Conceitos Fundamentais de O Capital
Manual de Economia Política

I. Lapidus e K. V. Ostrovitianov


Livro quarto: A teoria do lucro e o preço de produção
Capítulo VII - O lucro e o preço de produção na economia capitalista
32. Rotação do capital e taxa de lucro


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Para além da dimensão do capital constante, para além da composição orgânica do capital todo, outra circunstância contribui fortemente para determinar a taxa de lucro. O capitalista não só se interessa pelo lucro que retira do capital completo, mas também pelo tempo em que obtém este lucro. Vimos que estabelece a taxa de lucro ao dividir o lucro anual pelo capital total investido na empresa.

Mas este capital não permanece invariável todo o ano; uma parte transforma-se, ao longo do processo de produção, em mercadorias acabadas. Sabemos que o valor e o preço das mercadorias compreende o valor do desgaste das máquinas, o valor das matérias-primas, o da força de trabalho, etc.

As mercadorias acabadas realizam-se no mercado, quer dizer, vendem-se, e o dinheiro serve para novas compras de força de trabalho, máquinas, matérias-primas.

Deste modo, o capital reconstituído volta a transformar-se em capital dinheiro, e este dinheiro transforma-se de novo em capital produtivo. Chamemos a este processo o movimento circulatório ou rotação de capital.

Não é difícil dar-se conta que o tempo durante o qual as diferentes partes do capital levam a efeito a sua rotação não é o mesmo. As máquinas e os edifícios são construídos para durar anos e dezenas de anos; portanto devolvem o seu valor ao capitalista pouco a pouco, por pequenas partes, e depois de muito tempo novas máquinas substituem as antigas.

Não acontece assim com as matérias-primas e a força de trabalho. Ao longo do ciclo de produção o seu valor passa integralmente às mercadorias. Vendida a mercadoria, novas matérias-primas e força de trabalho se adquirem(1) com o dinheiro retirado da operação comercial, e o movimento circulatório recomeça.

A parte de capital investido em máquinas e edifícios cujo valor só se restitui por partes chama-se capital fixo.

As partes do capital colocadas em matérias-primas e força de trabalho cujo valor entra na sua totalidade na mercadoria acabada ao longo de um ciclo de produção chama-se capital circulante.

Compreende-se que a velocidade do movimento de circulação das diferentes partes do seu capital não deixam o capitalista indiferente; a importância da parte do capital que tem de ser gasta previamente também não lhe é indiferente. Quanto maior o capital fixo, mais lento é o movimento de circulação; quanto maior for a parte imóvel do capital, menor será a taxa de lucro do capitalista, calculada em relação ao capital global num ano. Ao contrário, quanto mais rápida é a rotação do capital circulante, mais rotações efectua durante o ano e mais lucros acumula o capital global num ano.

Como se passam as coisas na realidade? A composição orgânica do capital cresce com o desenvolvimento técnico. O crescimento do capital constante é, noutros termos, mais rápido que o capital variável.

Mas o crescimento do capital constante, antes de mais nada, significa o crescimento dos gastos em máquinas, edifícios e, em menor medida, em matérias-primas; portanto o capital fixo cresce em primeiro lugar; ao mesmo tempo, a rotação do capital constante diminui de velocidade. As grandes máquinas modernas custam muito mais caro que as máquinas anteriores, menos complicadas e que trabalhavam com um processo de laboração muito mais lento.

Naturalmente é importante não esquecer a existência, em cada grau de desenvolvimento técnico, de empresas ande a rotação do capital tem velocidades diferentes; deste modo, nas empresas que produzem meios de produção (construção de máquinas) a rotação do capital é mais lenta que naquelas que produzem bens de consumo(2).

O tempo de rotação do capital duma empresa pode calcular-se conhecendo-se a importância dos capitais investidos e a soma do capital que efectuou a sua rotação durante o ano.

Suponhamos uma empresa com um capital fixo de 160.000$ e um capital circulante de 40.000$; suponhamos que a rotação do capital fixo se efectua em oito anos e a do capital circulante num mês; a soma do capital que efectua a rotação num ano é, portanto:

Capital fixo 160.000$00 : 8 = 20.000$00
Capital circulante 40.000$00 x 12 = 480.000$00
Total do capital que efectuou a sua rotação num ano 500.000$00

O total do capital investido é de 160.000$ + 40.000$, isto é, 200.000$. O capital que efectuou a rotação é uma vez e meia maior (500.000$). Podemos dizer, noutros termos, que o capital total da empresa efectuou a sua rotação duas vezes e meia num ano.

Se calculamos assim o tempo de rotação do capital das empresas dum mesmo nível técnico, os resultados confirmam plenamente a nossa conclusão acerca da lentidão da rotação nas empresas mais desenvolvidas do ponto de vista técnico.

M. S. Stroumiline construiu o seguinte quadro do tempo de rotação do capital em diferentes empresas de sociedades por acções que funcionavam na Rússia em 1911:

Importância das empresas segundo
a rotação do capital
Número de movimentos circulatórios
durante o ano
5.000.000 rublos 1,51
3.000.000 rublos 1,55
1.000.000 rublos 1,90
500.000 rublos 2,30
101.000 rublos 3,18
10.000 rublos 3,10(3)

Este quadro não indica o nível técnico das empresas, mas pode dizer-se, sem grandes possibilidades de erro, que a técnica é mais elevada nas maiores (tendo em consideração a rotação do capital).

Pode-se, no entanto, fazer uma correcção a estas considerações acerca do aumento do tempo de rotação do capital devido ao desenvolvimento da técnica: este desenvolvimento melhora as comunicações (vias férreas, correios, telégrafos), e disso resulta, por vezes, a aceleração da rotação do capital. Para poder, efectivamente, realizar as mercadorias e começar um novo processo é necessário que estas mercadorias cheguem ao consumidor. Outros avanços técnicos podem também acelerar a rotação do capital. Assim, por exemplo, o curtume do couro era muito demorado quando se aplicavam métodos muito primitivos, o que tornava mais lenta a rotação do capital investido na indústria do couro; desde que se aplica a electricidade para curtir o couro o processo ficou muito abreviado.

Além disso há que admitir que a acção destes diferentes factores não tem grande importância, em comparação com a acção das causas da diminuição da rotação do capital (introdução de máquinas pesadas, mais modernas, etc.). Portanto, a nossa conclusão acerca da diminuição da rotação do capital, devida ao progresso técnico, permanece em geral válida.


Notas de rodapé:

(1) Prescindimos dos diversos factores que complicam estas operações. (retornar ao texto)

(2) Não consideramos aqui as diferenças que existem entre as empresas que produzem as mesmas mercadorias. Já tratámos este ponto. (retornar ao texto)

(3) STROUMILINE, O Problema do Capital Industrial na U.R.S.S., 1925 (retornar ao texto)

Inclusão 26/06/2018
Última alteração 16/08/2018