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Tradução: A presente tradução está conforme à edição das Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo IV (Edições do Povo, Pequim, Setembro de 1960). Nas notas introduziram-se alterações, para atender as necessidades de edição em línguas estrangeiras.
Fonte: Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Pequim, 1976, Tomo IV, pág: 328-335.
Transcrição e HTML: Lucas Schweppenstette.
Os chineses devem agradecer a Acheson, porta-voz da burguesia norte-americana, não apenas por ter confessado explicitamente o facto de os Estados Unidos fornecerem o dinheiro e as armas, e Tchiang Kai-chek, os homens para lutar pelos Estados Unidos e massacrar o povo chinês, mas também por ter dado assim aos progressistas chineses uma prova com que convencer os elementos atrasados. Vejam! Não é o próprio Acheson quem confessa que a grande guerra sangrenta dos últimos anos, que custou a vida de milhões de chineses, foi organizada sistematicamente pelo imperialismo norte-americano? Os chineses devem ainda agradecer a Acheson não apenas porque declarou abertamente que os Estados Unidos intentam recrutar, na China, os “individualistas democráticos”, a fim de organizarem uma quinta coluna norte-americana e derrubarem o governo popular dirigido pelo Partido Comunista da China, o que alertou de tal maneira os chineses, especialmente os que se tingem de liberalismo, que estes prometem reciprocamente não se deixar enganar pelos norte-americanos e que estão todos em guarda contra as intrigas ocultas do imperialismo norte-americano. Os chineses devem também agradecer a Acheson o ter fabricado lendas absurdas acerca da história moderna da China; a sua concepção da História é precisamente a que é compartilhada por um sector dos intelectuais chineses, isto é, a concepção idealista burguesa da História. Sendo assim, refutar Acheson pode beneficiar muitos chineses, ampliando-lhes os seus horizontes. O benefício pode ser ainda maior para aqueles cuja concepção é idêntica, ou em certos aspectos idêntica, à de Acheson.
Quais são, pois, as invenções disparatadas de Acheson sobre a história moderna da China? Primeiramente, ele tenta explicar o aparecimento da revolução chinesa em termos de condições económicas e ideológicas na China. A este respeito, ele conta muitos mitos.
Diz Acheson:
“A população da China duplicou durante os séculos XVIII e XIX, originando assim uma pressão insuportável sobre a terra. O primeiro problema a que tem de fazer face qualquer governo chinês é o de alimentar esta população. Até hoje, nenhum governo conseguiu resolvê-lo. O Kuomintang tentou uma solução com a inserção de numerosas leis sobre a reforma agrária inscritas nos códigos. Algumas dessas leis fracassaram, outras foram ignoradas. Em não pequena medida, a dificuldade em que hoje se encontra o governo nacional deve-se à sua incapacidade de prover a China de alimentação suficiente. Uma grande parte da propaganda dos comunistas chineses consiste em prometer solucionar o problema agrário.”
Para os chineses que não compreendem claramente a questão, o que acima se diz parece plausível. Bocas em excesso, alimentação insuficiente; daí a revolução. O Kuomintang fracassou na solução deste problema e é pouco provável que o Partido Comunista seja capaz de resolvê-lo. “Até hoje, nenhum governo conseguiu resolvê-lo”.
Será que as revoluções são originadas pela sobrepopulação? Houve muitas revoluções nos tempos antigos e modernos, na China e no estrangeiro; deveram-se todas elas à sobrepopulação? Deveram-se também à sobrepopulação as numerosas revoluções ocorridas nos últimos milénios na China? Acaso se deveu também à sobrepopulação a revolução norte-americana contra a Inglaterra, há 174 anos(1)? Os conhecimentos históricos de Acheson são nulos. Ele nem sequer leu a Declaração da Independência dos Estados Unidos. Washington, Jefferson e outros fizeram a revolução contra a Inglaterra em virtude da opressão e exploração dos norte-americanos pelos ingleses e não devido a uma sobrepopulação dos Estados Unidos. Todas as vezes que o povo chinês derrubava uma dinastia feudal, isso ocorria devido à opressão e exploração do povo por essa dinastia feudal, e não porque o país estivesse sobrepovoado. Os russos fizeram a Revolução de Fevereiro e a Revolução de Outubro em virtude da opressão e exploração exercidas pelo tsar e pela burguesia russa e não por causa de qualquer sobrepopulação, já que, ainda hoje, na Rússia há muito mais terras do que as que necessita a população. Na Mongólia, onde a terra é tão vasta e a população tão escassa, a revolução seria inconcebível segundo a linha de pensamento de Acheson, e, portanto, a revolução já se verificou neste país há muito tempo(2).
Segundo Acheson, a China não tem nenhuma saída. Uma população de 475 milhões de habitantes constitui uma “pressão insuportável” e, com ou sem revolução, o caso é desesperado. Acheson deposita grandes esperanças nisto; embora não tenha declarado publicamente essas esperanças, elas têm sido reveladas frequentes vezes por muitos jornalistas norte-americanos, através da alegação de que o Partido Comunista da China não conseguirá resolver os problemas económicos, que a China permanecerá num caos perpétuo e que a sua única saída é viver da farinha norte-americana, por outras palavras, converter-se numa colónia dos Estados Unidos.
Por que é que a Revolução de 1911 não foi coroada de êxito, e por que é que não resolveu o problema da alimentação da população? Porque ela derrubou unicamente a dinastia Tsim, mas não liquidou a opressão e a exploração do imperialismo e do feudalismo.
Por que é que a Expedição do Norte não teve êxito, e por que é que não resolveu o problema da alimentação da população? Porque Tchiang Kai-chek traiu a revolução, rendeu-se ao imperialismo e tornou-se o cabecilha da contra-revolução que oprimia e explorava os chineses.
É verdade que, “até hoje, nenhum governo conseguiu resolvê-lo”? Nas velhas regiões libertadas do Noroeste, Norte, Nordeste e Leste da China, onde o problema agrário já foi solucionado, acaso existirá ainda o problema da “alimentação dessa população”, tal como Acheson o levanta? Os Estados Unidos mantêm na China um bom número de espias ou de chamados observadores. Por que é que não investigaram sequer esse facto? Em locais como Xangai, o problema do desemprego, ou da alimentação da população, surge apenas devido à cruel e desapiedada opressão e exploração por parte do imperialismo, do feudalismo, do capitalismo burocrático e do governo reaccionário do Kuomintang. Sob o Governo Popular, bastarão somente uns breves anos para que este problema do desemprego, ou da alimentação da população, seja resolvido tão completamente como o foi no Norte, Nordeste e outros pontos do país.
É uma coisa muito boa que a China tenha uma grande população. Mesmo que a população se multiplicasse várias vezes, a China seria inteiramente capaz de encontrar uma solução. A solução é a produção. O argumento absurdo dos economistas burgueses ocidentais, como Malthus (3), de que a produção de alimentos não pode aumentar no mesmo ritmo em que aumenta a população, não só foi radicalmente refutado em teoria pelos marxistas, há já muito tempo, como também foi completamente desfeito pela realidade na União Soviética e nas áreas libertadas da China, depois das respectivas revoluções. Baseando-se na verdade, segundo a qual revolução mais produção pode resolver o problema da alimentação da população, o Comité Central do Partido Comunista da China ordenou às organizações do Partido e ao Exército Popular de Libertação em todo o país que não destituíssem o antigo pessoal do Kuomintang, mas sim mantivessem nas suas funções todos aqueles que se mostrassem capazes e não fossem reaccionários confirmados ou malfeitores notórios. Onde as condições sejam muito difíceis, a alimentação e o alojamento serão compartilhados. Os que tenham sido destituídos e não tenham meios de subsistência, serão reincorporados e ser-lhes-ão assegurados os meios para viver. De acordo com o mesmo princípio, nós manteremos todos os militares do Kuomintang que se tenham revoltado e passado para o nosso lado, ou que tenham sido feitos prisioneiros. A todos os reaccionários, excepto os maiores culpados, dar-se-á uma oportunidade de ganhar a vida, desde que mostrem arrependimento.
De tudo o que existe no mundo, o mais precioso é o homem. Sob a direcção do Partido Comunista, uma vez que existam os homens, são possíveis todos os milagres. Somos daqueles que refutam a teoria contra-revolucionária de Acheson. Temos a convicção de que a revolução pode modificar tudo e de que, num futuro próximo, surgirá uma China nova com uma grande população e uma grande riqueza de produtos, onde a vida será de abundância e onde a cultura florescerá. Todas as opiniões pessimistas carecem absolutamente de fundamento.
“O impacto do Ocidente” é dado por Acheson como segunda causa da revolução chinesa. Acheson diz:
“Durante mais de três mil anos, os chineses desenvolveram uma cultura e uma civilização, próprias e elevadas, em grande parte sem influência estrangeira. Mesmo quando submetidos à conquista militar, os chineses sempre conseguiram finalmente submeter e absorver o invasor. Era, pois, natural que acabassem por considerar-se o centro do mundo e a mais alta expressão da Humanidade civilizada. Mais tarde, nos meados do século XIX, a muralha do isolamento chinês, até então intransponível, foi aberta pelo Ocidente. Esses forasteiros trouxeram consigo o dinamismo, o desenvolvimento incomparável da técnica ocidental, assim como uma elevada cultura, que não havia acompanhado as precedentes incursões estrangeiras na China. Em parte devido a essas qualidades e em parte devido à decadência da dominação Manchu, os ocidentais, em vez de serem absorvidos pelos chineses, introduziram novas ideias que desempenharam um papel importante, estimulando a agitação e a inquietude.”
Para os chineses que não vêem claramente a essência do problema, o que Acheson diz parece admissível: a introdução na China de novas ideias vindas do Ocidente deu origem à revolução.
Contra quem era dirigida a revolução? Como a “decadência da dominação Manchu” era um facto e como era este o ponto fraco atacado, poderia parecer que a revolução era dirigida contra a dinastia Tsim. Contudo, o que Acheson diz aqui de modo nenhum é correcto. A Revolução de 1911 era dirigida contra o imperialismo. Os chineses dirigiram a revolução contra o regime dos Tsins porque este era o lacaio do imperialismo. A resistência à agressão inglesa na Guerra do Ópio, a guerra contra a agressão das forças aliadas anglo-francesas, a guerra dos Taipins contra o regime dos Tsins, lacaio do imperialismo, a guerra contra a agressão francesa, a guerra contra a agressão japonesa e a guerra contra a agressão das Forças Conjuntas das Oito Potências, todas elas terminaram em fracasso; então estalou a Revolução de 1911 contra o lacaio do imperialismo, a dinastia dos Tsins. Esta é a história moderna da China até 1911. Qual é o “impacto do Ocidente” de que fala Acheson? É o esforço da burguesia ocidental, como disseram Marx e Engels no Manifesto do Partido Comunista (1848) (4), para remodelar o mundo à sua imagem e semelhança por meio do terror. No processo desse impacto ou remodelação, a burguesia ocidental, que necessitava de compradores e serventes familiarizados com os costumes ocidentais, teve de permitir que países como a China abrissem escolas e enviassem estudantes para o estrangeiro; e, assim, “foram introduzidas novas ideias” na China. Ao mesmo tempo, nasciam, em países como o nosso, uma burguesia nacional e um proletariado, enquanto que o campesinato se arruinava, originando um imenso semiproletariado. Assim, a burguesia ocidental criou duas categorias no seio da população dos países orientais: uma pequena minoria, os servidores do imperialismo, e uma maioria, oposta ao imperialismo e constituída pela classe operária, campesinato, pequena burguesia urbana, burguesia nacional e intelectuais originários dessas classes. Todos os que formam esta maioria são os coveiros do imperialismo, foram criados pelo próprio imperialismo e é deles que dimana a revolução. Não foi a chamada introdução das ideias do Ocidente que provocou “a agitacão e a inquietude”, mas sim foi a agressão imperialista que provocou a resistência.
Durante muito tempo no decorrer desse movimento de resistência, isto é, durante mais de setenta anos, desde a Guerra do Opio de 1840 até às vésperas do Movimento do 4 de Maio de 1919, os chineses não dispunham de armas ideológicas com que defender-se do imperialismo. As armas ideológicas do velho feudalismo ultraconservador foram derrotadas, tiveram de ceder e foram declaradas falidas. Sem mais possibilidades de escolha, os chineses foram obrigados a equipar-se com armas ideológicas e fórmulas políticas, como a teoria da evolução, a teoria dos direitos naturais e a república burguesa, todas elas extraídas do arsenal do período revolucionário da burguesia no Ocidente, berço do imperialismo. Os chineses organizaram partidos políticos e fizeram revoluções, crendo que poderiam assim resistir às potências estrangeiras e estabelecer uma república. Mas, todas essas armas ideológicas, da mesma maneira que as do feudalismo, revelaram-se muito frágeis e tiveram por seu turno que ceder, retirar-se e declarar-se falidas.
A Revolução Russa de 1917 despertou os chineses, que aprenderam algo de novo, o Marxismo-Leninismo. Na China, nascera o Partido Comunista, acontecimento que fez época. Sun Yat-sen também advogou a ideia de “aprender da Rússia” e de “aliança com a Rússia e o Partido Comunista”. Em resumo, a partir desse momento a China mudou de orientação.
Como porta-voz dum governo imperialista, Acheson não está naturalmente disposto a deixar escapar uma só palavra sobre o imperialismo. Ele descreve a agressão imperialista nos seguintes termos: “Esses forasteiros trouxeram consigo dinamismo...”. “Dinamismo” — que bonito nome! Tendo assimilado tal “dinamismo”, os chineses não o aplicaram para empreenderem acções na Inglaterra ou nos Estados Unidos, mas apenas provocaram “agitação e inquietude” no interior da China, isto é, fizeram revoluções contra o imperialismo e seus lacaios. Desgraçadamente, porém, nem por uma só vez tiveram êxito; foram sempre batidos pelos imperialistas, os inventores desse “dinamismo”. Os chineses voltaram-se, então, para outra direcção a fim de aprenderem algo diferente e, coisa bem estranha, isto surtiu efeito imediatamente.
O Partido Comunista da China “foi organizado nos princípios dos anos vinte, sob a impulsão ideológica da revolução russa”. Aqui Acheson tem razão. Essa ideologia não era outra senão o Marxismo-Leninismo. Essa ideologia é incomensuràvelmente superior à da burguesia ocidental, que Acheson qualifica de “elevada cultura, que não havia acompanhado as precedentes incursões estrangeiras na China”. A eficácia dessa ideologia é de tal maneira evidente que a cultura ocidental, de que os Acheson podem vangloriar-se de ser uma “elevada cultura” em comparação com a velha cultura feudal da China, foi derrotada mal chocou com a nova cultura marxista-leninista, isto é, com a concepção científica do mundo e a teoria da revolução social, que o povo chinês havia adquirido. Na sua primeira batalha, esta nova cultura científica e revolucionária, adquirida pelo povo chinês, derrotou os caudilhos militares do Norte, lacaios do imperialismo; na segunda, desbaratou as tentativas doutro lacaio do imperialismo, Tchiang Kai-chek, de interceptar o Exército Vermelho Chinês, durante a sua Longa Marcha de 25.000 lis; na terceira, venceu o imperialismo japonês e o seu lacaio Uam Tsim-vei; e, na quarta, pôs finalmente termo à dominação da China pelos Estados Unidos e outras potências imperialistas, assim como à dominação dos seus lacaios, Tchiang Kai-chek e todos os demais reaccionários.
Se o Marxismo-Leninismo, uma vez introduzido na China, pôde desempenhar um papel assim tão importante, foi porque as condições sociais da China o exigiam, foi porque se fundiu com a prática da revolução popular chinesa e porque o povo chinês o assimilou. Qualquer ideologia — mesmo a melhor, mesmo o próprio Marxismo-Leninismo — é ineficaz, a menos que esteja ligada à realidade objectiva, responda às necessidades objectivamente existentes e tenha sido assimilada pelas massas populares. Nós somos materialistas históricos, opostos ao idealismo histórico.
Facto bastante estranho, “a doutrina e a prática soviéticas tiveram um efeito apreciável sobre o pensamento e os princípios do Dr. Sun Yat-sen, particularmente no que se refere à economia e à organização do Partido”. Qual foi o efeito produzido no Dr. Sun Yat-sen pela “elevada cultura” do Ocidente, de que tanto se orgulham Acheson e os seus semelhantes? Acheson não o diz. Foi porventura uma casualidade o facto de o Dr. Sun, que dedicou a maior parte da sua vida a procurar na cultura burguesa ocidental a verdade que salvaria a nação, se ter finalmente desiludido e passado a “aprender da Rússia”? Obviamente que não. É evidente que não foi uma casualidade o facto de o Dr. Sun e o povo chinês sofredor, por ele representado, se terem ambos enfurecido com o “impacto do Ocidente” e terem decidido formar uma “aliança com a Rússia e o Partido Comunista”, a fim de travarem uma luta de vida ou de morte contra o imperialismo e os seus lacaios. Acheson não se atreve a dizer aqui que o povo soviético é um agressor imperialista e que o Dr. Sun Yat-sen aprendeu dos agressores. Pois bem! Se Sun Yat-sen pôde aprender junto do povo soviético e se este não é um agressor imperialista, por que razão não poderão os sucessores de Sun Yat-sen, os chineses que vivem depois dele, aprender também junto do povo soviético? Por que motivo serão os chineses, exceptuado Sun Yat-sen, apresentados como “dominados pela União Soviética”, como “quinta coluna do Komintern” e “lacaios do imperialismo vermelho” por terem aprendido do Marxismo-Leninismo a concepção científica do mundo e a teoria da revolução social, ligando-as às características específicas da China, por terem desencadeado a guerra popular de libertação da China e a grande revolução popular e terem fundado uma república de ditadura democrática popular? Poderá acaso haver neste mundo uma lógica tão sublime como esta?
Desde que aprendeu o Marxismo-Leninismo, o povo chinês deixou de ser passivo espiritualmente e conquistou a iniciativa. A partir daí, terminaria o período da História mundial moderna em que os chineses e a cultura chinesa eram olhados com desprezo. A grande e vitoriosa Guerra Popular de Libertação e a grande revolução popular rejuvenesceram, e rejuvenescem ainda, a grande cultura do povo chinês. No seu aspecto espiritual, esta cultura do povo chinês é já superior a qualquer outra cultura do mundo capitalista. Tomemos como exemplo o Secretário de Estado Acheson e congéneres. O nível da sua compreensão sobre a China moderna e sobre o mundo moderno é inferior ao de um simples soldado do Exército Popular de Libertação da China.
Até aqui, Acheson, da mesma maneira que um professor universitário burguês palestrando sobre um texto fastidioso, pretendeu traçar as causas e os efeitos dos acontecimentos na China. A revolução ocorreu na China, primeiro, em virtude da sobrepopulação e, segundo, em virtude do estímulo das ideias ocidentais. Como se vê, ele parece ser um campeão da teoria da causalidade. Mas, com o que se segue, desaparece até essa migalha da teoria da causalidade, fastidiosa e falsificada, não se encontrando mais do que uma amálgama de acontecimentos incompreensíveis. Inexplicavelmente, os chineses lutavam entre si pelo poder e por dinheiro, suspeitando-se e odiando-se mutuamente. Verificou-se uma mudança incompreensível na correlação das forças morais das duas partes contendoras, o Kuomintang e o Partido Comunista; a moral duma das partes desceu bruscamente abaixo de zero, enquanto que a da outra subiu vertiginosamente ao ponto de incandescência. Qual a razão? Ninguém a conhece. Eis a lógica inerente à “elevada cultura” dos Estados Unidos, tal como Dean Acheson a apresenta.
Notas de rodapé:
(1) A Revolução Burguesa de 1775-1783, conhecida por Guerra da Independência, em que o povo norte-americano lutou contra a dominação colonial inglesa. (retornar ao texto)
(2) Na sua luta pela libertação, de 1921 a 1924, o povo mongol, sob a direcção do Partido Revolucionário Popular da Mongólia, expulsou as tropas bandoleiras dos Guardas Brancos russos e as forças armadas dos caudilhos militares do Norte da China, apoiadas umas e outras pelo imperialismo japonês, derrubou a dominação feudal mongol e fundou a República Popular da Mongólia. (retornar ao texto)
(3) T. R. Malthus (1766-1834), clérigo anglicano e economista reaccionário. Na sua obra Ensaio sobre o Princípio da População (1798), Malthus afirmou que “a população não controlada [...] cresce em progressão geométrica [...] (ao passo que) os meios de subsistência [...] só podem aumentar em progressão aritmética”. Baseado nesta hipótese arbitrária, ele chegou à conclusão de que a miséria e os males da sociedade humana são fenómenos naturais permanentes. Segundo ele, o único meio de resolver o problema da miséria do povo trabalhador era encurtar a sua duração de vida, reduzir a população ou deter o seu crescimento. Considerava a fome, a peste e a guerra como meios de diminuir a população. (retornar ao texto)
(4) Ver Manifesto do Partido Comunista, capítulo I, “Burgueses e Proletários”. A burguesia “compele todas as nações, sob pena de extinção, a adoptarem o modo burguês de produção; ela força-as a introduzirem a pretendida civilização, quer dizer, força-as a tornarem-se burguesas. Em resumo, ela forja o mundo à sua imagem e semelhança”. (retornar ao texto)