de Tolstoi não do ponto de vista do movimento operário contemporâneo e do socialismo contemporâneo (um tal julgamento é, naturalmente, indispensável, mas não basta) mas do ponto de vista do protesto contra o capitalismo em marcha, contra a ruína das massas despojadas de suas terras, protesto que tinha de vir do (campo patriarcal russo. Tolstoi é ridículo como o profeta que (descobrisse novas receitas para a salvação da humanidade e é essa a razão porque são verdadeiramente ridículos os “tolstoianos” estrangeiros e russos que quiseram transformar em dogma o lado justamente mais fraco de sua doutrina. Tolstoi é grande como porta-voz das ideias e dos estados de alma que se formaram entre os milhões de camponeses russos na hora do início da revolução burguesa. Tolstoi é original porque o conjunto de suas ideias, nocivas em bloco, exprime justamente as peculiaridades de nossa revolução, como revolução burguesa camponesa. As contradições nas ideias de Tolstoi desse ponto de vista são um verdadeiro espelho das condições contraditórias nas quais se desenrolava a atividade histórica do campesinato no decorrer de nossa revolução. De um lado, séculos opressão servil e dezenas de anos de ruínas inúmeras depois a reforma(7) haviam acumulado montanhas de ódio, de cólera e de resolução desesperadas. O desejo de varrer, até seus fundamentos, a Igreja do Estado e os proprietários rurais, e o governo dos proprietários rurais, de liquidar todas as antigas formas e costumes da propriedade rural, limpar a terra, criar em lugar do Estado policial de classe uma comunidade de pequenos camponeses livres e iguais em direito, — esse desejo atravessa como um fio vermelho toda a ação histórica dos camponeses em nossa revolução e não há dúvida que o conteúdo ideológico dos escritos de Tolstoi corresponde muito mais a esse desejo camponês que ao “anarquismo cristão”, abstrato, como às vezes definem o “sistema” de suas ideias.

De outro lado, o campesinato, tendendo para novas formas de comunidade, tinha uma atitude muito inconsciente-, patriarcal, uma atitude de inocentes de aldeia para com aquilo que devia ser essa comunidade, formas de luta pelas quais lhe seria necessário conquistar sua liberdade, chefes que podia, ter nessa luta, sentimentos da burguesia e dos intelectuais burgueses para com a revolução camponesa, razões que tornam necessária a derrubada pela violência do poder tsarista, a fim de aniquilar a propriedade rural dos fidalgos. Toda a vida passada dos camponeses lhe ensinara a odiar o senhor e o funcionário, mas não lhe ensinara e não conseguira lhe ensinar onde procurar respostas para todas essas questões. Em nossa revolução, a minoria camponesa efetivamente lutou, organizando-se, se bem que pouco para isso, e uma parte ínfima levantou-se de armas nas mãos para exterminar seus inimigos, para liquidar os servidores do tsar e os defensores dos latifundiários. A maior parte do campesinato chorava e rezava, pensava e sonhava, escrevia petições e mandava “solicitadores” — inteiramente de acordo com o espírito de Leon Nicolaevitch Tolstoi! E, como acontece sempre em casos tais, a abstenção tolstoiana de toda política, a renúncia tolstoiana à política, sua falta de interesse e de compreensão por ela fizeram com que somente uma minoria seguisse o proletariado consciente e revolucionário e que a maioria ficasse à mercê desses intelectuais burgueses servis e sem princípios que, o nome de cadetes, corriam das assembleias dos trabalhistas a antecâmara de Stolypine mendigando, mercadejando, conciliando, prometendo conciliar, até que um soldado os expulsasse a pontapés. As ideias de Tolstoi são o espelho da fraqueza, das insuficiências de nossa insurreição camponesa, o reflexo da apatia do campo patriarcal e da covardia do mujik abastado.

Vede as insurreições dos soldados dos anos de 1905-1906. A composição social desses lutadores de nossa revolução é intermediaria entre o campesinato e o proletariado. Este ultimo está em minoria; é essa a razão por que o movimento nas tropas não demonstra, mesmo aproximadamente, essa coesão nacional, essa consciência partidária que manifesta o proletariado que se tornou social-democrata, como por um toque de varinha mágica. Do outro lado, não há opinião mais errada que a que atribui a derrota das insurreições de soldados à ausência de dirigentes oficiais. Pelo contrário, o gigantesco progresso da revolução desde os tempos da Narodnaia Volia manifestou-se justamente no fato que foi o “rebanho obscuro” que recorreu às armas contra o comando e, por sua independência, amedrontou no mais alto grau os proprietários territoriais liberais e os oficiais liberais. O soldado estava cheio de simpatia pela causa camponesa; seus olhos brilhavam só de falar em terra. Mais de uma vez o poder passou, no exército, para as mãos da massa de soldados — mas eles quase não se utilizam desse poder; os soldados hesitaram; depois de alguns dias, às vezes depois de algumas horas, depois de matar alguns chefes odiados, libertaram outros, entraram em conversações com o poder e se deixaram depois fuzilar, bater, atrelando-se novamente ao jugo — inteiramente de acordo com o espírito de Leon Nicolaevitch Tolstoi!

Tolstoi refletiu o ódio acumulado, a aspiração enfim amadurecida para um futuro melhor, o desejo de se libertar do passado — e os sonhos, a não-maturidade, a falta de educação política, a apatia em face da revolução. As condições históricas e econômicas explicam por sua vez a necessidade de aparecimento da luta revolucionaria das massas e sua falta de preparação para essa luta, a não-resistência tolstoiana ao mal, que foi a mais séria das causas de derrota da primeira luta revolucionaria.

Dizem que a derrota é uma boa escola para os exércitos. Sem dúvida, comparar classes revolucionarias a exércitos não é justo, senão num sentido muito limitado. O desenvolvimento do capitalismo modifica e torna mais agudas, a cada momento, as condições que levam à luta revolucionaria democrática os milhões de camponeses unidos pelo ódio contra os proprietários de terras escravagistas e seu governo. Nos próprios camponeses, o aumento das trocas, a dominação crescente do marcado e do poder do dinheiro, eliminam cada vez mais os antigos costumes patriarcais e a ideologia filosófica patriarcal. Mas há uma conquista dos primeiros anos da revolução e das primeiras derrotas na luta revolucionaria das massas, que não deixa dúvidas: é o golpe mortal dado à antiga apatia, à antiga moleza das massas. As linhas de demarcação tornaram-se mais nítidas. As classes e os partidos delimitaram-se. Sob o martelo das lições de Stolypine, graças à agitação obstinada, organizada, dos sociais-democratas revolucionários, não somente o proletariado socialista, mas ainda as massas democráticas do campesinato empurrarão inevitavelmente para a frente os lutadores cada vez mais aguerridos, cada vez menos capazes de cair no nosso pecado histórico da tolstoichtchina!
(LENINE, Tolstoi, Espelho da Revolução Russa, “in” Proletari (O Proletário), de 11 (24) de setembro de 1908. Obras, t. XII, pgs. 331-335, ed. russa).

2 . — L. N. TOLSTOI.

Morreu Leon Tolstoi. Sua importância mundial de artista, sua reputação mundial de pensador e de predicador refletem, uma e outra, cada uma à sua maneira, o alcance universal da revolução russa.

L. N. Tolstoi tornou-se conhecido como grande escritor, desde a época da servidão. Numa série de obras geniais, escritas no decorrer de sua carreira literária, que durou mais de meio século, ele descreveu principalmente a velha Rússia pré-revolucionária, que ficou, mesmo depois de 1861, num estado de meia-servidão, a Rússia camponesa, a Rússia dos proprietários de terras e do camponês. Descrevendo esse período histórico da vida russa, L. Tolstoi soube apresentar em seus livros um tão grande número de imensos problemas, soube elevar-se a uma tal potência artística, que suas obras ocuparam um dos primeiros lugares na literatura internacional. A época preparatória da revolução num dos países oprimidos pelos escravagistas apareceu, graças à descrição genial de Tolstoi, como um passo à frente no desenvolvimento artístico da humanidade inteira.

Tolstoi artista é apenas conhecido por uma ínfima minoria, mesmo na Rússia. Para que suas obras grandiosas se tornem efetivamente um bem pertencente a todos é preciso lutar e lutar ainda contra a ordem social que condenou milhões e dezenas de milhões de homens às trevas, ao embrutecimento, a um trabalho de forçado e à miséria: é preciso que se faça a evolução socialista.

Assim como Tolstoi não somente criou obras de arte que as massas apreciarão e lerão sempre, quando, depois de terem destruído o jugo, quebrado os grilhões dos proprietários de terras e dos capitalistas, criarão condições humanas de vida, – ele soube apresentar, com uma força notável, o estado de espírito das grandes massas oprimidas pelo atual regime, descrever sua situação, exprimir seu sentimento espontâneo de protesto e de cólera. Pertencendo principalmente à época que vai de 1861 a 1904, Tolstoi incarnou em seus livros, com extraordinário relevo, — tanto como artista quanto como pensador e predicador — as particularidades históricas da primeira revolução russa toda inteira, sua força e sua fraqueza.

Um dos principais traços característicos de nossa revolução consiste em ter sido uma revolução burguesa camponesa, numa época em que o capitalismo atingira um grau de desenvolvimento extremamente alto no mundo inteiro e relativamente alto na Rússia. Foi uma revolução burguesa porque tinha como tarefa imediata a derrubada da autocracia tsarista, da monarquia tsarista e a destruição do latifúndio dos fidalgos e não a derrubada do domínio da burguesia. Os camponeses, principalmente, não tinham consciência desta última tarefa, não compreendiam em que esta se diferenciava dos objetivos mais próximos e mais imediatos da luta. Foi ao mesmo tempo uma revolução burguesa camponesa, porque as condições objetivas empurraram para a frente o problema da transformação das condições fundamentais da vida dos camponeses, a destruição do antigo modo da propriedade medieval, do “desentulhamento do terreno” pelo capitalismo; as condições objetivas levaram as massas camponesas à arena da ação histórica mais ou menos independente.

Nas obras de Tolstoi se exprimem a força e a fraqueza, a potência e a estreiteza do movimento das massas e, precisamente, do movimento camponês. Seu protesto ardente, apaixonado, algumas vezes inexoravelmente acerbo contra o Estado e a Igreja oficial policial, traduz os sentimentos da democracia camponesa primitiva, no seio da qual séculos de servidão, de arbitrariedades e de ladroeiras administrativas, de jesuitismo eclesiástico e de mentiras e escroquerias acumularam montanhas de cólera e de ódio. Sua negação intransigente da propriedade territorial privada traduz a psicologia da massa camponesa num, momento histórico, em que o antigo regime medieval de propriedade territorial, dos fidalgos, da coroa e dos privilégios, tinha acabado por formar um obstáculo intolerável ao desenvolvimento ulterior do país e devia inelutavelmente ser destruído da maneira a mais rigorosa e mais implacável. Sua denúncia incessante do capitalismo, impregnada do sentimento mais profundo e da mais veemente indignação, exprime todo o horror do camponês patriarcal que vê avançar sobre ele um novo inimigo invisível, inconcebível, vindo sem dúvida da cidade ou do estrangeiro, destruindo todos os “fundamentos” da vida das aldeias, trazendo uma ruína sem precedentes, a miséria, a morte pela fome, a volta ao estado selvagem, a prostituição, a sífilis todos os flagelos da época da “acumulação primitiva”, agravados ao cêntuplo pela transferência, para o solo russo, dos processos mais modernos de extorsão, elaborados pelo senhor Coupon.

Mas, ao mesmo tempo, o protestador caloroso, o acusador apaixonado, o grande crítico, demonstrou, em suas obras, uma incompreensão das causas da crise que pesava sobre a Rússia e os meios de sair dela — digna quando muito de um ingênuo camponês patriarcal, mas não de um escritor de formação europeia. A luta contra o Estado escravagista e policial, contra a monarquia, transformou-se, em Tolstoi, em negação da política, conduzindo ao ensino da “não resistência ao mal”, atingindo a um distanciamento completo da luta revolucionaria das massas em 1906-1907. A luta contra a Igreja oficial foi acompanhada da pregação de uma nova religião depurada, isto é, de um novo veneno depurado, requintado, para uso das massas oprimidas. A negação da propriedade territorial privada conduz, não à concentração de toda a luta contra o inimigo efetivo, a propriedade territorial dos fidalgos e seu instrumento de dominação política, a monarquia, mas a suspiros sonhadores, vagos, impotentes. A denúncia do capitalismo e dos flagelos que ele traz às massas foi acompanhada de uma atitude absolutamente apática para com a luta libertadora mundial, travada pelo proletariado socialista internacional.

As contradições nas opiniões de Tolstoi não são as de seu pensamento estritamente pessoal, são o reflexo das condições e das influências sociais, das tradições históricas complexas e contraditórias em mais alto grau que determinaram a psicologia das diferentes classes e das diferentes camadas da sociedade russa na época posterior à reforma, mas anterior à revolução.

Não é possível assim fazer um julgamento exato sobre Tolstoi senão colocando-o no ponto de vista da classe que, pelo seu papel político, e sua luta quando do primeiro choque dessas contradições, quando da revolução, demonstrou sua capacidade de direção no combate pela liberdade do povo e pela libertação das massas exploradas, da classe que demonstrou sua dedicação indefectível à causa da democracia e sua faculdade de combater a estreiteza e a inconsequência da democracia burguesa (inclusive a democracia camponesa); este julgamento só é possível no ponto de vista do proletariado social-democrata.

Vede as apreciações sobre Tolstoi nos jornais do governos. Eles derramam lágrimas de crocodilo, proclamam seu respeito para com o “grande escritor” e defendem ao mesmo tempo o “santo” sínodo. Ora; os santíssimos padres vêm de cometer uma vilania particularmente repugnante mandando popes para perto do moribundo a fim de enganar o povo e dizer que Tolstoi “se arrependeu”. O santo sínodo excomungou Tolstoi. Tanto melhor. Este fato não será esquecido na hora em que o povo ajustar suas contas com os funcionários de batina, os policiais em Cristo, os santos inquisidores que alimentaram os pogrons judeus e outras explorações do bando tsarista dos Cem Negros.

Vede a apreciação sobre Tolstoi pelos jornais liberais. Eles estão à vontade em suas frases vazias, oficialmente liberais, desses lugares comuns universitários sobre “a voz da humanidade civilizada”, o “eco mundial unânime”, as “ideias da verdade, dobem”, etc., com as quais Tolstoi, com tanta energia — e tão justamente — estigmatizara a ciência burguesa. Eles não podem exprimir clara e francamente seu ponto de vista sobre as opiniões de Tolstoi concernentes ao Estado, Igreja, a propriedade territorial privada, o capitalismo — não pôr que a censura os impeça de fazer; pelo contrário, a censura permite-lhe sair desse embaraço! — mas porque cada afirmação na crítica feita por Tolstoi é uma bofetada no liberalismo burguês — porque o enunciado intrépido, franco, inexoravelmente áspero dos problemas os mais dolorosos, os mais amaldiçoados de nosso tempo, dá uma punhalada direta nas frases estereotipadas, nas caretas habituais, nas mentiras evasivas e “civilizadas” de nossa imprensa liberal (e liberal populista). Os liberais apoiam Tolstoi contra o sínodo — e, ao mesmo tempo, estão ao lado dos Viekhi com os quais “se pode discutir” mas com osquais “devemos” nos acomodar no seio do mesmo partido, os quais “devemos’’ trabalhar em conjunto em literatura e em política. Ora, os Viekhi recebem as cortesias de Antonio de Volkynie.

Os liberais põem em evidência a frase “Tolstoi foi uma grande consciência”. Não é essa uma frase vazia repetida de milhares de modos pela Novoie Vremia e todos os seus semelhantes? Não é ela uma escapatória aos problemas concretos da democracia e do socialismo apresentados por Tolstoi? Isso não coloca em primeiro plano aquilo que em Tolstoi exprime seus preconceitos e não sua razão, aquilo que nele pertença ao passado e não ao futuro, sua negação da política e sua pregação de autoaperfeiçoamento moral e não seu protesto veemente contra toda dominação de classe?

Tolstoi morreu e a Rússia de antes da revolução mergulhou no passado, a Rússia, cuja fraqueza e impotência são expressas na filosofia e foram descritas nas obras do artista genial. Mas, em sua herança, há muita cousa que não mergulha no passado, aquilo que pertence ao futuro. Essa herança o proletariado russo recolhe e, analisa. Ele explicará às massas dos trabalhadores e dos explorados 0 sentido da crítica tolstoiana do Estado, da Igreja, da propriedade territorial privada — não para que as massas se limitem ao seu autoaperfeiçoamento e aos suspiros invocando uma vida de acordo com Deus, mas para que se levantem e dêem um novo golpe na monarquia tsarista e nos proprietários territoriais que, em 1905, foram apenas ligeiramente arranhados e que é preciso exterminar. O proletariado russo explicará às massas a crítica do capitalismo feita por Tolstoi não para que as massas se limitem a maldizer o capital e o poder do dinheiro, mas para que elas aprendam a se apoiar, em cada passo de sua vida e de sua luta, sobre as conquistas técnicas e sociais do capitalismo, para que aprendam a unir num só exército de milhões de combatentes socialistas, que derrubarão o capitalismo e criarão uma nova sociedade sem miséria do povo, sem exploração do homem pelo homem.
(LENINE, L. N. Tolstoi, “in” Social Democrata, de 16 (29) de novembro de 1910; Obras, t. XIV, pgs. 400-403, ed. russa),

3. — L. N. TOLSTOI E O MOVIMENTO OPERÁRIO CONTEMPORÂNEO.

Os operários russos, em quase todas as grandes cidades da Rússia, Já reagiram diante da morte de L. N. Tolstoi, e manifestaram, de uma ou outra maneira, sua atitude para com o escritor que criou uma série de obras de arte tão notáveis que o colocaram entre os maiores escritores do mundo, para com o pensador que apresentou com uma força imensa, com convicção e sinceridade, numerosas questões a respeito dos aspectos fundamentais da atual ordem política e social. De modo geral, essa atitude encontrou sua expressão no telegrama mandado pelos deputados operários da III Duma e publicado nos jornais.(8)

L. Tolstoi começou sua atividade literária sob o regime de servidão, mas numa época em que esse regime vivia, manifestamente, seus últimos dias. A atividade principal de Tolstoi situa-se no período da história russa compreendido entre dois furacões, 1861 e 1905. Durante esse período, as marcas da escravidão, suas sobrevivências diretas impregnavam profundamente toda a vida econômica (principalmente nos campos) e política do país. Ao mesmo tempo, esse período foi marcado precisamente pelo crescimento rápido do capitalismo, por baixo, e sua introdução forçada, por cima.

Em que se manifestavam as sobrevivências da servidão? Primeiramente e de forma mais nítida, pelo fato de que na Rússia, país essencialmente agrícola, a agricultura encontrava-se nesse momento entre as mãos de camponeses arruinados, miseráveis que empregavam métodos de cultura atrasadas, primitivas, sobre os velhos lotes de terra da época da servidão, diminuídas em 1861 em beneficio dos fidalgos. Por outro lado, a agricultura encontrava-se entre as mãos dos fidalgos que, na Rússia Central, cultivavam as terras por meio do trabalho do camponês, da charrua camponesa, do cavalo camponês, em troca de “terras concedidas”, do direito de ceifar, dos bebedouros, etc. Na realidade, era o velho sistema econômico do tempo da servidão. Isso ressalta da organização do Estado até as primeiras tentativas para modificá-lo, em 1905, da influência preponderante dos nobres proprietários territoriais nos negócios do Estado e da onipotência dos funcionários recrutados principalmente — e sobretudo os de mais alta categoria — entre a nobreza rural.

Essa velha Rússia patriarcal começou, depois de 1861, a se deslocar rapidamente sob a influência do capitalismo mundial. Os camponeses esfomeados, dizimados, arruinados como nunca, fugiam para as cidades abandonando a terra. Estradas do ferro, fábricas e usinas se construíam num ritmo acelerado graças ao “trabalho barato” dos camponeses arruinados. O grande capital financeiro, o grande comércio e a grande indústria Progrediam na Rússia.

Foi justamente essa subversão rápida, penosa, aguda de todos os antigos “fundamentos” da velha Rússia, que se refletiu nas obras de Tolstoi artista e nas concepções de Tolstoi pensador.

Tolstoi conhecia perfeitamente a Rússia camponesa, a vida do proprietário de terras e do camponês. Seus trabalhos literatos, em que ele fez descrições dessa vida, se incluem entre as obras primas da literatura mundiais. A destruição violenta de todos os “antigos fundamentos” da Rússia aldeã aguçou sua atenção, aprofundou seu interesse pelos acontecimentos que se desenrolavam em torno dele, determinou uma rutura em toda sua concepção do mundo. Por seu nascimento e sua educação, Tolstoi pertencia à grande nobreza rural russa; rompeu com todas as opiniões correntes desse meio e, em suas últimas obras, levantou uma crítica apaixonada contra a ordem estabelecida no terreno político, eclesiástico, social o econômico, baseado sobre a escravização das massas, sobre sua miséria, sobre a ruína dos camponeses e dos pequenos proprietários em geral sobre a violência e a hipocrisia que, de alto a baixo, impregna toda nossa vida contemporânea.

A crítica de Tolstoi não é nova. Ele nada disse que não tivesse sido já expresso, muito antes dele, na literatura europeia e na literatura russa, por aqueles que se haviam colocado ao lado dos trabalhadores. Mas a originalidade da crítica de Tolstoi e sua importância histórica consistem em que ela traduz, com uma força da qual só os artistas de gênio são capazes, a transformação das ideias das mais amplas massas populares russas durante o período indicado, e precisamente da Rússia aldeã, camponesa. A crítica do regime atual em Tolstoi difere da crítica feita a esse mesmo regime pelos representantes do movimento operário contemporâneo porque Tolstoi se coloca num ponto de vista de ingênuo camponês patriarcal, porque Tolstoi transpõe a psicologia desse camponês, para sua crítica e sua doutrina. Se a crítica de Tolstoi se caracteriza por uma tal força de sentimento, por uma tal paixão, se ela é de tal maneira persuasiva, franca, sincera, intrépida em seu desejo de “ir até à raiz” de encontrar a causa verdadeira das desgraças das massas, é que essa crítica reflete efetivamente uma mudança nas opiniões de milhões de camponeses que acabam de sair da servidão e de conquistar a liberdade e que se apercebem que essa liberdade significa novos horrores a ruína e a morte pela fome, a vida sem abrigo entre os que lutam pela vida nas cidades, etc. Tolstoi reflete o estado de espírito com uma tal fidelidade, que introduziu, na sua doutrina, a ingenuidade deles, seu afastamento da política, seu misticismo, o desejo de fugir do mundo, a “não resistência ao mal”, as maldições impotentes contra o capitalismo e o “poder do dinheiro”. O protesto de milhões de camponeses e seu desespero, eis o que se fundiu na predicação de Tolstoi.

Os representantes do movimento operário contemporâneo acham que têm o direito de protestar, mas que não têm nenhuma razão para desesperar. O desespero é próprio das classes agonizantes, enquanto que a classe dos trabalhadores assalariados cresce, se desenvolve, se fortifica inelutavelmente em toda a sociedade capitalista, na Rússia como em toda parte. O desespero é próprio daqueles que não compreendem as causas do mal, que não vêm uma saída, que são incapazes de lutar. O proletariado industrial contemporâneo não pertence a essas classes.
(LENINE, L. N. Tolstoi e o Movimento Operário Contemporâneo “in” Nach Pout (Nosso Caminho), de 28 de novembro (11 de dezembro) de 1910. Obras, tomo XIX, p. 404-406, ed. russa).

4. — TOLSTOI E A LUTA PROLETÁRIA.

Com uma força e uma sinceridade imensas, Tolstoi estigmatizou as classes dominantes; desmascarou com uma extrema nitidez a mentira interior de todas as instituições, graças quais a sociedade atual se mantém: a Igreja, a justiça, o militarismo, o casamento “legal”, a ciência burguesa. Entretanto, sua doutrina encontrou-se em contradição completa com a vida, o trabalho e a luta do proletariado, coveiro do regime atual.

Qual o ponto de vista que se refletiu na pregação de Leon Tolstoi? Por sua boca, falava essa massa do povo russo, esses milhões de homens que já odiavam os senhores da vida atual; mas que não tinham ainda atingido à luta consciente e consequente contra estes últimos, luta travada até o fim o sem piedade.

A história e o rumo da grande revolução russa demonstraram que essa foi precisamente a massa que se encontrava entre o proletariado socialista consciente e os defensores resolutos do antigo regime. Essa massa — principalmente a camponesa — demonstrou, durante a revolução, como era grande seu ódio contra o antigo estado de coisas, como sentia vivamente todo o peso do regime atual, como era vasta sua tendência espontânea para se desvencilhar desse regime e encontrar uma vida melhor.

Ao mesmo tempo, essa massa demostrou durante a revolução que era insuficientemente consciente em seu ódio, inconsequente em sua luta, estreitamente limitada em sua procura de uma vida melhor.

O grande oceano popular, agitado até o mais profundo de si mesmo, refletiu-se no ensinamento de Tolstoi com todas as suas fraquezas e todas as suas forças.

Estudando as obras artísticas de Leon Tolstoi, a classe operária russa conhecerá melhor seus inimigos, enquanto que, vendo claro na doutrina de Tolstoi, todo o povo russo deverá compreender em que consistiu sua própria fraqueza que o impediu de realizar até o fim a obra de sua libertação. Isso é preciso ser compreendido para marcharmos para a frente.

Esta marcha para a frente está entravada por todos aqueles que decretaram que Tolstoi é a “consciência comum”, o “senhor da vida”. É uma mentira difundida conscientemente pelos 1iberais desejosos de utilizar o lado contrarrevolucionário dos ensinamentos de Tolstoi. Essa mentira sobre Tolstoi, “senhor da vida”, é repetida, depois dos liberais, por alguns artigos social-democratas.

O povo russo não obterá sua libertação senão quando tiver compreendido que deve aprender a lutar por uma vida melhor, não com Tolstoi, mas com a classe cuja importância Tolstoi não compreendia e que é a única classe capaz de destruir o velho mundo que Tolstoi odiava: a classe do proletariado.
(LENINE, Tolstoi e a Luta Proletária, “in” Rabotchaia Gazeta (O Jornal Operário) de 18 (31) de dezembro de 1910. Obras, t. XIV, pgs. 407-408, ed. russa).

5. — OS HERÓIS DA “PEQUENA RESERVA”.

O décimo número da revista de Potressov e Cia., Nacha Zaria, que acabamos de receber, dá modelos de tal maneira espantosos de inconsciência ou mais exatamente da ausência de princípios na apreciação sobre Leon Tolstoi, que é indispensável examiná-lo imediatamente, mesmo que seja em rápida análise.

Vejamos o artigo de V. Bazaros, o novo recruta do exército de Potressov. A redação não está de acordo com “certas afirmações” desse artigo, sem indicar, naturalmente, quais são essas afirmações. É muito mais cômodo agir assim para esconder a confusão! No que nos concerne, é-nos difícil indicar as afirmações desse artigo que não indignariam um homem, menos fiel que seja, ao marxismo.

Nossos intelectuaisescreve Bazarov — esmagados e de fisionomia abatida, transformados numa espécie de informe geleia intelectual e moral chegados ao último limite da decomposição moral reconheceram unanimemente Tolstoitodo Tolstoi — como sua consciência.”

Isso é falso. Isso não passa de uma frase. Nossos intelectuais em geral e os intelectuais de Nacha Zaria em particular parecem muito com “pessoas abatidas” mas não exprimiram e não podiam exprimir nenhuma “unanimidade” na apreciação de Tolstoi, nunca fizeram e não poderiam fazer apreciação justa sobre todo Tolstoi. E é precisamente a ausência de unanimidade que se dissimula atrás da frase sobre a “consciência” particularmente hipócrita, inteiramente digna do Novoi Vremia. Bazarov não luta contra a “geleia”; ele favorece a geleia.

Bazarov deseja lembrar certas injustiças (!!) feitas a Tolstoi e das quais são culpados os intelectuais russos em geral e nós outros “radicais de diversas tendências, em particular”. A única coisa verdadeira aí é que Bazarov, Potressov e Cia. são precisamente “radicais de diversas tendências”, dependentes de tal maneira da “geleia” geral que, no momento em que se silenciam, de maneira a mais imperdoável, as inconsequências e as fraquezas fundamentais da concepção do mundo, de Tolstoi, correm atrás de “todo mundo” clamando contra a “injustiça” feita a Tolstoi. Não querem embriagar-se “com a narcótico muito difundido entre nós” a que Tolstoi chama a “fúria da discussão”, — são esses precisamente os discursos e as atitudes exigidas pelos pequeno-burgueses que dão as costas, com um desdem infinito, a toda discussão, por motivo de princípios afirmados de maneira integral e consequente.

A força principal de Tolstoi consiste justamente em que, tendo passado por todas as escalas da decomposição típica nas pessoas instruídas de hoje, soube encontrar sua síntese...”

É falso. A síntese é precisamente aquilo que Tolstoi não soube ou melhor não pôde encontrar nem nos fundamentos filosóficos de sua concepção do mundo, nem em seus ensinamentos sociais e políticos.

Tolstoi, foi o primeiro (!) a objetivar, quer dizer, criou não somente para si, mas também para os outros, essa religião ‘puramente humana’ (grifado pelo próprio Bazarov) na qual Comte, Feuerbach e outros representantes da cultura contemporânea só poderiam sonhar subjetivamente, etc., etc..”

Tais palavras são piores que o espírito habitual pequeno-burguês. É enfeitar “geleia” com flores artificiais o que só pode induzir indivíduos a erro. Há mais de meio século, Feuerbach, não sabendo “encontrar a síntese” de sua concepção do mundo, que representava sob vários aspectos a “última palavra” da filosofia clássica alemã, atrapalhou-se nesses “sonhos subjetivos” cuja significação negativa, desde muito tempo, foram apreciados pelos “representantes” verdadeiramente progressistas da “cultura contemporânea”. Declarar agora que Tolstoi “foi o primeiro a objetivar” esses “sonhos subjetivos” é passar para o campo daqueles que reclamam, é lisonjear o espírito dos pequeno-burgueses, é cantar no mesmo tom que os Viekhi.

Está claro que o movimento (!?) fundado por Tolstoi deve sofrer modificações profundas se for realmente chamado a desempenhar um papel histórico importante em escala mundial: a idealização das formas patriarcais da vida camponesa, a propensão para a economia natural e muitos outros traços utópicos do tolstoísmo que, na hora atual são colocados (!) no primeiro plano e parecem o essencial constituindo na realidade precisamente os elementos subjetivos que não estão ligados com os necessários fios aos fundamentos da ‘religião’ tolstoiana.”

Assim Tolstoi “objetivou” os “sonhos subjetivos” de Feuerbach e o fato de que Tolstoi tenha refletido em suas obras artísticas e em seus ensinamentos cheios de contradições, as particularidades econômicas da Rússia do último século, notadas por Bazarov, eis “precisamente os elementos subjetivos” de sua doutrinação. É o que se chama confundir alhos com bugalhos, Mas é verdade que para “os intelectuais esmagados e de fisionomia abatida” (etc., como dissemos atrás), não há nada de mais agradável, de mais desejável, de mais caro, nada que mais estimule o seu abatimento que essa exaltação dos “sonhos subjetivos” de Feuerbach “objetivados” por Tolstoi e esses esforços para desviar a atenção dos problemas históricos, econômicos e políticos concretos que, “na hora atual, passaram ao primeiro plano!!”

É compreensível que Bazarov não goste, principalmente, da “crítica violenta” que a doutrina da não resistência ao mal provocou “da parte dos intelectuais radicais”. Para Bazarov. “está claro que não se pode tratar aqui de passividade nem de quietismo”. Explicando seu pensamento, Bazarov se refere ao conto muito conhecido “Ivan o imbecil” e convida o leitor a

...imaginar somente que não é o tsar de Tarakhan que envia os soldados contra os imbecis mas seu próprio soberano Ivan, que se fez mais inteligente; que, com o auxílio desses soldados, recrutados enfiei os próprios imbecis e por consequência próximos deles por seu temperamento. Ivan quer obrigar seus súditos a executar alguma injusta exigência. É de todo evidente que os imbecis estando quase desarmados e não conhecendo a arte militar, não podem sequer sonhar com a vitória “física” sobre os exércitos de Ivan. Mesmo com a condição da mais enérgica “resistência pela força”, os imbecis podem vencer Ivan, não pela ação física mas somente moral, isto é, por aquilo que se chama a “desmoralização” dos soldados do exército de Ivan... “A resistência dos imbecis pela força obtém o mesmo resultado (apenas menos bem conduzida e com mais vítimas,) que a resistência sem o emprego da força...” “A não resistência ao mal pela força, ou de maneira mais geral, a harmonia entre o meio e o fim (!) não é de modo algum uma ideia exclusiva dos apóstolos da moral fora da vida social. Esta ideia constitui uma parte integrante, indispensável, de toda concepção do mundo consequente.”

Assim raciocina o novo recruta do exército de Potressov, Não podemos aqui analisar seus raciocínios e basta, talvez, pela primeira vez, reproduzir simplesmente o essencial e acrescentar-lhe estas palavras: é puro “viekhismo”.

Os acordes finais da cantoria desenvolvem o tema de que ninguém pode ser maior do que é;

“É inútil representar nossa fraqueza como uma força, como uma superioridade sobre o ‘quietismo’ e ‘o bom senso limitado’ (e sobre a inconsequência dos raciocínios?) de Tolstoi. Não se deve dizê-lo, não somente porque é contrário à verdade, mas ainda porque isso nos impede de colher ensinamentos com o maior homem de nosso tempo.”

Muito bem, muito bem. Apenas é inútil vos aborrecer, senhores, e responder com uma bravata ridícula e com injúrias (como Potressov nos números 8-9 de Nacha Zaria) desde que os Izgoev, vos abençoam, vos aplaudem e vos afagam. Nem os antigos nem os novos combatentes do exército de Potressov podem apagar as marcas desses afagos.

O estado-maior desse exército fez acompanhar o artigo de Bazarov de uma pequena reserva “diplomática”. Mas o artigo de fundo de Nevedomski, publicado sem nenhuma reserva, não é melhor que o outro.

“Tendo recolhido — escreve o tribuno dos intelectuais contemporâneos e interpretado de maneira perfeita as aspirações e as tendências fundamentais da grande época da queda da escravidão na Rússia. Léon Tolstoi ficou também a mais pura, a mais perfeita representação do princípio ideológico humano, ‘o principio da consciência’.”

Hum, hum, hum... Tendo recolhido e representado de modo perfeito as maneiras fundamentais de declamação próprias aos publicistas liberais burgueses, Navedomski ficou também a representação a mais pura, a mais perfeita do princípio ideológico humano universal, — o princípio da parlapatice.

“Ainda uma narração, a última.”(9)

“Diante de todos esses admiradores europeus de Tolstoi, todos esses Anatole France de diversos nomes, dessas Câmaras de Deputados que, ultimamente, se pronunciaram por enorme maioria contra a abolição da pena de morte e que agora homenagearam de pé a memória do grande homem feito de um só bloco, diante de todo esse reinado de soluções intermediárias, de inconsequências, de reservas — com que majestade, com que vigor se levanta diante de nós, fundido num só metal puro, a imagem desse Tolstoi, dessa representação viva de um princípio único.”

Uf! Ele fala bem — entretanto tudo isto é falso. Não foi num metal, nem num metal único, nem num metal puro que se forjou a figura de Tolstoi. E “todos esses admiradores burgueses “honraram” sua memória não justamente porque ele fosse “feito de um bloco” mas justamente porque não o foi.

Nevedomski só deixou escapar, malgré lui, uma pequenina palavra justa. Essa palavrinha — reserva — descreve aqueles senhores de Nacha Zaria tão bem quanto lhes descreve a característica mencionada atrás, dos intelectuais de Bazarov. Temos diante de nós, exclusivamente, heróis da “pequena reserva”. Potressov fez reservas indicando que não está de acordo com os machistas(10) se bem que os defenda. A redação faz reservas indicando que não está de acordo com “certas afirmações” de Bazarov, se bem que seja evidente para todos que não se trata de certas afirmações. Potressov faz reservas, indicando que Izgoev caluniou-o. Martov faz reservas, indicando que não está inteiramente de acordo com Potressov e Levitski, se bem que sejam estes precisamente aqueles a quem, ele serve fielmente em política. Todos juntos fazem reservas, indicando que não estão de acordo com Tcherevanine, se bem que aprovem muito mais seu segundo livro liquidacionista, acentuando o “espírito” de seu primeiro produto. Tcherevanine faz reservas, indicando que não está de acordo com Maslov. Maslov faz reservas, indicando que não está de acordo com Kautski.

Todos juntos não estão de acordo senão sobre seus desacordos com Plekhanov e sobre o fato deste acusá-los caluniosamente de ser liquidacionistas, sendo ele próprio incapaz, escutando-os, de explicar suas relações atuais com os adversários da véspera.

Não há nada de mais simples do que a explicação dessa aproximação incompreensível para os homens de reservas, Quando tínhamos uma locomotiva, estávamos em desacordo violento sobre a questão de saber se a rapidez, digamos, de 25 ou 50 verstas por hora, correspondia à solidez dessa locomotiva, ao abastecimento em combustível, etc. A discussão sobre esta questão, como sobre toda questão que apaixona profundamente, era travada com ardor e algumas vezes com irritação. Esse debate — em todos os pontos em que aparecia — se desenrolava à luz do sol, aberta para todos, tudo era dito até o fim, sem ser desfigurado por qualquer “pequena reserva”. E não ocorreu ao espírito de nenhum de nós retirar fosse o que fosse ou chorar com a “fúria da discussão”. Mas, quando a locomotiva sofreu uma avaria, quando caiu num pântano cercada de intelectuais “que fazem reservas”, que guincham covardemente porque não há “nada mais a liquidar”, porque a locomotiva não mais existe, então nós, “discutidores furiosos” da véspera, unimo-nos por uma causa comum. Sem renunciar a nada, sem nada esquecer, sem fazer nenhuma promessa quanto ao desaparecimento dos desacordos, servimos juntos à causa comum. Empregamos toda nossa atenção e todos nossos esforços para reerguer a locomotiva do pântano, para concertá-la, para torná-la mais sólida, mais resistente, para colocá-la nos trilhos — quanto à sua velocidade e à mudança desta ou daquela agulha teremos tempo de discutir em momento oportuno. A tarefa do dia nos tempos difíceis é criar alguma cousa que seja susceptível de replicar aos homens “que fazem reservas” e aos “intelectuais de fisionomia abatida”, que sustentam direta e indiretamente a “geleia” reinante. A tarefa do dia é extrair os minerais, mesmo nas condições mais difíceis, temperar o foro, forjar o aço da concepção marxista do mundo e das superestruturas que correspondem a essa concepção do mundo.
(LENINE, Os Heróis da Pequena Reserva, “in” Mysl (O Pensamento) de dezembro de 1910; Obras, t. XV, pgs. 50-54, ed. russa).

6. — L. N. TOLSTOI E SUA ÉPOCA,

A época, a que pertence L. Tolstoi e que está refletida com notável relevo em suas obras artísticas geniais como em sua doutrina, vai de 1881 a 1905. Sem dúvida, a atividade literária de Tolstoi começou antes desse período e terminou antes do seu fim; entretanto, L. Tolstoi formou-se definitivamente como artista e como pensador, precisamente no decorrer desse período, cujo caráter de transição determinou todos os traços característicos da obra de Tolstoi e do “tolstoianismo”.

Pela boca de C. Levine, em Ana Karenine, L. Tolstoi exprimiu com extrema nitidez em que consistira a história russa durante esse meio século.

...As conversas sobre a colheita, sobre recrutamento dos operários, etc., que estava combinado, como Levine sabia, considerar como alguma cousa de muito baixo... pareciam-lhe naquele momento as únicas importantes. Isso não teve talvez importância na Inglaterra sob a servidão. Nos dois casos, as próprias condições são fixadas; mas, entre nós, na hora atuar quando tudo isso foi subvertido e tudo se procura organizar, o problema de saber de que maneira se formarão essas condições é o único problema importante na Rússia, pensava Levine.”(11)

“Entre nós, na hora atual, quando tudo isso foi subvertido e procura organizar-se”, é difícil de imaginar uma característica mais justa do período que vai de 1861 a 1905. O que foi “subvertido” é muito conhecido de toda a Rússia ou, pelo menos, lhe é perfeitamente familiar. É a servidão e toda a “antiga ordem” que lhe correspondia. O que ‘‘procura organizar-se” é totalmente desconhecido da maior massa da população, é-lhe estranho, incompreensível. É o regime burguês que “procura organizar-se”. Tolstoi imagina esse regime vagamente sob a forma de um fantasma: a Inglaterra. Sim, um fantasma, porque Tolstoi rejeita, — pode-se dizer que por princípio, — toda tentativa de esclarecer os traços fundamentais do regime social, dessa “Inglaterra”, a ligação desse regime com a dominação do capital, o papel do dinheiro, o aparecimento e o desenvolvimento das trocas. Assim como os populistas, ele se recusa a ver, fecha os olhos, dá as costas ao pensamento de que aquilo que se “organiza” na Rússia não é mais do que o regime burguês.

É exato que, do ponto de vista das tarefas imediatas de toda atividade social e política na Rússia, no decorrer do período de 1861 a 1905 (como nos tempos presentes) um dos problemas mais importantes, senão “o único importante”, era o de saber “como se ia organizar” esse regime, o regime burguês, o qual toma formas extremamente variadas na “Inglaterra”, na Alemanha, na América, na França, etc. Mas para Tolstoi essa maneira precisa, concretamente histórica, de apresentar a questão é alguma cousa inteiramente estranha. Ele raciocina de madeira abstrata, não admite senão o ponto de vista dos princípios “eternos” da moral, das verdades eternas da religião, sem se dar conta que esse ponto de vista é apenas um reflexo ideológico do antigo regime (“subvertido”) do regime da servidão, do modo de vida dos povos orientais.

Em Lucerna (escrito em 1857), L. Tolstoi declara que o reconhecimento daquilo de que a “civilização” constitui um benefício, é um “conhecimento imaginário” que “destrói as necessidades instintivas, felizes, primitivas do bem, que a natureza humana experimenta”. “Só temos um só, nada mais que um único guia infalível, — diz Tolstoi —, o Espírito Universal do qual somos impregnados.”(12)

Na Escravidão de nosso tempo (escrito em 1900), Tolstoi, repetindo com maior zelo ainda esses apelos ao Espirito Universal, proclama que a economia política é uma “falsa ciência” porque escolhe para “modelo” a “pequena Inglaterra que se encontra numa situação toda excepcional”, em lugar de tomar como exemplo “a situação dos homens do universo inteiro durante todo o período histórico”. Qual é esse “universo inteiro”, sabemos no artigo “O progresso e a definição da instrução” (1862). Tolstoi refuta a opinião dos historiadores, segundo os quais “o progresso seria lei geral da humanidade” por uma referência a “tudo aquilo que se convencionou chamar o Oriente” (t. IV, pg. 162). “Não existe, declara Tolstoi, lei geral do movimento antes da humanidade, como nos provam os povos imóveis do Oriente”.

É justamente a ideologia de ordem oriental, asiática, que representa o tolstoísmo em seu conteúdo histórico real. Daí o ascetismo e a não resistência ao mal pela violência e as notas de um profundo pessimismo e a convicção de “tudo é nada, tudo é nada material”. (Do sentido da vida, pg. 52) e a fé no “Espirito”, “princípio de todas as coisas” em relação ao qual o homem é apenas um “trabalhador” entregue à obra de salvação de sua alma”, etc, Tolstoi permanece fiel a essa ideologia na Sonata de Kreutzer, igualmente, quando diz: “A emancipação da mulher não se faz nas universidades, nem nos Parlamentos, mas no quarto de dormir” e num artigo de 1862 em que proclama que as universidades só preparam “liberais azedos e doentes”, “com os quais o povo nada tem a fazer”, “arrancados inutilmente de seu antigo ambiente”, que “não encontrarão seu lugar na vida”, etc. (T. IV, pgs. 136-137).

O pessimismo, a não resistência, o apelo ao “Espirito”, éuma ideologia que aparece inevitavelmente numa época em que todo o antigo regime “foi subvertido” e em que a massa educada sob o antigo regime e tendo sugado com o leite materno os princípios, os hábitos, as tradições, as crenças, não vê, não pode ver, qual o novo regime que se “organiza”, que forças sociais se “disciplinam” e como, que forças são capazes de libertá-la dos inúmeros males, particularmente agudos, próprios das épocas de transformações violentas.

O período de 1862 a 1904, justamente, foi uma época de transformação violenta na Rússia; a antiga ordem de coisasdesmoronava-se para sempre aos olhos de todos, e a nova ordem procurava organizar-se, enquanto que forças sociais trabalhavam para essa transformação manifestando-se, pela primeira vez, em escala nacional, por uma ação declarada de massas nos domínios os mais diversos, somente em 1905. Os acontecimentos de 1905 na Rússia foram seguidos pelos acontecimentos análogos em toda uma série de Estados desse mesmo “Oriente”, cuja “imobilidade” Tolstoi evocava em 1862. O ano de 1905 marcou o começo do fim da imobilidade “oriental”. É precisamente por isso que esse ano pôs um termo histórico ao tolstoísmo, um fim a toda essa época que tinha podido e tinha sabido engendrar a doutrina de Tolstoi, não como um fenômeno individual, não como um capricho ou um desejo de originalidade, mas como ideologia das condições de existência nas quais se acharam, realmente, milhões e milhões de homens durante um certo lapso de tempo.

O ensinamento de Tolstoi é, sem dúvida, utópico e, pelo seu conteúdo reacionário, no sentido o mais preciso e o mais profundo desse termo. Mas não está absolutamente subentendido que essa doutrina não seja socialista nem que ela não contenha elementos críticos próprios a fornecer materiais preciosos para a instrução das classes avançadas.

Há socialismo e socialismo. Em todos os países em que prevalece o modo de produção capitalista, há um socialismo que exprime a ideologia da classe destinada a substituir a burguesia e há um socialismo que corresponde à ideologia das classes que a burguesia substituiu. O socialismo feudal, exemplo, se coloca nesta última categoria e o caráter de um tal socialismo foi, desde há muito tempo, há mais de sessenta anos, definido por Marx, ao mesmo tempo que as outras variedades do socialismo.

Outra coisa: os elementos criticos são próprios da doutrina utópica de L. Tolstoi tanto quanto são próprios a numerosos sistemas utópicos. Não se deve esquecer entretanto a profunda observação de Marx de que a importância desses elementos criticos no socialismo utópico “está na razão inversa do desenvolvimento histórico”(13). Quanto mais se desenvolve a atividade das forças sociais que “organizam” a nova Rússia e aliviam os males sociais atuais, tanto mais esta atividade adquire um caráter definido e mais depressa o socialismo critico e utópico “perde todo sentido prático e toda justificação teórica”.

Há um quarto de século, os elementos criticos da doutrina de Tolstoi podiam às vezes ser úteis na prática a certas camadas da população, apesar dos traços reacionários e utópicos do tolstoísmo. No decorrer dos últimos anos, digamos da ultima década, não foi assim, porque o desenvolvimento histórico fez um passo à frente considerável desde os anos 80 até o fim do último século. Mas, em nossos dias, depois de toda uma série de acontecimentos já indicados, terminou a imobilidade “oriental” de nossos dias, onde as ideias conscientemente reacionárias dos Viekhi — reacionários no sentido estreito de classe e dos interesses egoístas de classe — se foram amplamente difundindo entre a burguesia liberal, quando essas ideias confinaram uma parte mesmo dos pretensos marxistas, dando nascimento a corrente “liquidacionista”; — atualmente toda tentativa para idealizar a doutrina de Tolstoi, justificar ou atenuar sua “não resistência”, suas invocações ao “Espírito”, seus apelos a um “autoaperfeiçoamento moral”, sua doutrina da “consciência” e do ‘‘amor” universais, sua pregação de ascetismo e de pietismo, etc., é muito direta e muito profundamente nociva.
(LENINE, L. N. Tolstoi e sua Época, “in” Zveda (A Estrela, de 22 de janeiro (4 fevereiro) 1911; Obras, t. XV, pgs. 100- 103, ed. russa).

continua>>>

Notas de rodapé:

(1) Conferência de Jaurès sobre Tolstoi, realizada em Toulouse, 10 de fevereiro de 1911. (retornar ao texto)

(2) Advogado palrador e sem princípios dos Colóquios raciocinantes de Chtchedrine. (retornar ao texto)

(3) O Discurso, jornal do partido dos cadetes. (retornar ao texto)

(4) A doutrina de Tolstoi num sentido pejorativo. (retornar ao texto)

(5) No texto: “o yourodivy em Cristo”. Os yourodivys eram inocentes de aldeia considerados tantos pelo povo. (retornar ao texto)

(6) Verso do poema de Nekrassov: Aqueles Para Quem a Vida é Boa na Rússia. (retornar ao texto)

(7) Trata-se da reforma agraria de 1861. (retornar ao texto)

(8) Eis o texto do telegrama: “A facção social-democrata da Duma do Império, interprete dos sentimentos do proletariado russo e internacional, está profundamente consternada com o desaparecimento do artista genial, do lutador intransigente e invectivo contra a Igreja oficial, do inimigo do arbitrário e da escravização, que levantou sua voz contra a pena de morte e que era o amigo dos perseguidos”. (retornar ao texto)

(9) Verso célebre de Pouchkine em Boris Godounov, que abre a cena em que o monge Pimen escreve a história da Rússia. (retornar ao texto)

(10) Partidários de Mach (1838-1916), físico austríaco, com Avenarius, do empirocriticismo, filósofo e idealista, que Lenine combateu vigorosamente em sua obra: Materialismo e Empirocriticismo (1908). (retornar ao texto)

(11) Tolstoi: Obras, t. X (ed. russa). (retornar ao texto)

(12) Tolstoi: Obras, t. X (ed. russa). (retornar ao texto)

(13) Marx-Engels: Manifesto do Partido Comunista, O Socialismo e o Comunismo Crítico-Utópico, p, 39, B. E. 1935. (retornar ao texto)

Inclusão 03/07/2019