História do Mundo
Volume II - O Período Moderno

A. Z. Manfred


Capítulo XIV - O Mundo Capitalista no Final do Século XIX


As Principais Características do Desenvolvimento Económico e Social dos Países Capitalistas
capa

Nas três últimas décadas do século XIX operou-se um rápido desenvolvimento do capitalismo, que se tinha agora afirmado em muitos mais países (Sudeste da Europa, Américas do Norte e do Sul, Japão e China até certo ponto). A produção capitalista estava a fazer grandes progressos nos principais países capitalistas, as cidades continuavam a crescer rapidamente e as comunicações melhoravam muito. Ocorreram enormes mudanças durante uma só geração.

No final do século XIX veio a ser conhecido como a «idade do aço», porque o metal estava a substituir a madeira. De 1870 a 1900, a produção do aço foi multiplicada por 56. Outros ramos da metalurgia também avançaram rapidamente. As inovações técnicas e a crescente procura estimularam o desenvolvimento da indústria de engenharia. No final do século, os caminhos de ferro do mundo tinham-se expandido extraordinariamente, totalizando 750 000 km contra os 260 000 do final de 1870. Nos anos noventa, em algumas cidades, os trens puxados por cavalos foram substituídos por uma nova invenção: os carros eléctricos. A electricidade era agora largamente utilizada na indústria, nos transportes e nas comunicações. No final do século, o telefone tornou-se uma comodidade diária tal como tinha acontecido pouco tempo antes com o telégrafo.

O fenómeno da concentração desempenhou um papel importante na indústria, no comércio e nas operações bancárias deste período. As grandes empresas começavam a eliminar as empresas médias e pequenas numa competição cada vez mais viva. Durante as crises económicas mundiais, que ocorreram a intervalos regulares, aproximadamente de 10 em 10 anos, as grandes empresas começaram a «engolir» os pequenos produtores ameaçados de ruína. Em muitas esferas da vida económica desenvolveram-se empresas poderosas e monopólios, grandes bancos, «trusts» e companhias de capital social. Monopólios deste tipo começaram gradualmente a desempenhar um papel importante na esfera específica das operações bancárias e da indústria.

O desenvolvimento capitalista da última parte do século XIX foi de tipo relativamente «pacífico». Não houve grandes revoluções ou guerras à escala continental durante os últimos trinta anos. É claro que houve várias manifestações revolucionárias entre os povos oprimidos e uma cadeia contínua de «pequenas guerras», como as guerras de pilhagem colonial contra os povos da Ásia e da África, mas desde a Guerra Franco - Prussiana e da Comuna de Paris de 1871 até a Guerra Russo - Japonesa (1904- 1905) e à Revolução Russa de 1905, o Mundo não assistiu a grande agitação. Contudo, estavam a desenvolver-se contradições no mundo capitalista, cuja explosão era inevitável. O desenvolvimento económico e político deste período continuou a um ritmo desigual.

O Império Burguês - Junker Alemão

Depois de a unidade alemã ter sido conseguida em 1871, a economia do país fez rápidos progressos. Os cinco mil milhões de francos arrancados à França como indemnização de guerra depois da Guerra Franco-Russa deram um importante estímulo à indústria alemã. No final do século, a indústria alemã tinha ultrapassado a da França tanto em ritmo de crescimento como em nível de desenvolvimento, e em algumas esferas tinha também ultrapassado a da Inglaterra. Nesta altura, a Alemanha era já uma das principais potências industriais do Mundo e, em algumas esferas, tais como a indústria química e a electrotecnologia, estava à cabeça da Europa, ultrapassando de longe países onde o capitalismo se estabelecera muito tempo antes. A agricultura alemã começava também a assumir rapidamente um carácter capitalista: as grandes propriedades Junkers foram transformadas em fábricas de cereais e carne.

No entanto, este desenvolvimento económico não implicava qualquer progresso social. A Alemanha era ainda um dos poucos Estados da Europa que não tinha tido uma revolução popular bem sucedida, e este factor deixaria as suas marcas em todo o desenvolvimento posterior do país, do seu povo e da sua tradição nacional.

O novo império semiabsolutista era de tipo nitidamente militar e chefiado pela Prússia reaccionária e pelos seus imperadores, os Hohenzollern. A nobreza, Junkers e militares nada tinham pendido dos seus antigos privilégios e continuavam a desempenhar o papel dominante nas questões do país.

Durante 20 anos, até 1890, a política interna e externa do império alemão esteve nas mãos do Chanceler Bismarck. Astuto político sem escrúpulos, Bismarck apenas procurava promover os interesses do capitalismo no progresso do país. Foi ele que construiu a força militar do país e através de complexas manobras diplomáticas esforçou-se por garantir à Alemanha uma voz decisiva nas questões europeias. Fez o que pôde para consolidar a unidade alemã sob o domínio da Prússia e da Casa Hohenzollern, e compreendeu que o inimigo maior do país estava dentro das suas fronteiras: a classe operária. Entre 1878 e 1890 pôs em prática uma Lei Anti-Socialista banindo as actividades dos Sociais-Democratas Alemães e obrigando-os à clandestinidade. Esta lei, no entanto, não venceu a classe operária alemã, e os Sociais-Democratas, chefiados por August Bebel e Wilhelm Liebknecht, cerraram fileiras e atingiram um nível ainda mais alto de consciência política. Contrariamente às esperanças dos reaccionários alemães, a influência do partido no país não diminuiu, pelo contrário tornou-se ainda maior. Em 1890, a Lei Anti-Socialista foi suspensa, o que implicava uma séria derrota para Bismarck e uma vitória para a classe operária alemã.

O novo imperador, o kaiser Guilherme II (1888-1918) estava decidido a ter a última palavra em todas as questões de Estado, e Bismarck não teve outro remédio senão demitir-se. Neste novo reinado, porém, o aspecto militarista da política alemã não mostrou sinais de abatimento. Os anos 90 assistiram a mais progressos da indústria alemã. As aspirações dos capitalistas alemães tornaram-se mais ambiciosas à medida que a economia do país se tomava mais forte. A classe dominante começou a falar de uma transição para «política à escala mundial» e a Alemanha apressou-se a tomar parte na corrida para as possessões coloniais no estrangeiro, e a construir uma esquadra. Guilherme II era a favor desta política e o seu império militarista começou a fazer preparativos declarados para uma guerra mundial.

O Início do Declínio da Inglaterra

Entretanto, a Inglaterra, que esteve à cabeça do resto do Mundo Ocidental durante século e meio começava nitidamente a perder a sua antiga supremacia nos últimos 30 anos do século XIX.

A Inglaterra ainda tinha um enorme império colonial que constituía uma fonte de inúmeras riquezas e continuava a ser o principal pilar do seu poderio. Também tinha a maior marinha mercante do Mundo e a maior esquadra de guerra e grandes reservas de capital espalhadas pelo Mundo. Contudo, a Inglaterra já não tinha o monopólio industrial que fora seu até à primeira parte do século XIX. Os Estados Unidos já a tinham ultrapassado em volume de produção industrial, e a Alemanha estava agora à sua frente em algumas esferas, e quanto ao ritmo de crescimento industrial, a Inglaterra tinha já sido ultrapassada por alguns Estados capitalistas mais jovens.

Tropas inglesas em Alexandria

As classes dominantes em Inglaterra lutaram para consolidar a posição do seu país no Mundo, expandindo ainda mais o seu império colonial. No final dos anos 70, a Inglaterra travou um guerra de extermínio contra os Zulus da África do Sul, o que lhe deu a possibilidade de tomar vastos territórios. Na mesma altura travou também uma longa guerra colonial contra o Afeganistão, cujo povo conseguiu salvaguardar a sua independência. Em 1882, ocupou o Egipto que ficou na prática dominado. Alguns anos antes, por manobras diplomáticas, a Inglaterra tinha conseguido arrancar Chipre aos Turcos, anexando-a em 1878. O Sudão foi capturado nos anos oitenta, e Burma foi anexada em 1 de Janeiro de 1886. O império colonial britânico continuou a estender as suas fronteiras, trazendo dor e vida dura aos povos súbditos da África, da Ásia e da Oceânia, que estavam a ser esgotados pelos colonialistas britânicos.

A questão irlandesa continuaria a ser uma das grandes fontes de controvérsias políticas durante todo este período: o povo escravizado da Ilha da Esmeralda continuou numa luta corajosa contra os seus opressores ingleses.

Durante o último termo do século XIX, o poder político em Inglaterra flutuou entre dois partidos burgueses, os liberais e os conservadores. O líder liberal William Gladstone (1809-1898), quatro vezes primeiro-ministro, era um mestre do compromisso político e sabia contornar as dificuldades. O líder conservador Benjamim Disraeli (1804-1881) preferia as atitudes teatrais particularmente na esfera das intrigas e manobras diplomáticas, e gostava de brincar com o fogo. Fundamentalmente, as políticas seguidas por estes dois partidos tinham muito em comum: tanto os liberais como os conservadores defendiam os interesses da grande burguesia inglesa, dos proprietários de terras e dos colonialistas. Contudo, para manter para as classes ricas o domínio das questões do país num período em que os operários e suas famílias constituíam a grande maioria da população, tanto os liberais como os conservadores foram obrigados a promulgar pouco a pouco um certo número de concessões democráticas e sociais. Durante os anos setenta foi publicada muita legislação social nova e importante: a educação primária foi aumentada para ser tornada obrigatória em 1880, os sindicatos foram legalizados, foram adoptadas novas leis para a protecção ao trabalho das crianças e pelo Acto de Saúde Pública de 1875 foram estabelecidas autoridades de saúde pública em todo o país. O Terceiro Acto de Reforma de 1884 alargou o sufrágio, duplicando o eleitorado masculino.

Estas concessões parciais a que as classes dominantes se viram obrigadas foram o resultado indirecto da actividade política da classe operária inglesa. No final do século passado os sindicatos eram as principais organizações do proletariado inglês. Só nos anos oitenta é que começaram a aparecer organizações socialistas no movimento operário britânico, e mesmo estas eram pequenas e pouco influentes. Em 1893, o Partido Trabalhista Independente foi estabelecido com Keir Hardie (1856-1915) como seu líder. Este partido punha a luta política do proletariado à frente de todo o resto, mas também ele se mostrou mal equipado para se tornar uma organização revolucionária militante do proletariado inglês.

Os trabalhadores ingleses deste período organizaram frequentes greves em larga escala, mas no final do século XIX este movimento de greves, em comparação com o Cartismo, não tinha, decididamente, ardor militante. E uma das mais importantes razões por que isto sucedeu era o facto de nesta altura a burguesia ter arranjado um bastião de apoio sob a forma de «aristocracia de trabalhadores», constituída pela camada de trabalhadores, especializados, mais bem paga.

É claro que nem todos os sectores do proletariado sucumbiram igualmente à influência da burguesia. No entanto, nas fileiras do movimento organizado dos trabalhadores, os Sindicatos, o Partido Trabalhista Independente e o Movimento Cooperativo, a influência da burguesia reflectiu-se quer na sua ideologia quer na sua táctica oportunista.

A França sob a Terceira República

Depois da humilhante derrota na guerra com a Prússia, que implicou a perda das duas províncias industrialmente desenvolvidas, a Alsácia e a Lorena, e o pagamento de uma enorme (para o período) indemnização de guerra de cinco milhões de francos, o desenvolvimento económico da França sofreu grandes reveses. Mais de metade da população dedicava-se ainda à agricultura. As pequenas e médias empresas continuavam a desempenhar um papel importante na indústria e só nos anos noventa começaram a desenvolver-se novas indústrias baseadas nas mais recentes inovações tecnológicas. A concentração ia dar-se com especial rapidez nas operações bancárias: alguns bancos franceses conseguiram controlar um grande capital, que no entanto não era utilizado para o desenvolvimento económico. Em busca de lucros cada vez maiores, os capitalistas franceses preferiram exportar o seu capital para o estrangeiro, sobretudo sob a forma de empréstimos governamentais. Cerca de 1890, as exportações de capital francês já totalizava os vinte mil milhões. Isto representava uma séria perda para a economia do país e atrasou o seu desenvolvimento. Ao mesmo tempo, os capitalistas estavam a receber grandes dividendos. Esta exportação do capital francês era de carácter marcadamente usurário.

Depois da derrota da Comuna de Paris estabeleceu-se uma vaga de pesada reacção. Os Comunardos foram fuzilados, deportados para as colónias ou presos, e os tribunais militares só foram dissolvidos em 1876. A França oficialmente era uma república, mas uma república sem princípios republicanos, uma «república sem republicanos» ou «república conservadora», como veio a ser chamada, chefiada pelos reaccionários que tinham afogado a Comuna num banho de sangue. Só em 1875 foi finalmente aprovada pela Assembleia Nacional uma constituição que estabelecia as bases legais da república, mas sem poder legal e apenas por uma maioria de um voto. Em muitos aspectos a Terceira República foi menos democrática que a Primeira ou a Segunda.

Só no final dos anos setenta é que a ordem republicana foi firmemente estabelecida, depois de várias conspirações monárquicas terem sido derrotadas. Mas mesmo nesta «república de republicanos», que era o fruto da luta do proletariado e dos trabalhadores, o Poder estava concentrado nas mãos de um pequeno círculo de republicanos burgueses. Durante os anos de luta depois da derrota da Comuna, os líderes dos republicanos burgueses, Léon Gambetta (1838-1882) e Jules Ferry (1832-1893), prometeram ao povo um vasto programa de reformas. Contudo, uma vez no Poder, apenas puseram em prática parte destas reformas, promulgando-as em «pequenas doses», com longos intervalos. Em 1880 foi decretada uma amnistia para os Communardos e o início dos anos oitenta assistiu à introdução da educação primária obrigatória, à legalização dos Sindicatos e à garantia da liberdade de Imprensa. Estas reformas foram significativas, mas não foram suficientemente longas para satisfazerem os operários, que continuaram a opôr-se à política de anexação colonial que o governo burguês expandiu no seu próprio interesse. Em 1881, a França anexou a Tunísia e depois de uma guerra cruel que durou de 1883 a 1885 o Vietname foi acrescentado às possessões francesas da Indochina. Nos anos oitenta e noventa os colonialistas franceses tomaram Madagáscar e vastos territórios na África Equatorial e do Noroeste.

Em 1879-1880 foi estabelecido em França um Partido dos Trabalhadores, chefiado pelos corajosos lutadores pelo socialismo Jules Guesde (1845-1922) e Paul Lafargue (1842-1911). Guesde e Lafargue foram discípulos e seguidores de Marx e pediam-lhe muitas vezes conselhos, assim como a Engels, e a posição do partido era basicamente marxista.

Lado a lado com este partido, apareceram também alguns outros partidos não marxistas no movimento trabalhista francês: os blanquistas, os possibilistas (partidos abertamente oportunistas) e os alemanistas. Os anarco-sindicalistas exerceram grande influência no movimento sindical francês. Esta desunião e falta de homogeneidade do movimento operário francês enfraqueceu a posição do proletariado e reduziu as suas capacidades a influenciarem outros sectores dos trabalhadores. Aproveitando-se desta situação, os círculos dominantes da burguesia não só se recusaram a pôr em prática mais reformas como também se mostraram abertamente hostis às forças da democracia. Os anos noventa assistiram a uma aproximação entre os republicanos burgueses e os monárquicos. Ambos os grupos esqueceram as antigas divergências e trocaram ramos de oliveira, tornado amigos pelos objectivos comuns, que eram a oposição à democracia na política interna e a obtenção dos máximos lucros do saque colonial na política externa. Os magnates do negócio, os militares e a camada superior do clero cerraram gradualmente fileiras num bloco reaccionário unido.

Os anos noventa distinguiram-se por uma luta tensa entre as forças da reacção e a democracia. Escritores franceses importantes lutaram ao lado da classe trabalhadora nas fileiras do movimento democrático: entre eles Émile Zola (1840-1902) e Anatole France (1844-1924). Pouco a pouco, no decurso da luta, as forças da democracia começaram a vencer, e a reacção a fazer concessões. No entanto, a burguesia francesa, que nesta altura tinha já adquirido muita experiência, tomou medidas para impedir uma vitória decisiva da esquerda, e através de astutas manobras conseguiu provocar uma cisão entre os seus opositores. Em 1899, formou-se um governo burguês dirigido por Waldeck-Roussean, no qual foi oferecido um lugar ao socialista Alexandre Millérand. A sua aceitação teve a aprovação da ala direita socialista mas foi criticada pela ala esquerda. A confusão que daí resultou nas fileiras do movimento socialista minou o papel da facção democrática em geral.

Rápido Desenvolvimento Capitalista nos Estados Unidos

Depois do final da Guerra Civil, os Estados Unidos entraram num período de rápido desenvolvimento económico. Dentro de pouco tempo iam tornar-se num dos Estados economicamente mais avançados do Mundo. Em 1860, os Estados Unidos tinham ocupado o quarto lugar entre as nações em volume de produção industrial, mas cerca de 1894 já estavam à cabeça tendo deixado os outros países capitalistas muito para trás. As linhas de caminho de ferro atravessaram o país de Norte a Sul e de Leste a Oeste, e enormes cidades como Nova Iorque, com vários milhões de habitantes, Chicago, Filadélfia e São Francisco cresceram com uma velocidade que nunca fora atingida na Europa. Expulsando as tribos Índias das suas terras tradicionais à medida que avançavam, os lavradores americanos colonizaram as vastas e férteis terras do Ocidente. Os grandes espaços abertos e a escassez de mão-de-obra encorajaram a ampla introdução de maquinaria. Os Estados Unidos atingiram em breve um nível de mecanização sem precedentes em todas as esferas da produção.

A abolição da escravatura depois da Guerra Civil afastou o último grande obstáculo ao pleno desenvolvimento capitalista e levou a uma desenfreada expansão económica. Esta também teve o seu lado negativo. O violento carácter da liberdade da competição capitalista e a conquista da riqueza tomaram-se padrões firmemente estabelecidos da vida americana. Os mais ambiciosos dos que procuravam fazer dinheiro, que estavam preparados para fazer todo o género de patifarias, manobras ou crimes, reuniram enormes fortunas. Foi por métodos destes que os grandes magnates americanos como Vanderbilt, Rockefeller, Morgan e Gould acumularam as suas riquezas. Os bons escritores americanos da época, Mark Twain (1835-1910), Jack London (1876-1916) e O’Henry (1862-1910) denunciaram este mundo cruel de violência, de manipulação de crime e a desesperada corrida de ratos que se formara na florescente república do Novo Mundo.

Outro aspecto deste rápido desenvolvimento do capitalismo americano, com os seus males concomitantes, foi a cruel exploração e discriminação racial praticada contra os trabalhadores de «ascendência não americana». Os trabalhadores imigrantes e os Chineses e Japoneses nascidos na América, os mestiços de países da América Latina, e sobretudo os negros, foram submetidos a condições muito piores do que os yankees. Trabalhavam mais por menos dinheiro, do que os outros trabalhadores, e estavam privados dos direitos humanos mais elementares. Logo em 1881 foi aprovada uma lei em Tennessee que proibia aos negros viajarem nas mesmas carruagens de comboio do que os brancos. Mais leis discriminatórias posteriores foram adoptadas em outros Estados do Sul e os negros foram privados de praticamente todos os direitos políticos e reduzidos ao estado de cidadãos «de segunda classe».

Desta maneira, os Estados Unidos da América, o país com a tecnologia mais avançada e o ritmo mais elevado de crescimento industrial, tornaram-se um país onde a ausência de lei e a bárbara discriminação contra um sector da população baseada exclusivamente na cor da pele estava na ordem do dia.

O Desenvolvimento Capitalista no Japão

A revolução burguesa, ou a Restauração Meiji de 1867-1868, preparou o caminho para um desenvolvimento capitalista relativamente rápido no Japão. A desunião feudal e os padrões da propriedade da terra pertenciam agora ao passado e começaram a aparecer empresas em larga escala por todo o lado. Sob pressão do campesinato, que continuava a protestar contra os vestígios das práticas feudais, os círculos dominantes do país viram-se obrigados a promulgar uma série de reformas agrícolas. Uma reforma, feita em 1872-1873, reconhecia a posse da terra como direito daqueles que na prática a tinham, o que significava que aqueles cujo direito de posse já era hereditário se tornaram donos da terra que trabalhavam, mas os que a alugavam temporariamente perdiam o direito à posse dela. As terras hipotecadas tornaram-se propriedade daqueles que oferecessem hipotecas sobre elas. Esta reforma trouxe importantes vantagens aos proprietários e camponeses ricos, comerciantes e usurários a quem os camponeses tinham antes as terras hipotecadas. O campesinato perdeu o direito de propriedade de cerca de um terço da terra que tinha possuído anteriormente. Os baldios, incluindo bosques, pastagens e prados, tomaram-se propriedade do imperador, o que fez dele o mais poderoso proprietário do país. Os donos de pequenas quintas camponesas, já endividados até ao pescoço e agora sob o peso de maiores impostos sobre a terra não tardariam em encontrar-se incapazes de conservar as terras que tinham adquirido pela nova reforma e tornaram-se rendeiros sem quaisquer direitos de propriedade. As suas terras tornaram-se propriedade dos grandes proprietários e camponeses ricos, de quem em breve se tornaram dependentes para sempre.

Isto significa que o desenvolvimento capitalista foi atrasado na agricultura, que conservou um carácter semifeudal. Explica também o desenvolvimento capitalista relativamente lento da indústria durante os primeiros anos a seguir à reforma. Contudo, à medida que a burguesia passou a desempenhar um papel mais importante nas questões do país, o governo começou a encorajar mais activamente as empresas industriais, investindo capitais consideráveis na construção de novas fábricas. Nos anos noventa apareceram os primeiros monopólios do Japão, desenvolvendo-se na base das boas casas comerciais que tinham existido desde os tempos do feudalismo.

O desenvolvimento industrial trouxe consigo o habitual crescimento da classe operária. Logo no início do século XIX apareceram no Japão os primeiros sindicatos. O seu aparecimento foi incentivado pela «Sociedade para a Organização dos Sindicatos de Trabalhadores», dirigida por trabalhadores e intelectuais progressistas, sendo Sen Katavama (1859-1933) seu presidente. Em 1898 realizou-se no Japão a primeira manifestação de Maio.

Num esforço para deter o avanço do movimento operário, em 1900 o governo fez sair uma «Lei sobre a Manutenção da Ordem», que proibia as greves. Postos perante a repressão policial, alguns sindicatos diminuíram a sua actividade, mas 1901 assistiu a uma nova vaga de protestos. Os intelectuais progressistas e os chefes do movimento operário, como Katayama, Kotoku e Kawakami, chegaram à conclusão de que era fundamental fundar um partido socialista de trabalhadores. O Partido Social-Democrata foi fundado oficialmente em 20 de Maio daquele ano. O programa do partido só reconhecia métodos de luta legais e considerava a campainha pelo sufrágio universal como sua tarefa principal. Além disso, exortava a cortes nas despesas do exército, à dissolução da Câmara Superior e a eleições gerais. O governo declarou imediatamente o partido ilegal.

O imperialismo japonês logo desde o seu aparecimento em fins do século XIX era de carácter militarista feudal, dado que o capitalismo monopolista do país estava ainda enredado num complicado jogo de relações de produção pré-capitalistas feudais. Os anacronismos feudais da vida política do país reflectiam-se na tremenda influência exercida pelos círculos militares e proprietários, em várias características absolutistas, na fraqueza do sistema parlamentar, na predominância de representantes das forças armadas no aparelho de Estado e no facto de as massas estarem privadas de todos os direitos políticos.

Então, os círculos dominantes japoneses não pouparam fundos para organizar um exército bem equipado. A Coreia foi um dos principais alvos, contra os quais se dirigiam os planos de ataque dos militaristas japoneses nesta época. Foi com esta presa à vista, que o Japão atacou a China em 1894 derrotando rapidamente o seu gigantesco vizinho. Este sucesso militar e a grande indemnização que a China foi obrigada a pagar foram um poderoso estímulo para o desenvolvimento capitalista do Japão. A vitória sobre a China deu ainda origem a uma vaga desenfreada de propaganda chauvinista. Os círculos dominantes começaram desde logo a arquitectar toda a espécie de planos para uma expansão colonial, propagando ideias para a criação de um «Grande Império Japonês» que incluiria a Coreia, as províncias do Nordeste da China, a Mongólia e a Sibéria Oriental. A burguesia japonesa via a Rússia czarista, que aspirava também a expandir-se sobre a China e a Coreia, como seu principal rival na luta pela supremacia da Ásia.

Certo do apoio não só da Inglaterra, com quem o Japão concluíra um tratado em 1902, dirigido contra a Rússia, mas também dos Estados Unidos, o Japão atacou a Rússia em 1904. Os operários japoneses progressistas, como os russos, tinham consciência de que esta guerra era travada para promover os interesses da burguesia, e só traria problemas e privações ao povo trabalhador de ambos os países. Num congresso da Segunda Internacional, realizado em Amesterdão em Agosto de 1904, Plekhanov e Katayama saudaram-se como amigos. Contudo, as organizações operárias não eram suficientemente fortes na altura para pressionarem os respectivos governos, e a guerra continuou. A Rússia sofreu uma humilhante derrota nesta guerra contra os militaristas Japoneses. Para esmagar a revolução em casa e manter a ordem interna a todo o custo, o governo czarista foi obrigado a concluir o Tratado de Portsmouth em 1905, que fazia aos Japoneses concessões consideráveis. Foi nessa altura que a Sakhalina do Sul foi cedida ao Japão; como em consequência disso, a Rússia foi privada do seu único porto do Pacífico. As comunicações com os territórios russos, da Kamchatka e Chukotka, ficaram também sob controlo japonês.

O Tratado de Portsmouth alterou substancialmente a balança do Poder no Extremo Oriente durante algum tempo. O Japão era agora reconhecido como Grande Potência. No entanto, o tratado não satisfez o apetite dos militaristas japoneses nem diminuiu a agressividade dos proprietários e da burguesia. Em 1906, os militaristas japoneses convenceram o governo a pôr em execução um programa mais ambicioso para aumentar o exército e a marinha.

Depois da Guerra russo-japonesa, cujo poder fora consolidado com a vitória, promoveu o rápido desenvolvimento da economia do país, especialmente da indústria. Entre 1905 e 1913 foram investidos 3800 milhões de yen na economia, sendo 46,8% desta soma gastos no desenvolvimento industrial. Este investimento deu desde logo resultados impressionantes: a produção do ferro em lingotes aumentou de 145 mil toneladas em 1906 para 243 mil toneladas em 1913, a produção do aço no mesmo período aumentou de 69 mil toneladas para 255 mil toneladas e a indústria de energia desenvolveu-se suficientemente para fornecer a energia necessária para a rápida industrialização do país. A concentração da produção e do capital progrediu ainda mais nesta época e a economia do país acabou por ser cada vez mais dominada por empresas poderosas, como a Mitsui, a Mitsubishi, a Sumitomo e a Yasuda. O volume do comércio externo do Japão passava de 606 milhões de yen de mercadorias em 1903, para 1361 milhões de yen em 1913.

Por estes anos, o ritmo de crescimento económico do Japão tinha já ultrapassado o de muitos dos outros países capitalistas. A exploração e a pilhagem dos povos da Coreia e da Manchúria do Sul e dos camponeses e trabalhadores locais, tornaram possível um rápido desenvolvimento da economia capitalista no Japão. Com excepção dos trabalhadores das empresas do Estado (cada uma das quais tinha menos de dez trabalhadores), a força de trabalho industrial do Japão aumentou de 526 mil em 1904 para 916 mil em 1913.

A Revolução Russa de 1905 ia ter grandes repercussões no Japão. Em 5 de Setembro, realizou-se um «metting» de massas em Tóquio e houve importantes escaramuças entre a polícia e a multidão. A este «meeting» seguiu-se uma vaga de protesto dos operários nos meses e anos posteriores. Em 1906, os operários dos caminhos de ferro, os mineiros e operários dos arsenais de Kure e Tóquio, os condutores e cobradores dos eléctricos de Tóquio, Osaka e Kobe e outras cidades entraram em greve.

O movimento socialista também se tornou mais activo. Em Fevereiro de 1906, o partido socialista foi reconstruído e era agora dirigido por Katayma. Sakai, Niskikawa e Mori. O partido fundou o jornal Hikari (Luz) substituído em 1907 pelo Heimin Shimbun (O Jornal do Povo). O partido organizou alguns «meetings» e manifestações. Em Fevereiro de 1907, o partido foi proibido e pouco depois o Heimin Shimbun foi encerrado.

Em Julho de 1908, subiu ao Poder um governo chefiado por Katsura que trabalhava em colaboração directa com as forças armadas. A formação deste novo governo marcou o início de uma vaga de cruel repressão policial contra os líderes progressistas do movimento operário. Em 1910 foi feita uma acusação contra um dos líderes do partido socialista, Kotoku, e a mais 24 dos seus companheiros. Doze dos réus foram executados, incluindo Kotoku, e os outros foram condenados a trabalhos forçados. Apesar destas represálias, em 11 de Dezembro daquele ano uma ampla greve dos trabalhadores dos transportes de Tóquio foi organizada por Sen Ktayama.

Entretanto, o Japão continuou a organizar o seu exército, a melhorar o seu equipamento e a fortalecer a sua posição no Extremo Oriente. Em 1910, o governo japonês obrigou o rei da Coreia a abdicar a favor do imperador do Japão. Em 22 de Agosto de 1910, este acto foi formalmente ratificado num tratado que fazia da Coreia uma colónia japonesa. A activa expansão dos Japoneses na Ásia provocou relações tensas entre o Japão e os Estados Unidos.

A Política Externa das Grandes Potências

No final do século XIX, os chefes das Grandes Potências pareciam desejosos de falar de paz. Os seus discursos daquele período davam a impressão de que ia surgir uma nova era nas relações entre as Grandes Potências, em que a guerra seria condenada e se percorriam caminhos para acordos pacíficos. Na realidade, contudo, as aparências nunca foram tão ilusórias. Todas as belas palavras sobre a paz eram apenas a máscara de activa preparação da guerra. As contradições entre as Grandes Potências, longe de diminuírem, estavam a aumentar. No final do século, todas as Grandes Potências seguiam uma política de activa anexação colonial. A Inglaterra e a França competiam uma com a outra nos seus esforços para conseguirem o controlo do Egipto, na pilhagem da Ásia do Sudeste e na África Equatorial e do Noroeste, enquanto a Inglaterra e a Rússia lutavam na Ásia Central. As conquistas coloniais alemãs na África e na Ásia tinham provocado descontentamento entre o clube das potências coloniais estabelecidas. Estava a travar-se um dura luta entre a Inglaterra e os Estados Unidos pelo domínio da América Latina. A luta por um maior quinhão de pilhagem colonial deu origem a incessantes conflitos.

As relações entre as potências sofriam também deteriorações em resultado dos interesses em conflito na Europa. O Tratado de Francfort de 1871, que tirara à França a Alsácia e a Lorena, era causa de um amargo antagonismo entre a França e a Alemanha. Receando a sede de vingança da França e os seus esforços para encontrar aliados, a Alemanha, que nesta altura tinha ultrapassado a França na corrida das armas, provocou deliberadamente vários incidentes diplomáticos. Bismarck e as forças armadas alemãs tentavam infligir novo golpe esmagador à França antes de ela ter novos aliados e estava pronta de novo a declarar guerra. A Rússia, que via na França um contrapeso natural do alarmante crescimento do poderio militar alemão, procurou impedir os planos dos militaristas alemães para uma nova guerra contra a França.

Em 1877 estalou uma guerra entre a Rússia e a Turquia, de que resultou a libertação da Bulgária do domínio turco. Esta guerra também contribuiu para a crescente tensão entre as Grandes Potências, particularmente entre a Rússia e a Inglaterra e a Rússia e a Áustria-Hungria. No Congresso de Berlim, realizado em 1878, por causa das posições adoptadas pela Inglaterra e pela Áustria-Hungria apoiadas pela Alemanha, a Rússia viu-se obrigada a renunciar a muitas das suas pretensões. Daí que a Áustria-Hungria tivesse aproveitado a situação para ocupar a Bósnia e a Herzegovina, enquanto a Inglaterra ficava com Chipre.

A Criação dos Campos Armados

Nesta nova situação, Bismarck apressou-se a concluir uma aliança político-militar com a Áustria-Hungria (7 de Outubro de 1879). A Aliança Dupla, como é conhecida, foi dirigida contra a Rússia e a França. Em Maio de 1882, a Aliança Dupla tornou-se a Tripla Aliança, quando, aproveitando-se da indignação da burguesia italiana pelo facto de a França ter ocupado a Tunísia, os diplomatas alemães conseguiram convencer a Itália a juntar-se-lhes. Esta Tripla Aliança foi o primeiro bloco político-militar que se estabeleceu na Europa. Embora os seus fundadores se lhe referissem sob o nome de Liga da Paz, na prática era um grupo militar agressivo chefiado pela Alemanha e fundado para favorecer o seu desejo de dominar a Europa e o Mundo.

Como resposta à Tripla Aliança, entre 1891 e 1893 foi negociada uma aliança entre a Rússia e a França, o que significava que a Europa estava agora dividida em dois grandes campos hostis. Durante algum tempo a Inglaterra limitou-se a ficar de fora dos dois grupos, esperando explorar as eventuais divergências em seu proveito. Contudo, em breve, a rivalidade entre a Inglaterra e a Alemanha pelo domínio do Mundo ia surgir como uma das questões mais importantes da política internacional.

A Ascensão do Militarismo

O final do século XIX, embora não assistisse a uma guerra na Europa, foi assinalado por uma nítida aceleração da corrida às armas. As Grandes Potências competiam umas com as outras em orçamentos militares, em construções militares e navais e na expansão das suas forças armadas. Na maior parte destes países, os sistemas de recrutamento voluntário foram substituídos por serviço militar obrigatório, e houve uma modernização em larga escala do equipamento militar. A Inglaterra e a Alemanha, e em menor grau a Rússia, a França, o Japão, a Itália e os Estados Unidos estavam a construir novas esquadras, nas quais se depositavam as maiores esperanças antes de aparecer em cena o avião. A conclusão das duas alianças militares serviu para acelerar ainda mais a corrida às armas e ambos os campos começaram declaradamente a preparar-se para a guerra.

A Crescente Luta de Classes nos Países Capitalistas

Embora não tivesse havido na Europa grande agitação revolucionária desde a Comuna de Paris, as contradições de classes, longe de se atenuarem, tinham-se acentuado muito no virar do século.

No decurso de uma luta longa e persistente, a classe operária tinha conseguido arrancar algumas concessões à burguesia. O dia de trabalho foi encurtado e foram introduzidas algumas melhorias nas condições de trabalho. Estas medidas não foram suficientes para satisfazer os trabalhadores, cujas condições de vida, na maior parte dos países capitalistas, eram tão difíceis como antes. O dia de trabalho ia de 10 a 14 horas e em alguns ramos da indústria era ainda mais longo, ao mesmo tempo que se intensificavam muitos processos de produção. Uma sucessão de crises e o desemprego crescente tiravam aos operários e às suas famílias todo o sentido de segurança, e obrigavam-nos a viver sob ameaça constante de desemprego e de fome. O rápido crescimento da população urbana verificado neste período contribuiu para a subida de rendas e para um aumento do preço da alimentação e do custo de vida em geral, anulando na prática os aumentos de salários que tanto tinham custado a obter. À excepção do sector privilegiado dos trabalhadores especializados, os salários da grande massa de operários industriais diminuíram mais ainda no fim do século. O proletariado protestou contra este estado de coisas através de greves, marchas de desemprego e manifestações políticas. Amplas greves varreram a Inglaterra, os Estados Unidos, a França, a Alemanha e a Itália em várias ocasiões durante este período, particularmente durante os anos oitenta.

O rápido crescimento da grande indústria levou à ruína os pequenos produtores, que ficaram incapazes de competir com os seus poderosos rivais. Os artífices, os operários e os pequenos comerciantes só encontravam dificuldades e arruinavam-se. Ia-se assistir a um processo de estratificação nas fileiras do campesinato. O estrato numéricamente pequenos dos camponeses ricos aguentou-se e prosperou, ao mesmo tempo que a crise agrícola do final do século XIX trazia grandes privações a quase todos os outros grupos do campesinato.

Entretanto, os movimentos de libertação nacional dos povos oprimidos começavam a tomar-se mais activos, não só nos países da Ásia e da África, onde começara um novo capítulo do movimento de libertação mas também nos países capitalistas desenvolvidos. Os Polacos lutaram contra a Rússia czarista, a Alemanha do Kaiser e a Áustria-Hungria para restaurar a sua» independência nacional. Os Irlandeses insistiram ainda num governo próprio. Os negros dos Estados Unidos, que eram tratados como párias sociais, procuravam um meio de conseguir fazer valer os seus direitos sociais. Os Finlandeses começaram também a lutar pela sua independência nacional. Os Húngaros, Checos e Jugoslavos continuavam sob o jugo dos Habsburgos.

As reformas democrático-burguesas mais importantes estavam ainda muito atrasadas em alguns países capitalistas. A maior parte dos Estados europeus, nesta altura, eram ainda monarquias, e os regimes semiabsolutistas continuavam a prosperar na Alemanha e na Áustria-Hungria. Em qualquer parte do Mundo as mulheres não tinham ainda conseguido direitos políticos e na maioria dos países capitalistas ainda existia a qualificação de franquia pela propriedade e outras; a grande massa dos operários ainda não tinha direito de voto.

A luta de classes do povo trabalhador, os movimentos nacionais de libertação das nações subjugadas e a campanha pelas liberdades democráticas formavam um fundo comum de oposição que aprofundou os antagonismos de classe. Via-se que as contradições de classe que se acumularam rapidamente neste período estavam quase a vir à superfície.

A Fundação de Partidos Operários - A Segunda Internacional

A principal força organizadora a unificar as fileiras dos menos privilegiados e descontentes era a classe operária. Durante as últimas três décadas do século XIX o proletariado atingiu uma nova maturidade, que encontrou expressão na criação de novos partidos operários.

Em 1883, morreu o grande líder e mestre da classe trabalhadora, Karl Marx. No entanto, a doutrina revolucionária que legava aos trabalhadores, o marxismo, continuou a ganhar cada vez maior número de adeptos; pouco a pouco foi ultrapassando as ingénuas doutrinas utópicas que o tinham precedido e ia tornar-se a ideologia principal da classe operária.

Os partidos operários que surgiram durante os anos setenta e oitenta eram sobretudo partidos marxistas. Em 1875 foi fundado o Partido dos Trabalhadores Socialistas da Alemanha, e, em 1877, o Partido Socialista Operário da América, em 1879-1880 fundou-se o Partido dos Trabalhadores Franceses e, em 1883, o Grupo de Emancipação do Trabalho na Rússia; em 1888 foi fundado um Partido Social-Democrata na Áustria; em 1889, na Suíça e na Suécia, e, em 1891 na Bulgária. A fundação destes partidos operários foi um importante passo em frente no desenvolvimento do movimento operário organizado.

Agora que muitos países já possuíam os seus próprios partidos operários independentes, naturalmente que surgiu a questão de como melhor os unir numa base internacional para poderem lutar pela causa comum com mais eficiência. Em 14 de Julho de 1889, no Centenário da Revolução Francesa, foi aberto em Paris o Congresso Inaugural da Segunda Internacional. Frederich Engels, amigo e companheiro de Marx, desempenhou um papel importante na preparação e criação da Segunda Internacional.

Nos primeiros anos da sua actividade, a Segunda Internacional manteve-se uma organização basicamente proletária, defendendo sobretudo posições marxistas, embora tenham surgido tendências oportunistas nalguns dos partidos sociais-democratas e na Internacional em geral, logo desde princípio. Nesta primeira fase, a Segunda Internacional conseguiu muitas coisas positivas. No seu primeiro congresso em 1889, foi adoptada uma resolução para que o 1º de Maio fosse celebrado como Dia Internacional do Trabalho pelos trabalhadores de todos os países para manifestar a sua solidariedade proletária.

Os meios de combater o militarismo e impedir a guerra foram discutidos em pormenor nos congressos da Segunda Internacional. Nas suas resoluções, a Internacional denunciava as políticas militaristas seguidas pelos governos do mundo capitalista e exortava os socialistas a votarem contra os créditos de guerra nos Parlamentos e a empreender uma campanha consistente contra a ordem social burguesa. A luta contra o militarismo e a guerra era agora considerada como uma das principais tarefas da classe operária.

A Segunda Internacional desenvolveu um trabalho muito útil na discussão e na elaboração de tácticas a utilizar pelo proletariado e no estudo da teoria da utilização das plataformas parlamentares legais para promover a sua causa e do seu papel nos sindicatos. Era vital para os partidos proletários ter uma clara compreensão da intrincada arte da luta política, dominar os métodos necessários das campanhas políticas legais durante o tempo de «paz» para fazer os preparativos adequados para as lutas de classes que já estavam iminentes. Nesta fase, contudo, já havia vozes mal orientadas nas fileiras da Internacional, e por vezes tomavam-se decisões pouco felizes. Tudo isto tinha as suas raízes nas tendências oportunistas que se estavam a formar no movimento operário. A burguesia fazia tudo para dividir a classe operária, comprando o apoio da «aristocracia» industrial e separando-a do corpo principal do movimento proletário. No virar do século foi a «aristocracia de trabalhadores» que constituiu o principal bastião de oportunismo e reformismo no movimento operário. Contudo, a Internacional conseguiu cumprir a sua mais importante tarefa, apesar desta fricção: desempenhou um papel importante na preparação do proletariado e dos seus partidos para as iminentes lutas de classe de importância decisiva.


Inclusão 16/11/2016