O Desenvolvimento e as Perspectivas da Situação Internacional

Edward Kardekj
Vice-Presidente da Iugolávia


Primeira Edição: ......
Fonte: Problemas - Revista Mensal deCultura Política nº 2 -setembro de 1947.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
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Marechal Tito
Presidente da
República Popular
da Iugoslávia

Muito tempo já decorreu desde que a resistência final do Eixo Hitlerista-Fascista foi quebrada, mas o mundo ainda não goza plenamente as bênçãos da paz. Lutas amargas estão ainda se travando em muitas partes do mundo, enquanto todas às conferências internacionais e todas as relações entre os países revelam o profundo antagonismo que divide o mundo de hoje. Isto mostra que a Segunda Guerra Mundial não só não deixou de desembaraçar o capitalismo de sua crise geral, mas tornou esta crise até mais profunda. E, como tem acontecido sempre com o capitalismo, o mundo capitalista está procurando um caminho fora das suas prédicas, aumentando a opressão e a violência reacionária. Assim se explica a campanha agressiva contra as forças verdadeiramente democráticas, campanha lançada no dia seguinte a conclusão das hostilidades pela reação imperialista internacional, e que se reflete em todas as relações internacionais e dentro de cada país capitalista.

Todos estes fenômenos são, portanto, apenas uma introdução à mais séria crise interna que o mundo capitalista terá de enfrentar. Não parece que o mundo capitalista esteja marchando para alguma espécie de relativa estabilização nos próximos anos. Ao contrário, parece muito mais provável que a crise econômico, e o aguçamento de todas as contradições resultarão nos próximos anos, não somente numa grave crise econômica como também em levantes políticos extremamente violentos para o mundo capitalista.

Vários Estados fascistas, com a Alemanha nazista à frente, foram esmagados na guerra, isto é, as ditaduras fascistas destes Estados foram destruídas e liquidadas. Pode-se dizer, então, que o perigo fascista foi eliminado, e que os princípios democráticos, pelos quais milhões de homens de todos os continentes lutaram e morreram, prevalecem realmente no mundo? Infelizmente, isto está longe de suceder. Pelo contrário, seria uma enorme tolice identificar a destruição de um tipo concreto de fascismo, com o Eixo fascista de Hitler e seus satélites, com a destruição do fascismo como um fenômeno geral do imperialismo, e com a destruição de suas bases. Parece-me, além disso, que já está se tornando incorreto falar de "remanescentes do fascismo" — pela simples razão de que o que temos diante de nós não são somente restos originados das ditaduras fascistas da Alemanha, Itália, Japão, etc., mas, sobretudo, o que existe é um sistema completo, que, sob certas condições; inelutavelmente, gera o fascismo. O fato é que as principais bases do fascismo no mundo existem ainda, embora tenham sido debilitadas; estas bases estão agora se tornando mais e mais ativas, estão ganhando um crescente grau de influência em certos países, e constituem um perigo cada vez mais grave para os povos amantes da liberdade — se estes não se opuserem a elas com a maior resolução, tanto dentro de cada país como no campo das relações internacionais.

As forças amantes da liberdade devem, naturalmente, levar em conta estes fatos. Elas devem empenhar-se numa luta decidida, em todas as partes do mundo, contra as atividades antidemocráticas das forças reacionárias imperialistas — se quiserem evitar o perigo de encontrar-se outra vez, um dia, numa posição semelhante à das vésperas da Segunda Guerra Mundial, isto é, a enfrentarem a carnificina da ofensiva geral reacionária e fascista.

A Posição Dominante do Imperialismo Ianque

A lei do desenvolvimento desigual dos países capitalistas, com todas as consequências que acarreta para o sistema capitalista, exprime-se fortemente tanto no curso da guerra como depois da conclusão das hostilidades. A Alemanha e o Japão desapareceram do cenário político mundial como grandes potências. A Itália foi jogada numa posição inteiramente secundária, o papel da França decresceu consideravelmente, enquanto certos círculos do Grã Bretanha sentem que o único meio de salvar o Império Britânico é fazê-lo desempenhar o papel de segundo violino ante a política e o poderio dos Estados Unidos. A velha Europa capitalista não é mais o centro do mundo capitalista. Os olhos das fôrças capitalistas e reacionárias estão agora voltados para outra direção. Estão voltados para o continente americano.

A Europa capitalista foi debilitada, enquanto o papel dos Estados Unidos da América aumentou tremendamente. Os EE. UU. tornaram-se, tanto pelo seu poder econômico como pela sua influência política, o centro do mundo capitalista. Outrora costumávamos dizer que todo o mundo capitalista estava sob o domínio de poucos Estados Imperialistas, onde o capital financeiro se concentrava; hoje poder-se-ia dizer que há uma crescente tendência da parte da capital financeiro de uma só grande potência capitalista, isto é, dos Estados Unidos da América, para controlar de várias formas, ou oprimir praticamente, todo o mundo capitalista. A concentração do capital financeiro assumiu agora proporções gigantescas. A produção americana, no curso da guerra, aumentou em mais de 50 por cento, e ela precisa de mercados, fontes de matérias primas e possibilidades de investimentos por todo o mundo. As grandes alianças monopolistas dos Estados Unidos, e as uniões internacionais de organizações monopolistas de diversos países, nas quais o capital financeiro americano desempenha um papel predominante, estão conquistando posições econômicas por todas as partes do mundo, e reduzindo grandes e pequenos países capitalistas a um estado de dependência financeira e econômica em geral.

Os monopólios capitalistas de ambos os lados do "front" mantiveram um contacto mútuo durante toda a guerra, desprezando o fato de que uma luta de vida e morte estava sendo travada nos campos de batalha, e exerceram uma influência essencial na política de guerra dos países capitalistas. Esta influência não foi, naturalmente, exercida para fins positivos, para a vitória do bloco de Estados antinazistas. O enfraquecimento e o retardamento da elevação do potencial bélico dos países Aliados, o prolongamento da guerra com o propósito de enriquecer a oligarquia financeira e o debilitamento das fôrças democráticas no mundo — tal foi a política seguida pelos monopólios capitalistas no curso da guerra.

Hoje, estas mesmas alianças monopolistas estão trazendo as nações derrotadas, e muitas das grandes e pequenas nações vitoriosas, debaixo do seu jugo econômico, estão destruindo os vestígios de independência que os pequenos países "independentes" podiam ainda possuir, e estão, em todos os países capitalistas, ligando-se com os elementos mais reacionários, conduzindo-os ao poder ou tentando fazê-lo, provocando guerras civis e esforçando-se por executar uma ofensiva geral de reação política.

Mesmo países como a Grã Bretanha e a França têm sido, em grande parte, colocados num estado de dependência financeira dos Estados Unidos. Protestando contra as condições do recente empréstimo americano à Inglaterra, lord Beaverbrook exclamou que o Império havia sido vendido por um preço ridículo, e que no futuro os Estados Unidos colheriam o que os ingleses tinham semeado.

O "Economist" escreveu que era triste para a Inglaterra, tendo perdido um quarto do total de sua riqueza nacional na luta comum, ser obrigada, como recompensa, a comprometer-se a pagar, nos próximos 50 anos, 35 milhões de libras por ano àqueles que tinham enriquecido com a guerra.

Não foram, porém, esses 35 milhões de libras que tanto alarmaram a opinião pública britânica, mas sim as condições que a Inglaterra foi compelida a aceitar em consequência do empréstimo. Estas condições são tais que abrem as portas de todas as partes do Império Britânico à expansão do capital americano.

A situação da França é semelhante, enquanto o quinto "grande" país Aliado, isto é, a China do Kuomintang tornou-se, na realidade atual, o mesmo que uma semi-colônia dos Estados Unidos, particularmente depois do recente tratado de "Amizade, Comércio e Navegação'' com os Estados Unidos, que entrega completamente a China à exploração pelo capital americano.

Enfim, o capital monopolista americano conquistou uma posição dominante no mundo capitalista. As alianças monopolistas americanas fortaleceram grandemente, durante a guerra em primeiro lugar, sua posição no interior do país, liquidando uma série de firmas pequenas e médias, e ao mesmo tempo conquistando, uma depois de outra, posições econômicas em todo o mundo. Tão alto grau de concentração está naturalmente destinado a ter consequências de longo alcance para todo o ulterior desenvolvimento do mundo capitalista. A maior expansão econômica da história está se realizando diante de nossos olhos. O capital financeiro americano não está apenas no caminho de ganhar, para si, posições dominantes na vida econômica dos países derrotados; ele não somente escravizou, do ponto de vista econômico, praticamente toda a América do Sul, as Filipinas, a China, etc., como está também se estendendo para os países capitalistas "independentes", particularmente para as colônias, os Domínios e as esferas de influência inglesas e francesas. Todos os Domínios britânicos, especialmente' o Canadá, são mais dependentes hoje dos Estados Unidos da América do que da Grã Bretanha.

Tendo os Domínios além disso, construído uma poderosa indústria no curso da guerra, mais com a participação do capital americano do que do capital inglês, estão concorrendo com a metrópole britânica em muitos mercados mundiais. Assim como nos Domínios capitalistas americanos estão conquistando posições econômicas na África do Norte, no Oriente Médio, na Índia, na Coreia e em todas as partes do mundo.

Tal expansão econômica, naturalmente, não só enfraquece a posição econômica e política dos outros países capitalistas, os quais dependem da exportação de utilidades e de capital, como os priva de mercados, fontes de matérias primas e possibilidades de investimentos. Como qualquer outro sistema colonial, retarda o desenvolvimento dos países dependentes. E o faz por motivos políticos, por causa da tendência geral imperialista de impedir a industrialização dos países atrasados, a fim de conservá-los num estado de dependência política e econômica; procede assim por causa do próprio sistema de exploração a que sujeita os países economicamente dependentes. A revista soviética, "Mirovoye Khozaistvo", (Economia Mundial) cita, por exemplo, um autor chileno que descreve a exploração do Chile nos seguintes termos:

"95% do cobre produzido pelo Chile pertencem a companhias norte-americanas, 60% do nitrado são produzidos por companhias controladas pelos norte-americanos. De cada dólar que recebemos pelo nitrato, 85 centavos ficam nos Estados Unidos para o pagamento dos débitos, dos dividendos, das despesas de transporte, das taxas de seguro, e para o serviço dos agentes imperialistas".

Este gigantesco polvo — o capital financeiro dos Estados Unidos, que estendeu seus tentáculos por todo o mundo capitalista, naturalmente suga enormes super-lucros. O processo de concentração do capital financeiro desenvolve-se assim convulsivamente e a grandes passos. A expansão econômica do capital financeiro americano é, naturalmente, acompanhada por ações políticas correspondentes, ao tempo em que várias "filosofias políticas" aparecem cada vez mais na imprensa americana e explicam a necessidade da dominação americana no mundo com a mesma ingenuidade com que os imperialistas alemães outrora se desdobraram na defesa do Harrenvolk alemão (raça superior). Os banqueiros e os trustes americanos estão atualmente fazendo esforços para conseguir aquilo em que Hitler fracassou, isto é, para adquirir o domínio do mundo, pelo menos do mundo capitalista e seja por que tempo for.

Seria, certamente, uma tolice dizer que a Inglaterra cessou completamente de desempenhar um papel independente. Pelo contrário, círculos capitalistas ingleses estão fazendo o possível para salvar e restaurar a antiga" grandeza do Império Britânico, para impedir a desagregação interna do império colonial causada pela expansão do capital americano, e para salvar os mercados e fontes de matérias prima" que o capital americano está lhes arrebatando em suas próprias colônias. Eles estão se esforçando por assim fazer, mediante várias medidas políticas, e isto foi, entre outras coisas, o objetivo das tentativas para criar um "bloco ocidental". Isto resultará, indubitavelmente, por todas as razões que apresentamos, no constante aparecimento de antagonismos anglo-americanos, em todo o mundo.

Mas tal fato, de qualquer modo, não pode modificar fundamentalmente o processo que se está desenvolvendo. Embora a produção na Grã Bretanha aumentasse durante a guerra, este país sofreu um considerável empobrecimento em comparação com os Estados Unidos da América. De país credor, passou a ser país devedor, devedor mesmo de suas próprias colônias, como a Índia, por exemplo. Os investimentos da Inglaterra no exterior diminuíram consideravelmente. E as condições que a Inglaterra foi obrigada a aceitar a fim de obter o empréstimo dos Estados Unidos, desarmaram-na, em grande parte, na luta contra a pressão da expansão econômica americana. A produção inglesa não pode, evidentemente sob tais condições, mesmo com inferioridade, entrar em concorrência com a produção americana, que está em nível técnico muito mais elevado.

A posição da França é, por certo, muito mais difícil a esse respeito, porque suas posições econômicas lhe estão sendo arrancadas, não somente pelo capital americano, mas também pelo capital inglês, que desta maneira está se esforçando em compensar as perdas que ele sofre em seus próprios domínios.

Nem a Inglaterra nem a França podem, portanto, impedir o capital financeiro americano, nas condições presentes e com os atuais recursos econômicos, de estabelecer sua dominação econômica sobre o mundo capitalista. Se elas terão sucesso ao fazê-lo por meios políticos, é uma questão à qual o futuro dará resposta. Seja de que modo for, estes antagonismos exacerbarão ainda mais a crise geral do capitalismo.

A Política Agressiva do Imperialismo

Devemos, de qualquer modo, observar que estas não são as únicas contradições e os únicos antagonismos que estão atormentando e perturbando o mundo capitalista atual. Já mencionamos que a produção industrial dos Estados Unidos aumentou de pelo menos 50% em comparação com a produção de pré-guerra. A produção da Grã Bretanha também aumentou. Ao mesmo tempo, a produção do Canadá, bem como a da Austrália e a da África do Sul, aumentaram consideravelmente, devido à situação destes países distantes dos campos de batalha. A indústria também cresceu de maneira notável pelo menos em certos ramos, em alguns países da América do Sul, e mesmo em colônias como a Índia, a Coreia, etc. É fato bem conhecido que a indústria dos países neutros, como a Suíça e a Suécia, por exemplo, também cresceu grandemente. E tudo isto revela que a luta pelos mercados será mais violenta do que antes.

É verdade, ao mesmo tempo, que praticamente, decresceu a capacidade industrial de todos os países europeus que estiveram sob a ocupação alemã ou foram satélites da Alemanha. De outro lado, entretanto, deve ser considerado o fato de que as nações europeias que estiveram sob o domínio alemão foram consideravelmente empobrecida sem consequência da guerra e não podem, por isso, apesar de suas enormes necessidades, constituir um rico mercado para os capitalistas estrangeiros. Acrescente-se a isto que a indústria está sendo restaurada nestes países, ao tempo em que alguns deles, que não desejam permitir ao capital estrangeiro explorar sua pobreza com o fim de escravizá-lo, ingressaram numa política de industrialização. Isto se aplica especialmente aos países do leste e sudeste da Europa que se libertaram do domínio imperialista.

Tudo isto significa que o mundo capitalista defronta-se com problemas insolúveis e com uma crise econômica que o perturbará, talvez, num grau maior do que qualquer das crises precedentes. O medo da crise econômica já está invadindo todo o mundo capitalista.

O sistema capitalista não tem, naturalmente, os meios econômicos para regular as contradições cada vez mais numerosas que são características da fase atual do imperialismo. Só são utilizados os recursos políticos. E os recursos políticos do capitalismo monopolista só podem ser — medidas crescentes de opressão reacionária, novas tendências fascistas. O imperialismo gera a reação e o fascismo, todos os dias e continuamente. Seria uma grande tolice as fôrças amantes da liberdade perderem de vista este fato, mesmo por um instante.

O fascismo não se limitou apenas a escravizar seus próprios povos. Seus próprios países eram pequenos para ele. O monopólio e a expansão são dois fenômenos inseparáveis. Os monopólios esforçam-se por uma dominação dos mercados, das fontes de matérias primas, da produção; esforçam-se por conseguir o domínio econômico e político do mundo. Daí a interferência nos assuntos internos de outros países, daí as intervenções, o suborno de governos estrangeiros, o estabelecimento e fortalecimento das ditaduras de vários grupelhos reacionários, a abolição das instituições democráticas nos países sob a influência destes monopólios, a escravização econômica, a submissão de países à sua política expansionista, a preparação de conflitos, guerras, etc. O governo dos monopólios nos grandes países capitalistas deve, por isso, se as fôrças democráticas não forem bastante decididas em sua oposição, conduzir inevitavelmente à agressão, à reação, à abolição dos direitos democráticos e a uma forma de governo fascista ou semi-fascista dentro destes países, como também, muitas vezes, até antes e com maior rapidez, nos países sob sua influência.

Tal foi a nossa experiência da ditadura fascista na Alemanha. Esta ditadura foi esmagada. Pode-se dizer, portanto, que as tendências dos monopólios capitalistas foram também destruídas?

Afirmar isto seria laborar numa grande ilusão. É um fato de conhecimento geral que o poder dos monopólios aumentou nos grandes países capitalistas. Também é fato conhecido que as alianças monopolistas nunca foram tão estreitamente relacionadas internacionalmente como são hoje em dia. Isto se aplica especialmente às organizações monopolistas americanas, que absorveram uma série de organizações semelhantes na Europa e por todo o mundo e estão ainda travando uma violenta luta no sentido de destruir ou expulsar suas rivais do posições econômicas em diversas partes do mundo.

Eu não gostaria de fazer analogias. Entretanto, será possível negar hoje o fato de que os onipotentes monopólios americanos estão ligados aos encarregados da política do governo dos Estados Unidos? Quem pode duvidar da influência que estes monopólios exercem na política do governo americano? As fôrças democráticas dentro dos Estados Unidos são ainda muito fracas para serem capazes de evitar esta influência fatal, que está crescendo e se desenvolvendo, de acordo com o seu próprio traçado.

Somente assim podemos explicar a atual política agressiva de certos círculos dos Estados Unidos, a constante tendência a interferir nos assuntos internos de outros países, a política de intimidação por meios políticos e econômicos, incluindo a bomba atômica; a política de restauração de regimes reacionários em diversos países "independentes", a reabilitação de elementos fascistas; o estabelecimento de bases por todo mundo, etc. Isto explica, também, certas ocorrências na esfera da política interna, tais como a abolição de fato dos direitos e das instituições democráticas, a frenética campanha anticomunista, que serve de cortina de fumaça para a gritaria contra todos os que estão oferecendo resistência à onipotência dos monopólios e à sua exclusiva influência na política do governo.

A única liberdade que os monopólios concedem às massas do povo é a "liberdade" de viver na ignorância e no atraso político. E enquanto isto sucede os agitadores imperialistas falam de democracia e das "quatro liberdades de Roosevelt". Entretanto, logo que as contradições internas começam a assumir uma forma mais aguda e a fazer perigar o predomínio dos monopólios, logo que a consciência política do povo começa a crescer, a "democracia" dos monopólios começa a desaparecer. E é verdadeiramente cínico falar-se hoje, por exemplo, de "libertação do medo", quando, toda a política exterior de certos grandes países capitalistas é baseada em métodos de intimidação e em toda a espécie de ameaças, inclusive a bomba atômica e provocações guerreiras.

Temos, assim, o paradoxo de que a expansão imperialista, mais extensa e de maior alcance que a história já conheceu, está sendo realizada sob o rótulo de frases sobre "as quatro liberdades", sobre a segurança da democracia, sobre o comércio livre e a cooperação econômica.

É suficiente lançar um olhar às consequências práticas de tal estado de coisas nas relações internacionais, para nos convencermos do grave perigo que as tendências dos monopólios capitalistas constituem para a paz e para a sorte da democracia no mundo, se não encontrarem a mais decidida oposição da parte dos povos amantes da liberdade.

As Contradições do Imperialismo

Sabemos que o atual estado de coisas não surgiu unicamente depois da guerra. Sabemos que há uma ligação vital e direta entre Munique e a atual política reacionária de certos círculos dos grandes países capitalistas, e que estas ligações são esclarecidas também por certos aspectos característicos da política inglesa e americana no curso da Segunda Guerra Mundial.

Embora a Segunda Guerra Mundial fosse principalmente uma guerra de libertação, uma guerra antifascista, seria, entretanto, uma tolice não distinguir aqueles elementos imperialistas que determinaram o desenvolvimento específico desta guerra. Este desenvolvimento foi influenciado por duas espécies de antagonismo: de um lado, houve o antagonismo entre os países capitalistas em sua luta pela dominação do mundo capitalista, e do outro, o antagonismo entre o mundo capitalista e as fôrças realmente democráticas, socialistas e anti-imperialistas, com a União Soviética à frente. O primeiro destes dois antagonismos manifestou-se mais particularmente nas primeiras fases da guerra, enquanto o segundo tornou-se crescentemente agudo quando a guerra foi marchando para um desfecho.

Na primeira fase da guerra, a Grã Bretanha cedeu um número considerável de suas bases militares no mundo aos Estados Unidos, e foi incapaz de evitar a penetração econômica deste em suas colônias e Domínios. No curso da guerra, os Estados Unidos obtiveram uma superioridade naval decisiva sobre a Grã Bretanha, deixando-a muito atrás em matéria de poder marítimo. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos começaram a construir um sistema completo de bases navais e militares.

Apesar de todos os antagonismos, no entanto, a política dos círculos imperialistas destes dois países durante a guerra foi idêntica em um ponto: em suas relações com a URSS e os movimentos anti-imperialistas em geral.

Não cabe tratar aqui em detalhes da política das potências ocidentais para com a URSS durante a guerra, porque esta política é bastante conhecida. Gostaria somente de citar o pensamento de escritores ingleses sobre o assunto. Eis aqui o que R. Palme Dutt diz, por exemplo:

"O imperialismo britânico visou um duplo objetivo na guerra, que foi frequentemente escondido nas declarações oficiais, mas que ficou claramente visível, não somente na opinião extraoficial, como também na estrategia prática da guerra e no seguimento das conferências diplomáticas anglo-americanas. Por um lado, os imperialistas do Ocidente lutavam em aliança com a União Soviética, para assegurai a derrota de Hitler. Por outro lado, eles estavam interessados em que o aniquilamento do fascismo não levasse ao avanço do comunismo ou de revoluções populares antifascistas na Europa, fazendo perigar a velha ordem social, ou ao fortalecimento da União Soviética. Eles calculavam que o peso da guerra esmagaria não somente a Hitler, mas destruiria igualmente ou enfraqueceria fatalmente a União Soviética, e que as forças anglo-americanas surgiriam como as principais vencedoras para policiar a Europa e controlar o mundo".

Continuando, diz ainda Dutt:

"Todos os tagarelas e os hipócritas defensores da opinião oficial olharam com desprezo a campanha comunista pela Segunda Frente no Ocidente e zombaram dos "estrategistas de café" que se atreviam a intervir em questões de estrategia, quando era claro que só os peritos militares podiam julgar e saber o que era melhor. Aqueles tagarelas parecem bem idiotas hoje, quando foi revelado nas memórias do capitão Butcher, ajudante de campo do general Eisenhower, que este e os seus peritos militares eram favoráveis à segunda Frente na Europa no verão de 1942, que a oposição veio primeiramente, não dos militares mas de fontes políticas, e que a oposição decisiva que impediu e retardou a Segunda Frente veio — o que não podia ser anunciado naquela época — de Churchill. Quando a decisão de Churchill de impedir a Segunda Frente em 1942 foi levada ao general Eisenhower, este considerou o fato de "o dia mais negro da guerra".

Esta decisão prolongou a guerra. O general Sir Gifford Martel escreveu em seu livro "Nossas Fôrças Armadas":

"As tropas na Inglaterra estavam prontas um ano antes de terem sido usadas, e estavam já se tornando velhas em 1944. Não podíamos estar prontos mais cedo, se tivéssemos fixado nosso plano principal para uma data anterior?"

Tentando defender esta política reacionária para com a União Soviética e os movimentos democráticos de libertação nacional da Europa ocupada, vários obscurantistas dos países ocidentais estavam acostumados a descrevê-la como uma defesa contra o "imperialismo soviético", a falar de um choque entre duas ideologias — a "democracia" ocidental e o "totalitarismo" oriental. Na realidade, entretanto, o que havia ali não era "defesa" — e muito menos contra a União Soviética, que não estava ameaçando ninguém, exceto o bloco hitlerista — mas simplesmente uma tendência expansionista do capitol financeiro inglês e americano no sentido de entrincheirar-se nas ruínas da Europa ocupada. Apenas, como era natural, os movimentos de libertação nacional e a política democrática de princípios da URSS constituíam um obstáculo para tais tendências expansionistas. Isto explica porque havia tanta agitação no curso da guerra para "esperar-se" que a "hora certa" viesse, que o "sinal" fosse dado, antes do início dos levantes pela libertação nacional, etc. Esta política foi advogada por aqueles conhecidos monopolistas que não olhavam o esmagamento do governo nazista como objetivo da luta de libertação das fôrças democráticas, mas como um degrau para a dominação do mundo.

Os antagonismos da política mundial do após guerra devem também ser vistos à luz deste fato. Lutando pela supremacia e por posições econômicas nos países que constituíam o Eixo, bem como nos outros países, os círculos do capital financeiro inglês e americano estão se ligando cada vez mais com as mais reacionárias fôrças nestes países, e estão dirigindo a política de seus países para a proteção dos elementos fascistas e reacionários, o ocultamento dos criminosos de guerra, a interferência nos assuntos domésticos de diversos países — no sentido de várias, atividades antidemocráticas e provocações anti-soviéticas. Isto explica a tendência da parte de certos círculos reacionários imperialistas da Inglaterra de converter seu país num gendarme imperialista para a supressão dos movimentos e levantes anti-imperialistas e democráticos em diversas partes do mundo, embora seja óbvio que tal papel coloca a Inglaterra num crescente grau de dependência dos Estados Unidos.

Esta última consideração está ganhando cada vez maior importância na política interna da Inglaterra. O choque de interesses entre os EE. UU. e a Grã Bretanha em todas as partes do mundo é conhecido, e não deve ser subestimado. A tendência do capital financeiro americano a obter igual tratamento, nos países do Império Britânico, ao que é desfrutado pelo capital inglês, é esforço por expulsar a Inglaterra de suas próprias colônias e dos países de seu Império — e esta é atualmente a tendência para a destruição do Império Britânico. No Japão e na China, o que quer dizer no Pacífico em geral, a voz da Inglaterra é ouvida, porém, debilmente. Os americanos fizeram um firme finca-pé nos países árabes e no Mediterrâneo — em tal extensão, realmente, que os defensores mais ardentes do imperialismo americano já dizem que os EE. UU. estão se tornando um "país do Mediterrâneo ". E isto significa que a Inglaterra não ficará sozinha por muito tempo com as chaves das linhas de comunicação mediterrâneas, através do Canal de Suez, para o Extremo Oriente. E a chamada "fusão das zonas inglesa e americana" na Alemanha escancarou as portas da zona inglesa na Alemanha a penetração do capital financeiro americano e dos trustes ianques.

Poderíamos citar muitos fatos análogos. Devemos acrescentar também a esmagadora superioridade militar dos EE. UU. sobre a Grã Bretanha — tanto no mar como ao longo das rotas marítimas mundiais. Para contrabalançar o fato de não possuir colônias, no sentido textual da palavra, os EE. UU. construíram um completo sistema extensivo de bases de vários tipos, militares, navais e aéreas interligadas, nas posições-chaves de todas as partes do mundo. A própria Inglaterra foi obrigada a arrendar uma série de tais bases aos Estados Unidos, por um prazo de 99 anos. Um sistema de bases desse tipo, único com a pressão econômica e política, é certamente um ponto de apoio muito mais efetivo para a expansão imperialista do que o seria o velho sistema de estilo colonial,

Tudo isto também, naturalmente, está destinado a ter consequências políticas. Depois da Primeira Guerra Mundial, a Grã Bretanha teve sucesso ao fazer da Liga das Nações um instrumento de sua política. Agora, a situação é completamente diferente. Os Estados Unidos e a Inglaterra aparentam, é verdade, colaborar muito estreitamente e numa base de igualdade, como na Organização das Nações Unidas, por exemplo. A ninguém é fácil distinguir imediatamente qual dos dois desempenha o papel decisivo e qual desempenha o secundário. E assim sucede atualmente por todo o cenário internacional. É claro, também que a dependência da Inglaterra em face dos EE. UU. aumenta na medida em que certos círculos reacionários impelem aquele primeiro país a adotar uma atitude antissoviética, e a desempenhar o papel de gendarme contrarrevolucionário no campo internacional.

Todos estes fatos mostram que o antagonismo anglo-americano ainda existe, que ele se desenvolverá e, em conexão com uma série de outros antagonismos imperialistas, dará origem a toda espécie de conflitos entre os países capitalistas.

Seria, entretanto, uma tolice, superestimar a significação destes antagonismos. Dois fatores, que têm hoje um papel essencial no desenvolvimento destes antagonismos devem ser tomados em consideração: Primeiro, os elos unindo o capital financeiro americano e inglês; Segundo, as difíceis contradições internas no Império Britânico e em muitos dos países sob a influência britânica em geral.

Isto levou ao aparecimento de duas tendências na vida política britânica. Uma corrente de pensamento considera que a única "chance" da Grã Bretanha, consiste em ligar sua sorte à dos Estados Unidos; a Inglaterra é obrigada constantemente a perder, com esta sociedade, mas poderá ganhar, contudo, salvando o Império. Este pensamento, por último — em conexão com o acordo sobre concessões aos Estados Unidos nos campos de petróleo do Oriente Médio — tornou-se frequente numa parte da imprensa britânica. Seria de esperar ouvir-se esta imprensa exprimir descontentamento pelo fato de que o capital inglês estava sendo expulso do Oriente Médio pelo capital americano. O contrário ocorreu, porém. A imprensa saudou a ação dos Estados Unidos, na esperança de que eles estivessem doravante interessados também na "pacificação" do mundo árabe e na salvação das posições nessa área.

Plenamente de acordo com esta corrente de pensamento estão os vários planos a respeito do futuro das relações anglo-americanas — inclusive o plano para o estabelecimento de uma "Federação Anglo- Americana" ou para uma "Aliança Militar Anglo-Americana".

Mesmo os mais terríveis reacionários na Inglaterra estão demonstrando apreensão para com esse crescente grau de dependência dos Estados Unidos. Daí os vários planos para o chamado "bloco ocidental" que é, por um lado dirigido contra a URSS, enquanto que, por outro ledo, é projetado visando um papel independente da Inglaterra, frente aos Estados Unidos.

Estas "ideias" e outras semelhantes vêm mostrar que os métodos originais do imperialismo não darão por mais tempo uma saída. Muitas pessoas na Inglaterra, inclusive pessoas em posição política destacadas, e, particularmente no Parlamento, compreenderam isto. Dentro do próprio Partido Trabalhista, o número dos que pensam que a Inglaterra só pode desempenhar um papel independente se abandonar sua atual política e seguir uma nova rota, isto é, de paz e amizade com a URSS, está crescendo com vigor.

Aí reside o X do problema, porque significaria um afastamento completo da Grã Bretanha da política que ela tem seguido mais ou menos firmemente de modo submisso desde Munique. Foi, fundamentalmente, a política que tornou possível a agressão fascista e a Segunda Guerra Mundial, e o subsequente domínio dos monopólios americanos sobre o mundo capitalista.

A segunda corrente de pensamento está ciente do fato de que a política reacionária da "Santa Aliança" anglo-americana contra as forças anti-imperialistas e progressistas do mundo, atrás da qual cresce a expansão econômica e política do capital financeiro americano, resulta em aumentar a dependência econômico-política da Inglaterra frente aos Estados Unidos e, automaticamente, prejudica mais ainda sua posição internacional. O choque entre estas duas tendências fundamentais na política britânica assumirá, sem dúvida, maiores proporções no futuro e determinará, em larga medida, a sorte da futura cooperação entre as nações.

Deve ser salientado, em relação com isso, que a política agressiva dos círculos americanos mais reacionários está enfrentando uma crescente resistência dentro dos próprios Estados Unidos. Muitas pessoas nos Estados Unidos sentem que esta política é responsável pelo desencadeamento de uma nova catástrofe tanto sobre os Estados Unidos como sobre o mundo inteiro. As recentes modificações no Governo dos Estados Unidos são uma prova do crescente aguçamento das divergências internas sobre questões da política mundial. Não há dúvida de que as fôrças contrárias a que um país com velhas tradições de amor à liberdade se tornem a esperança das fôrças reacionárias de todo o mundo — fato que está, além disso, causando crescente ansiedade entre os povos progressistas e amantes da liberdade em todos os países — crescerão dentro dos próprios Estados Unidos.

Como as coisas se apresentam agora, entretanto, as fôrças democráticas e as nações amantes da liberdade no mundo inteiro estão se defrontando com a realidade de uma política seguidamente antidemocrática e imperialista, que é tanto mais violenta quanto mais se alargam as fendas no atual sistema imperialista. A experiência, portanto, mostra mais uma vez que o monopólio capitalista e a reação política andam invariavelmente juntos.

Isto se torna visível em todos os acontecimentos internacionais que ocorreram entre o fim da guerra e a época atual. Em um dos discursos que proferiu no ano passado, Churchill disse que a decisão sobre o uso da bomba atômica foi tomada pelo Presidente Roosevelt e por ele, e que a partir desse momento suas opiniões sobre o futuro se modificaram.

E, de fato, foi a partir daquele momento que surgiu a conhecida política de intimidação, que se seguiu a todos os esforços feitos até agora para construir a paz.

Esta política, naturalmente, corresponde a um desejo da parte de certos círculos capitalistas de impôr sua vontade aqueles que não demonstram o devido respeito para com as "bênçãos" do imperialismo. Em outras palavras, eles querem impôr uma nova "paz" imperialista baseada no domínio do mundo pelo capital financeiro, em vez de uma paz realmente democrática, baseada na liberdade e na independência das nações, na cooperação entre os países e no respeito por seus interesses mútuos.

Tal política não pode, entretanto, ser seguida por mais tempo sem encontrar oposição. Isto foi possível no tempo da Conferência de Versalhes e, em certa medida, depois da Primeira Guerra Mundial, quando as fôrças imperialistas tiveram êxito ao bloquear a União Soviética e mantê-la num estado de relativo isolamento, e também ao conservarem as fôrças anti-imperialistas confinadas dentro de certos limites. As condições mudaram agora — a União Soviética não pode mais ser isolada. Além disto, uma série de novos Estados populares se ergueu, e eles se libertaram completamente da esfera do imperialismo, enquanto que os movimentos anti-imperialistas e democráticos conquistaram posições tão poderosas em muitos países que limitaram consideravelmente a liberdade de ação dos principais imperialismos.

É claro que a única política que as fôrças democráticas podem seguir é uma política de luta por uma paz justa, democrática, e pela cooperação entre as noções, baseada no respeito mútuo pelos interesses justos dos diversos países. De acordo com esta concepção, os antagonismos existentes entre os dois mundos não deviam ser invocados para constituir um obstáculo no caminho do esforço geral dos povos amantes da liberdade para assegurar a cooperação pacífica entre as nações. A paz e a democracia no mundo não são postas em perigos pelas diferenças sociais, mas sim pela expansão imperialista econômica e política.

Duas tendências, dois métodos, duas correntes de pensamento formaram-se, assim, na esfera da atual política internacional. De um ledo, há uma tendência para domínio do mundo, a tendência para a expansão aberta ou disfarçada, para a imposição da vontade de uma nação sobre as outras; é a política de intimidação e imposição. Do outro lado, existe o esforço pela cooperação pacífica entre as nações, para o mútuo entendimento e o respeito pelos justos interesses de cada nação, o esforço para conseguir a liberdade e a independência dos povos coloniais, dependentes e atrasados. Estas duas diferentes tendências são também, naturalmente, o reflexo de dois sistemas diferentes, isto é, do sistema do imperialismo, que está procurando uma saída da crise geral através de uma política de reação e violência, e do sistema da socialismo e das democracias populares, onde o capitalismo tem sida eliminado ou está desaparecendo rapidamente sob uma administração democrática popular, e onde todas as atividades do país são dirigidas para a construção interna e o aumento do bem estar nacional. Estas duas diferentes tendências na política internacional revelaram-se em todas as relações internacionais desde o fim da guerra.

A nova Iugoslávia, sendo um Estado popular progressista, onde os caminhos do capitalismo foram para sempre barrados e que se libertou da influência do imperialismo estrangeiro, tem sentido particularmente a pressão das fôrças reacionárias internacionais. A atitude negativa que uma parte dos nossos Aliados da guerra opôs a muitos dos justos reclamos de nossos povos é, decerto, facilmente compreensível quando vista à luz deste fato.

O que há por isso, não é um "choque entre "duas ideologias" — como gostam de supôr certas pessoas que, conscientemente ou não, esforçam-se por esconder num véu de ambiguidade o que é perfeitamente claro e óbvio; nem é que o mundo esteja dividido em adeptos do materialismo dialético e do idealismo, ou entre os adeptos do coletivismo e do individualismo; mas sim um choque entre a expansão imperialista e o esforço das nações pela sua independência, o esforço dos povos amantes da liberdade por uma paz democrática.

Num discurso pronunciado em Jesenice a 20 de agosto de 1946, disse o camarada Tito:

"O que temos hoje são dois frontes: o front da democracia e o front da reação e de vários provocadores, e não o front do Ocidente e o front do Oriente."

Tudo isto vem mostrar que o capitalismo monopolista, na presente fase do seu desenvolvimento, procurará, mais do que antes, sufocar suas contradições internas pelo aumento da reação política e pela luta contra as fôrças da democracia, do progresso e do socialismo.

O Fortalecimento da Democracia Contra a Reação Imperialista

O que acabamos de dizer, entretanto, é apenas parte da verdade. O mundo está testemunhando, hoje, a expansão econômica sem precedentes do capital financeiro de um único país. Deverá ser lembrado, ao mesmo tempo, que os fundamentos do sistema imperialista nunca estiveram tão fracos como atualmente, depois da Segunda Guerra Mundial.

Não somente a Segunda Guerra Mundial deixou de trazer a estabilização ao mundo capitalista, mas, pelo contrário, ainda aprofundou e aguçou mais uma vez a crise geral do sistema capitalista. Não podo haver dúvida também de que num futuro próximo ver-se-á muita tensão e conflito, presenciar-se-ão violentas lutas econômicas e políticas.

A Segunda Guerra Mundial, entre outras coisas, teve, como resultado, que novamente uma série de países sacudiu o jugo imperialista. Isto abalou consideravelmente o poder imperialista no resto do mundo, particularmente nas colônias e países dependentes, e conduziu a um aumento das contradições internas da economia capitalista.

Não pode haver dúvida também de que o aparecimento de democracias populares em certos países do Leste e Sudeste da Europa, e o início de processos semelhantes em outros países — sob formas diferentes e em vários estágios, mas com a mesma tendência de desenvolvimento — é a mudança qualitativa mais atual e significativa que ocorreu no mundo capitalista, depois da Segunda Guerra Mundial. A significação desta mudança não reside tanto no fato de que ela modificou a correlação de fôrças no mundo em favor da democracia e do socialismo e em prejuízo do imperialismo, quanto, particularmente, em que ela revela certos caminhos específicos de liquidação do poder da reação capitalista, novas formas de desenvolvimento para o socialismo. A construção do socialismo não é mais um fenômeno isolado, limitado à URSS. Não é mais alguma coisa que ainda tem de comprovar seu valor na prática. As grandes conquistas socialistas da Revolução do Outubro não serviram somente como uma experiência histórica, mas já se transformaram na substância de todo o desenvolvimento genuinamente democrático no mundo. Não há mais muitos governos hoje que se aventurem abertamente a defender o sistema capitalista. Pelo contrário, a reação capitalista está recorrendo a toda espécie de fórmulas frases pseudossocialistas, no sentido de iludir as massas. Mesmo os fascistas gostavam de esconder-se e estão disfarçando-se de novo agora, atrás de bandeiras e frases socialistas. Isto quer dizer que está se tornando cada vez mais difícil para a reação imperialista desencadear uma luta aberta contra o socialismo. Isto significa, ainda mais que o ideal do socialismo, primeiro realizado na União Soviética, ser viu como uma experiência histórica e revelou-se triunfante.

Por outro lado, certamente, tudo isto é uma prova da fraqueza interna do sistema capitalista. No período posterior à grande Revolução Socialista de Outubro, o sistema imperialista era ainda bastante poderoso para fazer um ataque frontal contra a revolução na Rússia e contra os vários outros movimentos revolucionários socialistas. Hoje ele não está mais em condições de tapar os buracos do sistema imperialista e de deter os numerosos processos que o estão solapando. E esta relativa fraqueza do sistema capitalista torna possível à luta por uma verdadeira democracia popular e pelo socialismo, assumir os mais variadas formas.

As fôrças genuinamente democráticas podem contar agora com reservas mais amplas, podem fazer um uso muito mais efetivo das brechas cada vez maiores e mais numerosas que estão aparecendo dentro do sistema imperialista. Os Partidos Comunistas em muitos países tornaram-se fatores capazes de exercer uma atuação decisiva no política do Estado. As fôrças democráticas estão agora numa posição mais favorável para desmascarar as manobras antidemocráticas dos monopólios capitalistas.

Todos estes fatos adquirem plena significação, quando temos em mente o papel que a URSS desempenha agora nas relações internacionais, papel que em muitos pontos difere do que ela desempenhava antes da Segunda Guerra Mundial. União Soviética foi, desde o primeiro dia em que surgiu, a esperança de todos os povos amantes da liberdade e um exemplo que mostrava a toda a humanidade progressista a saída da crise geral a que ela tinha sido levada pelo sistemo imperialista.

Nessa época, entretanto, a União Soviética estava separada do resto do mundo pela alta muralha do cerco capitalista, e Sua influência no campo das relações internacionais era muito menor do que a sua fôrça teria autorizado. Hoje, por outro lado, podemos dizer que o cerco capitalista da União Soviética não existe mais. Temos em mente com isso não só o fato de que a União Soviética está em larga medida rodeada por países amigos, dos quais o capitalismo tem sido também extirpado, ou está cada vez mais perdendo as bases, mas, sobretudo, tomando em conta duas outras considerações:

  1. a poderosa influência de que a União Soviética agora dispõe no campo das relações internacionais, influência que a URSS adquiriu, em primeiro lugar, através de suas vitórias na recente guerra, com as quais ela demonstrou o poderio e a superioridade do sistema soviético e do socialismo.
  2. o fato de que limite entre os dois mundos, entre o mundo do socialismo e o mundo do capitalismo nas relações internacionais, não é mais a fronteira traçada entre a URSS e o resto do mundo, como sucedia antes da guerra. Não temos mais, hoje, de um lado o sistema capitalista unido e, do outro, um país socialista sozinho, cercado; antes, o que temos é um sistema de países capitalistas, com as principais fôrças imperialistas à frente, de um lado, e, do outro ledo, um sistema democrático liderado pela União Soviética. É claro que, sob tais condições, o isolamento da União Soviética tornou-se impossível. Tornou-se impossível tomar decisões sobre questões fundamentais das relações internacionais sem a participação da União Soviética, o que seria destruir todas as possibilidades de cooperação internacional .

E o que é particularmente importante em ligação com isso, é o fato de que a cadeia imperialista está destinada a quebrar-se com uma crescente frequência e rapidez, devido à existência de tal correlação de fôrças; que as possibilidades da vitória de democracias populares, como ponto de partida do desenvolvimento socialista, tornar-se-ão mais variadas, e será cada vez mais difícil para as fôrças imperialistas sufocar e romper esses processos em diversas partes do mundo.

Por isso é que o aparecimento de democracias populares nos países do Leste e Sudeste da Europa, bem como o início de tais democracias em alguns outros países são significativos, não somente porque constituem uma modificação quantitativa na correlação de fôrças na esfera da política internacional, mas também porque nela introduzem um novo elemento, quebrando o sistema do cerco capitalista do primeiro país onde foi conseguida a construção do socialismo, e abrindo novas perspectivas para a luta das fôrças democráticas, progressistas, anti-imperialistas, no mundo.

Depois da guerra, a questão colonial surgiu novamente sob uma forma muito aguda. Seu aguçamento tem um duplo aspeto: de um lado, no que diz respeito às relações entre os povos coloniais e os países imperialistas, e, do outro lado, como objeto de luta política e econômica entre os principais monopólios capitalistas, isto é, entre os grandes países capitalistas.

Quando costumávamos, antes, falar dos centros das lutas anti-imperialistas e das guerras de libertação nacional, o que tínhamos em vista era, em primeiro lugar, a Índia e a China semi-colonial. Agora, além destes dois países, centros desta espécie, apareceram, sob várias formas e em diferentes estágios de desenvolvimento, na Indonésia, na Indochina, nas Filipinas, na Coreia, nos países Árabes, na África do Norte, etc., o que significa que o movimento anti-imperialista abarcou praticamente todo o mundo colonial. Não é de fundamental importância, em relação com isto, que os atuais governantes coloniais obtenham ocasionalmente sucesso na repressão dos levantes pela libertação dos povos coloniais. O essencial é o fato de que um movimento consciente e organizado abarcou todo o mundo colonial, os dominadores coloniais acharão cada vez mais difícil manter as colônias em estado de sujeição, e que isto afetará seriamente as condições políticas e econômicas nas metrópoles e em todo o mundo capitalista.

Este poderoso crescimento dos movimentos de libertação nas colônias deve ser explicado, por um lado, pelo fato de que a consciência política das amplas massas cresceu rapidamente no curso da guerra e, por outro lado, particularmente, pelo considerável crescimento da indústria nas colônias, que projetou o proletariado e a burguesia nacional no cenário político, e isto, por seu turno, apressou o desenvolvimento da cultura nacional e da intelectualidade nacional. Os métodos tradicionais de política colonial, os métodos de perpetuar relações sociais atrasadas e particularidades feudais nas colônias — que eram o esteio originário do governo colonial — tornaram-se, sob tais condições, cada vez mais inadequados. Por isso é que a questão colonial está cada vez mais quebrando os fundamentos do sistema imperialista como um todo, enquanto constitui um problema especialmente difícil para os governantes coloniais.

O desenvolvimento da classe operária e do movimento proletário nos países coloniais e dependentes, elevou os movimentos de libertação coloniais a um mais alto nível democrático, em comparação com os do passado. Muitos destes movimentos estão se orientando não somente para a libertação política do imperialismo estrangeiro, como também para a vitória das fôrças anti-imperialistas, a vitória da democracia popular, que arrancariam completamente estes países da influência imperialista. Os governantes coloniais não estão mais conseguindo obter vitórias mais ou menos duradouras sobre estes movimentos por meio de medidas militares e policiais. Mesmo que eles consigam sufocar um levante ,aqui ou acolá, o mundo colonial — sob as velhas formas de governo colonial — não oferece mais suficiente segurança ao capital financeiro da metrópole. Por isso é que os círculos imperialistas procuram apoiar-se cada vez mais na burguesia nacional e em outros círculos reacionários nas colônias e países dependentes, fazendo-lhes concessão em troca.

Por isso, ocorre mais frequentemente que certos países coloniais ou dependentes obtêm a chamada "independência". A Grã Bretanha, em certos casos, recorre ao oferecimento de uma "independência" formal aos países dependentes. Tais medidas, são, naturalmente, acompanhadas pela corrupção das classes dominantes dos novos países tornados "independentes", o que torna possível às grandes potências capitalistas manterem esses países no estado de atual dependência econômica e política.

Tais métodos tornaram-se uma característica geral da política imperialista dos dias de hoje. Os imperialistas atuais estão fazendo todos os esforços para apoiar regimes antidemocráticos em todas as partes do mundo e em todos os países em que é possível, regimes que os povos já teriam há muito tempo derrubado se não fosse o apoio do exterior.

O alto grau de concentração atingido pelo capitalismo financeiro e a tremenda extensão dos monopólios capitalistas tornaram-nos, ao que parece, incompatíveis com os métodos originários da exploração colonial. Para um grau de concentração do capital financeiro como o que foi atingido atualmente pelos monopólios nos Estados Unidos, o primitivo sistema de divisão territorial das colônias tornou-se muito mesquinho. O que eles necessitam é de todo o mundo, e não apenas de algumas colônias; o que eles precisam são caminhos livres através de todas as posições econômicas. Por isso é que os Estados Unidos encaram seus concorrentes capitalistas dos mercados, e, gradualmente, de todas as posições econômicas. Por isso é que os Estados Unidos encaram os sistemas coloniais da Inglaterra e da França como obstáculos, e é por isso que eles estão se manifestando em favor da "independência" dos países coloniais. O que importaria, na prática, em dar uma independência formal aos atuais países coloniais sob o domínio da Grã- Bretanha, França, Holanda, etc., colocando-os num estado de dependência econômica, e mesmo política, do capital financeiro americano.

Para a Inglaterra, a França, e os outros países possuidores de colonias, que se tornaram grandemente dependentes do capital financeiro americano, a questão é, naturalmente, diversa. Para eles, manter o mais possível o controle político sobre as colônias, importa na questão de que eles possam, em geral, ser ainda capazes de desempenhar um papel independente em face dos Estados Unidos, e na questão de preservar, pelo menos, parte de suas posições econômicas e políticas no mundo. É por isto que eles estão lutando tão tenazmente para conservar suas colônias.

Daí a paradoxal situação dos líderes monopolistas, financistas e magnatas americanos, que estão conquistando o mundo capitalista por meio de seus dólares e suas mercadorias, realizando a mais extensa expansão, e exibindo a "ideia democrática" da "libertação" das colônias, de "independência" e "liberdade", enquanto que a Inglaterra, que está lutando pelas suas posições, ante os ataques do dólar, com as únicas armas deixadas a ela como potência imperialista, é obrigada a desempenhar o papel impopular de gendarme do imperialismo. É claro portanto, que o "Slogan" dos EE. UU. de "independência" das colônias revela atualmente um alto grau de concentração capitalista, e a par disto uma tendência para o verdadeiro domínio do mundo, ou concretamente — uma tendência dos monopólios dos EE. UU. a dominarem todo o mundo capitalista. Os magnatas financeiros americanos acreditam que podem ter sucesso naquilo em que os imperialistas alemães fracassaram.

Ao lado destes desenvolvimentos nas colônias e nos países dependentes, há ainda outro processo em evolução — o da crescente escravização econômica de países independentes, grandes e pequenos, sua transformação em países dependentes de fato. Tal processo, certamente, não significa algo de fundamentalmente novo no mundo capitalista. Mas ele agora assumiu proporções tremendas, e está se desenvolvendo geralmente em benefício do capital financeiro de um só país, os Estados Unidos. Comércio, uniões monopolistas, empréstimos, investimentos, obstáculos ao desenvolvimento da indústria local, várias formas de pressão econômica, etc. — estes são os meios através dos quais o capital financeiro americano expande-se nos diversos países capitalistas. Que esta escravização econômica acarreta o atraso, a miséria, retarda o desenvolvimento de certos países — isto é lógico. A economia destes países não é posta a serviço de seus povos, mas do capital financeiro de países estrangeiros

As consequências políticas são claras. Onde existe o interesse econômico, o interesse político deve também existir. Por isso é que a interferência nos assuntos internos dos países "independente" tornou-se hoje o principal método da política imperialista.

Falando, por exemplo das inversões americanas na América do Sul, e das vantagens políticas dos investimentos conjuntos, isto é, investimentos conjuntos dos Estados Unidos e dos capitais locais sul- americanos em certos negócios, escreve o "Economist", de 8 de junho de 1946:

"Tem preocupado há muito tempo os capitalistas estrangeiros na América Latina saber como podem ter segurança, bem como lucros... Os homens de negócios dos Estados Unidos voltaram-se para novas e menos arriscadas formas de investimentos. A mais popular é a técnica do investimento conjunto — a organização de companhias com capitais dos Estados Unidos e locais e, tipicamente, maior participação nativa na direção do que era usual no passado..."

Mas o método do "investimento conjunto", que está agora sendo mais aplicado pelo capital financeiro dos Estados Unidos, tem um outro aspecto significativo. Ele torna possível ao capital financeiro americano absorver o capital financeiro de outros países e manobrar com toda a vida econômica de diversos países. Assim, ele deixa de ser um hóspede, porque tem a proteção da burguesia local. Deste modo, ele não somente exerce pressão sobre a política interna dos diversos poises, como também sobre a política exterior e sobre as relações econômicas exteriores. Os que tiveram a oportunidade de presenciar o maneira disciplinada pela qual, não somente a grande maioria dos países sul-americanos, como também muitos outros países, votaram nas recentes conferências internacionais de acordo com proposições apresentadas pelos Estados Unidos, e a maneira pela qual a política ianque foi frequentemente realizada através destes vários Estados, não terão dificuldade de enxergar o dedo do capital financeiro americano, por trás da atitude das delegações destes países.

Embora esta política de "independência" das colônias e de dependência econômica dos "países independentes" esteja demonstrando seu êxito atualmente, do ponto de vista do grande capital financeiro e do sistema imperialista, ela também atinge desfavoravelmente o capitalismo de muitas maneiras. todas estas ocorrências refletem, é verdade, a gigantesca concentração do capital financeiro e sua expansão numa escala sem precedentes, mas, ao mesmo tempo, refletem a fraqueza da ordem capitalista. Anexações abertas, submissão das colônias ao domínio político, ou à pressão política e militar, foram armas muito mais seguras do imperialismo no passado. Estas armas não são mais apropriadas, embora isto não signifique, naturalmente, que os imperialistas não farão uso delas se os outros meios não forem eficazes. Por outro lado, no entanto, os métodos de expansão econômica que acabamos de descrever implicam numa intervenção constante, nos assuntos internos de certos países, pelos imperialistas. Eles podem conseguir algum sucesso, mas levam a expôr a burguesia nacional e as fôrças reacionárias locais, como agentes do imperialismo estrangeiro, aos olhos do povo, e isolam-nas das massas. Tais métodos, portanto, contribuem para o aguçamento das contradições internas nos diversos países. Por um lado, as fôrças reacionárias recorrem à violência e à violação dos direitos democráticos; enquanto, que por outro lado, os movimentos anti-imperialistas e democráticos abrangem ciada vez maiores massas do povo e conduzem-nas à luta contra a opressão imperialista estrangeira e os agentes locais do imperialismo estrangeiro.

Assim é que algumas das tendências do imperialismo atual contêm uma típica e inelutável contradição: esforçando-se pelo domínio do mundo, o imperialismo cria condições nas colônias para o crescimento da resistência contra o sistema imperialista. Tudo isto, natural-. mente, só pode aguçar outra vez a crise gera! do capitalismo.

A Tarefa das Forças Democráticas

Tais são as perspectivas abertas ao mundo capitalista em sua marcha para uma nova crise econômica cujas consequências são ainda difíceis de prever, mas que resultará sem dúvida em crises políticos cada vez maiores e mais numerosas em diversas partes do mundo. Acreditar que o mundo capitalista conseguirá estabilidade e paz interna num futuro próximo, seria abrigar uma grande ilusão. Pelo contrário, os antagonismos, de que já falamos, levarão a novos conflitos em todas as esferas. E assim o mundo, que tanto sofreu e ainda sofre pela paz. está em perigo, apesar de que não haverá guerra agora, de não conseguir a paz — a não ser que a humanidade democrática se oponha às atividades perniciosas dos monopólios capitalistas. Temos "paz" agora, mas a guerra está se encarniçando na Grécia, na Indonésia, na China, na Indochina, nas Filipinas, na Palestina, na Espanha, no Irã, etc., porque esta é a lei do imperialismo. Quem pode dizer que a estes focos não serão juntados outros amanhã, muito mais importantes, que perturbarão o sistema imperialista muito mais profundamente? Enfim, o mundo capitalista está enfrentando um período de inquietação e efervescência, no qual terão lugar choques mais ou menos agudos entre as fôrças imperialistas reacionárias e as fôrças democráticas, anti-imperialistas. Estas fôrças da democracia crescerão ainda em poderio, e é claro também que o movimento operário dos países europeus ainda não atingiu o auge no após guerra.

É essencial que os povos amantes da liberdade possam compreender em toda a extensão o perigo da atual expansão dos monopólios capitalistas e do capital financeiro. As fôrças democráticas dos países capitalistas não podiam cometer maior tolice do que deixar-se iludir pelo fato de que ainda têm liberdades democráticas formais, de que os seus países gozam de independência formal, e esquecer-se de onde se levanta o principal perigo. Não há mais hoje, praticamente, um só país capitalista secundário no qual os monopólios estrangeiros não tenham penetrado, em maior ou menor grau, colocando-o num estado de dependência econômica e, portanto, política, em relação ao capital financeiro estrangeiro. Hoje, esta expansão está ainda, em certa medida, escondida por frases sobre a democracia e a liberdade. Amanhã à medida que as contradições internas do capitalismo atingirem uma forma cada vez mais aguda, devido a crise econômica e geral do capitalismo, os monopólios revelarão uma tendência cada vez maior a lançar, um país após outro, num estado sempre mais profundo de reação política e no sentido do fascismo.

O principal obstáculo destes círculos monopolistas serão as fôrças progressistas e democráticas de todos os países, e, particularmente, dos países, onde estas fôrças estão no poder. Não pode haver dúvida, porém, de que os maiores monopolistas esforçar-se-ão mais do que nunca, para resolver suas contradições imperialistas internas, aumentando sua luta contra as fôrças progressistas. E isto pela simples razão: eles são impelidos a assim fazer pela fraqueza interna do sistema imperialista, a qual resulta, por sua vez, do aguçamento da crise geral do capitalismo.

Esta tendência faz-se sentir diariamente nos assuntos internos dos países capitalistas. Se deixarmos de lado casos como o da Grécia, não há, praticamente, um só país no qual não vejamos uma luta mais ou menos aguda entre as fôrças democráticas e as tendências para os chamados "governos fortes", para a ressurreição de organizações fascistas e semi-fascistas para o agrupamento e crescente atividade dos elementos da extrema direita reacionária. Atrás de todos eles estão os círculos do capitalismo financeiro e dos trustes e cartéis monopolistas, assim como depois da Primeira Guerra Mundial eles secundaram e financiaram Adolfo Hitler. Esta tendência é tanto mais ativa quanto se aguçam as contradições. Naturalmente, quanto maior o atraso político das massas em certos países, quanto maior a confusão e falta de atividade entre as massas, quanto estas massas forem iludidas pelas frases dos políticos reacionários — mais os elementos capitalistas dominantes tratam de utilizar-se de frases democráticas. É perfeitamente claro, hoje em dia, que o regime da democracia burguesa só é agradável ao imperialismo enquanto as massas vivem na ignorância e enquanto a fraseologia democrática pode servir como véu para encobrir o vergonhoso quadro de exploração e opressão, de esmagamento da justiça e da verdade, de parasitismo e decadência, apresentado pelo imperialismo atual. Quando, porém, as massas começam a distinguir a verdade, quando o nível de sua consciência política começa a crescer e quando elas começam a desempenhar um papel consciente na vida política de seu país, então os propagandistas monopolistas da "libertação do medo" começam a esquecer seus "princípios democráticos".

Por todas estas razões, as fôrças reacionárias fizeram, e ainda estão fazendo, muitos esforços para transformar a Organização das Nações Unidas e suas instituições numa espécie de organização policial internacional — talvez ligada às reminiscências da Santa Aliança da primeira metade do século XIX. Nenhum esforço foi poupado no sentido de abolir o direito de veto. É, no entanto, perfeitamente claro o que há por trás de tudo isso. Essencialmente, é uma tendência para fazer da ONU, por meio do método de imposições, um instrumento de um bloco ou um grupo de Estados ou mesmo de um só Estado. A organização para salvaguarda coletiva da paz seria assim transformada num instrumento de expansão imperialista, numa arma para preparação de novas guerras. O verdadeiro princípio da segurança coletiva seria por esse meio descartado e sacrificado aos objetivos imperialistas .

A tarefa das fôrças democráticas é frustar todas essas tendências e desencadear uma luta tenaz no sentido de fazer da ONU um verdadeiro guardião coletivo da paz. A luta pela verdadeira democracia dentro de cada país capitalista e a luta por uma paz democrática e pela cooperação democrática entre as nações estão decerto estreitamente ligadas.

Por todos estes fatos, as fôrças mundiais democráticas e amantes da liberdade defrontam-se com tarefas importantes na esfera da política internacional, tarefas sobre cuja solução, em última análise, repousa o resultado da luta entre as fôrças da reação e as fôrças do progresso em cada país. É essencial, em primeiro lugar, que as fôrças democráticas cooperem estreitamente, e se apoiem ativamente na luta por uma paz genuinamente democrática e pela cooperação entre as nações. É sabido onde está o principal perigo, e os povos amantes da liberdade devem enfrentá-lo ativamente ara que não sejam outra vez levados a uma catástrofe pelas fôrças da reação imperialista e do fascismo, Qualquer tentativa para subestimar a importância dos fatores da política internacional para limitar-se exclusivamente aos problemas internos, ou para recolher-se a alguma espécie de "neutralidade" no campo da política internacional, resultará na derrota dos que fizerem esta tentativa. Da mesma forma que a paz é indivisível, assim também é indivisível a luta por uma verdadeira democracia.


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Inclusão 27/09/2013
Última alteração 25/02/2015