Link Avante

O Capital
Crítica da Economia Política
Karl Marx

Livro Primeiro: O processo de produção do capital

Quarta Secção: A produção da mais-valia relativa
Décimo terceiro capítulo. Maquinaria e grande indústria


8. Revolucionação de manufactura, artesanato e trabalho domiciliário pela grande indústria


capa
a) Supressão da cooperação que repousa em artesanato e divisão do trabalho

Vimos como a maquinaria suprime a cooperação que repousa no artesanato e a manufactura que repousa na divisão do trabalho artesanal. Um exemplo da primeira espécie é a máquina de ceifar, que substitui a cooperação de ceifeiros. Um exemplo flagrante da segunda espécie é a máquina para fabricação de agulhas de coser. Segundo Adam Smith, no seu tempo, 10 homens, por divisão do trabalho, faziam mais de 48 000 agulhas de coser por dia. Uma única máquina faz, em contrapartida, 145 000 num dia de trabalho de 11 horas. Uma mulher ou uma rapariga vigia em média quatro destas máquinas e produz, portanto, com a maquinaria cerca de 600 000 agulhas de coser diariamente, para cima de 3 000 000 por semana(1*). Na medida em que uma única máquina de trabalho toma o lugar da cooperação ou da manufactura pode tornar-se ela própria, de novo, base de um funcionamento artesanal. No entanto, esta reprodução do funcionamento artesanal repousando em maquinaria forma apenas a transição para o funcionamento fabril, o qual se verifica em regra logo que força motriz mecânica, vapor ou água, substituem músculos humanos no movimento da máquina. Esporadicamente, e em qualquer caso apenas transitoriamente, pode uma empresa pequena ligar-se a força motriz mecânica: por aluguer do vapor — como em algumas manufacturas de Birmingham — [ou] pelo uso de pequenas máquinas calóricas[N148] — como em alguns ramos da tecelagem, etc.(2*) Na tecelagem de seda de Coventry desenvolveu-se naturalmente o experimento «fábricas-cottage». No meio de filas de cottages, construídas em quadrado, edificou-se uma chamada engine-house(3*) para a máquina a vapor, e esta ligada por cabos aos teares nas cottages. Em todos os casos, o vapor era alugado, p. ex., a 2 e 1/2 sh. por tear. Esta renda do vapor era paga semanalmente, quer os teares trabalhassem ou não. Cada cottage albergava de 2 a 6 teares, pertencentes aos operários ou comprados a crédito ou alugados. A luta entre a fábrica-cottage e a fábrica propriamente dita durou mais de 12 anos. Acabou pela mina total das 300 cottage factories(4*). Onde a natureza do processo não envolvia de antemão produção em grande escala, as novas indústrias que surgiram nos últimos decénios, como, p. ex., a dos envelopes, penas de aço, etc., passaram, em geral, primeiro pelo funcionamento artesanal e depois pelo funcionamento manufactureiro, como curtas fases de transição para o funcionamento fabril. Esta metamorfose permanece dificílima onde a produção manufactureira da obra não encerra qualquer sequência de estádios de processos de desenvolvimento, mas uma multiplicidade de processos díspares. Isto formava, p. ex., um grande obstáculo para a fábrica de penas de aço. No entanto, há cerca de decénio e meio foi inventado um autómato que executa 6 processos díspares de um só golpe. O artesanato produziu as primeiras 12 dúzias de penas de aço em 1820 por 7 lib. esterl. e 4 sh.; a manufactura produzia-as em 1830 por 8 sh. e a fábrica produ-las hoje para o comércio por grosso entre 2 a 6 d.(5*)

b) Retroacção do sistema fabril sobre a manufactura e o trabalho domiciliário

Com o desenvolvimento do sistema fabril e o revolucionamento da agricultura que o acompanha, a escala de produção em todos os outros ramos de indústria não só se estende como altera também o seu carácter. O princípio do funcionamento com máquinas — analisar o processo de produção nas suas fases constituivas e solucionar os problemas assim detectados através da aplicação da mecânica, da química, etc., em suma, das ciências da Natureza — torna-se por toda a parte determinante. A maquinaria, ora para este ora para aquele processo parcelar, penetra, portanto, nas manufacturas. A rígida cristalização da sua articulação, proveniente da velha divisão do trabalho, dissolve-se e dá lugar a uma mudança contínua. Independentemente disto, é revolucionada desde a base a composição do operário total ou do pessoal de trabalho combinado. Em oposição ao período manufactureiro, o plano da divisão do trabalho funda-se agora no emprego do trabalho feminino, do trabalho de crianças de todos os estados etários, de operários não especializados sempre que possível, em suma, de «cheap-labour», trabalho barato, como os ingleses caracteristicamente lhe chamam. Isto vale não só para toda a produção combinada em grande escala, quer empregue ou não maquinaria, como também para a chamada indústria domiciliária, quer seja exercida nas residências privadas dos operários quer em pequenas oficinas. Esta chamada indústria domiciliária moderna não tem nada de comum, a não ser o nome, com a indústria domiciliária à moda antiga, que pressupõe artesanato urbano independente, economia camponesa autónoma e sobretudo uma casa da família operária. Ela transformou-se agora num departamento externo da fábrica, da manufactura ou do armazém de mercadorias. Além dos operários fabris, dos operários da manufactura e dos artesãos, que ele em grandes massas espacialmente concentra e directamente comanda, o capital movimenta, por meio de fios invisíveis, um outro exército de operários domiciliários dispersos pelas grandes cidades e campos. Exemplo: a fábrica de camisas dos senhores Tillie, em Londonderry, na Irlanda, que ocupa 1000 operários fabris e 9000 operários domiciliários dispersos pelo campo(6*).

A exploração de forças de trabalho baratas e imaturas é mais descarada na manufactura moderna do que na fábrica propriamente dita, porque a base técnica aqui existente — substituição da força muscular por máquinas e leveza do trabalho — está em grande parte ausente naquela e, simultaneamente, os corpos femininos ou ainda imaturos são entregues da forma mais desprovida de consciência às influências de substâncias venenosas, etc. Ela é mais vergonhosa no chamado trabalho domiciliário do que na manufactura, porque a capacidade de resistência do operário diminui com a sua dispersão; porque uma grande série de parasitas rapaces se intrometem entre os dadores de trabalho propriamente ditos e os operários; porque o trabalho domiciliário em toda a parte se bate no mesmo ramo de produção contra o funcionamento com máquinas ou pelo menos contra o funcionamento manufactureiro; porque a pobreza rouba ao operário as condições de trabalho mais precisas: espaço, luz, ventilação, etc.; porque aumenta a irregularidade da ocupação e finalmente porque, nestes últimos refúgios de operários convertidos em «supranumerários» pela grande indústria e a agricultura, a concorrência operária necessariamente atinge o seu máximo. A economização dos meios de produção, levada a cabo sistematicamente pela primeira vez com o funcionamento com máquinas, e que é desde o início simultaneamente o esbanjamento mais inconsiderado da força de trabalho e roubo dos pressupostos normais da função laborai, mostra agora tanto mais o seu lado antagónico e assassino quanto menos desenvolvidas estiverem num ramo de indústria a força produtiva social do trabalho e a base técnica dos processos combinados de trabalho.

c) A manufactura moderna

Quero agora ilustrar com alguns exemplos as proposições acima apresentadas. Pela secção sobre o dia de trabalho o leitor já conhece, de facto, uma massa de documentação. As manufacturas de metais de Birmingham e arredores empregam 30 000 crianças e jovens, além de 10 000 mulheres, em grande parte para trabalho muito pesado. Encontramo-los aqui nas insalubres fundições de bronze, nas fábricas de botões, nos trabalhos de esmaltagem, galvanização e lacagem(7*). Os excessos de trabalho dos adultos e não adultos asseguram a diversas tipografias londrinas de jornais e livros o glorioso nome de «o matadouro»(8*). Os mesmos excessos na encadernação, cujas vítimas são aqui nomeadamente mulheres, raparigas e crianças. Trabalho pesado para não adultos nas cordoarias, trabalho nocturno nas minas de sal, nas manufacturas de velas e outras manufacturas químicas; emprego assassino de jovens em tecelagens de seda, que não funcionam mecanicamente, para fazer girar os teares(9*). Um dos trabalhos mais infames, mais sujos e mais mal pagos em que são preferencialmente empregues raparigas e mulheres é a separação do trapo. Sabe-se que a Grã-Bretanha, independentemente da sua própria quantidade infindável de trapo, forma o empório do comércio do trapo de todo o mundo. Ele vem do Japão, dos mais longínquos Estados da América do Sul e das Ilhas Canárias. Mas as suas principais fontes de abastecimento são a Alemanha, França, Rússia, Itália, Egipto, Turquia, Bélgica e Holanda. Serve para adubo, para o fabrico de borra (para colchões), para shoddy (lã artificial) e como matéria-prima do papel. As separadoras de trapo servem como meios para transmitir varíola e outras doenças contagiosas, cujas primeiras vítimas são elas próprias(11*). De exemplo clássico de trabalho a mais, de trabalho pesado e impróprio — e portanto da consequente brutalização dos operários consumidos desde a infância — pode valer, a par da produção mineira e de carvão, o fabrico de telhas e ladrilhos, para o qual em Inglaterra as máquinas recém-inventadas ainda só são empregues esporadicamente (1866). Entre Maio e Setembro o trabalho dura das 5 horas da manhã até às 8 horas da noite e, onde a secagem é feita ao ar livre, frequentemente das 4 horas da manhã às 9 horas da noite. O dia de trabalho das 5 horas da manhã às 7 horas da noite passa por «reduzido», «moderado». Crianças de ambos os sexos são empregues desde os 6 e mesmo desde os 4 anos de idade. Trabalham o mesmo número de horas, frequentemente mais do que os adultos. O trabalho é duro e o calor do Verão aumenta ainda mais o esgotamento. Numa fábrica de telhas de Mosley, p. ex., uma rapariga de 24 anos fazia diariamente 2000 telhas, tendo por ajudantes duas miúdas que lhe traziam o barro e empilhavam as telhas. Estas miúdas carregavam diariamente 10 toneladas desde uma profundidade de 30 pés, pelos flancos escorregadios do poço de barro e numa distância de 210 pés.

«É impossível uma criança passar pelo purgatório de uma fábrica de telhas sem uma grande degradação moral... a linguagem de baixo nível que elas se acostumam a ouvir desde a mais tenra idade, os hábitos sórdidos, indecentes e vergonhosos no meio dos quais crescem, sem saber e meio selvaticamente, torna-as, na sua vida posterior, sem lei, viciosas, dissolutas... Uma terrível fonte de desmoralização é o modo de viver. Cada moldador (moulder), que é sempre um trabalhador especializado e chefe de um grupo, fornece aos seus 7 subordinados mesa e alojamento na sua cabana (cottage). Sejam membros da sua família ou não, homens, rapazes e raparigas dormem todos na cabana, que tem geralmente dois, excepcionalmente 3 quartos, todos no rés-do-chão e mal ventilados. Esta gente está tão exausta depois do dia de trabalho duro que não observa minimamente as regras de saúde, de limpeza ou de decência. Muitas destas cabanas são verdadeiros modelos de falta de asseio, sujidade e pó... O maior mal do sistema que emprega jovens raparigas nesta espécie de trabalho consiste, regra geral, no facto de as prender desde a infância e para todo o resto da sua vida à mais viciosa ralé. Tomam-se rapazes rudes e desbocados (rough, foul-mouthed boys), antes da Natureza lhes ter ensinado que são mulheres. Vestidas com alguns trapos sujos, as pernas nuas muito acima dos joelhos, com a cara e o cabelo cobertos de sujidade, aprendem a tratar com desprezo todos os sentimentos de decência e de vergonha. Durante o tempo de almoço, deitam-se ao comprido nos campos ou observam os rapazes a tomar banho num canal próximo. Acabado o seu pesado dia de trabalho, vestem roupas melhores e acompanham os homens às tabernas.»

Que em toda esta classe reine desde a infância a maior ebriedade é apenas natural.

«O pior é que os tijoleiros desesperam de si próprios. Senhor, dizia um dos melhores ao capelão de Southallfield, tanto pode tentar educar e melhorar o diabo como um tijoleira!» («You might as well [...] try to raise and improve the devil as a bríckie, sir!»)(12*)

Sobre a economização capitalista das condições de trabalho na moderna manufactura (pela qual é de entender aqui todas as oficinas de grande escala, excepto as fábricas propriamente ditas), encontra-se material oficial em abundância no IV (1861) e VI (1864) Public Health Reports. A descrição dos workshops (locais de trabalho), nomeadamente os dos tipógrafos e alfaiates de Londres, ultrapassa as mais repugnantes fantasias dos nossos romancistas. O efeito sobre o estado de saúde dos operários é evidente. O Dr. Simon, o mais alto funcionário médico do Privy Council[N149] e editor oficial dos Public Health Reports, diz entre outras coisas:

«No meu quarto relatório» (1861) «mostrei como é praticamente impossível para a gente trabalhadora insistir naquele que é o seu primeiro direito sanitário, viz., o direito a que, qualquer que seja o trabalho para o qual o seu empregador os junte e tanto quanto isso dependa dele, o trabalho seja libertado de todas as evitáveis condições insalubres. Eu referi que, enquanto a gente trabalhadora é praticamente incapaz de fazer a si própria esta justiça sanitária, também não consegue obter qualquer apoio efectivo por parte das administrações, pagas, da polícia sanitária... A vida de miríades de operários e operárias é agora inutilmente torturada e encurtada pelos infindáveis sofrimentos físicos que a sua mera ocupação provoca.»(13*)

Para ilustração da influência dos locais de trabalho no estado de saúde, o Dr. Simon dá a seguinte tábua de mortalidade:

Número de pessoas de todas as idades
empregues nas respect. indústrias
Indústrias comparadas no
que respeita à saúde
Taxa de mortalidade por 100 000
homens nas respectivas indústrias
com idades indicadas
958 265 Agricult. na Inglaterra e País de Gales 25 a 35
anos
35 a 45
anos
45 a 55
anos
22 301 homens Alfaiataria em Lond 743 805 1145
12 377 mulheres 958 1262 2093
13 803 Tipografia em Lond 894 1747 2367(14*)
d) O trabalho domiciliário moderno

Debruço-me agora sobre o chamado trabalho domiciliário. Para fazer uma ideia desta esfera de exploração do capital e dos seus horrores, edificada sobre o pano de fundo da grande indústria, con- sidere-se, p. ex., o fabrico de pregos, empreendido de modo aparentemente bastante idílico em algumas aldeias afastadas na Inglaterra(15*). Bastam aqui alguns exemplos dos ramos do fabrico de rendas e de palha entrançada que ainda não funcionam com máquinas ou que concorrem com funcionamento com máquinas e manufactureiro.

Das 150 000 pessoas ocupadas na produção inglesa de rendas cerca de 10 000 estão sob a alçada da lei fabril de 1861. A enorme maioria das restantes 140 000 são mulheres, jovens e crianças de ambos os sexos, ainda que o sexo masculino esteja apenas fracamente representado. O estado de saúde deste material de exploração «barato» é revelado na seguinte exposição do Dr. Trueman, médico do General Dispensary(17*) de Nottingham. Das 686 doentes, rendeiras, a maior parte entre os 17 e os 24 anos, estavam tísicas:

1852 1 em 45   1857 1 em 13
1853 1 em 28   1858 1 em 15
1854 1 em 17   1859 1 em 9
1855 1 em 18   1860 1 em 8
1856 1 em 15   1861 1 em 8(18*)

Este progresso na taxa de tísica tem de bastar ao mais optimista dos progressistas e ao mais fauchero-mentiroso(19*) aprendiz de bufarinheiro de livre-câmbio alemão.

A lei fabril de 1861 regulamenta o fabrico de rendas propriamente dito enquanto feitas por maquinaria, e isto é a regra em Inglaterra. Os ramos que aqui vamos considerar — e, com efeito, não na medida em que os operários se concentram em manufacturas, armazéns, etc, mas apenas na medida em que são os chamados operários domiciliários — dividem-se em: 1. o finishing (os últimos arranjos das rendas fabricadas à máquina, uma categoria que encerra por sua vez numerosas subsecções); 2. os bilros.

O lace finishing(20*) é empreendido como trabalho domiciliário quer nas chamadas «mistresses’ houses»(21*), quer por mulheres, sozinhas ou com os seus filhos, nas suas residências privadas. As mulheres que têm as «mistresses’ houses» são elas próprias pobres. O local de trabalho faz parte da sua residência privada. Recebem encomendas de fabricantes, possuidores de armazéns, etc., e empregam mulheres, raparigas e crianças pequenas de acordo com o tamanho das suas salas e a flutuante procura do negócio. O número das operárias ocupadas varia entre 20 e 40 em alguns locais, entre 10 e 20 noutros. A idade mínima, em média, com que as crianças começam é de 6 anos: muitas, no entanto, têm menos de 5 anos. O tempo de trabalho habitual dura das 8 horas da manhã às 8 horas da noite, com 1 1/2 horas para refeições, que são tomadas em intervalos irregulares e frequentemente nos próprios buracos fétidos de trabalho. Quando o negócio vai bem o trabalho dura frequentemente das 8 horas (muitas vezes das 6 horas) da manhã até às 10, 11 ou 12 horas da noite. Nos quartéis ingleses o espaço regulamentar atribuído a cada soldado é de 500-600 pés cúbicos e nos hospitais militares é de 1200. Mas naqueles buracos de trabalho cabiam 67 a 100 pés cúbicos a cada pessoa. Simultaneamente, a luz de gás consome o oxigénio do ar. Para manter as rendas limpas, as crianças têm frequentemente de tirar os sapatos, também no Inverno, embora o chão seja lajeado ou de tijolo.

«Não é nada fora do comum encontrar, em Nottingham, 14(22*) a 20 crianças amontoadas numa sala pequena, com talvez não mais de 12 pés de lado, ocupadas 15 horas em 24, num trabalho em si mesmo esgotante pelo seu tédio e monotonia e, além disso, levado a cabo nas piores condições possíveis para a saúde... Mesmo as crianças mais pequenas trabalham com uma atenção e velocidade tão grandes que são supreendentes, nunca dando aos seus dedos descanso ou abrandando o seu movimento. Se se lhes faz uma pergunta, não levantam os olhos do trabalho com medo de perder um momento sequer.»

O «pau comprido» serve às «mistresses» de meio de estimulação, à medida que o tempo de trabalho é prolongado.

«As crianças cansam-se gradualmente e tomam-se para o fim da sua longa detenção tão irrequietas como pássaros, numa ocupação que é monótona, agressiva para os olhos e extenuante devido à uniformidade da postura do corpo. O seu trabalho é como escravatura.» («Their work is like slavery.»)(23*)

Onde as mulheres trabalham com os seus próprios filhos em casa, o que no sentido moderno quer dizer num quarto alugado, frequentemente nas águas-furtadas, as condições são, se possível, ainda piores. Esta espécie de trabalho é distribuído por um raio de 80 milhas à volta de Nottingham. Se a criança que trabalha num armazém sai às 9 horas ou 10 horas da noite ainda lhe dão frequentemente um pacote para levar e acabar em casa. O fariseu capitalista, representado por um dos seus servos assalariados, fá-lo, naturalmente, com a frase untuosa: «Isto é para a mãe», sabendo muito bem que a pobre criança tem de se sentar ao pé e ajudar(24*).

A indústria dos bilros funciona principalmente em dois distritos agrícolas ingleses. Um é o distrito das rendas de Honiton, que se estende 20 a 30 milhas ao longo da costa sul do Devonshire com a inclusão de uns poucos lugares no Devon do Norte, e um outro distrito que abrange a grande parte dos condados de Buckingham, Bedford, Northampton e as zonas vizinhas do Oxfordshire e Huntingdonshire. As cottages dos jornaleiros agrícolas são regra geral os seus locais de trabalho. Muitos donos de manufacturas empregam mais de 3000 destes operários domiciliários, principalmente crianças e jovens exclusivamente do sexo feminino. As situações descritas a propósito do lace finishing, repetem-se. Só que para o lugar das «mistresses’ houses» entram as chamadas «lace schools» (escolas de rendas) que mulheres pobres têm nas suas barracas. Crianças a partir dos 5 anos — muitas vezes mais novas — até aos 12 ou 15 trabalham nestas escolas; as mais novas, durante o primeiro ano, de 4 a 8 horas e depois, mais tarde, das 6 horas da manhã até às 8 ou 10 horas da noite.

«Os quartos são no geral as salas comuns de pequenas cabanas, a chaminé tapada para evitar correntes de ar, os ocupantes muitas vezes aquecidos apenas pelo seu próprio calor animal, e isto frequentemente no Inverno. Noutros casos estas chamadas salas de escola são como pequenas despensas sem lareira... A superlotação destes buracos e a consequente viciação do ar são frequentemente extremas. Há ainda a acrescentar o efeito nocivo dos esgotos, retretes, substâncias em decomposição e outros lixos, usuais nas imediações das cabanas mais pequenas.»

Em relação ao espaço:

«Numa escola de rendas, 18 raparigas e uma mestra, 35(25*) pés cúbicos para cada pessoa; numa outra, onde havia um cheiro insuportável, 18 pessoas e 24 1/2 pés cúbicos por cabeça. Encontram-se nesta indústria crianças a trabalhar com 2 e 2 1/2 anos.»(26*)

Onde acaba a renda de bilros, nos condados agrícolas de Buckingham e Bedford, começa o entrançamento de palha. Estende-se por grande parte do Hertfordshire e pelas partes ocidental e norte do Essex. Em 1861 estavam ocupadas no entrançar palha e fazer chapéus de palha 48 043 pessoas, 3815 das quais do sexo masculino de todas as idades, as outras do sexo feminino, 14 913 com menos de 20 anos, das quais 7000 crianças. No lugar das escolas de renda aparecem aqui as «straw-plait schools» (escolas de entrançar palha). As crianças começam aqui a aprendizagem de entrançar palha habitualmente a partir dos 4, muitas vezes entre os 3 e os 4 anos. Naturalmente não recebem qualquer instrução. As próprias crianças chamam às escolas elementares «natural schools» (escolas naturais) para as distinguir destas instituições que lhes sugam o sangue, em que elas estão simplesmente postas a trabalhar para acabar a obra, geralmente 30 jardas por dia, prescrita pelas suas mães meias-mortas de fome. Estas mães fazem-nas frequentemente ainda trabalhar em casa até às 10, 11, 12 horas da noite. A palha corta-lhes os dedos e a boca porque têm de a estar constantemente a humedecer. De acordo com a perspectiva conjunta dos funcionários médicos de Londres, resumida pelo Dr. Ballard, o espaço mínimo para cada pessoa num quarto de dormir ou num local de trabalho são 300 pés cúbicos. Nas escolas de entrançar palha o espaço é, porém, ainda mais parco do que nas escolas de renda, 12 2/3, 17, 18 1/2 e menos de 22 pés cúbicos por cada pessoa.

«Os mais pequenos destes números», diz o comissário White, «representam menos espaço que a metade daquele que uma criança ocuparia se estivesse dentro de uma caixa medindo 3 pés em cada direcção.»

Assim gozam as criança a vida até aos 12 ou 14 anos de idade. Os pais, degenerados e miseráveis, só pensam em retirar o máximo possível dos seus filhos. Quando crescem, as crianças naturalmente não querem saber dos pais e abandonam-os.

«Não é de admirar que a ignorância e o vício abundem numa população criada assim... A sua moralidade está ao mais baixo nível,... um grande número de mulheres tem filhos ilegítimos e numa idade tão imatura que mesmo aqueles que estão mais familiarizados com estatísticas criminais ficam estarrecidos.»(27*)

E a pátria destas famílias modelo é, assim o diz o conde de Montalembert, que é certamente uma autoridade em cristianismo, o país cristão modelo da Europa!

O salário, lamentável em geral nos ramos de indústria que acabamos de tratar (o excepcional salário máximo das crianças nas escolas de entrançar palha é 3 sh.), é reduzido ainda muito abaixo do seu montante nominal pelo truck system(28*), geralmente predominante, nomeadamente nos distritos das rendas(29*).

e) Transição da manufactura e do trabalho domiciliário modernos para a grande indústria. Aceleração desta revolução pela aplicação das leis fabris àqueles modos de funcionamento

O embaratecimento da força de trabalho pelo mero abuso de forças de trabalho femininas e imaturas, pelo mero roubo de todas as condições normais de trabalho e de vida e pela mera brutalidade do trabalho a mais e do trabalho nocturno, esbarra por fim em cenas barreiras naturais intransponíveis; o mesmo acontece com o embaratecimento das mercadorias e a exploração capitalista em geral que repousam sobre estas bases. Logo que este ponto é finalmente atingido, e demora muito tempo, soa a hora da introdução da maquinaria e a então rápida transformação do trabalho domiciliário disperso (ou também a manufactura) em funcionamento fabril.

O exemplo mais colossal deste movimento é fornecido pela produção de «wearing apparel» (vestuário). Segundo a classificação da Child. Empl. Comm. esta indústria abrange os que fazem chapéus de palha e de senhora, bonés, alfaiates, milliners e dressmakers(30*), camiseiros e costureiras, espartilheiros, luveiros, sapateiros, a par de muitos ramos mais pequenos como a fabricação de gravatas, colarinhos, etc. O pessoal feminino mais ocupado nestas indústrias em Inglaterra e no País de Gales em 1861 ascendia a 586 298, dos quais pelo menos 115 242 tinham menos de 20 anos e 16 560 menos de 15. Número destas operárias no Reino Unido (1861): 750 334. O número de operários masculinos nesse mesmo tempo ocupados na produção de chapéus, sapatos, luvas e na alfaiataria na Inglaterra e País de Gales: 437 969, dos quais 14 964 com menos de 15 anos, 89 285 dos 15 aos 20 anos e 333 117 com mais de 20 anos. Faltam nestes dados muitos ramos mais pequenos que pertencem aqui. Mas tomemos os números tal como estão e vemos que só na Inglaterra e no País de Gales, segundo o censo de 1861, absorvem uma soma de 1 024 267 pessoas, portanto, quase tanto como a agricultura e a criação de gado. Começa-se a perceber para que é que a maquinaria faz aparecer, como por magia, enormes massas de produtos e ajuda a «libertar» enormes massas de operários.

A produção do «wearing apparel» é levada a cabo por manufacturas, as quais no seu interior apenas reproduziram a divisão do trabalho cujos membra disjecta[N150] elas já encontraram prontos; por mestres-artesãos mais pequenos que trabalham agora para as manufacturas e armazéns de mercadorias, e não como antes para consumidores individuais, de maneira que frequentemente cidades e regiões inteiras se dedicam a estes ramos como uma especialidade, caso da sapataria, etc.; por fim, num maior volume, pelos chamados operários domiciliários que formam o departamento exterior das manufacturas, armazéns de mercadorias e mesmo dos mestres mais pequenos(31*). As massas de material de trabalho, matéria-prima, produtos semiacabados, etc., são fornecidas pela grande indústria; a massa do material humano barato (taillable à merci et miséricorde(32*)) é constituída pelos «libertados» pela grande indústria e pela agricultura. As manufacturas desta esfera deviam a sua origem principalmente à necessidade de o capitalista ter à mão um exército a postos para corresponder a qualquer movimento da procura(33*). Estas manufacturas deixavam subsistir ao seu lado, no entanto, a empresa artesa- nal dispersa e domiciliária, como base ampla. A grande produção de mais-valia nestes ramos de trabalho, juntamente com o progressivo embaratecimento dos seus artigos, eram e são principalmente devidos ao mínimo salário necessário à miserável vegetação, ligado com o máximo tempo de trabalho humanamente possível. Era precisamente a barateza do suor e sangue humanos, transformados em mercadoria, que permanentemente alargavam e diariamente alargam o mercado de venda — e nomeadamente para a Inglaterra também o mercado colonial, onde além disso o hábito e o gosto ingleses predominam. Por fim atingiu-se um ponto nodal. A base do velho método — exploração meramente brutal do material operário, mais ou menos acompanhada de uma divisão do trabalho sistematicamente desenvolvida — já não era mais suficiente para o mercado em crescimento e para a concorrência dos capitalistas, que crescia ainda mais rapidamente. A hora da maquinaria soou. A máquina decisivamente revolucionária, que atinge ao mesmo tempo todos os inúmeros ramos desta esfera de produção, como modas, alfaiataria, sapataria, costura, chapelaria, etc., é — a máquina de costura.

O seu efeito imediato sobre os operários é mais ou menos o mesmo do de toda a maquinaria, a qual, no período da grande indústria, conquista novos ramos de negócio. Crianças da mais imatura idade são afastadas. O salário do operário com máquinas sobe em relação ao do operário domiciliário, dos quais muitos pertencem aos «mais pobres dos pobres» («the poorest of the poor»). O salário dos artesãos melhor colocados, com os quais a máquina concorre, baixa. Os novos operários com máquinas são exclusivamente raparigas e mulheres jovens. Com a ajuda da força mecânica aniquilam o monopólio do trabalho masculino em tarefas pesadas e expulsam das mais leves massas de mulheres de idade e crianças imaturas. A concorrência todo-poderosa esmaga o operário manual mais fraco. O aumento atroz da morte à fome (deathfrom starvation) em Londres durante o último decénio corre em paralelo com a extensão da costura à máquina(34*). As novas operárias da máquina de costura — movida por elas à mão e ao pé ou só à mão, de pé ou sentadas conforme o peso, tamanho e especialidade da máquina — despendem grande força de trabalho. A sua ocupação é prejudicial à saúde pela duração do processo, embora seja muitas vezes mais curto do que no sistema antigo. Por toda a parte onde a máquina de costura infesta oficinas, aliás estreitas e superlotadas, como no fabrico de sapatos, espartilhos, chapéus, etc., ela aumenta as influências nocivas à saúde.

«O efeito», diz o comissário Lord, «ao entrar em locais de trabalho de tectos baixos, onde estão a trabalhar 30 ou 40 operários com máquinas [machine hands], é insuportável... O calor, devido, em parte, aos fogões a gás usados para aquecer os ferros de engomar, é horrível... Mesmo quando nestes locais prevalece o horário de trabalho moderado, i. e., das 8 da manhã às 6 da tarde, mesmo assim cada dia, regularmente, 3 ou 4 pessoas perdiam os sentidos.»(35*)

O revolucionamento do modo social de funcionamento, este produto necessário da transformação do meio de produção, realiza-se numa grande confusão de formas de transição. Estas variam com a amplitude e tempo durante o qual a máquina de coser tinha atingido já um ou outro ramo de indústria; com a situação dos operários já encontrada, a predominância do funcionamento manufactureiro, artesanal ou domiciliário, o preço do aluguer dos locais de trabalho, etc.(36*) Nas modas, p. ex., onde a maior parte das vezes o trabalho já estava organizado — sobretudo através da cooperação simples —, a máquina de costura começa por constituir apenas um novo factor do funcionamento manufactureiro. Na alfaiataria, camisaria, sapataria, etc., cruzam-se todas as formas. Aqui, o funcionamento fabril propriamente dito. Ali, intermediários recebem a matéria-prima de capitalistas en chef(37*) e agrupam à volta de máquinas de costura 10 a 50 e ainda mais assalariados em «quartos» ou «sótãos». Por fim, como em toda a maquinaria, que não forma nenhum sistema articulado e é aplicável em formato anão, os artesãos ou os operários domiciliários, com a própria família ou chamando alguns operários de fora, utilizam também as suas próprias máquinas de costura(38*). De facto, agora prevalece na Inglaterra o sistema em que o capitalista concentra um maior número de máquinas nas suas instalações e depois reparte o produto das máquinas pelo exército de operários domiciliários para seu ulterior tratamento(39*). A variedade das formas de transição não esconde, no entanto, a tendência para a transformação em funcionamento fabril propriamente dito. Esta tendência é alimentada pelo carácter da própria máquina de costura, cuja multiplicidade de aplicações obriga à unificação de ramos de negócio, anteriormente separados, nas mesmas instalações e sob o comando do mesmo capital; pela circunstância de o alinhavo preliminar e algumas outras operações serem feitas mais apropriadamente no local da máquina; e, por fim, pela inevitável expropriação dos artesãos e operários domiciliários que produzem com máquinas próprias. Este fado atingiu-os já em parte. A massa sempre crescente do capital investido em máquinas de costura(40*) acicata a produção e provoca congestionamentos do mercado que dão o sinal aos operários domiciliários para venderem as máquinas de costura. A sobreprodução destas máquinas coage ela própria os seus produtores, necessitados de saída para elas, a alugá-las à semana, criando com isso uma concorrência mortal para os pequenos donos de máquinas(41*). Sempre persistentes alterações na construção e embaratecimento das máquinas depreciam de um modo igualmente constante os seus exemplares antigos e fazem com que só em massa, compradas a preços ridículos, na mão de grandes capitalistas, sejam aplicadas lucrativamente. Finalmente, a substituição do homem pela máquina a vapor, aqui como em todos os processos de revolucionamento semelhantes, dá o golpe final. A aplicação de força de vapor esbarra no começo com obstáculos puramente técnicos, tais como trepidação das máquinas, dificuldade no domínio da sua velocidade, rápida degradação das máquinas mais leves, etc., tudo obstáculos que a experiência em breve ensina a vencer(42*). Se, por um lado, a concentração de muitas máquinas de trabalho em manufacturas maiores leva à aplicação da força de vapor, a concorrência do vapor com os músculos humanos acelera, por outro lado, a concentração de operários e máquinas de trabalho em grandes fábricas. Assim, a Inglaterra vive presentemente, não só na colossal esfera de produção do «wearing apparel» como na maior parte dos restantes ofícios, o revolucionamento da manufactura, do artesanato e do trabalho domiciliário em funcionamento fabril, depois de todas estas formas, totalmente modificadas, desagregadas, adulteradas sob a influência da grande indústria, terem já há muito tempo reproduzido e mesmo levado ao extremo todos os horrores do sistema fabril sem os seus momentos positivos de desenvolvimento(43*).

Esta revolução industrial, que se processa naturalmente, é acelerada artificialmente pela extensão das leis fabris a todos os ramos industriais em que trabalham mulheres, jovens e crianças. A regulamentação coerciva do dia de trabalho — no que respeita à sua extensão, intervalos, começo e fim —, o sistema de turnos das crianças, a exclusão de todas as crianças abaixo de uma certa idade, etc., requer, por um lado, mais maquinaria(44*) e substituição de músculos por vapor como força motriz(45*). Por outro lado, para ganhar em espaço o que se perde em tempo, tem lugar uma expansão dos meios de produção usados em comum, dos fornos, instalações, etc., portanto, numa palavra, maior concentração dos meios de produção e correspondente maior conglomeração de operários. A principal objecção, repetida com paixão, de cada uma das manufacturas ameaçadas pela lei fabril é de facto a necessidade de maior despesa de capital para prosseguir o negócio no seu antigo volume. Mas no que diz respeito às formas intermédias entre manufactura e trabalho domiciliário, e mesmo a este último, foge-lhes o chão com a limitação do dia de trabalho e do trabalho infantil. Exploração sem limitação de forças de trabalho baratas forma a única base da sua capacidade de concorrência.

Condição essencial do funcionamento fabril, nomeadamente logo que está submetido à regulamentação do dia de trabalho, é a normal segurança do resultado, i. é, produção de um determinado quantum de mercadorias ou de um efeito útil pretendido num lapso de tempo dado. Os intervalos legais do dia de trabalho regulamentado pressupõem além disso paragens repentinas e periódicas do trabalho sem dano para a obra que se encontra em processo de produção. Esta segurança do resultado e capacidade de interrupção do trabalho são naturalmente mais fáceis de se atingirem em ofícios puramente mecânicos do que onde processos químicos e físicos desempenham um papel, como, p. ex., na olaria, branqueação, tinturaria, panificação e na maioria das manufacturas de metais. Com a rotina do dia de trabalho ilimitado, do trabalho nocturno e da livre devastação de homens qualquer obstáculo natural passa, em breve, por uma eterna «barreira natural» da produção. Nenhum veneno extermina bicharada com tanta segurança como a lei fabril «barreiras naturais» dessas. Ninguém gritava mais alto acerca das «impossibilidades» do que os senhores da olaria. Em 1864, decretou-se-lhes a lei fabril e 16 meses mais tarde todas as impossibilidades tinham desaparecido. Provocado pela lei fabril, o

«método melhorado de fazer massa de olaria (slip) por pressão em vez de por evaporação, os fornos construídos recentemente para secar a mercadoria no seu estado não cozido, etc., são, cada um deles, acontecimentos de grande importância no ofício da olaria, e marcam um avanço com que o século precedente não podia rivalizar... Foi consideravelmente reduzida a temperatura dos próprios fornos com uma considerável poupança de combustível e com um efeito mais rápido sobre a mercadoria.»(47*)

Apesar de todas as profecias, não aumentou o preço de custo dos artigos de barro, mas sim a massa de produtos, de tal modo que a exportação dos 12 meses, de Dezembro de 1864 até Dezembro de 1865, proporcionou um excedente de valor de 138 628 lib. esterl. sobre a média dos três anos anteriores. Na fabricação de fósforos passava por lei da Natureza que os jovens, mesmo durante a ingestão do seu almoço, mergulhassem os fósforos numa composição fosfórica quente, cujo vapor venenoso lhes subia à cara. Com a necessidade de economizar tempo, a lei fabril (1864) obrigou ao uso de uma «dipping machine» (máquina de imersão) cujos vapores não podiam atingir os operários(48*). Assim, afirma-se agora, nos ramos da manufactura de rendas ainda não submetidos à lei fabril, que as horas das refeições não podiam ser regulares por causa dos períodos de tempo diversos que os diversos materiais para as rendas precisavam para secar, que podiam variar entre os 3 minutos e uma hora ou mais. A isto respondem os comissários da Children ’s Employment Comm.:

«As circunstâncias [...] são precisamente análogas às dos estampadores de papel de parede [...] Alguns dos principais manufactureiros no negócio sublinhavam que em consequência da natureza dos materiais usados e dos seus variados processos, eles não seriam capazes, sem sérios prejuízos, de parar para horas de refeição a um momento dado... Pela cláusula 6 da secção 6 da Lei de Extensão da Lei Fabril (Factory Acts Extension Act)» (1864) «é-lhes dado um intervalo de dezoito meses a partir da aprovação da Lei antes de se lhes exigir que se conformem às horas de refeição especificadas pelas Leis Fabris.»(49*)

Mal tinha a lei recebido sanção parlamentar e já os senhores fabricantes descobriam também:

«Os inconvenientes que esperávamos que adviessem da introdução das Leis Fabris [...] não aconteceram. Não achamos que tenha havido alguma interferência na produção; em suma, produzimos mais no mesmo tempo.»(50*)

Vimos que o Parlamento inglês, ao qual ninguém certamente acusará de genialidade, chegou por experiência à inteligência de que uma lei coerciva pode abolir por decreto simplesmente todos os chamados obstáculos naturais da produção contra a limitação e regulamentação do dia de trabalho. Aquando da introdução da lei fabril num ramo de indústria é, portanto, dado um prazo de 6 a 18 meses dentro do qual cabe aos fabricantes removerem os obstáculos técnicos. O dito de Mirabeau «Impossible? Ne me dites jamais ce bêie de mot!(51*) vale nomeadamente para a tecnologia moderna. Mas se a lei fabril amadurece assim como em estufa os elementos materiais necessários à transformação do funcionamento manufactureiro em funcionamento fabril, acelera, simultaneamente, pela necessidade de maiores adiantamentos de capital, a decadência dos mestres [Meis- ter] mais pequenos e a concentração do capital(52*).

Abstraindo dos obstáculos puramente técnicos e dos que podem ser tecnicamente removíveis, a regulamentação do dia de trabalho esbarra com os hábitos irregulares do próprio operário, nomeadamente onde predomina o salário à peça ou onde a perda de tempo numa parte do dia ou da semana pode ser compensada por trabalho a mais ou por trabalho nocturno suplementares, um método que brutaliza o operário adulto e arruina os seus camaradas imaturos e femininos(53*). Embora esta falta de regra no dispêndio da força de trabalho seja uma rude reacção natural contra o tédio de uma carga de trabalho monótono, resulta, no entanto, num grau muito maior, da anarquia da própria produção que, por sua vez, pressupõe de novo exploração desenfreada da força de trabalho pelo capital. A par dos casos de mudanças periódicas gerais do ciclo industrial e das oscilações de mercado particulares em cada ramo de produção, aparece nomeadamente a chamada estação [saison], assente quer na periodicidade das estações do ano favoráveis à navegação quer na moda, e o carácter repentino de encomendas grandes e a efectuar no prazo mais curto. Com caminhos-de-ferro e telegrafia o hábito destas últimas estende-se.

«A extensão do sistema ferroviário», diz, p. ex., um fabricante de Londres, «por todo o país tendeu a encorajar muito a avisar com pouca antecedência. Compradores de Glasgow, Manchester e Edinburgh vêm agora mais ou menos de quinze em quinze dias aos armazéns por grosso da cidade que nós fornecemos e fazem pequenas encomendas exigindo execução imediata em vez de comprarem dos stocks como costumavam fazer. Há alguns anos atrás éramos sempre capazes de trabalhar durante os períodos baixos para satisfazer a procura da estação seguinte, mas agora ninguém sabe dizer de antemão qual vai ser então a procura.»(54*)

Nas fábricas e manufacturas ainda não submetidas à lei fabril impera periodicamente o mais terrível trabalho a mais durante a chamada estação, por sacões em consequência de encomendas repentinas. No departamento externo da fábrica, da manufactura e do armazém de mercadorias, na esfera do trabalho domiciliário, que é inteiramente irregular e totalmente dependente, no que respeita à matéria-prima e às encomendas, da disposição do capitalista — a quem nada obriga a ter consideração pela desvalorização das instalações, máquinas, etc., e nada arrisca a não ser a pele dos próprios operários —, cria-se assim sistematicamente um exército industrial de reserva sempre disponível, dizimado durante uma parte do ano pela mais desumana coacção ao trabalho e durante a outra parte reduzido à miséria por falta de trabalho.

«Os empregadores», diz a Child. Empl. Comm., «exploram a irregularidade habitual do trabalho domiciliário para, nos tempos em que é necessário trabalho extra, o prolongarem até às 11, 12 ou 2 horas da manhã, na verdade, como se costuma dizer, “a todas as horas” e isto em locais em que o cheiro dá para fazer perder os sentidos (the stench is enough to knock you down); vai-se até à porta, talvez, e abre-se-a, mas arrepia-se de avançar.»(55*) «São gente curiosa» diz uma das testemunhas inquiridas, um sapateiro, «pensam que não faz mal nenhum a um rapaz trabalhar demasiado durante meio ano se no outro meio ele ficar quase desocupado.»(56*)

Tal como os obstáculos técnicos, estes chamados «hábitos do negócio» («usages wich have grown with the growth of trade»(57*)) foram e são considerados pelos capitalistas interessados como «barreiras naturais» à produção, um grito predilecto dos lords do algodão no tempo em que a lei fabril pela primeira vez os ameaçou. Embora a sua indústria assente mais do que qualquer outra no mercado mundial e, portanto, na navegação, a experiência desmentiu-os. Desde aí todo o pretenso «obstáculo ao negócio» era tratado pelos inspectores fabris ingleses como patranha oca(58*). As investigações profundamente conscienciosas da Child. Empl. Comm. provam de facto que, em algumas indústrias, a massa de trabalho já aplicada só é repartida mais igualmente por todo o ano através da regulamentação do dia de trabalho(59*); que esta foi a primeira rédea racional para os caprichos da moda, assassinos, sem conteúdo e em si inadequados ao sistema da grande indústria(60*); que o desenvolvimento da navegação oceânica e dos meios de comunicação em geral suprimiu o fundamento técnico propriamente dito do trabalho sazonal(61*); que todas as outras circunstâncias pretensamente in- controláveis são removidas por mais instalações, maquinaria suplementar, número acrescido de operários ocupados simultaneamente(62*) e pela repercussão, que por si se segue, sobre o sistema do comércio por grosso(63*). No entanto, o capital, tal como foi declarado repetidas vezes pela boca dos seus representantes, só consente neste revolucionamento «sob a pressão de uma Lei Geral do Parlamento»(64*) que regule de um modo legalmente coercivo o dia de trabalho.


Notas de rodapé:

(1*) Ch. Empl. Comm., III. Report, 1864, p. 108, n. 447. (retornar ao texto)

(2*) Nos Estados Unidos é frequente esta reprodução do artesanato com base na maquinaria. Precisamente por isso, a concentração, na transição inevitável para o funcionamento fabril, marchará por isso lá, em comparação com a Europa e mesmo com a Inglaterra, com botas de sete léguas. (retornar ao texto)

(3*) Em inglês no texto: casa das máquinas. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(4*) Cf. Reports of Insp. of Fact., 31st Oct., 1865, p. 64. (retornar ao texto)

(5*) O senhor Gillott montou em Birmingham a primeira manufactura de penas de aço em grande escala. Produzia, já em 1851, mais de 180 milhões de penas e consumia por ano 120 toneladas de aço. Birmingham, que monopolizou esta indústria no Reino Unido, produz agora anualmente milhares de milhões de penas de aço. Segundo o censo de 1861, o número de pessoas ocupadas ascendia a 1428, das quais 1268 operárias recrutadas dos 5 anos de idade em diante. (retornar ao texto)

(6*) Ch. Empl. Comm., II. Rep., 1864, p. LXVIII, n. 415. (retornar ao texto)

(7*) E agora até crianças a picar limas em Sheffield! (retornar ao texto)

(8*) Ch. Empl. Comm., V. Rep., 1866. p. 3, n. 24; p. 6, n. 55, 56; p. 7, n. 59, 60. (retornar ao texto)

(9*) L. c., pp. 114, 115, n. 6-7. O comissário refere correctamente que, se noutros casos a máquina substitui o homem, aqui o jovem substitui verbatim(10*) a máquina. (retornar ao texto)

(10*) Em latim no texto: literalmente. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(11*) Ver relatório sobre o comércio do trapo com numerosa documentação: Public Health, VIII. Report, Lond., 1866. Appendix, pp. 196-208. (retornar ao texto)

(12*) Child. Empl. Comm., V. Report, 1866, pp. XVI-XVIII, n. 86-97 e pp. 130 a 133, n. 39-71. Cf. também ib. III. Report. 1864, pp. 48, 56. (retornar ao texto)

(13*) Public Health, VI. Rep., Lond., 1864, pp. 29, 31. (retornar ao texto)

(14*) L. c., p. 30. O Dr. Simon observa que a mortalidade dos alfaiates e tipógrafos de Londres dos 25 aos 35 anos é de facto muito maior porque os seus empregadores em Londres recebem do campo um grande número de jovens até aos 30 anos como «aprendizes» e «improvers» (os que se querem aperfeiçoar no seu ofício). Estes figuram no censo como londrinos, fazem aumentar o número de cabeças sobre o qual a taxa de mortalidade londrina é calculada, sem contribuir proporcionalmente para o número de óbitos de Londres. Grande parte deles regressa de facto ao campo e muito particularmente em casos de doença grave. (L. c.) (retornar ao texto)

(15*) Trata-se aqui de pregos martelados, distintos dos pregos corta4os fabricados à máquina. Ver Child. Empl. Comm., III. Report, p. XI, p. XIX, n. 125-130; p. 52, n. 11; pp. 113-114(16*), n. 487; p. 137, n. 674. (retornar ao texto)

(16*) Nas edições inglesa e francesa: p. 114. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(17*) Em inglês no texto: Dispensário Geral. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(18*) Child. Empl. Comm., II. Report, p. XXII, n. 166. (retornar ao texto)

(19*) No original vorfauchen: jogo de palavras como o nome de J. Faucher e o verbo fauchen: expcturar, deitar fumo, rogar pragas. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(20*) Em inglês no texto: acabamento das rendas. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(21*) Em inglês no texto: «casas de mestras». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(22*) Nas edições alemã e francesa: 15. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(23*) Child. Empl. Comm., II. Report, 1864, pp. XIX, XX, XXI. (retornar ao texto)

(24*) L. c., pp. XXI, XXII. (retornar ao texto)

(25*) Na edição alemã: 33. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(26*) L. c., pp. XXIX, XXX. (retornar ao texto)

(27*) L. c., pp. XL, XLI. (retornar ao texto)

(28*) "Como um belo desenvolvimento ulterior do crédito que o operário dá ao capitalista, pode-se considerar o método de muitos possuidores de minas de carvão ingleses, segundo o qual o operário só é pago no fim do mês e, no tempo intermédio, vai recebendo adiantamentos do capitalista, muitas vezes em mercadorias, que ele tem de pagar acima do seu preço de mercado (truck-system). «É uma prática comum entre os senhores do carvão pagar uma vez por mês e adiantar dinheiro aos seus trabalhadores no fim de cada semana intermédia. O dinheiro é dado na loja» (nomeadamente na tommy-shop ou mercearia pertencente ao próprio patrão). «Os homens recebem-no de um lado e gastam-no do outro.» (Children's Employment Commission, III. Report, London, 1864, p. 38, n. 192.) (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(29*) Child. Empl. Comm., 1. Report., 1863, p. 185. (retornar ao texto)

(30*) Millinery refere-se apenas propriamente aos adornos para a cabeça, mas também a mantos de senhora e mantilhas, enquanto as dressmakers são idênticas às nossas modistas [Putzmacherinnen] (retornar ao texto)

(31*) A millinery e a dressmaking inglesas são na maioria dos casos levadas a cabo nas instalações do empregador, em parte por operárias que vivem e trabalham aí e em parte por jornaleiras que vivem fora. (retornar ao texto)

(32*) Em francês no texto: sobre quem se pode lançar impostos indiscriminadamente, isto é, explorável à vontade. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(33*) O comissário White visitou uma manufactura de fardamento militar que ocupava entre 1000 a 1200 pessoas, quase todas do sexo feminino, uma manufactura de sapatos com 1300 pessoas, das quais metade eram crianças e jovens, etc. (Child. Empl. Comm., II. Rep., p. XLVII, n. 319.) (retornar ao texto)

(34*) Um exemplo. Em 26 de Fevereiro de 1864, o relatório semanal de mortalidade do Registrar-General[N151] contém 5 casos de morte à fome. No mesmo dia, o Times noticia um novo caso de morte à fome. Seis vítimas da morte à fome numa semana! (retornar ao texto)

(35*) Child. Empl. Comm., II. Rep., 1864, p. LXVII, n. 406-409; p. 84, n. 124; p. LXXIII, n. 441; p. 68. n. 6; p. 84, n. 126; p. 78, n. 85; p. 76, n. 69; p. LXXII, n. 438. (retornar ao texto)

(36*) «O aluguer de instalações requeridas como locais de trabalho parece ser o elemento que por último determina a questão; e consequentemente é na metrópole que o velho sistema de dar trabalho a pequenos empregadores e famílias se manteve por mais tempo, e foi mais cedo retomado.» (L. c., p. 83, n. 123.) A frase final refere-se exclusivamente à sapataria. (retornar ao texto)

(37*) Em francês no texto: em chefe. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(38*) Na luvaria, etc., em que a situação dos operários pouco se distingue da dos indigentes, isto não acontece. (retornar ao texto)

(39*) L. c., p. 83, n. 122. (retornar ao texto)

(40*) Na produção de botas e sapatos para a venda por grosso só em Leicester já havia 800 máquinas de costura a funcionar em 1864. (retornar ao texto)

(41*) L. c., p. 84, n. 124. (retornar ao texto)

(42*) Assim acontece no armazém de fardas do exército em Pimlico, Londres, na fábrica de camisas de Tillie e Henderson em Londonderry, na fábrica de roupa da firma Tait em Limerick, que utiliza 1200 «braços». (retornar ao texto)

(43*) «Tendência para o sistema fabril». (L. c., p. LXVI1.) «Todo o emprego está nesta altura num estado de transição e está a sofrer a mesma mudança do que a efectuada no negócio das rendas, tecelagem, etc.» (L. c., n. 405.) «Uma completa revolução». (L. c., p. XLVI, n. 318.) Na altura da Child. Emp. Comm. de 1840, a fabricação de meias era ainda um trabalho manual. A partir de 1846 foi introduzida maquinaria de diversa espécie, agora movida a vapor. O número total de pessoas ocupadas na fabricação inglesa de meias, de ambos os sexos e todas as idades a partir dos 3 anos, ascendia a cerca de 120 000 em 1862. Destas, só 4063 estavam sob a alçada da lei fabril, segundo o Parliamentary Return de 11 de Fevereiro[N152] de 1862. (retornar ao texto)

(44*) Assim, p. ex., na olaria, a firma Cochran da Britannia Pottery, Glasgow, relata: «Para manter a nossa quantidade utilizamos extensivamente máquinas manipuladas por trabalho não especializado e de dia para dia nos convencemos de que podemos produzir uma quantidade maior do que com o método antigo.» (Reports of lnsp. of Fact., 31si Oct., 1865, p. 13.) «O efeito das Leis Fab. é forçar a ulterior introdução da maquinaria.» (L. c., pp. 13-14.) (retornar ao texto)

(45*) Assim, depois da introdução da lei fabril na olaria, houve um grande aumento das power jiggers em vez das hand-moved jiggers(46*). (retornar ao texto)

(46*) Em inglês no texto, respectivamente: rodas de oleiro mecânicas, rodas de oleiro movidas à mão. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(47*) Rep. Insp. Fact., 31 st Oct., 1865, pp. 96 e 127. (retornar ao texto)

(48*) A introdução desta e doutra maquinaria na fábrica de fósfofos substituiu, num departamento da mesma, 230 jovens por 32 rapazes e raparigas dos 14 aos 17 anos. Esta poupança de operários foi levada mais longe em 1865 por aplicação da força de vapor. (retornar ao texto)

(49*) Child. Empl. Comm., II. Rep., 1864, p. IX, n. 50. (retornar ao texto)

(50*) Reports of Insp. of Fart., 3Ist Oct.. 1865, p. 22. (retornar ao texto)

(51*) Em francês no texto; «Impossível? Nunca me diga essa palavra estúpida!» (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(52*) «[...] Os necessários melhoramentos... não podem ser introduzidos em muitas das velhas manufacturas sem um dispêndio de capital para além dos meios de muitos dos presentes proprietários [occupiers]... a temporária desorganização segue-se inevitavelmente à introdução» das leis fabris. O âmbito desta desorganização está em proporção directa com a magnitude dos males a sanar. (L. c., pp. 96, 97.) (retornar ao texto)

(53*) Nos altos fornos, p. ex. «o trabalho é geralmente muito aumentado em duração para o fim da semana em consequência dos hábitos que os homens têm de preguiçar à segunda-feira e ocasionalmente durante uma parte de toda a terça-feira também.» (Child. Empl. Comm., III. Rep., p. VI.) «Os mestres pequenos têm em geral horas muito irregulares. Perdem dois ou três dias e depois trabalham toda a noite para recuperar... Empregam sempre os seus próprios filhos quando os têm.» (L. c., p. VII.) «A falta de regularidade em chegar ao trabalho, encorajada pela possibilidade e prática de recuperar isso trabalhando mais horas.» (L. c., p. XVIII.) «Em Birmingham [...] perde-se uma quantidade enorme de tempo... preguiçando uma parte do tempo, fazendo de escravo o resto.» (L. c., p. XI.) (retornar ao texto)

(54*) Child. Empl. Comm., IV. Report, p. XXXII. «Diz-se que a extensão do sistema ferroviário contribuiu grandemente para o costume de fazer encomendas repentinas e a consequente pressa, descuido das horas de refeição e trabalho até tarde da gente trabalhadora.» (L. c., p. XXXI.) (retornar ao texto)

(55*) Child. Empl. Comm., IV. Rep., p. XXXV, n. 235 e 237. (retornar ao texto)

(56*) L. c., p. 127, n. 56. (retornar ao texto)

(57*) Em inglês no texto: «usos que cresceram com o crescimento do negócio». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(58*) «No que diz respeito à perda de negócio por não cumprimento a tempo de pedidos de embarque, lembro-me que este era o argumento preferido dos senhores das fábricas em 1832 e 1833. Nada que possa ser adiantado agora sobre este assunto poderia ter a força que tinha então, antes de o vapor ter reduzido todas as distâncias a metade e estabelecido novos regulamentos para o trânsito. Ele falhou completamente nesse tempo de prova quando testado e voltaria certamente a falhar agora se tivesse de ser posto à prova.» (Reports of Insp. of Fact., 31st Oct., 1862, pp. 54, 55.) (retornar ao texto)

(59*) Child. Empl. Comm., 111. Rep., p. XVIII, n. 118. (retornar ao texto)

(60*) John Bellers observa já em 1699: «A incerteza das modas aumenta de facto [o número de] pobres necessitados. Encerra dois grandes inconvenientes: 1.° Os jornaleiros ficam na miséria no Inverno por falta de trabalho porque os negociantes de tecidos e os mestres tecelões não ousam fornecer os seus stocks para manter os jornaleiros ocupados antes da Primavera chegar e eles saberem o que então vai ser a moda; 2.° Na Primavera os jornaleiros não são suficientes e então os mestres tecelões têm de chamar muitos aprendizes para poderem abastecer o comércio do reino num trimestre ou metade do ano, o que arranca o arado das mãos, drena o campo de lavradores e em grande parte enche a cidade com pedintes, e no Inverno mata à fome alguns que têm vergonha de pedir.» (Essays about the Poor, Manufactures, etc., p. 9.) (retornar ao texto)

(61*) Chil. Empl. Comm., V. Rep., p. 171, n. 34. (retornar ao texto)

(62*) Assim, p. ex., nos testemunhos de exportadores de Bradford: «Nestas circunstâncias, parece claro que não há rapazes que se precise fazer trabalhar mais do que das 8 da manhã às 7 ou 7,30 da tarde na fabricação. É meramente uma questão de braços extra e de despesa extra. Se alguns mestres não fossem tão gananciosos, os rapazes não trabalhariam até tarde; uma máquina extra custa só £16 ou £18; muito deste tempo a mais, tal como ocorre, deve-se a uma insuficiência de utensílios e a uma falta de espaço.» (L. c., p. 171, n. 35, 36 e 38.) (retornar ao texto)

(63*) L. c. [, p. 81, n. 32]. Um fabricante de Londres, que considera de resto que a regulamentação coerciva do dia de trabalho é um meio de protecção do operário contra os fabricantes e dos próprios fabricantes contra o comércio por grosso, declara: «A pressão no nosso negócio é causada pelos expedidores, que querem, e. g., enviar os bens por veleiros para chegarem ao seu destino numa dada estação e ao mesmo tempo embolsar a diferença de frete entre um veleiro e um barco a vapor, ou que, entre dois barcos a vapor, escolhem o que vai mais cedo para estarem no mercado estrangeiro antes dos seus concorrentes.» (retornar ao texto)

(64*) «Isto podia ser obviado», diz um fabricante, «à custa de um alargamento das oficinas sob a pressão de uma Lei Geral do Parlamento.» (L. c., p. X, n. 38.) (retornar ao texto)

Notas de fim de tomo:

[N148] Máquina calórica — máquina cujo funcionamento tinha como base o princípio da dilatação e contracção do ar através do seu aquecimento e arrefecimento. Era extremamente grande em comparação com a máquina a vapor e tinha um baixo coeficiente de acção útil. A máquina calórica foi inventada no princípio do século XIX, mas no final do século já tinha perdido qualquer importância prática. (retornar ao texto)

[N149] Órgão especial junto do rei de Inglaterra, composto por ministros e outras personalidades oficiais, bem como pelos representantes superiores do clero. Formado pela primeira vez no século XIII. Durante muito tempo deteve o poder legislativo em nome do rei e à margem do Parlamento. Nos século XVIII e XIX o papel do Privy Council é fortemente reduzido. Na Inglaterra contemporânea o Privy Council praticamente não participa na direção do País. (retornar ao texto)

[N150] Disjecta membra poetae (os membros dispersos do poeta) — palavras das Sátiras de Horácio, livro I, sátira 4. (retornar ao texto)

[N151] Registrar-General — assim se chamava em Inglaterra ao funcionário que chefiava o Serviço Central de Registo Civil. Além das suas funções habituais o serviço efectuava de dez em dez anos um censo da população. (retornar ao texto)

[N152] Trata-se do documento parlamentar Factories. Return to an Address of the Honourable the House of Commons, Dated 24th April 1861, p. 9. (retornar ao texto)

Inclusão 10/11/2013