Discurso na Conferência dos Secretários das Organizações Rurais do Komsomol da Região de Moscou

M. I. Kalinin

26 de Fevereiro de 1942


Primeira Edição: Komsomólskaia Pravda’’, “A Pravda do Komsomol”), 3 de março de 1942.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág:139-145.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos. Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML:
Fernando A. S. Araújo.
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Camaradas! Vossa conferência tem um objetivo concreto: ver a melhor maneira de preparar-se para os trabalhos agrícolas da primavera, de realizar a semeadura da primavera. Em relação a isto apresentam-se tarefas muito importantes aos membros do Komsomol. Na aldeia os komsomóis constituem uma grande fôrça. Se se organizar essa fôrça, se a organização do Komsomol no kolkhoz conseguir encabeçar não só a juventude, mas também os kolkhozianos adultos, conseguirá êxitos indiscutíveis na semeadura da primavera.

É claro que não é só o Komsomol quem vai se ocupar da preparação e da realização das semeaduras de primavera. Também se ocuparão disto as organizações do Partido e dos Soviets. Mas como atribuímos uma grande importância à boa realização das semeaduras, queremos que se mobilizem todas as organizações sociais, incluindo o Komsomol.

... Estamos em época de guerra. Não creio estar enganado ao dizer que no campo todos desejam a derrota dos alemães.

Mas limitar-se a querê-lo é pouco, é o mesmo que não fazer nada. Se se quiser que os alemães sejam derrotados, é preciso aniquilá-los com fatos e não com palavras. E se nos referimos à região de Moscou, devemos dizer sem rodeios que quem quiser participar da vitória sobre os invasores fascistas alemães tem que semear a maior quantidade possível de batatas.

É claro que pode acontecer que uma camponesa vos pergunte: Mas como vou aniquilar os alemães com batatas?” É possível haver quem pense assim. Pois bem, vós, os moços do Komsomol, deveis explicar aos kolkhozianos que o enorme Exército Vermelho — que luta contra os invasores alemães e avança com exito para o Oeste — deve ser bem alimentado e abastecido de todo o necessário. Vós mesmos compreendeis que o homem que está no exercito sofre muitas privações e adversidades. O combatente passa os dias e as noites sob a gélida intempérie, metido nas trincheiras. Para que tenha fôrças e energias, para que tenha sempre vontade de lutar, para que tenha bom moral, é preciso proporcionar-lhe comida nutritiva e saborosa. Se fosseis mantidos dois ou três dias sem comer e em seguida se organizasse uma corrida ou vos propusessem uma partida de futebol, diríeis todos: “Não posso correr” ou “que péssimo craque serei eu”. Por conseguinte, devemos dar ao combatente comida nutritiva, boa e saborosa. Temos que proporcionar em abundância os produtos necessários ao nosso exército. Devemos proporcionar mais carne ao exército e à população. A batata é um bom alimento para os porcos, e quanto mais porcos cevarmos, mais carne receberão o exército e a população.

Este ano, quando nos encontramos em guerra, as semeaduras da primavera devem realizar-se de modo exemplar e no prazo mais curto possível. Com uma semeadura bem feita, devemos assentar a base de uma abundante colheita.

Por conseguinte, camaradas do Komsomol, deveis esmerar-vos para que as semeaduras da primavera sejam bem feitas, e que, em primeiro lugar, seja cumprido o plano e se aproveite ao máximo todo pedaço de terra livre. Essa é a tarefa. Eu diria inclusive que essa tarefa deve converter-se em lei para todo cidadão soviético. Essa é a primeira tarefa, camaradas. A segunda, é a de conseguir a máxima colheita, a de obter da terra tudo o que ela é capaz de dar. Por isso a qualidade dos trabalhos agrícolas da primavera deve assegurar o êxito da colheita. E vós, camaradas do Komsomol, deveis fazer tudo o que esteja ao vosso alcance para lançar as bases duma abundante colheita mediante a realização exemplar da semeadura da primavera. Não vou falar aqui do que e preciso fazer para isso. Vós sois kolkhozianos e o sabeis tão bem quanto eu.

Em resumo, tendes duas tarefas fundamentais. A primeira: semear o mais possível; a segunda: assegurar uma abundante colheita. E isso, camaradas, será a expressão de vosso serviço à Pátria, de vossa ajuda à frente, de vossa mais eficaz participação na luta contra o fascismo.

Alguns camaradas disseram aqui que os jovens do Komsomol fazem muito para a preparação das semeaduras da primavera, que procuram preparar bem os kolkhozes para as fainas da primavera. Isto está muito bem. Tudo isso é digno de louvor, mas eu acredito que alguns membros do Komsomol tratam de suprir as funções dos presidentes dos kolkhozes.

Vós dizeis: faltava-nos isto e aquilo; saímos a procurar, conseguimos, obtivemos o que faltava em troca de outras coisas. E que fazia o presidente do kolkhoz? Estava sentado, aquecendo- -se ao lado da estufa? É preciso que o presidente trabalhe mais. Vossa missão é ajudar, pressionar, estimular, não deixar as pessoas em paz, aguilhoá-las como se fosseis marimbondos, pois quando um marimbondo crava seu aguilhão em alguém, este se move a toda a pressa.

Mas qual é o resultado? Vós fareis tudo e o presidente se deixará ficar tranquilamente sentado, dizendo para si mesmo: os outros que façam por mim.

Lembrai-vos, camaradas do Komsomol, que existem dois modos de dirigir ou de participar na organização, na agitação e na propaganda.

Um desses modos é o de fazer tudo sozinho. Há membros do Komsomol que tudo fazem eles mesmos: dirigem a biblioteca do kolkhoz, convocam as reuniões, pronunciam conferências, fazem a propaganda para atrair novos membros aos kolkhozes e recolhem as contribuições. Numa palavra: uma só pessoa faz tudo e está ocupada desde a manhã até a noite, enquanto outros do Komsomol, que convivem com ela, não têm nenhuma incumbência. Isto costuma acontecer entre nós, e o trabalho parece avançar um pouco; mas julgo, camaradas, que a fôrça do organizador não só deve consistir em que ele mesmo trabalhe, mas em que faça trabalhar os demais, em que os faça seguir seu exemplo. Se pudéssemos supor que eu fosse um Komsomol (claro que isso já não pode ser) (Risos.) e chegasse a um kolkhoz, de nenhum modo eu me poria a fazer tudo eu mesmo, mas procuraria realizar todo o trabalho com a ajuda das pessoas do kolkhoz, para que cada um tivesse uma missão, uma incumbência, numa palavra, para que todos trabalhassem. E ainda mais, se eu observasse que um Komsomol somente figurava de nome na organização, mas não realizava trabalho nenhum, trataria de dar-lhe tarefas com mais frequência. “Tenha a bondade de fazer isto e aquilo” — dir-lhe-ia. E comprovaria com frequência o que fez e como trabalhou.

Só assim é que podemos trabalhar com êxito. Tende presente, camaradas, que quando são muitos os que trabalham, quando cada pessoa tem algo a fazer, quando o trabalho geral do Komsomol se distribui entre todos os seus membros, então, é claro que o trabalho marcha melhor. Pois dez pessoas realizarão mais e melhor trabalho do que uma só.

A agrupação orgânica da juventude não pode realizar-se unicamente sobre uma base ideológica. Os jovens nem sempre ingressam no Komsomol por suas convicções ideológicas. É claro que no fundamental a juventude acorre ao Komsomol por motivos ideológicos, compreendendo que essa organização é o primeiro e mais próximo auxiliar do Partido; mas existem jovens que quando ingressam no Komsomol têm ainda uma preparação ideológica débil e não veem com clareza o conteúdo ideológico do trabalho do Komsomol. Pois bem, para que estes novos membros do Komsomol também se convertam em pessoas de ideias e convicções é preciso trabalhar muito com eles. É preciso que os jovens se habituem ao Komsomol, que a organização do Komsomol se converta para eles numa parte de sua existência, de sua vida diária. Para isso é que se torna necessário que todos os dias façam alguma coisa. No trabalho prático o homem se educa, se desenvolve, se fortalece como organizador, se eleva no terreno ideológico. Esta é a razão pela qual cada jovem Komsomol deve dedicar-se a um trabalho prático, deve realizar constantemente algum trabalho pelo qual responda perante a organização do Komsomol. Unicamente dentro do trabalho harmônico da coletividade é que poderemos educar bons organizadores, bons trabalhadores.

Por que ocorre com frequência o seguinte fenômeno em nossos kolkhozes: enquanto tem um bom presidente, o kolkhoz prospera; quando esses presidente se vai e em seu lugar colocam um moleirão, depois de um ano o kolkhoz fica tão ruim que não há quem o reconheça?

A única razão disto é que não se fez com que os kolkhozianos participassem dos assuntos práticos.

Por isso, se vós, do Komsomol, quereis chegar a ser verdadeiros organizadores no kolkhoz, além de prestar vossa ajuda aos trabalhos, deveis ser bons organizadores, deveis acompanhar de perto o trabalho dos chefes de brigada, do presidente, dos kolkhozianos, ajudá-los, estimular os stakhanovistas do trabalho kolkhoziano, censurar e repreender os kolkhozianos negligentes. É preciso que os jovens do Komsomol exerçam uma influência social no kolkhoz e que não se comportem como administradores.

Compreendereis a diferença que existe entre a ação administrativa e a influência social. Suponhamos que celebrais uma reunião aberta do Komsomol na qual fustigais à vontade os que, digamos por exemplo, se dedicam a especular. Isso teria uma significação social: teríeis coberto de vergonha um homem por aproveitar-se das circunstâncias da guerra a fim de vender a batata no mercado pelo triplo do preço, e assim tratareis de exercer sobre ele uma influência social. É claro que existe outro método de influir sobre o especulador: é o método administrativo; mas eu me refiro ao método social, que tem grande importância para a educação do homem.

Atualmente, nos kolkhozes, no fundamental, trabalham mulheres. Vossa missão, camaradas do Komsomol, é a de incorporar todas as mulheres ao trabalho ativo da produção, despertar nelas elevados sentimentos patrióticos, contagiá-las com vosso exemplo. Se conseguirdes cumprir esta missão, o trabalho de organização do Komsomol e sua influência sobre as massas serão muito frutíferos.

Já concordamos em que neste ano realizaremos da melhor maneira as semeaduras da primavera e assentaremos as bases para uma colheita abundante. Mas se quereis cumprir esta tarefa com seriedade, deveis incorporar ao trabalho o maior número possível de mulheres, deveis fazer as kolkhozianas compreenderem que o abastecimento de nosso Exército Vermelho e da população dependem das semeaduras da primavera.

Estou certo de que todas as nossas mulheres estão interessadas em que nosso Exército Vermelho e nossa retaguarda sejam abastecidos da melhor maneira, tanto em quantidade como em qualidade. Vós, do Komsomol, deveis organizar as coisas de tal maneira que durante as semeaduras da primavera todas as kolkhozianas acorram ao trabalho do campo. O trabalho dos membros do Komsomol deve ser medido não só pelo que eles mesmos fazem, mas pela forma com que conseguem encabeçar a juventude, todos os kolkhozianos, e, em particular, as mulheres. Devemos recordar que as mulheres são a fôrça fundamental no kolkhoz, e se conseguirmos incorporar ao trabalho do campo todas as mulheres, se conseguirmos inspirar-lhes elevados sentimentos patrióticos, muito será o que essas mulheres poderão fazer.

Acredito que se o Komsomol lutar contra os preguiçosos com todo o ardor juvenil, terá o apoio de todos os kolkhozianos e kolkhozianas. Não podemos tolerar a vadiagem, sobretudo em tempo de guerra, quando se estão travando combates encarniçados, quando cada dia centenas de homens morrem no campo de batalha por nosso país, por nosso Estado soviético. Creio que contaremos com a simpatia e o apoio de todo o povo se castigarmos severamente os preguiçosos e os parasitas.

Nos duros dias da guerra, quando nos campos de batalha se decide o destino de nossa Pátria, nenhum homem honrado pode permanecer à margem da luta. Imaginai uma pessoa que anda sorridente sem fazer nada e além disso não quer fazer nada. Esse homem é um inimigo nosso. O Komsomol deve botá-lo no pelourinho e desmascará-lo perante todo o povo. E sendo impossível corrigi-lo, então é preciso que ele sinta o peso de nossa mão, com toda a sua dureza. Essa é a linha de conduta que deveis seguir, camaradas do Komsomol!

O trabalho do Komsomol é muito grande e de muita responsabilidade. Mas, camaradas, uma vez que nosso glorioso Exército Vermelho pode com um inimigo poderosíssimo, com um inimigo como não há outro no mundo, uma vez que nossos combatentes o estão fazendo correr para o Oeste e varrem da terra soviética o lixo fascista, creio que vosso desejo será o de estar à altura de nossos combatentes, dos soldados, oficiais e quadros políticos do Exército. Não tendes porque assustar-vos da responsabilidade nem das dificuldades; deveis ser capazes de cumprir a tarefa que se ergue diante de vós...


Inclusão 11/11/2012