Sobre a Táctica na Luta Contra o Imperialismo Japonês(*)

Mao Tsetung

27 de Dezembro de 1935


Primeira Edição: ...
Tradução: A presente tradução está conforme à nova edição das Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo I (Edições do Povo, Pequim, Julho de 1952). Nas notas introduziram-se alterações, para atender as necessidades de edição em línguas estrangeiras.
Fonte: Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Pequim, 1975, Tomo I, pág: 249-294
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo

As Particularidades da Situação Política Actual

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Camaradas! Grandes modificações se operaram agora na situação política. Na base de tais modificações, o nosso Partido definiu já as suas tarefas.

Qual é a situação actual?

A característica fundamental está em que o imperialismo japonês esforça-se por transformar a China numa colónia.

Todos sabem que, durante quase um século, a China tem sido um país semi-colonial sob a dominação conjunta de toda uma série de Estados imperialistas.

Graças à luta anti-imperialista do povo chinês e à luta das potências imperialistas entre si, a China pôde conservar uma situação de semi-independência. Por algum tempo, a Primeira Guerra Mundial deu ao imperialismo japonês a oportunidade de estabelecer uma dominação exclusiva sobre a China. Todavia, como resultado da luta do povo chinês contra o imperialismo nipónico e da intervenção das outras potências imperialistas, o tratado das vinte e uma exigências(1), assinado por Iuan Chi-cai(2), o chefe dos traidores da Pátria naquele tempo, tratado que constrangia a China a capitular frente ao Japão, foi declarado nulo. Em 1922, na conferência das 9 potências, convocada em Washington pelos Estados Unidos, foi assinado um pacto(3) que colocava de novo a China debaixo da dominação conjunta de vários Estados imperialistas. Ao fim de pouco tempo a situação voltou a mudar. O Incidente de 18 de Setembro de 1931(4) marca o começo da etapa da transformação da China em colónia japonesa. Como a agressão japonesa ficasse provisoriamente limitada às quatro províncias do Nordeste(5), teve-se a impressão de que, provavelmente, os imperialistas japoneses não iriam mais longe. Agora a coisa é diferente: o imperialismo nipónico já demonstrou que tem a intenção de penetrar até ao sul de Xanghaiquan e ocupar todo o país. Actualmente, o imperialismo japonês esforça-se por transformar a China, de semi-colónia que era — onde vários Estados imperialistas tinham, cada um, a sua parte — em colónia sobre a qual o Japão reine com exclusividade. Os acontecimentos que se produziram recentemente no Hopei oriental(6) e as conversações diplomáticas(7) entre o governo de Tchiang Kai-chek e o Japão confirmam essa tendência e ameaçam a própria existência do povo chinês. Tais circunstâncias puseram a todas as classes, a todos os grupos políticos, a questão de "Que fazer?". Resistir? Capitular? Vacilar entre uma e outra solução?

Vejamos agora como respondem as diferentes classes da China a essa questão.

Os operários e os camponeses exigem que se resista. A Revolução de 1924-1927, a revolução agrária que começou em 1927 e que continua presentemente, enfim, a vaga do movimento anti-japonês a partir do Incidente de 18 de Setembro de 1931, testemunham que a classe operária e a classe camponesa na China constituem a força mais decidida da revolução chinesa.

A pequena burguesia da China é igualmente pela resistência. Acaso a juventude estudantil e a pequena burguesia urbana não iniciaram já um vasto movimento anti-japonês(8)? Esses elementos da pequena burguesia tomaram parte, no passado, na Revolução de 1924-1927. A sua posição económica, como a dos camponeses, é a de pequenos produtores, e os seus interesses são irreconciliáveis com o imperialismo. Eles sofreram enormemente em consequência do im-perialismo. e da contra-revolução chinesa, que trouxeram para muitos deles o desemprego e a ruína parcial ou total. Agora que se confrontam com a ameaça directa de conversão em escravos duma nação estrangeira, eles não têm outra saída senão a resistência.

Como respondem a essa questão a burguesia nacional, a burguesia compradora e a classe dos senhores de terras? Como responde o Kuomintang?

Os grandes déspotas locais e os grandes maus nobres, os grandes caudilhos militares, os grandes burocratas e os grandes compradores, já há muito que se decidiram a esse respeito. Como sempre, sustentam que toda e qualquer revolução é pior do que o imperialismo. Constituem o campo dos traidores à Pátria. Para eles, a questão não é a de saber se serão ou não escravos do estrangeiro. Já perderam todo o sentido da nacionalidade. Os seus interesses são inseparáveis dos do imperialismo. O seu campeão é Tchiang Kai-chek(9). Esse campo de traidores à Pátria é o inimigo jurado do povo chinês. Sem essa matilha de traidores, o imperialismo nipónico nunca teria podido lançar-se para diante com tanto cinismo. São os lacaios do imperialismo.

No que respeita à burguesia nacional, a questão é complexa. Essa classe participou na Revolução de 1924-1927; posteriormente, assustada pelas chamas de tal revolução, passou-se para o campo dos inimigos do povo, quer dizer, para o lado da camarilha de Tchiang Kai-chek. A questão está em saber se, nas circunstâncias presentes, há ou não qualquer possibilidade de mudança de atitude nessa classe. Nós pensamos que há. Isso porque a burguesia nacional não é o mesmo que a classe dos senhores de terras ou a burguesia compradora: há uma diferença entre elas. A burguesia nacional é menos feudal que a classe dos senhores de terras e menos compradora que a classe compradora. Uma parte dela, a ala direita, tem mais laços com o capital estrangeiro e com a propriedade da terra do que a outra. Não especulemos agora sobre a possibilidade ou impossibilidade de modificação da atitude dessa ala. O que nos interessa, diz respeito àquela parte da burguesia nacional que tem poucos ou nenhuns laços desse género. Pensamos que na nova situação, quando a China está em perigo de ser convertida em colónia, essa parte da burguesia nacional pode mudar de atitude. Essa mudança caracterizar-se-á pela vacilação. Tais pessoas, por um lado, têm aversão pelo imperialismo e, por outro, receiam a realização consequente da revolução, hesitando assim entre as duas posições. Isso explica como tomaram parte na Revolução de 1924-1927 e, no final desse período, passaram para o lado de Tchiang Kai-chek. Qual a diferença entre a situação presente e a de 1927, quando Tchiang Kai-chek traiu a revolução? A diferença está no facto de a China, em 1927, continuar a ser uma semi-colónia, ao passo que agora corre o risco de converter-se em colónia. Durante os nove anos passados, a burguesia nacional abandonou o seu aliado, a classe operária, e estabeleceu amizade com os senhores de terras e a classe compradora. Que vantagens obteve? Nenhumas. O que ganhou foi a bancarrota ou a semi-bancarrota da indústria e do comércio nacionais. Por isso julgamos que, na situação presente, a burguesia nacional pode modificar a sua atitude. Até que ponto? O traço geral característico dessa modificação será a vacilação. Todavia, em certos estádios da nossa luta, uma parte (a ala esquerda) poderá intervir na luta, e a outra parte passar da vacilação à neutralidade.

Que interesse de classe é representado pelo XIX Exército de Rota sob o comando de Tsai Tim-cai(10) e seus associados? O interesse da burguesia nacional, da camada superior da pequena burguesia, dos camponeses ricos e dos pequenos senhores de terras no campo. Mas Tsai Tim-cai e os seus associados não lutaram já, encarniçadamente, contra o Exército Vermelho? Sim, mas mais tarde concluíram com este uma aliança anti-japonesa e anti-Tchiang Kai-chek. Eles atacaram o Exército Vermelho no Quiansi, mas mais tarde resistiram ao imperialismo japonês em Xangai e chegaram a um compromisso com o Exército Vermelho no Fuquien, abrindo fogo contra Tchiang Kai-chek. Qualquer que seja a atitude que Tsai Tim-cai e seus associados tomem no futuro, e não obstante o facto de, no seu governo popular do Fuquien, eles terem mantido os velhos procedimentos de não mobilização das massas para a luta, deve considerar-se um acto benéfico à revolução que as suas armas, anteriormente dirigidas sobre o Exército Vermelho, tenham sido voltadas contra o imperialismo japonês e Tchiang Kai-chek. Isso significou uma cissão no campo do Kuomintang. Se esse grupo pôde desligar-se do Kuomintang na situação que se estabeleceu após o Incidente de 18 de Setembro de 1931, por que motivo não poderá verificar-se outra cissão nas circunstâncias actuais? Estão errados os membros do nosso Partido que pensam que todo o campo da classe dos senhores de terras e da burguesia está unido, é permanente, imutável em todas as circunstâncias. Eles tanto falham na compreensão da gravidade da situação actual como esquecem a História.

Permita-se-me ainda falar um pouco de História. Em 1926 e 1927, desde o tempo em que o Exército Revolucionário avançava sobre Vuhan ao momento em que capturou Vuhan e marchou para Honan, Tam Chem-tchi e Fom Iu-siam(11) participaram na revolução. Em 1933, Fom Iu-siam colaborou certo tempo com o Partido Comunista na formação do Exército Aliado Anti-japonês, no Tchahar.

Outro exemplo gritante: então não foi o XXVI Exército de Rota do Kuomintang, que antes atacara o Exército Vermelho no Quiansi em conjunção com o XIX Exército de Rota, quem desencadeou o Levantamento de Nintu(12), em Dezembro de 1931, e se transformou num Exército Vermelho? Os dirigentes do Levantamento de Nintu, Tchao Po-chem, Tum Tchen-tam e os seus companheiros, converteram-se em camaradas firmes na revolução.

As actividades anti-japonesas de Ma Tchan-xan(13) nas três províncias do Nordeste representam outra cissão no campo das classes dominantes.

Todos esses exemplos indicam que, quando as bombas japonesas ameaçam por todos os lados a China, quando a luta muda as suas formas habituais e se lança impetuosamente para a frente, há cissões no campo inimigo.

Agora, camaradas, permitam-me apreciar outro aspecto da questão.

Acaso será justo atacar o nosso ponto de vista, fundando-se na debilidade política e económica da burguesia nacional chinesa, e argumentando que ela não pode mudar de atitude, não obstante as modificações da situação? Penso que não. Se a burguesia nacional é fraca, e por isso não pode mudar, por que razão, pois, mudou ela de atitude em 1924-1927, não simplesmente oscilando, mas juntando-se inclusivamente à revolução? Será que a debilidade da burguesia nacional é uma enfermidade contraída após o nascimento, portanto não congenital? Será que a burguesia nacional é fraca hoje e não o era naqueles tempos? Uma das características principais da política e da economia duma semi-colónia é a fraqueza da sua burguesia nacional. Essa é precisamente a razão por que o imperialismo ousa maltratar a burguesia nacional, o que provoca a aversão característica dessa classe pelo imperialismo. É claro que nós não só não negamos, até admitimos inteiramente, que é ainda em razão da sua fraqueza que os imperialistas, a classe dos senhores de terras e a dos compradores podem facilmente conquistá-la com a oferta de alguma vantagem temporária; daí a sua falta de consequência revolucionária. Mas nem por isso podemos dizer que, nas circunstâncias presentes, não há diferença alguma entre a burguesia nacional e a classe dos senhores de terras e a dos compradores.

Nós afirmamos categoricamente, pois, que o campo do Kuomintang se cindirá quando a nação tiver de fazer face a uma crise séria. Tal cissão tornou-se manifesta na vacilação da burguesia nacional e nas actividades de certas figuras anti-japonesas como Fom Iu-siam, Tsai Tim-cai e Ma Tchan-xan, que estão gozando dum período de popularidade. Essa cissão é fundamentalmente desfavorável à contra-revolução e favorável à revolução. A possibilidade de mais cissões é aumentada pela desigualdade no desenvolvimento político e económico da China e o consequente desenvolvimento desigual da revolução.

Camaradas, isto é assim quanto ao lado positivo da questão. Permita-se-me agora apreciar o lado negativo, quer dizer, o facto de certos elementos da burguesia nacional serem mestres na arte de enganar o povo. O que é que isso significa? Isso significa que além dos defensores genuínos da causa revolucionária do povo, muitos dentre essa classe, pelo facto de se terem apresentado como revolucionários ou semi-revolucionários durante um certo tempo, têm a possibilidade de enganar o povo, o qual dificilmente poderá desmascarar a sua falta de consequência revolucionária e descobrir o engano da sua demagogia. Sendo esse o caso, torna-se imperioso que o Partido Comunista critique os seus aliados, desmascare os falsos revolucionários e conquiste a direcção. Negar que a burguesia nacional pode hesitar e mesmo juntar-se à revolução num período de grandes convulsões, representaria, para o nosso Partido, abandonar ou pelo menos minimizar a sua tarefa de bater-se pela hegemonia. Com efeito, se a burguesia nacional fosse em tudo semelhante aos senhores de terras e aos compradores, e mostrasse a mesma fisionomia odiosa que os traidores à nação, o problema da luta pela direcção não se poria mais ou seria mínimo.

Ao fazer uma análise geral da atitude da classe dos senhores de terras e da burguesia da China num período de grandes comoções, deve considerar-se um outro aspecto, que é o de não existir completa unidade mesmo no interior do campo da classe dos senhores de terras e da classe compradora. Isso resulta da situação de semi-colónia, da situação em que muitas potências imperialistas estão lutando por dominar a China. Quando a nossa luta é dirigida contra o imperialismo japonês, os cães de fila dos Estados Unidos e mesmo da Inglaterra, obedecendo aos vários tons de comando dos seus amos, podem empenhar-se em lutas veladas e até mesmo em conflitos abertos com os imperialistas japoneses e respectivos lacaios. Houve muitas lutas desse tipo e nós não vamos atardar-nos à volta delas. Mencionaremos somente o facto de o próprio Hu Han-min(14), homem político do Kuomin-tang, outrora preso por Tchiang Kai-chek, ter aposto recentemente a sua assinatura no documento do nosso programa em seis pontos para a resistência ao Japão e salvação da Pátria(15). Com palavras de ordem enganosas, tais como "recuperar o terreno perdido" e "resistência ao Japão e exterminação dos bandidos simultaneamente"(16), os caudilhos militares das camarilhas de Cuantum e Cuansi(17), em que se apoia Hu Han-min, também se opuseram a Tchiang Kai-chek, cuja palavra de ordem é "exterminação dos bandidos primeiro, e resistência ao Japão depois". Não será estranho tudo isso? Nada estranho. É simplesmente um interessante caso de luta entre cães grandes e pequenos, cães fartos e famintos. É uma brecha, nem grande nem pequena, uma contradição que provoca comichões e dor. E essa luta, essa brecha, essa contradição, é útil ao povo revolucionário. Devemos tentar conjugar todas essas lutas, brechas ou contradições no campo inimigo e dirigi-las contra o inimigo principal.

Fazendo o balanço do problema das relações de classe no país, podemos dizer que a invasão para o sul de Xanghaiquan pelos imperialistas japoneses provocou uma mudança básica na situação e, em consequência, as relações mútuas entre as classes também se modificaram, tornando-se mais forte o campo da revolução nacional e mais fraco o da contra-revolução nacional.

Passemos agora à situação no campo da revolução nacional.

Primeiro, o Exército Vermelho. Como sabem, camaradas, há quase ano e meio, os três contingentes principais do Exército Vermelho chinês efectuaram uma colossal mudança de posições. Em Agosto do ano passado, o camarada Jen Pi-chi(18) e outros conduziram o VI Grupo de Corpos de Exército para a área onde estacionava o exército sob o comando do camarada Ho Lom(19). Nós começámos a nossa mudança de posições em Outubro(20). Em Março deste ano, o Exército Vermelho da região fronteiriça Setchuan-Xensi começou também a mudar as suas posições(21). Assim, os três contingentes do Exército Vermelho abandonaram as posições antigas e deslocaram-se para novas regiões. Em consequência dessas deslocações colossais, as áreas antigas transformaram-se em zonas de guerrilhas. No decurso dessas deslocações, o Exército Vermelho enfraqueceu consideravelmente. Se consideramos sob esse aspecto a situação geral, temos de admitir que o inimigo obteve uma vitória temporária e parcial, enquanto que nós sofremos uma derrota temporária e parcial. Estará correcta essa afirmação? Penso que sim, é um facto. Todavia, algumas pessoas (por exemplo Tcham Cuo-tao(22)) dizem que o Exército Vermelho Central(23) foi derrotado. É correcta tal afirmação? Não, pois não é um facto. Ao examinarem uma questão, os marxistas devem atender não só às partes mas também ao todo. Uma rã no fundo dum poço dizia que "o céu era tão grande como a boca do poço". Isso não era exacto pois o céu não tem o tamanho da boca dum poço. Mas se ela tivesse dito que "uma parte do céu era tão ampla como a boca do poço", teria dito uma verdade, já que isso corresponde à realidade. Nós dizemos pois que o Exército Vermelho falhou, em certo sentido (manutenção das suas bases originais), e obteve por outro lado uma vitória (execução do plano da Grande Marcha). O inimigo obteve uma vitória em certo sentido (ocupação das nossas bases originais), mas falhou noutro aspecto (realização do seu plano de "cerco e aniquilamento", "perseguição e aniquilamento"). Essa é a única afirmação correcta, já que realizámos integralmente a Grande Marcha.

Mas pode perguntar-se: que significado tem a Grande Marcha? Nós responderemos que foi o de ter sido a primeira do seu género registada na História, um manifesto, um destacamento de propaganda e uma máquina semeadora. Acaso houve na História, desde que Pan Cu separou o céu da terra, e desde os Sangbuanvuti(1*), uma marcha assim longa como a nossa? Durante doze meses estivemos, diariamente, sob o reconhecimento e bombardeio de dezenas de aviões; fomos cercados, perseguidos, detidos e interceptados no terreno por uma força enorme de várias centenas de milhares de homens; encontrámos incontáveis dificuldades e obstáculos pelo caminho, e no entanto seguimos por diante na nossa marcha, fazendo com os nossos próprios pés mais de 20.000 lis e percorrendo de lés a lés onze províncias. Digam, porventura houve na História algo semelhante? Não, nunca houve. A Grande Marcha foi também um manifesto. Ela proclamou ao mundo que o Exército Vermelho é um exército de heróis e que os imperialistas e os seus lacaios, Tchiang Kai-chek e seus iguais, são de todo impotentes. Proclamou o fracasso completo do cerco, da perseguição, da retenção e intercepção tentadas pelos imperialistas e Tchiang Kai-chek. A Grande Marcha foi também um poderoso destacamento de propaganda. Ela fez saber aos quase duzentos milhões de habitantes de onze províncias que a rota do Exército Vermelho é a via única da sua libertação. Sem a Grande Marcha, como poderiam as grandes massas ter sabido tão rapidamente da existência da sublime verdade incarnada pelo Exército Vermelho? A Grande Marcha foi também uma máquina semeadora que lançou pelas onze províncias muitas sementes que hão de germinar, dar folhas, desabrochar em flores e frutificar, garantindo seguramente uma colheita no futuro. Resumindo, a Grande Marcha concluiu-se com a nossa vitória e a derrota do inimigo. Quem dirigiu a Grande Marcha à vitória? O Partido Comunista. Sem o Partido Comunista, uma tal marcha teria sido inimaginável. O Partido Comunista da China, os seus órgãos de direcção, os seus quadros e os seus membros não receiam dificuldades nem privações. Quem quer que duvide da nossa aptidão para dirigir a guerra revolucionária afunda-se no pântano do oportunismo. Assim que terminou a Grande Marcha, criou-se uma nova situação. Na batalha de Tchiluotchen o Exército Vermelho Central e o Exército Vermelho do Noroeste quebraram, em fraterna solidariedade, a campanha de "cerco e aniquilamento" do traidor Tchiang Kai-chek contra a região fronteiriça Xensi-Cansu(24), lançando assim a pedra angular da tarefa do Comité Central do Partido Comunista: o estabelecimento, no Noroeste, do Quartel General da revolução de toda a China.

Tal é a situação com respeito às forças principais do Exército Vermelho. Mas o que há com a guerra de guerrilhas nas províncias do Sul? Registou alguns reveses, mas não foi extinta. Em vários pontos começa a restabelecer-se, cresce, expande-se(25).

Nas áreas dominadas pelo Kuomintang, a luta dos operários está a desenvolver-se, para além dos muros das fábricas, de luta económica em luta política. Agora a heróica luta da classe operária contra os imperialistas japoneses e os traidores à Pátria fermenta com força e, a julgar pela situação, em breve arderá em chamas.

A luta dos camponeses nunca cessou. Oprimidos pela agressão estrangeira, pela desordem interna e pelas calamidades naturais, os camponeses lançaram-se em lutas de larga escala, sob a forma de guerras de guerrilhas, insurreições de massas, levantamentos originados pela fome, etc. Uma guerra de guerrilhas anti-japonesa desenrola-se nas províncias do Nordeste e no leste do Hopei(26) em resposta aos ataques do imperialismo japonês.

O movimento estudantil avançou a passos largos e desenvolver-se-á ainda mais amplamente no futuro. Todavia, tal movimento só poderá manter-se e romper a lei marcial imposta pelos traidores e a política de sabotagem e massacre realizada pela polícia, pelos agentes dos serviços secretos, pelos pulhas com autoridade nos estabelecimentos de ensino e pelos fascistas, se se coordenar com a luta dos operários, camponeses e soldados.

Já nos referimos à vacilação da burguesia nacional, dos camponeses ricos e dos pequenos senhores de terras no interior do país, bem como à possibilidade da sua participação na luta anti-japonesa.

As minorias nacionais, especialmente as da Mongólia Interior que estão directamente ameaçadas pelo imperialismo japonês, levantam-se para a luta. No futuro, as suas lutas ligar-se-ão com a luta popular no Norte da China e as operações do Exército Vermelho no Noroeste.

Tudo isso mostra que a situação revolucionária já deixou de estar localizada, ganhou proporções nacionais e passa, gradualmente, dum estádio de desequilíbrio a um estádio de equilíbrio relativo. Nós estamos agora em vésperas de grandes transformações. A tarefa do Partido é formar uma Frente Única Nacional revolucionária, coordenando as acções do Exército Vermelho com a actividade dos operários, camponeses, estudantes, pequena burguesia e burguesia nacional, em todo o país.

A Frente Única Nacional

Uma vez examinada a situação da revolução e da contra-revolução, podemos determinar facilmente as tarefas tácticas do Partido.

Qual é a tarefa táctica fundamental do Partido? Nada senão a criação duma larga Frente Onica Nacional revolucionária.

Quando a situação revolucionária muda, as tácticas para a revolução e os métodos de direcção da revolução devem mudar correspondentemente. A tarefa dos imperialistas japoneses, dos colaboracionistas e dos traidores é transformar a China numa colónia, e a nossa, transformar a China num país independente e livre que conserve a sua integridade territorial.

Conquistar a independência e a liberdade para a China é uma grande tarefa. Para isso é preciso lutar contra o imperialismo estrangeiro e a contra-revolução chinesa. O imperialismo japonês está decidido a avançar furiosamente e sem rodeios pelo interior da China. As forças da contra-revolução chinesa, da classe compradora e da dos déspotas e nobres, ainda estão mais fortes do que as forças revolucionárias populares. Como a derrota do imperialismo japonês e da contra-revolução chinesa não pode ser realizada num par de dias, devemos estar preparados para dedicar-lhe longo tempo. Como, com pequenas forças, neste caso, não se chega a qualquer resultado, nós devemos acumular grandes forças. Na China, como em todo o mundo, as forças da contra-revolução estão-se tornando mais fracas e as da revolução mais fortes. Essa é uma estimativa correcta, mas parte de um só ângulo. Com efeito, devemos também admitir que na China e em todo o mundo a contra-revolução, no momento, ainda é mais forte do que a revolução — estimativa igualmente correcta, mas feita a partir doutro ângulo. O desenvolvimento desigual da China, no plano político e económico, provoca o desenvolvimento desigual da revolução. Em termos gerais, a revolução começa, desenvolve-se e triunfa onde as forças da contra-revolução são comparativamente mais fracas, enquanto que nos lugares em que tais forças são mais fortes ela nem sequer começou ou só se desenvolve muito lentamente. Durante muito tempo, no passado, a revolução chinesa encontrou-se nessa situação. Pode antecipar-se que, mesmo em certos momentos do futuro, embora a situação revolucionária geral se desenvolva amplamente, a característica da desigualdade de desenvolvimento permanecerá. A transformação dessa desigualdade em igualdade geral exige longo tempo e grandes esforços, e depende da justeza da linha táctica do Partido. A guerra revolucionária dirigida pelo Partido Comunista da União Soviética(27) durou três anos mas, no caso da guerra revolucionária dirigida pelo Partido Comunista da China, devemos desembaraçar-nos da impaciência de que demos mostras no passado, e estar prontos a dedicar-lhe mais tempo além do tempo que já gastámos com ela, de maneira a liquidar completa e definitivamente as forças da contra-revolução interior e exterior. Além disso, é necessário promover uma táctica revolucionária acertada. Marcar passo dentro dum círculo estreito, como fizemos no passado, não nos levará muito longe. Isso não quer dizer que na China as coisas só possam ser feitas a ritmo lento. Não, nós devemos agir com audácia, o perigo da escravização nacional não nos permite afrouxar um só momento. A partir de agora a revolução desenvolver-se-á com rapidez maior do que anteriormente, pois tanto a China como o mundo estão entrando numa nova etapa de guerra e revolução. A guerra revolucionária chinesa será contudo uma guerra prolongada, o que é um resultado da força do imperialismo e do desenvolvimento desigual da revolução. Nós dissemos que a presente situação caracteriza-se pela iminência dum novo avanço da revolução nacional, que a China está em vésperas duma nova revolução à escala nacional: é uma característica da presente situação revolucionária. É um facto ou um aspecto dos factos. Contudo, queremos sublinhar também que o imperialismo é ainda uma força considerável, a desigualdade no desenvolvimento das forças revolucionárias é ainda uma séria debilidade e, para derrotar os nossos inimigos, devemos estar prontos para uma guerra prolongada: é outra característica da actual situação revolucionária. É também um facto ou outro aspecto dos factos. Essas duas características, esses dois factos, ensinam-nos e apressam-nos a adaptar-nos à situação, a modificar as nossas tácticas e a mudar os nossos métodos de utilizar as forças para prosseguir a guerra. A situação actual exige que renunciemos audazmente à atitude de "porta fechada", organizemos uma larga Frente Única e nos guardemos do espírito de aventura. Não devemos arriscar-nos cegamente numa batalha decisiva enquanto não chegar o momento oportuno e não tivermos forças suficientes para isso.

Eu não discutirei aqui as relações existentes entre a atitude de "porta fechada" e o espírito de aventura nem o perigo que este último pode criar assim que a situação geral se desenvolver. Não será tarde se só depois se falar desse assunto. Agora sublinharei unicamente que as tácticas da Frente Única e da atitude de "porta fechada" são diametralmente opostas.

A primeira consiste num vasto recrutamento de forças para cercar e aniquilar o inimigo.

A segunda consiste em lutar isolado, como um cavaleiro solitário em desesperado combate contra um formidável inimigo.

Uma baseia-se no facto de que sem avaliar cabalmente se a tentativa nipónica de colonização da China modifica o alinhamento entre a revolução e a contra-revolução, é impossível avaliar cabalmente a possibilidade de formação duma ampla Frente Única Nacional revolucionária. Sem uma apreciação cabal da força e da fraqueza da contra-revolução japonesa, bem como da contra-revolução e da revolução na China, seria impossível apreciar cabalmente a necessidade de organizar uma tal Frente Única Nacional revolucionária, tomar medidas enérgicas para acabar com a atitude de "porta fechada", usar a Frente Única como arma para organizar e congregar milhões e milhões de homens, todas as forças que podem ser amigas da revolução, a fim de marchar em frente e bater no nosso objectivo central — o imperialismo japonês e os seus lacaios, os traidores chineses — bem como aplicar as nossas tácticas contra o objectivo principal, fixando-se, pelo contrário, diversos objectivos, com o resultado de as nossas balas poderem apanhar os nossos inimigos secundários, ou até mesmo os nossos aliados, em vez de atingirem o inimigo principal. Isso é não saber determinar o verdadeiro inimigo, é gastar as próprias munições. Assim, seríamos incapazes de forçar o inimigo até um canto isolado. Seríamos incapazes de arrancar do campo inimigo todos os que aí se juntaram sob coacção, e arrancar da frente de batalha inimiga todos os que ontem nos eram hostis mas que hoje podem ser nossos aliados. Assim, nós estaríamos a ajudar, na realidade, o inimigo, a fazer marcar passo à revolução, a isolá-la, a reduzi-la, a fazê-la declinar e a conduzi-la, inclusivamente, ao fracasso.

A outra baseia-se no pensamento de que tais argumentos são injustos. As forças da revolução devem ser puras, absolutamente puras, e o caminho da revolução deve ser recto, absolutamente recto. Só o que está escrito nos livros sagrados é correcto. A burguesia nacional, na sua totalidade, é e será eternamente contra-revolucionária. Jamais fazer uma pequena concessão aos camponeses ricos. Bater nos sindicatos amarelos com unhas e dentes. Se temos de apertar a mão a Tsai Tim-cai, quando o fazemos devemos chamá-lo contra-revolucionário. Acaso haverá gatos que não gostem de carne e caudilhos militares que não sejam contra-revolucionários? Os intelectuais podem ser revolucionários unicamente durante três dias, e é perigoso aceitá-los nas nossas fileiras. A conclusão é que a atitude de "porta fechada" é a única varinha mágica e a Frente Única é a táctica do oportunismo.

Camaradas, qual está certa, a Frente Única ou a "porta fechada"? Qual delas é marxista-leninista? Decididamente eu respondo que a táctica marxista-leninista é a Frente Única Nacional e não a "porta fechada". Os meninos de três anos podem ter muitas ideias correctas, mas não devem ser encarregados dos negócios importantes do Estado e do mundo, em virtude de os não terem ainda compreendido. O Marxismo-Leninismo opõe-se à enfermidade do infantilismo existente entre as fileiras revolucionárias. Os defensores da táctica da "porta fechada" sofrem exactamente dessa enfermidade. O caminho da revolução, como o de qualquer outra actividade, é sempre tortuoso, nunca é em linha recta. A linha de frente das forças da revolução e da contra-revolução pode mudar assim como podem mudar todas as coisas no mundo. A nova táctica do Partido, que consiste em formar uma ampla Frente Única, resulta de dois factos fundamentais que são a determinação do imperialismo japonês em reduzir a China à situação de colónia, e a séria debilidade actual das forças revolucionárias na China. Para atacar a contra-revolução, as forças revolucionárias necessitam, hoje, de organizar milhões e milhões de homens e pôr em acção um poderoso exército revolucionário. É óbvio que só uma tal força pode esmagar os imperialistas japoneses, os colaboracionistas e os traidores à Pátria. Em consequência, a táctica da Frente Única é a única táctica verdadeiramente marxista-leninista. Pelo contrário, a táctica da "porta fechada" é a táctica do auto-isolamento deliberado. À maneira dos que "fazem fugir o peixe para as águas mais profundas, e espantam os pássaros para o mais cerrado do bosque", para satisfação do adversário a atitude de "porta fechada" lançará "milhões e milhões de homens", um "poderoso exército", para o lado do inimigo. Os "porta fechada" são de facto os escravos leais dos imperialistas japoneses, dos colaboracionistas e dos traidores à Pátria. O que eles chamam "puro" e "recto" é condenado pelo Marxismo-Leninismo e aclamado pelo imperialismo japonês. Nós rejeitamos em definitivo a atitude de "porta fechada"; o que queremos é a Frente Única Nacional revolucionária que vibre um golpe de morte nos imperialistas japoneses, nos colaboracionistas e traidores à Pátria.

A República Popular(28)

Se o nosso governo estava, até à data, baseado na aliança dos operários, camponeses e pequena burguesia urbana, de agora em diante deve ser transformado de modo a incluir também os membros de todas as outras classes que querem tomar parte na revolução nacional.

Presentemente, a tarefa fundamental desse governo é opor-se à tentativa do imperialismo japonês de anexar a China. Tal governo deverá alargar a sua base de representação de maneira que possam juntar-se-lhe não só os representantes dos que estão interessados na revolução nacional, mas não na revolução agrária, como também, se eles o desejarem, os representantes dos que, não se opondo ao imperialismo europeu e norte-americano, em virtude das suas afiliações, podem opor-se ao imperialismo japonês e seus lacaios. Em consequência, o programa desse governo deve ser em princípio adaptado à tarefa fundamental de lutar contra o imperialismo japonês e seus lacaios, razão por que devemos emendar devidamente a política que temos estado a seguir até este momento.

Presentemente, a característica especial da revolução consiste na existência dum Partido Comunista e dum Exército Vermelho de boa têmpera. Essa é uma vantagem de importância máxima. Poderiam surgir imensas dificuldades se não existisse um Partido Comunista e um Exército Vermelho experimentados. Por quê? Porque os colaboracionistas e os traidores na China são muitos e poderosos e hão-de usar certamente todos os estratagemas para quebrar essa Frente Única, semear a dissenção pela intimidação, corrupção e manobras de frentes e alianças, utilizando a força armada para oprimir e esmagar, separadamente, todas aquelas forças que lhes sejam comparativamente mais fracas e que queiram desligar-se deles e juntar-se a nós na luta contra o Japão. Na ausência desses dois factores — Partido Comunista e Exército Vermelho no seio do governo anti-japonês e do exército anti-japonês — só muito dificilmente poderia ser evitada essa ruptura da Frente Única. A revolução em 1927 fracassou sobretudo porque, na altura, a linha oportunista no Partido Comunista impediu que expandíssemos as nossas filas (expandíssemos o movimento dos operários e camponeses, bem como as forças armadas dirigidas pelo Partido Comunista), confiando-se unicamente num aliado temporário, o Kuomintang. Como resultado, o imperialismo deu ordens aos seus lacaios, a classe dos déspotas e nobres e a classe dos compradores, para que usassem toda a sorte de embustes a fim de atrair primeiramente Tchiang Kai-chek e, depois, Uam Tsim-vei, liquidando desse modo a revolução. A Frente Única revolucionária daquele tempo não tinha um eixo principal, nem forças armadas revolucionárias firmes e poderosas: quando se verificaram defecções por todos os lados, o Partido Comunista, forçado a lutar isolado, foi impotente para aguentar a táctica de liquidação um a um adoptada pelos imperialistas e pela contra-revolução chinesa. É certo que havia um exército sob o cornando de Ho Lom e Ie Tim, mas ainda não era um corpo politicamente consolidado e, como além de tudo isso o Partido não sabia dirigi-lo, esse exército acabou por ser derrotado. Essa lição, que pagámos com o nosso próprio sangue, ensinou-nos que a revolução fracassou por falta dum motor das forças revolucionárias. Hoje as coisas são completamente diferentes: agora temos um poderoso Partido Comunista, um forte Exército Vermelho e ainda as bases de apoio desse exército. O Partido Comunista e o Exército Vermelho não serão unicamente os iniciadores da actual Frente Única Nacional Anti-Japonesa, eles serão também, e inevitavelmente, o suporte principal do futuro governo anti-japonês e do futuro exército anti-japonês, o qual impedirá os imperialistas japoneses e Tchiang Kai-chek de levarem a cabo a sua política de ruptura dessa Frente Única Nacional. Contudo, devemos estar muito vigilantes pois, indubitavelmente, os imperialistas japoneses e Tchiang Kai-chek recorrerão à intimidação e à corrupção, às manobras de frentes e alianças, assim como a astúcias inimagináveis.

Naturalmente não devemos esperar que todos os sectores da ampla Frente Única Nacional Anti-Japonesa sejam tão firmes como o Partido Comunista e o Exército Vermelho. No decorrer da sua acção alguns elementos maus poderão ser influenciados pelo inimigo, retirando-se da Frente Única. Mas não há que recear a perda de tal gente. Influenciados pelo inimigo, eles podem retirar-se pois, sob a nossa influência, os bons elementos virão juntar-se à Frente Única. Desde que o Partido Comunista e o Exército Vermelho existam e se desenvolvam, a Frente Única Nacional Anti-Japonesa também pode existir e desenvolver-se. Tal é o papel de direcção do Partido Comunista e do Exército Vermelho no seio da Frente Única Nacional. Actualmente, os comunistas, que já não são novatos, podem bem cuidar de si mesmos e tratar com os seus aliados. Se os imperialistas japoneses e Tchiang Kai-chek podem recorrer a medidas de desintegração e utilização disto ou daquilo contra as forças revolucionárias, o Partido Comunista também pode fazer o mesmo contra as forças contra-revolucionárias. Se eles podem atrair os maus elementos das nossas fileiras, nós podemos igualmente atrair os que são "maus elementos" para eles (bons elementos segundo o nosso ponto de vista). Se conseguirmos atrair um maior número de homens pertencentes às suas fileiras o inimigo decresce e nós crescemos. Em suma, as duas forças básicas lutam uma contra a outra, é inevitável que todas as forças intermédias tenham de alinhar-se por este ou aquele lado. As políticas de subjugação e traição à China, prosseguidas respectivamente pelos imperialistas japoneses e Tchiang Kai-chek, trarão inevitavelmente muita gente para o nosso lado, quer directamente para as fileiras do Partido Comunista e do Exército Vermelho, quer para uma Frente Única connosco. Desde que as nossas tácticas não sejam a de "porta fechada", esse objectivo será realizado.

Por que razão devemos substituir a república dos operários e camponeses pela república popular?

O nosso governo representa não somente os operários e os camponeses mas a totalidade da nação. Isso estava originariamente inscrito na palavra de ordem de república democrática de operários e camponeses, em virtude de os operários e camponeses constituírem 80 a 90 por cento da população do país. O programa em dez pontos(29) adoptado pelo VI Congresso Nacional do nosso Partido representa tanto os interesses dos operários e camponeses como os da nação inteira. Contudo, a actual situação exige que mudemos essa palavra de ordem pela de república popular. Isso é assim porque a invasão japonesa alterou as relações entre as classes na China, sendo agora possível, tanto à pequena burguesia como à burguesia nacional, uma adesão à luta anti-japonesa.

A república popular não representa, evidentemente, os interesses das classes inimigas. Pelo contrário, a república popular coloca-se em oposição directa à classe dos déspotas e nobres e à classe dos compradores, lacaios do imperialismo, não os abrangendo no conceito de povo. Isso contrasta com o "Governo Nacional da República da China" de Tchiang Kai-chek, que representa unicamente os ricaços e não as pessoas comuns, as quais não são contadas como "cidadãos". Já que 80 a 90 por cento da população da China é constituída por operários e camponeses, a república popular deve, primeiro que tudo, representar os interesses dos operários e dos camponeses. Mas quando a república popular repele a opressão imperialista e torna a China livre e independente, liquida a opressão dos senhores de terras e liberta a China do semi-feudalismo, tudo isso beneficia nao só os operários e os camponeses mas também os demais sectores do povo. O total dos interesses dos operários, dos camponeses e dos demais sectores do povo constitui o interesse da nação chinesa. Embora as classes dos compradores e dos senhores de terras vivam também sobre o solo chinês, elas não se preocupam com os interesses da nação. Os seus interesses chocam com os interesses da maioria da população. Como excluímos unicamente esse pequeno grupo, não nos batemos com outros a não ser com eles, temos o direito de intitular-nos representantes da totalidade da nação.

Claro que também há um choque de interesses entre a classe operária e a burguesia nacional. Não poderemos estender com sucesso a revolução nacional se não acordarmos direitos políticos e económicos à sua vanguarda nem tornarmos a classe operária capaz de usar a sua força contra o imperialismo e os seus lacaios que traem a nação. Mas se a burguesia nacional adere à Frente Única anti-imperialista, a classe operária e a burguesia nacional passam a ter interesses comuns. No período da revolução democrático-burguesa a república popular não expropriará qualquer propriedade que não seja imperialista e feudal por natureza, assim como não confiscará as empresas industriais e comerciais pertencentes à burguesia nacional; pelo contrário, ela encorajará o respectivo desenvolvimento. Nós protegeremos a burguesia nacional desde que ela nao apoie os imperialistas e os traidores. Na fase da revolução democrática é estabelecido um limite à luta existente entre o trabalho e o capital. Quando a legislação do trabalho da república popular protege os interesses dos operários, ela não se opõe à realização de lucros pela burguesia nacional nem ao desenvolvimento das respectivas empresas industriais ou comerciais, já que tal desenvolvimento é em detrimento do imperialismo e beneficia o povo chinês. Está pois claro que a república popular representa os interesses de todas as camadas do povo que se opõem ao imperialismo e às forças feudais. O governo da república popular baseia-se primariamente nos operários e camponeses, mas também inclui as outras classes que se opõem ao imperialismo e às forças feudais.

E não será perigoso deixar que essas classes se juntem ao governo da república popular? Não. Os operários e os camponeses são os elementos básicos da população da república. Ao darmos à pequena burguesia urbana, aos intelectuais e aos outros elementos que apoiam o programa anti-imperialista e anti-feudal, o direito de expressar o seu pensamento e trabalhar no governo da república popular, o direito de eleger e ser eleito, não devemos pôr em perigo os interesses dos operários e dos camponeses, que são a massa fundamental da população. A parte essencial do nosso programa deve ser a protecção dos interesses dos operários e camponeses, da massa basilar da população. O facto de os representantes dos operários e dos camponeses, a massa basilar, serem a maioria no governo da república popular, e o papel dirigente e a actividade do Partido Comunista em tal governo são uma garantia contra todo o perigo que possa resultar da participação das outras classes. Está bem claro que, no estádio actual, a revolução chinesa ainda é, por natureza, uma revolução democrático-burguesa e não uma revolução socialista proletária. Só os contra-revolucionários trotskistas(30) poderão argumentar, ridiculamente, que a China já concluiu a sua revolução democrático-burguesa e que toda outra revolução não poderá ser senão socialista. A Revolução de 1924-1927 foi uma revolução democrático-burguesa que falhou na realização do seu objectivo. A revolução agrária que dirigimos desde 1927 até hoje também é uma revolução democrático-burguesa, já que a sua tarefa é a de opor-se ao imperialismo e ao feudalismo e não a de lutar contra o capitalismo. E isso será assim por um período de tempo considerável.

As forças motrizes da revolução ainda são constituídas, no essencial, pelos operários, pelos camponeses e pela pequena burguesia urbana, às quais pode juntar-se actualmente a burguesia nacional.

A transformação da revolução é uma questão para futuro. No futuro, a revolução democrática transformar-se-á inevitavelmente numa revolução socialista. A questão de saber quando se verificará tal passagem depende do grau de maturação das condições que lhe são necessárias, e para isso será preciso tempo bastante longo. Enquanto todas as condições necessárias, políticas e económicas, não estiverem maduras, enquanto essa transformação não deixar de ser prejudicial e passar a ser benéfica à grande maioria do povo de todo o país, não devemos divagar muito sobre ela. É errado duvidar disso e esperar que a transição se verifique dentro dum lapso de tempo muito curto, como fizeram alguns dos nossos camaradas no passado, sustentando que a transformação da revolução começaria com o triunfo da revolução democrática nas províncias-chave. Eles encararam as coisas assim porque não compreenderam que espécie de país era a China, política e economicamente, e não viram que era muito mais difícil e requeria um bom bocado mais de tempo e de esforços à China do que à Rússia, concluir uma revolução democrática nos planos político e económico.

A Ajuda Internacional

Por fim, são necessárias algumas palavras acerca das relações da revolução chinesa com a revolução mundial.

Desde que surgiu o monstro do imperialismo, os problemas no mundo tornaram-se tão estreitamente entrelaçados que é impossível separá-los uns dos outros. Nós, a nação chinesa, temos moral para combater o inimigo até à última gota de sangue; estamos determinados a recuperar pelos nossos próprios esforços aquilo que perdemos, e somos capazes de ocupar o nosso lugar entre as nações. Isso não quer dizer, porém, que possamos dispensar a ajuda internacional. Não, a ajuda internacional é necessária para a luta revolucionária dos nossos dias, seja em que país for e trate-se do povo que se tratar. Há um velho ditado que diz: "Não há guerras justas na época de Tchuentsiu"(31). Isso é ainda mais verdade hoje em dia, com respeito ao imperialismo, já que so as nações e as classes oprimidas podem fazer guerras justas. No mundo, todas as guerras em que um povo se levanta para combater o opressor são justas. As Revoluções de Fevereiro e Outubro na Rússia foram guerras justas. As revoluções populares, que nos vários países europeus se seguiram à Primeira Guerra Mundial, foram guerras justas. Na China, a Guerra do Ópio(32), a Guerra do Reino Celestial dos Taipins(33), a Guerra de Ihotuan(34), a Guerra Revolucionária de 1911(35), a Expedição do Norte de 1926-1927, a Guerra Revolucionária Agrária de 1927 até hoje e a actual guerra contra o Japão e punição dos traidores são, todas, guerras justas. Com o avanço actual da luta à escala nacional contra os invasores japoneses, e o avanço do movimento anti-fascista à escala mundial, as guerras justas estender-se-ão por toda a China e pelo mundo. Todas as guerras justas devem ajudar-se mutuamente e todas as guerras injustas devem ser transformadas em guerras justas — essa é a linha leninista(36). A nossa Guerra Anti-Japonesa necessita do apoio de todos os povos do mundo e, principalmente, do povo da União Soviética, os quais é seguro que nos ajudarão, pois estamos empenhados numa causa comum. No passado, as forças revolucionárias chinesas estiveram cortadas por algum tempo das forças revolucionárias mundiais, em virtude da acção de Tchiang Kai-chek. Nesse sentido, nós estávamos isolados. Agora, porém, a situação modificou-se em nosso benefício e continuará a modificar-se ainda mais em nosso proveito. Não voltaremos a ficar isoladas. Essa é uma condição indispensável da vitória da China na sua Guerra Anti-Japonesa e na sua revolução.


Notas de rodapé:

(*) Este texto é um relatório apresentado pelo camarada Mao Tsetung na conferência dos militantes do Partido, em Uaiaopao, no norte de Xensi, após a reunião do Birô Político do Comité Central do Partido Comunista da China, realizada em Dezembro de 1935 nessa mesma cidade. No decurso dessa reunião do Birô Político — reunião excepcionalmente importante do Comité Central do Partido — criticou-se a opinião errónea, que existia então no Partido, segundo a qual a burguesia nacional chinesa seria incapaz de lutar, aliada aos operários e camponeses, contra o imperialismo japonês, e decidiu-se adoptar a táctica da Frente Única Nacional. No seu relatório, o camarada Mao Tsetung, na base das decisões do Comité Central, demonstrou plenamente a possibilidade e a importância da criação duma nova Frente Única com a burguesia nacional nas condições da resistência oposta pela China aos invasores japoneses. Ele sublinhou o alcance decisivo do papel dirigente do Partido Comunista e do Exército Vermelho nessa Frente Única, mostrou o carácter de longa duração da revolução chinesa, criticou a estreiteza da atitude de "porta fechada" que por muito tempo se manifestara no Partido, assim como a impaciência com respeito à revolução, causas principais dos sérios reveses sofridos pelo Partido e o Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Civil Revolucionária. Ao mesmo tempo, o camarada Mao Tsetung levou o Partido a tirar a lição histórica da derrota da revolução em 1927, derrota devida ao oportunismo de direita de Tchen Tu-siu, e indicou que Tchiang Kai-chek se esforçaria certamente por minar as forças da revolução, com o que assegurou ao nosso Partido uma orientação clara na nova situação e permitiu às forças revolucionárias que evitassem as perdas que poderiam ter sofrido em razão dos inúmeros enganos e dos repetidos ataques armados de Tchiang Kai-chek. A reunião alargada do Birô Político do Comité Central do Partido Comunista da China, realizada em Janeiro de 1935 em Tsuen-yi, no Cueidjou, eliminara a antiga direcção oportunista de "esquerda" e formara uma nova direcção central do Partido, tendo à cabeça o camarada Mao Tsetung. Realizada no momento da Grande Marcha do Exército Vermelho, essa reunião não pôde tomar decisões senão sobre as questões militares mais urgentes e as questões de organização, relativamente ao Secretariado e à Comissão Militar Revolucionária do Comité Central. Só após a chegada do Exército Vermelho ao norte de Xensi é que o Comité Central do Partido Comunista da China teve a possibilidade de abordar duma maneira sistemática todos os problemas de táctica política. São justamente esses problemas de táctica política que o camarada Mao Tsetung submete a uma análise exaustiva no presente relatório. (retornar ao texto)

Notas de fim de tomo:

(1) A 18 de Janeiro de 1915, os imperialistas japoneses propuseram um tratado de vinte e uma exigências ao governo chinês de Iuan Chi-cai; a 7 de Maio seguinte, enviaram um ultimatum exigindo que lhes fosse dada uma resposta dentro de quarenta e oito horas. Essas exigências dividiam-se em cinco partes. As quatro primeiras eram as seguintes: transferência para o Japão dos direitos que a Alemanha se tinha arrogado no Xantum, e concessão de novos direitos nessa mesma província; concessão, na Manchúria meridional e na Mongólia oriental, dos direitos de arrendamento ou posse de terras, do direito de aí residir, exercer uma actividade industrial e comercial, assim como do direito exclusivo de aí construir vias férreas e explorar os recursos mineiros; transformação das fábricas de aço de Han-Ie-Pim numa sociedade mista sino-japonesa; aceitação pela China da obrigação de não conceder a uma terceira potência os portos e ilhas do litoral chinês. A quinta parte compreendia as exigências do Japão relativas ao controle dos negócios políticos, financeiros, militares e de polícia da China, assim como o direito de construir vias férreas vitais ligando as províncias de Hupei, Quiansi e Cuantum. Iuan Chi-cai satisfez todas essas exigências com exclusão das que se continham na quinta parte, sobre as quais solicitou "negociações ulteriores". A oposição unânime do povo chinês, porém, impediu a realização dessas exigências. (retornar ao texto)

(2) Iuan Chi-cai era o chefe dos caudilhos militares do Norte, nos últimos anos da dinastia Tsim. Depois que esta foi derrubada pela Revolução de 1911, Iuan Chi-cai apoiou-se nas forças armadas da contra-revolução e no imperialismo e, utilizando a tendência da burguesia para o compromisso — burguesia que então dirigia a revolução — usurpou a Presidência da República e constituiu o primeiro governo dos caudilhos militares do Norte, que representava os interesses dos grandes senhores de terras e da grande burguesia compradora. Em 1915, como quisesse ser imperador, e a fim de assegurar-se o apoio do imperialismo japonês, aceitou as vinte e uma exigências através das quais o Japão visava exercer um controle exclusivo sobre a China. Em Dezembro do mesmo ano iniciou-se no Iunnan uma insurreição dirigida contra Iuan Chi-cai que se havia proclamado imperador. A insurreição teve logo grande eco por todo o país. Iuan Chi-cai morreu em Pequim, em Junho de 1916. (retornar ao texto)

(3) Em Novembro de 1921, o governo dos Estados Unidos convocou em Washington uma conferência de nove países que, além dos Estados Unidos, compreendia a China, a Inglaterra, a França, a Itália, a Bélgica, a Holanda, Portugal e o Japão. Nessa conferência travou-se uma luta, entre os Estados Unidos e o Japão, pela hegemonia no Extremo Oriente. A 6 de Fevereiro de 1922, foi concluído um pacto entre as nove potências, na base dos princípios da "porta aberta" e "igualdade de oportunidades para todas as nações na China", propostos pelos Estados Unidos. Esse tratado visava garantir a dominação conjunta da China pelas potências imperialistas, abrindo na realidade o caminho para a conquista exclusiva da China pelos imperialistas norte-americanos em prejuízo do Japão que, igualmente, se esforçava por assegurar para si esse mesmo exclusivo. (retornar ao texto)

(4) A 18 de Setembro de 1931, o Exército Japonês de "Quantum", estacionado no Nordeste da China, atacou e ocupou Chen-iam. As tropas chinesas em Chen-iam e em outros lugares do Nordeste (o Exército do Nordeste) cumpriram a ordem de "não resistência absoluta" de Tchiang Kai-chek, e retiraram-se para o sul do Xanghaiquan. O exército japonês pôde assim ocupar rapidamente as províncias de Liaonim, Quilin e Heilonquiam. Essa acção agressiva do imperialismo japonês é conhecida entre o povo chinês por "Incidente de 18 de Setembro". (retornar ao texto)

(5) As quatro províncias do Nordeste eram Liaonim, Quilin, Heilonquiam e Jehol, que correspondem actualmente às seis províncias de Liaotum, Liaoci, Quilin, Sunquiam, Heilonquiam e Jehol da Região Administrativa do Nordeste e à maior parte da Região Autónoma da Mongólia Interior. Depois do Incidente de 18 de Setembro, as forças de agressão japonesas começaram por ocupar Liaonim, Quilin e Heilonquiam e, mais tarde, em 1933, ocuparam Jehol. (retornar ao texto)

(6) A 25 de Novembro de 1935, por instigação dos japoneses, o traidor In Ju-gam, membro do Kuomintang, constituiu um governo fantoche que tomou o nome de "governo autónomo anti-comunista do Hopei oriental", e que controlava vinte e dois distritos do leste do Hopei. Esse acontecimento ficou conhecido por "Incidente do Hopei oriental". (retornar ao texto)

(7) Conversações diplomáticas entre o governo de Tchiang Kai-chek e o governo japonês a respeito dos chamados "três princípios de Hirota", que são os "três princípios de conduta relativamente à China", formulados pelo então Ministro dos Negócios Estrangeiros, Hirota. Tais princípios podem re-sumir-se como se segue: (1) repressão pela China de toda a actividade anti-japonesa; (2) estabelecimento duma cooperação económica entre a China, o Japão e o "Mandjoucuo"; (3) defesa comum da China e do Japão contra o comunismo. A 21 de Janeiro de 1936, Hirota declarou na dieta japonesa que "o governo chinês tinha aceitado os três princípios formulados pelo Império". (retornar ao texto)

(8) O ano 1935 foi testemunha dum novo apogeu do movimento patriótico do povo chinês. Os estudantes de Pequim, sob a direcção do Partido Comunista da China, foram os primeiros a organizar manifestações patrióticas, no dia 9 de Dezembro, avançando palavras de ordem de "Cessação da guerra civil e unidade contra a agressão estrangeira!", "Abaixo o imperialismo japonês!", etc. A despeito do reino de terror, estabelecido havia muito pelo governo do Kuomintang em ligação com os agressores japoneses, o movimento obteve imediatamente o apoio do povo chinês, e passou a ser conhecido por "Movimento de 9 de Dezembro". A partir desse momento, produziram-se com toda a clareza novas alterações nas relações entre as diferentes classes do país. A formação duma Frente Única Nacional Anti-japonesa, preconizada pelo Partido Comunista da China, constituiu então a política reclamada abertamente por todos os patriotas, facto que lançou a política de traição do governo de Tchiang Kai-chek num isolamento extremo. (retornar ao texto)

(9) Na época em que esse relatório foi apresentado pelo camarada Mao Tsetung, Tchiang Kai-chek andava negociando a venda do Norte da China ao Japão, depois de já lhe ter vendido o Nordeste, e prosseguia activamente as suas operações militares contra o Exército Vermelho. O Partido Comunista da China devia pois fazer todo o possível por desmascarar a traição de Tchiang Kai-chek, e, naturalmente, não o incluía na Frente Única Nacional Anti-Japonesa que propunha. Nesse relatório, o camarada Mao Tsetung já encarava a desagregação eventual do campo da classe dos senhores de terras e dos compradores chineses, como resultado das contradições entre as diferentes potências imperialistas. Ora, a ofensiva do imperialismo japonês no Norte da China afectava gravemente os interesses dos imperialistas ingleses e norte-americanos, donde a conclusão do Partido Comunista de que a camarilha de Tchiang Kai-chek, estreitamente ligada a tais interesses, podia, sob ordens dos seus amos, mudar de atitude com respeito ao Japão. A política que o Partido Comunista adoptou foi pois a de fazer pressão sobre Tchiang Kai-chek, a fim de levá-lo a resistir ao Japão. Em Maio de 1936, o Exército Vermelho que vinha do Xansi atingiu o norte do Xensi e exigiu directamente ao governo do Kuomintang de Nanquim a cessação da guerra civil e a resistência comum ao Japão. Em Agosto do mesmo ano, o Comité Central do Partido Comunista da China enviou uma carta ao Comité Executivo Central do Kuomintang, exigindo a organização duma Frente Única dos dois partidos, a fim de resistirem em comum ao Japão, assim como a designação de representantes dos dois partidos com vista à abertura de conversações. Todas essas propostas, porém, foram rejeitadas por Tchiang Kai-chek. Não foi senão em Dezembro de 1936, ao ser preso em Si-an por militares db Kuomintang, partidários da aliança com os comunistas para a resistência ao Japão, que Tchiang Kai-chek foi obrigado a aceitar as exigências formuladas pelo Partido Comunista, isto é, pôr fim à guerra civil e resistir ao Japão. (retornar ao texto)

(10) Tsai Tim-cai era o 2° comandante do XIX Exército de Rota do Kuomintang e tinha directamente sob as suas ordens um dos corpos desse exército. Ele partilhava o comando do XIX Exército de Rota com Tchen Mim-chu e Tchiam Cuam-nai. O XIX Exército de Rota tinha operado primeiramente contra o Exército Vermelho no Quiansi, tendo sido posteriormente enviado para Xangai, depois do Incidente de 18 de Setembro. O avanço da luta anti-japonesa que se estendia a Xangai e a todo o país, exerceu uma enorme influência sobre o estado de espírito do XIX Exército de Rota. Na noite do dia 28 de Janeiro de 1932, no momento em que os fuzileiros navais japoneses atacavam Xangai, o XIX Exército de Rota e a população da cidade resistiram aos invasores. A batalha, porém, perdeu-se, em resultado da traição de Tchiang Kai-chek e Uam Tsim-vei. Mais tarde, o XIX Exército de Rota foi enviado por Tchiang Kai-chek para o Fuquien, para aí prosseguir a luta contra o Exército Vermelho. Os comandantes do XIX Exército de Rota acabaram por compreender que tal luta não oferecia qualquer saída. Em Novembro de 1933, os chefes do XIX Exército de Rota reuniram uma parte das forças do Kuomintang, com Li Tsi-chen e outros à cabeça, e romperam oficialmente com Tchiang Kai-chek, formaram em Fuquien o "Governo Popular Revolucionário da República da China" e concluíram um acordo com o Exército Vermelho no sentido de resistir ao Japão e atacar Tchiang Kai-chek. O XIX Exército de Rota e o governo popular de Fuquien sucumbiram sob a pressão militar de Tchiang Kai-chek. Mais tarde, Tsai Tim-cai e alguns dos seus companheiros passaram gradualmente a colaborar com o Partido Comunista. (retornar ao texto)

(11) Em Setembro de 1926, quando o Exército Revolucionário da Expedição do Norte se aproximou de Vuhan, Fom Iu-siam, à testa do seu exército, que se encontrava estacionado em Sui-iuan, anunciou a sua ruptura com a camarilha dos caudilhos militares do Norte e juntou-se à revolução. No início de 1927, partindo do Xensi, as suas tropas atacaram o Honan, em colaboração com o Exército da Expedição do Norte. Se bem que Fom Iu-siam tivesse participado em actividades anti-comunistas no tempo em que Tchiang Kai-chek e Uam Tsim-vei traíram a revolução em 1927, os seus interesses encontravam-se em conflito constante com os da camarilha de Tchiang Kai-chek. Após o Incidente de 18 de Setembro, ele pronunciou-se pela resistência ao Japão e, em Maio de 1933, cooperou com o Partido Comunista, organizando em Tchanquiacou um exército aliado popular anti-japonês. Os seus esforços redundaram num fracasso, em Agosto, sob o duplo golpe das forças de Tchiang Kai-chek e do exército de agressão japonês. Nos últimos anos da sua vida, Fom Iu-siam continuou a cooperar com o Partido Comunista. (retornar ao texto)

(12) O XXVI Exército de Rota tinha sido enviado por Tchiang Kai-chek a fim de combater o Exército Vermelho, em Quiansi. Em Dezembro de 1931, respondendo a um apelo do Partido Comunista da China, que os incitava a resistir ao Japão, mais de 10.000 homens desse exército, dirigidos pelos camaradas Tchao Po-chem, Tum Tchen-tam e outros, sublevaram-se em Nintu, província de Quiansi, e passaram-se para o lado do Exército Vermelho. (retornar ao texto)

(13) Oficial do Exército do Nordeste do Kuomintang. As tropas que ele comandava estavam estacionadas no Heilon-quiam. Depois do Incidente de 18 de Setembro, essas tropas resistiram aos agressores japoneses que se dirigiam contra Heilonquiam, a partir da província de Liaonim. (retornar ao texto)

(14) Célebre político do Kuomintang oposto à política de Sun Yat-sen de cooperação com o Partido Comunista da China. Ele foi um dos autores do golpe de Estado contra-revolucíonário de 12 de Abril de 1927, organizado por Tchiang Kai-chek. Mais tarde, rival de Tchiang Kai-chek na luta pelo poder, foi preso por este último. Libertado após o Incidente de 18 de Setembro, ele abandonou Nanquim por Cantão, onde incitou os caudilhos militares das camarilhas do Cuamtum e do Cuansi a oporem-se durante um longo período ao governo de Tchiang Kai-chek, instalado em Nanquim. (retornar ao texto)

(15) O Programa em Seis Pontos para a Resistência ao Japão e Salvação da Pátria" era o "Programa Fundamental do Povo Chinês para a Luta Anti-japonesa", apresentado em 1934 pelo Partido Comunista da China e publicado com as assinaturas de Som Tchim-lim e outros. Esse programa compreendia os pontos seguintes: 1) Mobilização geral das forças navais, terrestres e aéreas para a resistência ao Japão; 2) Mobilização do povo inteiro; 3) Armamento geral do povo; 4) Confisco dos bens dos imperialistas japoneses, na China, e dos traidores à nação, a fim de se cobrirem as despesas da Guerra Anti-japonesa; 5) Criação dum comité nacional de auto-defesa armada, para toda a China, e eleito pelos representantes dos operários, camponeses, exército, intelectuais e homens de negócio; 6) Aliança com todas as forças opostas ao imperialismo japonês e estabelecimento de relações de amizade com todos os países que observassem uma neutralidade bem-intencionada. (retornar ao texto)

(16) O bando de Tchiang Kai-chek qualificava de "bandidos" o povo revolucionário, e de "exterminação dos bandidos" os seus ataques militares e massacres contra o povo revolucionário. (retornar ao texto)

(17) Trata-se de Tchen Tsi-tam, de Cuantum, e de Li Tsum-jen e Bai Tchon-si, de Cuansi. (retornar ao texto)

(18) O camarada Jen Pi-chi era um dos membros mais antigos do Partido Comunista da China e um dos seus primeiros organizadores. Eleito membro do Comité Central pelo V Congresso do Partido, realizado em 1927, ele foi consecutivamente reeleito pelos Congressos posteriores. Em 1931, na Quarta Sessão Plenária do Comité Central eleito pelo VI Congresso, foi eleito membro do Birô Político. Em 1933, ocupou o posto de secretário do Comité Provincial do Partido na região fronteiriça Hunan-Quiansi, cumulando-o com o posto de comissário político do VI Grupo de Corpos de Exército do Exército Vermelho. Posteriormente, ele foi nomeado comissário político do Exército Vermelho da II Frente, constituído após a junção dos VI e II Grupos de Corpos de Exército. No início da Guerra de Resistência contra o Japão, ele passou a director do Departamento Político Geral do VIII Exército. A partir de 1940, trabalhou no secretariado do Comité Central do Partido. Na Primeira Sessão Plenária do Comité Central eleito pelo VII Congresso do Partido, realizado em 1945, foi novamente eleito membro do Birô Político, passando a ser um dos secretários do secretariado do Comité Central. Morreu em Pequim, a 27 de Outubro de 1950. (retornar ao texto)

(19) O VI Grupo de Corpos de Exército do Exército Vermelho dos Operários e Camponeses da China encontrava-se inicialmente na base de apoio da região fronteiriça Hunan-Quiansi. Em Agosto de 1934, por ordem do Comité Central do Partido Comunista da China, iniciou a ruptura do cerco inimigo e a mudança de posições. Em Outubro, operou uma junção, a leste de Cueidjou, com o II Grupo de Corpos de Exército comandado pelo camarada Ho Lom. No seu conjunto eles formaram o Exército Vermelho da II Frente e criaram a base revolucionária do Hunan-Hupei-Setchuan-Cueidjou. (retornar ao texto)

(20) Em Outubro de 1934, o I, o III e o V Grupos de Corpos de Exército do Exército Vermelho dos Operários e Camponeses da China (isto é, o Exército Vermelho da I Frente, também chamado Exército Vermelho Central) começaram uma deslocação estratégica geral, a partir de Tchantim e Nin-hua, no oeste do Fuquien, Jueiquin e Iutu e outros lugares, no sul do Quiansi. O Exército Vermelho atravessou onze províncias: Fuquien, Quiansi, Cuantum, Hunan, Cuansi, Cuei-djou, Setchuan, Iunnan, Sicam, Cansu e Xensi, franqueando cadeias de montanhas cobertas de neves eternas e vastas planícies pantanosas, onde o Homem nunca tinha por assim dizer penetrado. O Exército Vermelho passou por provas sem fim, reduziu a nada todos os esforços do inimigo para cercá-lo, perseguí-lo, opor-se ao seu avanço ou detê-lo na sua passagem e, em Outubro de 1935, após ter efectuado uma marcha ininterrompida de vinte e cinco mil lis (12.500 quilómetros), chegou vitoriosamente à base revolucionária estabelecida no norte do Xensi. (retornar ao texto)

(21) Ele constituía a IV Frente do Exército Vermelho dos Operários e Camponeses da China. Em Março de 1935» abandonando a base de apoio na região fronteiriça Setchuan-Xensi, começou a deslocação em direcção das fronteiras do Setchuan e Sicam. No mês de Junho, juntou-se, em Maocum, a oeste de Setchuan, ao Exército Vermelho da I Frente, dirigindo-se os dois exércitos para o norte, em duas colunas paralelas. Mas em Setembro, ao chegarem à região de Maoelcai, não longe de Sompan, Tcham Cuo-tao, que fazia parte do Exército da IV Frente, agindo de sua própria iniciativa e em violação das ordens do Comité Central do Partido Comunista da China, arrastou a coluna da esquerda para sul, dividindo assim as forças do Exército Vermelho. Em Junho de 1936, o Exército Vermelho da II Frente, depois de ter quebrado um cerco na região fronteiriça Hunan-Hupei-Setchuan-Cueidjou, atravessou o Hunan, o Cueidjou e o Iunnan, juntando-se ao Exército da IV Frente em Cantse, Sicam. Nessa altura, alguns camaradas do Exército da IV Frente, agindo contra a vontade de Tcham Cuo-tao, retomaram a direcção do norte, com o Exército da I Frente. Em Outubro de 1936, o Exército da II Frente e uma parte do Exército da IV Frente chegaram ao norte do Xensi onde, vitoriosamente, se juntaram ao Exército Vermelho da I Frente. (retornar ao texto)

(22) Tcham Cuo-tao, renegado da revolução chinesa. Na sua juventude, especulando com a revolução, aderiu ao Partido Comunista da China. No Partido, ele cometeu um número considerável de erros que degeneraram em verdadeiros crimes. O erro mais conhecido foi o que cometeu em 1935, ao opor-se à marcha do Exército Vermelho para o norte, e preconizando por espírito derrotista e liquidacionista a retirada do Exército Vermelho em direcção de regiões povoadas por minorias nacionais, regiões situadas na fronteira do Setchuan e do Sicam; além disso, entregou-se abertamente a uma actividade de traição contra o Partido e respectivo Comité Central, formando um pseudo Comité Central e sapando a unidade do Partido e do Exército Vermelho. Em consequência disso, o Exército Vermelho da IV Frente sofreu pesadas perdas. Mas graças ao paciente trabalho de educação realizado pelo camarada Mao Tsetung e pelo Comité Central do Partido, o Exército Vermelho da IV Frente e a grande massa dos seus quadros voltaram rapidamente a colocar-se sob a justa direcção do Comité Central e desempenharam um papel glorioso nas lutas que se seguiram. Quanto a Tcham Cuo-tao, permaneceu incorrigível. Na Primavera de 1938, sozinho, fugiu da região fronteiriça Xensi-Cansu-Ninsia e converteu-se num agente dos serviços secretos do Kuomintang. (retornar ao texto)

(23) O Exército Vermelho Central ou Exército da I Frente era o Exército Vermelho, criado no Quiansi e Fuquien, que se encontrava sob a direcção imediata do Comité Central do Partido Comunista da China. (retornar ao texto)

(24) Em Julho de 1935, as tropas do Kuomintang lançaram a sua terceira campanha de "cerco e aniquilamento" contra a base revolucionária do Xensi-Cansu. No começo, o XXVI Corpo do Exército Vermelho do norte do Xensi derrotou duas brigadas inimigas no sector oriental e atirou o adversário para a margem esquerda do rio Amarelo. Em Setembro, o XXV Corpo do Exército Vermelho, que primitivamente operava na base de apoio do Hupei-Honan-Anghuei, atravessou o sul do Xensi e o leste do Cansu e desembocou no norte do Xensi onde fez junção com as forças do Exército Vermelho do norte do Xensi, formando assim o XV Grupo de Corpos de Exército do Exército Vermelho. Na batalha de Laoxan, em Cantchiuan, esse grupo de corpos de exército aniquilou a maior parte da 110ª Divisão inimiga, matou o respectivo comandante e destruiu pouco depois, em Iulinquiao, distrito de Cantchiuan, quatro batalhões da 107ª Divisão inimiga. O inimigo organizou então novos ataques. Sob as ordens de Tum Im-pin (comandante dum dos corpos de exército no Exército do Nordeste), cinco divisões inimigas passaram ao ataque em duas colunas: a leste, progredia uma divisão em direcção do norte, seguindo o itinerário Luo-tchuan-Fucien; a oeste, as outras quatro divisões, surgindo de Tchin-iam e Hochuei no Cansu, avançavam ao longo do rio Hulu, em direcção de Fucien, no norte do Xensi. Em Outubro, o Exército Vermelho Central atingiu o norte de Xensi. Em Novembro, em cooperação com o XV Grupo de Corpos de Exército, ele liquidou em Tchiluotchen, a sudoeste de Fucien, a 109ª Divisão inimiga e aniquilou em Heichueisse um regimento da 106ª Divisão, durante a perseguição. Assim, a terceira campanha de "cerco e aniquilamento" do inimigo dirigida contra a base de apoio da região fronteiriça Xensi-Cansu foi completamente desfeita. (retornar ao texto)

(25) Em 1934-1935, no momento da deslocação das suas forças principais estacionadas no Sul, o Exército Vermelho deixou nessa região vários destacamentos de guerrilhas que realizaram com tenacidade uma guerra de guerrilhas em catorze regiões repartidas por oito províncias. Essas regiões são: sul do Tchequiam, norte de Fuquien, este de Fuquien, sul de Fuquien, oeste de Fuquien, nordeste de Quiansi, fronteira do Fuquien e do Quiansi, fronteira do Cuantum e do Quiansi, o sul do Hunan, fronteira do Hunan e do Quiansi, fronteira do Hunan, do Hupei e do Quiansi, fronteira do Hupei, Honan e do Anghuei, região das montanhas Tompai no sul do Honan e a ilha de Hainan, ao largo da costa do Cuantum. (retornar ao texto)

(26) Depois que os imperialistas japoneses ocuparam o Nordeste em 1931, o Partido Comunista da China apelou para a resistência armada popular, organizou destacamentos de guerrilhas anti-japonesas, bem como o Exército Revolucionário Popular do Nordeste, e prestou ajuda aos diferentes destacamentos voluntários anti-japoneses. Depois de 1934, todas essas forças foram reorganizadas, sob a direcção do Partido, num exército único: o Exército de Coalizão Anti-Japonês do Nordeste, tendo por comandante em chefe o notável comunista Iam Tsim-iu. Durante muito tempo esse exército sustentou uma guerra de guerrilhas anti-japonesa no Nordeste. Quanto à guerra de guerrilhas anti-japonesa no Hopei oriental, trata-se do levantamento camponês contra o Japão, em Maio de 1935. (retornar ao texto)

(27) Guerra de 1918 a 1920, durante a qual o povo soviético, sob a direcção do Partido Comunista da União Soviética, repeliu a intervenção armada dos Estados imperialistas, nomeadamente a Inglaterra, Estados Unidos, França, Japão e Polónia, e esmagou a rebelião dos Guardas Brancos. (retornar ao texto)

(28) Durante a Guerra de Resistência contra o Japão, o poder político e a política duma república popular, tal como são descritos pelo camarada Mao Tsetung, tornaram-se uma realidade nas regiões populares libertadas que se encontravam sob direcção do Partido Comunista da China. Foi isso que permitiu ao Partido Comunista dirigir o povo na própria retaguarda do inimigo, de modo a que fizesse uma guerra vitoriosa contra os invasores japoneses. Durante a Terceira Guerra Civil Revolucionária, que estalou após a capitulação do Japão, as regiões populares libertadas estenderam-se progressivamente a todo o país, seguindo o desenrolar da guerra; assim nasceu uma república unificada, a República Popular da China, realizando-se à escala nacional o ideal do camarada Mao Tsetung relativo à república popular. (retornar ao texto)

(29) Em Julho de 1928, o VI Congresso do Partido Comunista da China adoptou um programa em dez pontos: 1) derrubar a dominação do imperialismo; 2) confiscar as empresas e bancos do capital estrangeiro; 3) unificar a China e reconhecer o direito de auto-determinação nacional; 4) derrubar o governo dos caudilhos militares do Kuomintang; 5) estabelecer o poder das assembleias dos delegados dos operários, camponeses e soldados; 6) instituir a jornada de oito horas de trabalho, aumentar os salários, estabelecer o socorro para os desempregados, assistência social, etc; 7) confiscar todas as terras da classe dos senhores de terras e distribuir terras aos camponeses; 8) melhorar as condições de vida dos soldados, distribuir-lhes terras e dar-lhes trabalho; 9) abolir todas as taxas e outras contribuições exorbitantes e adoptar um imposto progressivo único; 10) união com o proletariado mundial e com a URSS. (retornar ao texto)

(30) A camarilha trotskista era uma facção anti-leninista no movimento operário da Rússia que mais tarde degenerou por completo num bando contra-revolucionário. Sobre a evolução dessa camarilha traidora, o camarada Estaline, no seu relatório à Sessão Plenária do Comité Central do Partido Comunista (BolcKevique) da União Soviética, em 1937, deu a seguinte explicação: "No passado, há sete ou oito anos atrás, o trotskismo era uma das correntes políticas entre a classe operária; corrente anti-leninista, e por isso profundamente errada, mas ainda era uma corrente política. ... O trotskismo actual, porém, já não é uma facção política entre a classe operária, mas sim uma camarilha sem princípios nem ideias, um bando de sabotadores, de destruidores, de espiões e assassinos, inimigos jurados da classe operária, agindo a soldo dos serviços de espionagem estrangeiros." Igualmente, na China, após a derrota da revolução em 1927, apareceram uns quantos trotskistas que se reuniram aos renegados de Tchen Tu-siu. Em 1929, eles formaram uma pequena organização contra-revolucionária, propagando a ideia de que o Kuomintang já tinha realizado a revolução democrático-burguesa. Esses indivíduos tornaram-se, por completo, num vil instrumento do imperialismo e do Kuomintang contra o povo. Os trotskistas chineses trabalharam abertamente nos serviços de espionagem do Kuomintang. Após o Incidente de 18 de Setembro, cumprindo a indicação do bandido Trotski de "não impedir a ocupação da China pelo império japonês", eles passaram à colaboração com os serviços de espionagem do Japão, recebendo subsídios dos invasores e dedicando-se a várias actividades favoráveis à agressão japonesa. (retornar ao texto)

(31) Aforismo de Meneio. Na China da época de Tchuen-tsiu (722-481 A.C.), os príncipes feudais guerreavam constantemente pelo poder, donde a observação do filósofo. (retornar ao texto)

(32) Em 1840-1842, ante a oposição do povo chinês ao tráfico de ópio, e sob o pretexto de proteger o seu comércio, a Inglaterra enviou tropas de invasão contra a China. As forças chinesas, comandadas por Lin Tse-siu, resistiram, tendo o povo de Cantão organizado espontaneamente "Corpos de Repressão Anti-Ingleses" que vibraram duros golpes no invasor. (retornar ao texto)

(33) Guerra revolucionária camponesa dos meados do século XIX, dirigida contra a dominação feudal e a opressão nacional exercida pela dinastia Tsim. Em Janeiro de 1851, Horn Siu-tchiuan, Iam Siu-tchim e outros chefes da revolução organizaram um levantamento na aldeia de Quintien, distrito de Cueipim, província de Cuansi, e proclamaram o "Reino Celestial dos Taipins". Em 1852, partindo de Cuansi, o exército dos Taipins atravessou o Hunan, o Hupei, o Quiansie o Anghuei, e em 1853 tomou Nanquim. Em seguida, a partir de Nanquim, uma parte do exército foi enviada para o Norte, combatendo até às proximidades de Tientsim. Todavia, em virtude de não ter estabelecido sólidas bases de apoio nos territórios ocupados, e devido a muitos erros políticos e militares cometidos pela sua direcção depois do estabelecimento da capital em Nanquim, o exército dos Taipins foi incapaz de resistir aos ataques combinados das tropas reaccionárias dos Tsim e dos agressores ingleses, norte-americanos e franceses, sofrendo finalmente uma derrota, em 1864. (retornar ao texto)

(34) Vasto e espontâneo movimento armado anti-imperialista que os camponeses e artesãos do Norte da China organizaram em 1900, na base de sociedades místicas e secretas. Depois de haver ocupado Pequim e Tientsim, as forças combinadas de oito países imperialistas sufocaram cruelmente esse movimento. (retornar ao texto)

(35) A Revolução de 1911 foi a revolução que derrubou a dinastia despótica dos Tsim. No dia 10 de Outubro de 1911, impulsionada pelas organizações revolucionárias burguesas e pequeno-burguesas, uma parte do Novo Exército passou à rebelião, em Vutcham, no que não tardou a ser seguida por outros levantamentos em várias províncias. A dominação dos Tsim desmorónou-se rapidamente. No dia 1 de Janeiro de 1912 formou-se, em Nanquim, o Governo Provisório da República da China, sendo Sun Yat-sen eleito Presidente Provisório. A vitória da revolução deveu-se à aliança estabelecida entre a burguesia, por um lado, e os camponeses, operários e pequena burguesia urbana, por outro. Contudo, como o bloco dirigente da revolução era de tendência conciliadora, não satisfazia os interesses reais dos camponeses e ajoelhava-se ante a pressão das forças imperialistas e feudais, o poder acabou por cair nas mãos de Iuan Chi-cai, caudilho militar do Norte, do que resultou a derrota da revolução.. (retornar ao texto)

(36) Ver V. I. Lenine: "O Programa Militar da Revolução Proletária", e também Compêndio de História do Partido Comunista (Bolchevique) da U.R.S.S., capítulo VI, secção 3. (retornar ao texto)

Notas do Tradutor:

(1*) Pan Cu, um personagem mitológico. Sanghuanvuti, chefes lendários na China antiga. (retornar ao texto)

Inclusão 03/09/2011
Última alteração 08/08/2012