As guerras camponesas na Alemanha

Friedrich Engels


VI - As guerras dos camponeses na Turíngia, Alsácia e Áustria


capa

Ao estalarem as primeiras insurreições na Suábia, Tomás Münzer se apressara a voltar à Turíngia, fixando residência entre fevereiro e março na cidade livre de Mühlhausen, onde mais força tinha seu partido. Em sua mão reunia os fios de todo o movimento; conhecia o alcance de toda a tormenta que ia desencadear-se na Alemanha do norte. Encontrou terreno altamente favorável. Na própria Turíngia, que fora o centro da Reforma, a excitação atingira o auge; a miséria que reinava entre os camponeses oprimidos, assim como as doutrinas revolucionárias, religiosas e políticas que circulavam, haviam preparado, também nos países vizinhos, em Hessen, Saxe e na região do Harz, o terreno para a insurreição geral. Sobretudo em Mühlhausen a tendência extremista de Münzer ganhara a massa da pequena burguesia que esperava com impaciência o dia em que iria fazer sentir aos orgulhosos patrícios, os efeitos de sua superioridade numérica. Afim de que se não adiantassem ao momento combinado, o próprio Münzer tinha de acalmá-los; porém seu discípulo Pfeiffer, que dirigia este movimento, já estava a tal ponto comprometido que não pôde mais contê-los. A 17 de março de 1525, muito antes de iniciar-se a sublevação geral na Alemanha do sul, a cidade de Mühlhausen fez sua revolução. O velho Conselho patrício foi destituído, o “conselho eterno” que acabava de ser eleito tomou conta do governo sob a presidência de Tomás Münzer.

O pior que pode suceder ao chefe de um partido revolucionário é ver-se forçado a tomar o poder num momento em que o movimento ainda não está bastante amadurecido para que a classe que representa possa assumir a direção e para que se possam aplicar as medidas necessárias ao domínio dessa classe. O que na realidade pode fazer não depende de sua própria vontade, senão do grau de tensão a que chega o antagonismo das diferentes classes e do desenvolvimento das condições de vida materiais, do regime de produção e circulação, que são a base fundamental do desenvolvimento dos antagonismos de classe. O que deve fazer, o que lhe exige seu próprio partido, tampouco depende dele ou do grau de desenvolvimento que haja alcançado a luta de classes e suas condições. Está ligado a suas doutrinas e reivindicações anteriores, e estas não são o resultado das relações momentâneas entre as diferentes classes sociais, nem do estado momentâneo, e mais ou menos casual, da produção e circulação, e sim de sua maior ou menor capacidade de compreender as tendências gerais do movimento social e político. Encontra-se pois, necessariamente, diante de um dilema insolúvel: o que realmente pode fazer acha-se em contradição com toda a sua atuação anterior, com seus princípios e com os interesses imediatos de seu partido; e o que deve fazer não é realizável. Numa palavra: vê-se forçado a representar, não o seu partido e sua classe, mas sim a classe chamada a dominar no momento. O interesse do próprio movimento obriga-o a servir a uma classe que não a sua e a entreter a sua própria classe com palavras e promessas e com a afirmação de que os interesses daquela classe estranha são os dela. Os que ocupam essa posição ambígua estão irremediavelmente perdidos. Temos visto alguns exemplos nestes últimos tempos; recordemo-nos da posição que, no último governo provisório da França, ocupavam os representantes operários apesar de não representarem senão uma etapa muito inferior ao desenvolvimento do proletariado. Os que depois das experiências do governo de fevereiro, — não falemos dos nobres governos provisórios e regências do império na Alemanha, — podem ainda anelar postos oficiais, ou são extraordinariamente bobos, ou não pertencem senão de boca ao partido revolucionário. Porém a posição de Münzer diante do “conselho eterno” de Mühlhausen era muito mais arriscada que a de qualquer governante revolucionário da atualidade. Não somente aquele movimento, como todo aquele século, não estavam amadurecidos para a realização das ideias que o próprio Münzer começara a imaginar tarde e confusamente. A classe que ele representava acabava de nascer, não estava ao menos completamente formada, nem era capaz de subjugar e transformar a sociedade inteira. A mudança de estrutura social que ele imaginara não tinha o menor fundamento nas condições materiais existentes onde se achava em gestação uma ordem social que ia ser exatamente contrária à ordem que havia sonhado. Não obstante, continuava ligado a suas pregações anteriores sobre a igualdade cristã e a comunidade evangélica de bens; tinha de efetuar pelo menos uma tentativa de aplicação. Proclamou-se a comunidade de bens, o trabalho obrigatório para todos e a supressão de toda a autoridade. Porém, na realidade, Mühlhausen continuava sendo uma cidade livre republicana com uma constituição um tanto mais democrática, um senado eleito por sufrágio universal e controlado pela assembleia e uma organização de beneficência apressadamente improvisada. Esta revolução social que tanto horrorizava os burgueses protestantes da época, não passou, na realidade, de um ensaio tímido e inconsciente para estabelecer prematuramente a atual sociedade burguesa.

O próprio Münzer parece haver percebido o abismo que separava suas teorias da realidade objetiva; um abismo que ele tanto menos podia ignorar quanto mais as cabeças incultas de seus partidários desfiguravam sua genial teoria. Com zêlo desusado, mesmo para ele, pôs-se a propagar e organizar o movimento ; escreveu cartas e mandou emissários a toda parte. Seus escritos e pregações refletem um fanatismo revolucionário que, ainda tendo em conta seus escritos anteriores, produz estupefa- ção. O tom humorístico e juvenil dos panfletos revolucionários de Münzer desapareceu por completo, como também a linguagem ponderada e sistemática de pensador que empregara em certas ocasiões. Agora Münzer é um profeta da revolução com todo o seu ser. Incendeia incessantemente o ódio contra as classes dominantes, desperta as paixões mais violentas e, quando fala, emprega as frases incendiadas que o delírio nacional e religioso atribuía aos profetas do velho Testamento. O novo estilo a que teve de acostumar-se indica o nível cultural do público que ele tinha de influir.

O exemplo de Mühlhausen e a agitação de Münzer, não tardaram em produzir efeito nas demais regiões. Na Turíngia, nos campos de Fichsfeld, no Harz, nos ducados da Saxônia, em Hessen e Fulda, na Alta Francônia e no Voigtland, os camponeses levantaram-se e formaram bandos que queimaram castelos e conventos. Münzer era o chefe reconhecido de quase todo o movimento cujo centro continuava sendo Mühlhausen, enquanto que em Erfurt triunfava um movimento puramente burguês, adotando o partido que ali dominou, uma atitude ambígua ante os camponeses.

No começo os príncipes da Turíngia se viram diante dos camponeses, tão impotentes e desorientados quanto os da Francônia e Suábia. Nos últimos dias de abril, o landgrave de Hessen conseguiu por fim concentrar um corpo de exército; esse landgrave era o mesmo Felipe cuja piedade lhe valeu tantos elogios por parte dos historiadores burgueses e protestantes da Reforma e sobre cujas infâmias contra os camponeses também ouviremos neste pequeno relato. Em várias expedições rápidas, e graças à sua atitude enérgica, o landgrave Felipe submeteu a maior parte do país, mobilizou novos contingentes e entrou no território do abade de Fulda de quem fora vassalo até então. A 3 de maio, venceu os camponeses de Fulda, sobre a Frauenberge e submeteu o país inteiro aproveitando a ocasião para livrar-se da soberania do abade, como para transformar toda a abadia de Fulda em feudo de Hessen. reservando-se, — está claro, — o direito de secularizá-la mais tarde. Depois ocupou Eisenach e Langesalz e, unido às tropas do duque de Saxe, marchou contra Mühlhausen, foco principal da rebelião. Münzer concentrou suas tropas (cerca de 8.000 homens, munidos de alguma artilharia), perto de Frankenhausen.

Os camponeses da Turíngia, não tinham o valor guerreiro que uma parte dos destacamentos da Suábia e Francônia mostrou diante de Truchsess. Não dispunham de armamento suficiente, eram indisciplinados, em suas fileiras havia poucos soldados veteranos, e a falta de chefes era absoluta. O próprio Münzer não possuía, sem dúvida, o menor conhecimento militar. Não obstante, os príncipes acreditaram oportuno aplicar a mesma tática que tantas vezes proporcionara a vitória a Truchsess: a felonia. A 16 de maio, iniciaram negociações, concluindo um armistício para atacar de repente os camponeses antes de terminar a trégua.

Münzer e os seus haviam se fortificado por trás de uma barreira de carros no monte que ainda tem o nome de Schlachtber.(1) Já grassava a desmoralização entre os bandos. Os príncipes prometeram-lhes a anistia geral caso entregassem Münzer. Este convocou uma reunião para discutir as propostas dos príncipes. Um cavaleiro e um padre mostraram-se a favor da capitulação; Münzer fê-los conduzir para o centro do círculo dos conferentes e ali mesmo mandou decapitá-los. Esse ato de energia terrorista foi saudado com entusiasmo pelos revolucionários decididos e, consequentemente, levantou um pouco o moral ds camponeses; não obstante, a maior parte destes se dispersaria sem opor resistência, se não se dessem conta de que, apesar da trégua os lansquenés e os príncipes que cercaram os montes avançavam contra eles em colunas cerradas. Apressaram em tomar posição por trás dos carros porém as balas de canhão e arcabuz já haviam começado a fazer estragos entre os camponeses quase indefesos e pouco habituados à guerra. Os lansquenés já haviam chegado até a barreira de carros. Depois de uma breve resistência romperam a linha de carros, apoderando-se dos canhões e dispersando os camponeses. Estes fugiram em debandada e caíram nas mãos das colunas envolventes e da cavalaria que fizeram uma horrível matança. Dos 8.000 camponeses, morreram 5.000 e o restante conseguiu refugiar-se em Frankenhausen, levando atrás de si a cavalaria. Münzer, que estava ferido na cabeça, foi descoberto numa casa e capturado. A 25 de maio, rendeu-se também Mühlhausen; Pfeiffer, que permanecera na cidade, conseguiu fugir mas acabou sendo detido perto de Eisenach.

Em presença dos príncipes, Münzer foi submetido à tortura e a seguir decapitado. Subiu ao cadafalso com a mesma coragem que demonstrara toda a vida. Tinha no máximo 38 anos. Pfeiffer também foi decapitado. Com esses dois morreram muitos outros. Em Fulda, o “piedoso” Felipe de Hessen iniciara a carnificina: Entre outros abusos, ele e os príncipes saxões mandaram passar 24 rebeldes a fio de espada, em Eisenach; em Langensalz, 41; 300 depois da batalha de Frankenhausen; mais de 100 em Mülhausen; 26 em Germar; 50, em Tungeda; 12 em Sangerhausen e 8 em Leipzig; isso sem contar as numerosas mutilações e outras torturas além de meios mais “pacíficos” como o saque e incêndio de aldeias e cidades.

Mühlhausen teve de renunciar à sua independência de cidade imperial para ser incorporada aos principados saxões, do mesmo modo que a abadia de Fulda tinha sido incorporada ao landgraviado de Hessen.

Os príncipes atravessaram a serra da Turíngia, onde os camponeses da Francônia, procedentes do acampamento de Bildhausen, se haviam unido aos da Turíngia, queimando numerosos castelos. Perto de Meiningen travou-se um combate; os camponeses foram derrotados, retirando-se para a cidade. Porém esta repentinamente cerrou suas portas e ameaçou-os com um ataque pela retaguarda. Os camponeses, a quem a traição de seus aliados colocara em situação difícil, capitularam aos príncipes e dispersaram-se antes mesmo de terminarem as negociações. O acampamento de Bildhausen dissolvera-se já havia tempo; com a dissolução desses bandos aniquilaram-se os últimos restos da insurreição em Saxe, Hessen, Turíngia e na alta Francônia.

Na Alsácia, a sublevação se havia produzido mais tardiamente do que a da margem direita do Reno. No bispado de Estrasburgo, os camponeses não se sublevaram antes de meados de abril; seguíram-se-lhes os da alta Alsácia e Sundgau. A 18 de abril, um bando de camponeses da alta Alsácia saqueou o mosteiro de Altdorf; na região de Ebersheim e Barr, assim como nos vales do Willer e do Urbis, formaram-se outros bandos. Logo se uniram, formando o grande destacamento da baixa Alsácia, que organizou a tomada das cidades e aldeias e a destruição dos conventos. Por toda parte, de cada três homens, um teve de se incorporar ao exército. Os doze artigos desse destacamento foram muito mais radicais do que os da Suábia e Francônia.

Enquanto a primeira coluna da baixa Alsácia se concentrava perto de S. Hipólito, depois de fracassada a tentativa de tomar essa cidade, e se apoderava de Barken, Rappoltsweiler, e Reichenweiler respectivamente a 10, 13 e 14 de maio, graças a um acordo com os cidadãos, a segunda coluna, sob o comando de Erasmo Gerber, saía para tomar Estrasburgo, de surpresa. O intento fracassou e a coluna dirigiu-se para os Vosgos, destruindo o mosteiro de Mauersmúnster e sitiando Saverna, que se rendeu a 13 de maio. Daí marchou para a fronteira da Lorena sublevando a parte limítrofe desse ducado, enquanto fortificava os postos da montanha. Em Herbolzheim, às margens do Sarre, e em Neuburgo estabeleceram-se grandes acampamentos; 4.000 camponeses alemães da Lorena fortificaram-se perto de Sarreguemines; por fim havia na vanguarda dois destacamentos, o de Kolben, os Vosgos, perto de Stürzelbrunn e o de Kleeburgo perto de Wissemburgo, que defendiam a frente e a ala direita enquanto a ala esquerda se apoiava nas tropas da alta Alsácia.

Estas se achavam em movimento desde o dia 20 de abril; a 10 de maio fizeram a cidade de Sulz entrar na irmandade camponesa. O mesmo já haviam feito, a 12, com Guebwiller e a 15 com Sennheim. O governo austríaco e as cidades livres da região uniram-se imediatamente contra os camponeses, mas não tinham força suficiente para resistir e muito menos para atacar. Exceto poucas cidades, em meados de maio toda a Alsácia estava em mãos dos insurretos.

Porém já se aproximava o exército que ia castigar a ousadia dos camponeses alsarianos. Foram os franceses que ali restabeleceram a dominação da nobreza. O duque Antônio de Lorena pôs-se em marcha a 6 de maio, à frente de um exército de 30.000 homens, entre os quais se achava a fina flor da nobreza francesa e tropas mercenárias espanholas, piemontesas, lombardas, gregas e albanesas. A 16 de maio, ocorreu o primeiro encontro perto de Lutzelstein com 4.000 camponeses que foram vencidos sem dificuldade; a cidade de Saverna, ocupada pelos camponeses, foi obrigada a capitular no dia seguinte. Enquanto as tropas lorenas ainda estavam entrando e desarmando os camponeses, violou-se o acordo de capitulação; os lansquenés atiraram-se sobre os camponeses indefesos, matando muitos deles. As demais colunas da baixa Alsácia dispersaram-se e o duque Antônio marchou contra os da alta Alsácia. Estes últimos tinham se negado a correr em auxílio dos camponeses da baixa Alsácia em Saverna; agora viam-se atacados pelo grosso das forças lorenas e defenderam-se muito valentemente, porém a enorme superioridade numérica, — 30.000 contra 7.000, — e a traição de grande número de cavaleiros, sobretudo a do corregedor Reichenweiler, tornou inútil toda sua valentia. Foram totalmente derrotados e dispersos. O duque submeteu toda a Alsácia com a crueldade do costume. O Sundgau foi a única região não castigada pela sua presença. Ali o governo austríaco intimou os camponeses à conclusão do tratado de Ensisheim, ameaçando-os de chamar o duque. Porém o próprio governo não tardou em romper esse tratado, mandando enforcar um. sem número de pregadores e dirigentes do movimento. Mas os camponeses do Sundgau voltaram a sublevar-se até que por fim foram incluídos no tratado de Offenburgo a 18 de setembro.

Resta relatar a guerra dos camponeses nos Alpes austríacos. Desde que se iniciou o movimento da “Stara prava” esses territórios, assim como o arcebispado vizinho de Salzhurno, achavam-se em oposição permanente ao governo e à nobreza; também ali as doutrinas da Reforma encontraram terreno favorável. As perseguições religiosas e os aumentos arbitrários de impostos provocaram a insurreição.

Desde 1522 a cidade de Salzburgo, apoiada pelos camponeses e mineiros, estava em conflito com o arcebispo, discutindo-se os privilégios da cidade e a livre prática da religião. Em fins de 1524, o arcebispo atacou a cidade com lansquenés mercenários, amedrontando-a com os canhões do castelo ao mesmo tempo que perseguia os pregadores heréticos. Decretou novos impostos esmagadores provocando deste modo a indignação de toda a população. Na primavera de 1525, simultaneamente com as insurreições da Suábia, Francônia e Turíngia, sublevaram-se todos os camponeses e mineiros do país formando bandos dirigidos pelos capitães Prossler e Weitmoser que libertaram a cidade e sitiaram o castelo de Salzburgo. Do mesmo modo que os camponeses da Alemanha ocidental, constituíram uma liga cristã, formulando suas reivindicações em catorze artigos.

Na primavera de 1525 se sublevaram os camponeses da Estíria, Alta Áustria, Caríntia e Carniola, onde novos tributos arbitrários prejudicavam os interesses mais vitais do povo. Tomaram grande número de castelos, derrotando, perto de Griss, o velho general Dietrichstein, vencedor da “stara prava”. Se bem que o governo tivesse logrado apaziguar uma parte dos insurretos, enganando-os, a massa não perdeu por isso sua coesão; ao contrário, uniu-se aos de Salzburgo e desse modo todo o arcebispado de Salzburgo, a maior parte da Alta Áustria, a Eslíria, a Caríntia e Carniola caíram em poder dos camponeses e mineiros.

As doutrinas dos reformadores encontraram também muitos partidários no Tirol; ali, mais do que em outras regiões dos Alpes austríacos, atuaram com êxito os emissários de Münzer. Como em outras partes, o arquiduque Ferdinando perseguia os pregadores da nova doutrina e violava os direitos da população com leis fiscais arbitrárias. A consequência foi, como em toda parte, a insurreição na primavera do ano de 1525. Chefiados por Geismaier, discípulo de Münzer e o único talento militar apreciável entre todos os chefes camponeses, estes se apoderaram de grande número de castelos e procederam muito energicamente contra os sacerdotes, especialmente no sul, na região do Adige. Também se sublevaram os camponeses do Vorarlberg que se uniram aos do Allgäu.

Nessa situação o arquiduque fez concessões sobre concessões aos rebeldes, àqueles a quem pouco antes tinha querido exterminar à força de incêndios, saques e matanças. Convocou as dietas dos Estados da casa de Áustria, concluindo um armistício com os camponeses até que elas se reunissem. Nesse ínterim armava-se a toda pressa para poder mudar o mais rapidamente possível de linguagem ante os “insolentes”.

Naturalmente o armistício não durou muito tempo. Nos ducados, Dietrichstein que precisava de dinheiro, dedicou-se ao saque. Suas tropas eslavas e húngaras entregaram-se às crueldades mais vergonhosas contra a população. Os estírios voltaram a levantar-se e, na noite de 2 para 3 de julho, surpreenderam o capitão-general Dietrichstein em Schladming e mataram todos os que não falavam alemão. Dietrichstein foi capturado; no dia 3 pela manhã os camponeses constituíram um tribunal de jurados que condenou à morte quarenta nobres tchecos e croatas, os quais, foram executados no ato. Este gesto produziu grande efeito; o arquiduque apressou-se em aceder a todas as reivindicações dos Estados nos cinco ducados (a Alta e Baixa Áustria, Estíria, Caríntia e Carniola).

Também no Tirol foram aceitas as condições da dieta, restabelecendo-se a tranquilidade no norte. Porém o sul, que insistiu nas suas primitivas reivindicações, atenuadas pelas decisões da dieta, continuou em armas. Em dezembro, o arquiduque logrou por fim restabelecer a ordem pela força, fazendo executar inúmeros chefes que tinham caído em suas mãos.

Em agosto, 10.000 bávaros conduzidos por Jorge de Frundsberg, marcharam contra os rebeldes de Salzburgo. Este alarde de forças, assim como as dissenções que reinavam entre os camponeses, moveram-nos a concluir com o arcebispo um tratado que também foi aceito pelo arquiduque. Mas ambos os princípes, que já tinham podido reforçar suas tropas, não tardaram a violar o tratado e, desse modo, os camponeses de Salzburgo viram-se obrigados a sublevar-se de novo. Os insurretos se sustentaram durante todo o inverno; na primavera chegou Geismaier que desenvolveu uma formidável campanha contra as tropas que avançavam de todos os lados. Numa série de combates brilhantíssimos que ocorreram em maio e junho de 1525, derrotou sucessivamente os bávaros, austríacos, tropas da Liga da Suábia e lansquenés do arcebispo de Salzburgo, impedindo durante muito tempo a união dos diferentes exércitos e ainda encontrando tempo para sitiar Radstadt. Por fim teve de retirar-se ante a enorme superioridade numérica das forças que o cercavam; abriu caminho através dos Alpes austríacos, conduzindo os restos de suas tropas a território veneziano. A república de Veneza e a Suíça ofereceram ao incansável chefe camponês um ponto de apoio para novas intrigas. Durante um ano tratou de induzi-los a uma guerra contra a Áustria, o que lhe daria uma nova oportunidade de sublevar os camponeses. Mas, enquanto levava a cabo essas negociações, morreu vítima de um atentado. o arquiduque Ferdinando e o arcebispo de Salzburgo, não podiam estar tranquilos enquanto Geismaier vivesse, e pagaram a um assassino que, em 1527, logrou por fim fazer desaparecer tão perigoso revolucionário.


Notas de rodapé:

(1) Monte da Batalha. (retornar ao texto)

Inclusão: 17/01/2022