O Capital
Crítica da Economia Política
Karl Marx

Livro Segundo: O processo de circulação do capital


Prefácio


capa

Não foi nenhum trabalho fácil aprontar para impressão o segundo livro do Capital, de modo a que ele, por um lado, aparecesse como obra coerente e o mais acabada possível, mas, por outro lado, também como obra exclusiva do [seu] autor, e não do editor. O grande número das elaborações disponíveis, na sua maior parte fragmentárias, dificultou a tarefa. No máximo, apenas uma delas (o Manuscrito IV)(1*) estava — até onde chegava — redigida para impressão; mas, por isso, a maior parte tinha-se tomado também obsoleta em virtude de redacções ulteriores. A massa principal do material se bem que estivesse pronta quanto ao conteúdo, não o estava todavia no respeitante à linguagem; encontrava-se composta na linguagem em que Marx costumava fazer os seus excertos: estilo descuidado, familiar, frequentemente com expressões e maneiras de dizer grosseiramente humorísticas, termos técnicos ingleses e franceses, frequentemente frases inteiras e mesmo páginas em inglês; é um pôr por escrito dos pensamentos na forma em que eles, em cada momento, se desenvolviam na cabeça do autor. Ao lado de partes isoladas, expostas pormenorizadamente, outras, igualmente importantes, apenas apontadas; o material dos factos ilustrativos [aparece] coligido mas mal [surge] agrupado, e muito menos elaborado: no final dos capítulos, com o ímpeto de passar ao seguinte, [aparece] muitas vezes apenas um par de frases desgarradas como marcos do desenvolvimento aí deixado incompleto; por fim, o conhecido [facto] da caligrafia, muitas vezes ilegível para o próprio autor.

Contentei-me assim em reproduzir os manuscritos tão literalmente quanto possível, em alterar no estilo apenas o que o próprio Marx teria alterado, e em inserir frases explicativas intercalares e de ligação apenas onde isso era absolutamente preciso e onde, além do mais, o sentido era totalmente indubitável. Frases cujo significado oferecesse a mais longínqua dúvida foram de preferência reproduzidas de modo totalmente literal. As reelaborações e inserções de mim provenientes, no seu todo, não chegam a dez páginas impressas, e são apenas de natureza formal.

A mera enumeração do material manuscrito deixado por Marx para o Livro II prova com que escrúpulo inigualável, com que autocrítica rigorosa ele se esforçava por elaborar as suas grandes descobertas económicas, até à mais extrema perfeição, antes de as publicar; uma autocrítica que só raras vezes lhe permitiu ajustar a exposição, segundo o conteúdo e a forma, aos seus horizontes sempre em alargamento através de novos estudos. Este material consiste no seguinte.

Em primeiro lugar, um manuscrito, Zur Kritik der politischen Oekonomie, 1472 páginas in 4.° em 23 cadernos, escrito de Agosto de 1861 a Junho de 1863.(2*) É a continuação do primeiro caderno publicado em Berlim, em 1859, com o mesmo título.(3*) Trata, nas páginas 1-220 (cadernos I-V) e depois novamente nas páginas 1159-1472 (cadernos XIX-XXIII), dos temas investigados no Livro I do Capital, desde a transformação do dinheiro em capital até ao final, e é a primeira redacção disponível acerca disso. As páginas 973-1158 (cadernos XVI a XVIII) tratam de: capital e lucro, taxa de lucro, capital mercantil [Kaufmannskapital] e capital-dinheiro [Geldkapital], portanto de temas que mais tarde, no manuscrito para o Livro III, são desenvolvidos. Os temas tratados no Livro II, assim como muitos outros mais tarde [tratados] no Livro III, pelo contrário, ainda não estão organizados em separado. Eles serão tratados de passagem, nomeadamente na secção que constitui o corpo principal do manuscrito: páginas 220-972 (caderno VI-XV): Theorien über den Mehrwert. Esta secção contém uma pormenorizada história crítica do ponto nuclear [Kernpunkt] da economia política, a teoria da mais-valia, e desenvolve paralelamente, em oposição polémica aos predecessores, a maior parte dos pontos mais tarde investigados em separado e em conexão lógica no manuscrito para os Livros II e III. Após a eliminação das múltiplas passagens já arrumadas nos Livros II e III, reservo-me publicar a parte crítica deste manuscrito como Livro IV do Capital.[N1] Apesar de muito valioso, este manuscrito era de pouca utilidade para a presente edição do Livro II.

O manuscrito que segundo a data vem a seguir é o do Livro III. Ele foi, pelo menos na sua maior parte, escrito entre 1864 e 1865.

Só depois de, no essencial, ele estar pronto [é que] Marx passou à elaboração do Livro I, no primeiro volume impresso em 1867. Preparo agora para a impressão este manuscrito do Livro III.

Do período seguinte — depois da publicação do Livro I — existe, para o Livro II, uma colecção de quatro manuscritos in-fólio, numerados de I a IV pelo próprio Marx. De entre eles, o Manuscrito I (150 páginas), presumivelmente datando de 1865 ou 1867, é a primeira redacção autónoma, mas mais ou menos fragmentária, do Livro II na sua presente repartição.(4*)

Também disto nada era utilizável. O Manuscrito III consiste, em parte, numa compilação de citações e referências dos cadernos de excertos de Marx — na sua maior parte relativos à primeira secção do Livro II —, em parte em tratamentos de pontos isolados, nomeadamente a crítica das proposições de A. Smith sobre o capital fixo e circulante e sobre a fonte de lucro; além disto, uma exposição da relação entre a taxa de mais-valia e a taxa de lucro, que pertence ao Livro III. As referências forneciam poucas explorações novas; as elaborações estavam, tanto para o Livro II como para o Livro III, ultrapassadas por redacções posteriores e, portanto, tiveram, na sua maior parte, que ser postas de lado. O Manuscrito IV é uma versão pronta para a impressão da primeira secção e dos primeiros capítulos da segunda secção do Livro II, e foi também utilizado aí onde vinha a propósito. Se bem que se tenha verificado que tinha sido composto antes do Manuscrito II,(5*) pôde, por ser mais acabado quanto à forma, ser utilizado com vantagem na parte respectiva do livro. Bastou fazer alguns aditamentos a partir do Manuscrito II. Este último manuscrito é, em certa medida, a única versão pronta de que dispomos do Livro II, e data de 1870. As notas para a redacção final, de que farei menção já de seguida, dizem expressamente; «A segunda versão tem que ser tomada como base.»(6*)

Depois de 1870 dá-se outra vez uma interrupção, condicionada principalmente por estados de saúde. Como habitualmente, Marx preencheu esse tempo com estudos; agronomia, condições rurais norte-americanas e sobretudo russas, mercado do dinheiro e banca [Bankwesen], por fim, ciências da Natureza: geologia e fisiologia, e nomeadamente trabalhos autónomos de matemática, formam o conteúdo dos numerosos cadernos de excertos deste período. No início de 1877, ele sentiu-se restabelecido ao ponto de poder voltar ao seu trabalho próprio. Datam de fins de Março de 1877 as referências e notas dos quatro manuscritos(7*) acima referidos, como base para uma reelaboração do Livro II, cujo começo está patente no Manuscrito V (56 páginas in-fólio)(8*). Abrange os primeiros quatro capítulos, e está ainda pouco trabalhado; pontos essenciais são tratados em notas em baixo do texto; o material está mais reunido do que joeirado, mas é a última exposição completa desta parte mais importante da primeira secção. — Uma primeira tentativa de fazer disto um manuscrito pronto para a impressão está patente no Manuscrito VI(9*) (depois de Outubro de 1877 e antes de Julho de 1878), apenas 17 páginas in 4.º abrangendo a maior parte do primeiro capítulo; uma segunda [tentativa] — a última — no Manuscrito VII,(10*) «2 de Julho de 1878», apenas 7 páginas in-fólio.

Por esta altura, parece ter-se tornado claro para Marx que sem uma completa revolução do seu estado de saúde ele nunca poderia chegar a completar uma versão, que o satisfizesse a ele próprio, do segundo e terceiro livros. De facto, os Manuscritos V-VIII carregam em si com demasiada frequência os vestígios de uma violenta luta [Ankampf] contra um estado deprimente de saúde. O pedaço mais difícil da primeira secção tinha sido elaborado de novo no Manuscrito V; o resto da primeira [secção] e de toda a segunda secção (com excepção do capítulo décimo sétimo) não ofereciam nenhumas dificuldades teóricas significativas; a terceira secção, pelo contrário, [sobre] a reprodução e circulação do capital social, parecia-lhe precisar urgentemente de uma reelaboração. No Manuscrito II, com efeito, era tratada primeiro a reprodução, sem se ter em consideração a circulação do dinheiro que a medeia, e a seguir, mais uma vez, tendo isso [essa mediação] em consideração. Isto tinha que ser eliminado e a secção toda, em geral, retrabalhada de modo a que correspondesse ao horizonte alargado do autor. Surgiu assim o Manuscrito VIII,(11*) um caderno de apenas 70 páginas in 4.°; mas o que Marx entendeu comprimir nesse espaço demonstra-o a comparação com a secção III [na sua versão] impressa, depois de deduzidos os pedaços intercalados do Manuscrito II.

Também este manuscrito é apenas um tratamento provisório do objecto [em estudo], através do qual importava, antes de tudo, fixar e desenvolver os novos pontos de vista adquiridos relativamente ao Manuscrito II, negligenciando os pontos sobre os quais nada de novo havia a dizer. Também um pedaço essencial do capítulo XVII da segunda secção, que, além do mais, entra até certo ponto pela terceira secção, será outra vez incluído e alargado. A sequência lógica será frequentemente interrompida; o tratamento [do tema] é em algumas passagens lacunar e nomeadamente no final é totalmente fragmentário. Mas o que Marx queria dizer está de um ou de outro modo dito aí.

É este o material para o Livro II com o qual, segundo uma declaração de Marx à sua filha Eleanor, pouco antes da sua morte, eu devia «fazer alguma coisa».(12*) Assumi este encargo nas suas fronteiras mais rigorosas; sempre que possível, limitei a minha actividade à mera escolha entre as diversas redacções. E foi assim, de modo que sempre serviu de base a última redacção disponível mediante comparação com as anteriores. Dificuldades reais, i. é, mais do que meramente técnicas, ofereceram apenas a primeira e terceira secções, mas estas também não eram pequenas. Procurei resolvê-las exclusivamente no espírito do autor.

As citações no texto, na sua maior parte, traduzi-as quando se tratava de documentar factos ou onde, como nas passagens [extraídas] de A. Smith, o original se encontra à disposição de qualquer pessoa que queira estudar a questão a fundo. Apenas no capítulo X isto não foi possível, porque aqui o texto inglês é directamente criticado. As citações do Livro I [de O Capital] apresentam o número de página da segunda edição, a última ainda em vida de Marx.

Para o Livro III, para além da primeira versão em manuscrito [intitulada] Zur Kritik, dos pedaços mencionados no Manuscrito III e de algumas notas curtas ocasionalmente disseminadas por cadernos de excertos, existe apenas o seguinte: o mencionado manuscrito in-fólio de 1864-1865, elaborado mais ou menos com a mesma completude do que o Manuscrito II do Livro II, e por fim um caderno de 1875: a relação entre a taxa de mais-valia e a taxa de lucro, desenvolvida matematicamente (em equações). O aprontamento deste livro para a impressão progride rapidamente. Tanto quanto posso ajuizar até agora, apresentará principalmente apenas dificuldades técnicas, com excepção decerto de algumas secções muito importantes.

É aqui o lugar para repelir uma acusação contra Marx que, primeiro levantada só em voz baixa e esporadicamente, agora, depois da sua morte, é pronunciada por socialistas de cátedra e de Estado alemães[N2] e pelos seus acólitos como facto consumado: a acusação de que Marx teria plagiado Rodbertus. Eu já noutro local(1) disse, acerca disto, o que era mais premente, mas só aqui posso aduzir os documentos decisivos.

Segundo me é dado saber, esta acusação encontra-se pela primeira vez em Emancipationskampf des vierten Standes, de R. Meyer, na p. 43:

«Destas publicações» (de Rodbertus, que remontam até à última metade dos anos trinta) «hauriu Marx comprovadamente a maior parte da sua crítica.»

Eu devo até prova ulterior admitir que a «comprovabilidade» toda desta afirmação consiste em Rodbertus o ter assegurado ao senhor Meyer. Em 1879, o próprio Rodbertus entra em cena, e escreve a J. Zeller (Zeitschrift für die gesammte Staatswissenschaft, Tübingen, 1879, p. 219)[N3] em relação ao seu escrito: Zur Erkenntniß unserer staatswirschaftlichen Zustände (1842) o seguinte:

«V. achará que o mesmo» {curso de pensamentos aí desenvolvido} «foi utilizado de modo bem bonito por Marx ... decerto sem me citar.»

O que também repete sem mais o seu editor póstumo, Th. Kozak. (Das Kapital de Rodbertus, Berlin, 1884, Introdução, p. XV.) — Finalmente nas Briefen und socialpolitischen Aufsätzen von Dr. Rodbertus-Jagetzow, editadas em 1881 por R. Meyer, Rodbertus diz peremptoriamente:

«acho-me hoje pilhado por Schäffle e Marx, sem que eu seja nomeado». (Carta n.° 60, p. 134.)

E numa outra passagem a pretensão de Rodbertus assume uma figura mais determinada:

«De onde brota a mais-valia do capitalista é o que mostrei na minha 3.ª carta social no essencial do mesmo modo que Marx, só que mais curta e claramente.» (Carta n.° 48, p. 111.)

Marx nunca soube de todas estas acusações de plágio. No seu exemplar da Emancipationskampf apenas estava aberta a parte respeitante à Internacional; eu próprio cuidei da abertura das restantes páginas após a sua morte. A revista de Tübingen nunca ele a viu. As Briefe, etc. a R. Meyer permaneceram-lhe igualmente desconhecidas e só me foi chamada a atenção para a passagem relativa à «pilhagem», em 1884, por gentileza do próprio Dr. Meyer. Em contrapartida, Marx conhecia a carta n.° 48; o senhor Meyer tinha tido o obséquio de oferecer o original à filha mais nova de Marx. Marx, a cujos ouvidos tinham chegado, por certo, alguns rumores secretos acerca da fonte secreta da sua crítica a procurar em Rodbertus, mostrou-me [a carta] com a observação de que aí tinha finalmente informação autêntica acerca do que o próprio Rodbertus reclamava; se ele nada mais afirmava, então isso podia estar bem para ele, Marx; e que Rodbertus tivesse a sua própria exposição por ser a mais curta e clara, também esse regozijo ele lhe podia conceder. De facto, com esta carta de Rodbertus, ele tinha toda esta questão por arrumada.

Ele podia fazer isto, tanto mais que, como eu positivamente sei, toda a actividade literária de Rodbertus lhe havia permanecido desconhecida até por volta de 1859, quando a sua própria crítica da economia política estava pronta, não apenas nos seus traços fundamentais, como também nos pormenores mais importantes. Ele começou os seus estudos económicos em 1843, em Paris, pelos grandes ingleses e franceses; dos alemães conhecia apenas Rau e List, e bastavam-lhe. Nem Marx nem eu soubemos uma [única] palavra sobre a existência de Rodbertus até que em 1848 na Neue Rheinische Zeitung tivemos de criticar os seus discursos como deputado por Berlim e as suas acções como ministro. Nós éramos tão ignorantes que perguntámos aos deputados renanos quem era esse Rodbertus que tão subitamente se tornara ministro. Mas também estes nada sabiam para revelar acerca dos escritos económicos de Rodbertus. Que, pelo contrario, Marx mesmo sem a ajuda de Rodbertus já nessa altura sabia muito bem não só de onde, mas também como «brota a mais-valia do capitalista», comprovam-no a Misère de la Philosophie de 1847(14*) e as conferências sobre trabalho assalariado e capital, proferidas em 1847 em Bruxelas e Publicadas em 1849 nos n.os 264-269 da Neue Rheinische Zeitung.(15*)

Só por intermédio de Lassalle veio Marx a saber, por volta de 1859, que também havia um economista Rodbertus, e encontrou então a sua «terceira carta social» no Museu Britânico.

É esta a conexão dos factos. Que se passa, então, com o conteúdo, que Marx teria «pilhado» a Rodbertus?

«De onde brota a mais-valia do capitalista», diz Rodbertus, «é o que mostrei na minha 3.ª carta social do mesmo modo que Marx, só que mais curta e claramente.»

Portanto, este é o ponto nuclear: a teoria da mais-valia; e de facto não se pode dizer que outra coisa Rodbertus poderia acaso reclamar como propriedade sua em Marx. Rodbertus declara-se, portanto, aqui como o real autor da teoria da mais-valia que Marx lhe teria pilhado.

E o que nos diz a 3.ª carta social[N4] acerca da origem da mais-valia? Simplesmente que a «renda» — em que ele reúne renda do solo e lucro — não surge de um «aditamento de valor» [Wertzuschlag] ao valor da mercadoria [Ware] mas em

«consequência de um abatimento de valor [Wertabzug] que o salário sofre; por outras palavras: porque o salário ascende apenas a uma parte do valor [Wert] do produto»,

e, em caso de suficiente produtividade do trabalho, o salário

«não precisa de ser igual [äqual] ao valor de troca [Tauschwert] natural do seu produto para que de este fique ainda [algo] para reposição do capital [Kapitalersatz] (!) e renda».

Pelo que não nos é dito o que é esse «valor de troca natural» do produto em que nada resta para «reposição do capital», portanto, talvez, para reposição da matéria-prima e do desgaste das ferramentas de trabalho.

Felizmente, foi-nos dado constatar que impressão causou a Marx esta descoberta de Rodbertus que marca uma época. No manuscrito Zur Kritik, etc. encontra-se no caderno X, p. 445 e segs,(16*) uma «Digressão. O senhor Rodbertus. Uma nova teoria da renda fundiária». Apenas sob este ponto de vista é considerada aqui a terceira carta social. A teoria rodbertusiana da mais-valia em geral é arrumada com a [seguinte] observação irónica: «O senhor Rodbertus investiga primeiro como se apresenta um país onde a posse de terra e de capital não estão separadas, e chega então ao importante resultado de que a renda (pela qual ele entende a mais-valia toda) equivale meramente ao trabalho não pago ou ao quantum(17*) de produtos em que ele [trabalho não pago] se expõe.»(18*)

A humanidade capitalista já há vários séculos que produz mais-valia, e gradualmente também chegou a arquitectar ideias sob a sua origem. A primeira perspectiva era a de que ela brotava da prática mercantil imediata: a mais-valia originar-se-ia de um encarecimento [Aufschlag] do valor do produto. Ela [esta perspectiva] dominava entre os mercantilistas, mas já James Steuart se apercebeu de que, assim sendo, o que um ganhava o outro necessariamente tinha que perder. No entanto, esta perspectiva continuou a aparecer como um fantasma ainda durante bastante tempo, nomeadamente entre os socialistas; mas foi expulsa da ciência clássica por A. Smith.

Ele diz o seguinte, em Wealth of Nations, 1.1, cap. VI:

«Mal o capital (stock)(19*) se acumulou nas mãos de pessoas particulares, algumas delas naturalmente o empregarão para pôr a trabalhar gente industriosa, a quem fornecerão materiais e subsistência, em ordem a tirar um lucro da venda dos materiais do seu trabalho ou do que o seu trabalho acrescenta ao valor dos materiais... O valor que os operários acrescentam aos materiais resolve-se neste caso, portanto, ele próprio em duas partes, em que uma paga os seus salários e a outra os lucros do seu empregador sobre o montante [stock] total de materiais e salários que ele adiantou.»(20*)

E um pouco mais adiante:

«Mal a terra de qualquer país se toma toda propriedade privada, os senhores da terra, tal como todos os outros homens, gostam de colher onde nunca semearam e exigem uma renda mesmo pelo seu produto natural...» O trabalhador «tem que ceder ao senhor da terra uma porção do que o seu trabalho ou recolhe ou produz. Esta porção, ou — o que vem a dar ao mesmo — o preço desta porção, constitui a renda da terra.»(21*)

A propósito desta passagem Marx comenta no mencionado manuscrito Zur Kritik, etc., p. 253:(22*) «A. Smith apreende, portanto, a mais-valia, a saber: o sobretrabalho [Surplusarbeit], o excedente [Überschufi] do trabalho executado e objectivado na mercadoria, por cima do trabalho pago, portanto por cima do trabalho que recebeu o seu equivalente em salário, como a categoria universal da qual o lucro propriamente dito e a renda fundiária são apenas ramificações.»

Mais adiante diz A. Smith, 1.1, cap. VIII:

«Mal a terra se toma propriedade privada, o senhor da terra exige uma parte de quase todo o produto que o trabalhador pode tirar ou colher dela. A sua renda constitui a primeira dedução do produto do trabalho empregue na terra. Raramente acontece que a pessoa que lavra o solo tenha os meios para se sustentar até à colheita. O seu sustento é-lhe geralmente adiantado do capital (stock)(23*) de um amo [master], do rendeiro [farmer] que o emprega, que não teria nenhum interesse em empregá-lo se não houvesse de ter parte no produto do seu trabalho, ou se o seu capital não lhe houvesse de ser reposto com um lucro. Esse lucro constitui uma segunda dedução ao produto do trabalho que é empregue na terra. O produto de quase todo o outro trabalho está sujeito à mesma dedução de lucro. Em todas as artes e manufacturas, a maior parte dos operários tem precisão de um amo que, até o trabalho estar completado, lhes adiante os materiais de trabalho e os seus salários e sustento. Ele [este amo] tem parte no produto do trabalho deles, ou no valor que este acrescenta aos materiais sobre que é aplicado, e o seu lucro consiste nesta parte.»(24*)

Marx sobre isto [observa o seguinte] (Manuscrito, p. 256):(25*) «Aqui, portanto, A. Smith designa com palavras secas renda fundiária e lucro do capital como [sendo] meros abatimentos [Abzüge] ao produto do operário ou ao valor do seu produto, igual ao trabalho por ele ajuntado à matéria-prima. Porém, como o próprio A. Smith anteriormente estabeleceu, este abatimento só pode consistir na parte do trabalho que o operário acrescenta aos materiais sobre o quantum de trabalho que apenas paga o seu salário ou que só fornece um equivalente pelo seu trabalho — portanto no sobretrabalho, na parte não paga do seu trabalho.»

«De onde brota a mais-valia do capitalista» e, além disso, a do proprietário fundiário, [é coisa que] A. Smith já sabia; Marx reconhece isto sinceramente já em 1861, enquanto Rodbertus e o enxame dos seus devotos, que crescem como cogumelos sob a chuva estival do socialismo de Estado, parecem tê-lo esquecido totalmente.

«Não obstante», prossegue Marx, «Smith não separou a mais-valia como tal, como categoria própria, das formas particulares que ela assume no lucro e na renda fundiária. Daí nele, como ainda mais em Ricardo, muito erro e [muita] deficiência na investigação.»(26*) — Esta frase aplica-se à letra a Rodbertus. A sua «renda» é simplesmente a soma de renda do solo + lucro; ele faz uma teoria totalmente falsa da renda do solo; toma o lucro sem ver, tal como o encontra nos seus predecessores. — A mais-valia de Marx, pelo contrário, é a forma universal da soma de valor apropriada, sem equivalente, pelos donos dos meios de produção; [forma] que, segundo leis totalmente peculiares só por Marx descobertas, se cinde nas formas particulares, transformadas, de lucro e renda do solo. Estas leis serão desenvolvidas no Livro III, onde se mostrará pela primeira vez quantos termos intermédios são precisos para chegar do entendimento da mais-valia no universal ao entendimento da sua transformação em lucro e renda fundiária; portanto, para [chegar] ao entendimento das leis da repartição da mais-valia no interior da classe dos capitalistas.

Ricardo vai já significativamente mais longe do que A. Smith. Ele funda a sua concepção [Auffassung] da mais-valia em uma nova teoria do valor, que em A. Smith estava já disponível em germe mas na execução quase sempre de novo esquecida, [uma teoria] que se tomou o ponto de partida de toda a ciência económica posterior. Da determinação do valor das mercadorias pelo conjunto de trabalho [Arbeitsmenge] realizado nas mercadorias deriva ele [Ricardo] a repartição [Verteilung], entre operários e capitalistas, do quantum de valor acrescentado pelo trabalho às matérias-primas, a sua cisão [Spaltung] em salário e lucro (i. é, aqui, mais-valia). Ele demonstra que o valor das mercadorias permanece o mesmo, como quer que a proporção entre essas duas partes varie; uma lei à qual ele só admite casos isolados de excepção. Ele estabelece até algumas leis principais acerca da relação recíproca entre salário e mais-valia (apreendida sob a forma de lucro), ainda que de modo demasiado geral (Marx, Kapital, I, cap. XV, A),(27*) e demonstra ser a renda fundiária um excedente, que decai em circunstâncias determinadas, sobre o lucro. Em nenhum destes pontos Rodbertus foi mais longe do que Ricardo. As contradições internas da teoria de Ricardo, nas quais a sua escola se afundou, permanecem para ele [Rodbertus] ou totalmente desconhecidas ou o induzem apenas (Zur Erkenntniß, etc., p. 130) a reivindicações utópicas em vez de a soluções económicas.

A teoria de Ricardo acerca do valor e da mais-valia não precisou, porém, de esperar pelo Zur Erkenntniß, etc. de Rodbertus para ser explorada de modo socialista. Na p. 609 do Livro I do Capital (2.a ed.)(28*) encontra-se citado: «The possessors of surplus produce or capital»,(29*) [retirado] de um escrito [intitulado]: The Source and Remedy of the National Difficulties. A Letter to Lord John Russell, London, 1821. Neste escrito, sobre cuja significação já só a expressão surplus produce or capital teria tido que chamar a atenção, e que é um panfleto de 40 páginas arrancado por Marx ao seu desaparecimento, diz-se:

«Seja o que for que caiba ao capitalista» (do ponto de vista do capitalista) «ele apenas pode receber o sobretrabalho (surplus labour)(30*) do operário, pois o operário tem que viver.» (p. 23.)

Porém, como o operário vive, e quão grande, portanto, pode ser o sobretrabalho apropriado pelo capitalista, é muito relativo.

«[...] se o capital não decresce em valor à medida em que aumenta em montante, os capitalistas extorquirão aos trabalhadores o produto de cada hora de trabalho para além do que é possível ao trabalhador para subsistir... O capitalista pode por fim dizer ao trabalhador: "Tu não deves comer pão, [...] porque é possível subsistir com beterraba e batatas." E a esse ponto nós chegámos!» (P[p]. 23, 24.) « Se se pode levar o trabalhador a alimentar-se de batatas em vez de pão é indiscutivelmente verdadeiro que se poderá extorquir mais do seu trabalho; isto é, se para se alimentar de pão, ele era obrigado a reter, para o seu sustento e da família, o trabalho de segunda e terça-feira, então, com [alimentação de] batatas, requerer-se-á apenas a metade de segunda-feira; e a outra metade de segunda-feira e toda a terça-feira ficam disponíveis ou para o serviço do Estado ou do capitalista.» (P. 26.) «Admite-se (It is admitted)(31*) que o juro [interest] pago aos capitalistas, seja sob a forma [nature] de rendas, juros de dinheiro, ou lucros de negócio, é pago [a partir] do trabalho de outros.» (P. 23.)

Aqui está, portanto, toda a «renda» de Rodbertus, só que onde está «renda» diz-se interesses [lnteressen](32*)

Marx observa sobre isto (manuscrito Zur Kritik, p. 852):(33*) «Este quase desconhecido panfleto — aparecido ao tempo em que o “incrível [sapateiro] remendão” MacCulloch[N5] começava a dar que falar — contém um progresso essencial relativamente a Ricardo. Ele designa directamente a mais-valia, ou “profit”,(34*) como Ricardo lhe chama (frequentemente também sobreproduto, surplus produce), ou [ainda] interest, como o autor do panfleto lhe chama, como surplus labour, sobretrabalho: o trabalho que o operário executa gratis,(35*) que ele executa por cima do quantum de trabalho pelo qual o valor da sua força de trabalho é substituído, com o qual é produzido, portanto, um equivalente para o seu salário. Tão importante como fora resolver o valor em trabalho, tão importante foi resolver a mais-valia (surplus value), que se expõe em um sobreproduto (surplusproduce), em sobretrabalho (surplus labour). Isto, de facto, está já dito em A. Smith, e forma um momento principal no desenvolvimento de Ricardo. Mas neles [Smith e Ricardo] em nenhum lado é proclamado e fixado na forma absoluta.» Diz-se então mais à frente, p. 859 do manuscrito:(36*) «Quanto ao resto, o autor está preso nas categorias económicas, tal como ele as encontra. Exactamente como em Ricardo o confundir de mais-valia e lucro conduz a desagradáveis contradições, o mesmo [acontece] com ele por baptizar a mais-valia como juros de capital [Kapitalinteressen](37*) Com efeito, fica acima de Ricardo porque, primeiro, reduz toda a mais-valia a sobretrabalho e, se bem que chame juros de capital à mais-valia [simultaneamente] acentua que por interest of capital entende a forma universal do sobretrabalho, por oposição [im Unterschied] às suas formas particulares — renda, juros de capital [Geldzins] e lucro do negócio. Mas volta a adoptar o nome de uma destas formas particulares, interest, como sendo o da forma universal. E isto basta-lhe para que volte a cair no calão» (slang(38*) — é o que está no manuscrito) «económico.»

Este último passo assenta como uma luva no nosso Rodbertus. Também ele está preso nas categorias económicas, tal como as encontra.

Também baptiza a mais-valia com o nome de uma das suas formas subordinadas transformadas, que ainda converte em algo de totalmente indeterminado: renda. O resultado destas duas teimosias é que ele volta a cair no calão económico, não prossegue criticamente o seu progresso sobre Ricardo, e, em vez disso, vê-se induzido a converter a sua teoria não pronta, ainda antes de se ter livrado da casca, em base de uma utopia com a qual, como em tudo, chega demasiado tarde. O panfleto foi publicado em 1821 e antecipa já completamente a «renda» de Rodbertus, de 1842.

O nosso panfleto é apenas o posto avançado mais extremo de toda uma literatura que nos anos vinte volta contra a produção capitalista, no interesse do proletariado, a teoria ricardiana do valor e da mais-valia, combatendo a burguesia com as suas próprias armas. Todo o comunismo de Owen, na medida em que entra em cena de um modo económico-polémico, se apoia em Ricardo. Mas a par dele [há] ainda toda uma série de escritores, e que Marx já em 1847 cita apenas alguns contra Proudhon (Misère de la Philosophie, p. 49):(39*) Edmonds, Thompson, Hodgskin, etc., etc., «e ainda quatro páginas de etceteras». Deste sem número de escritos tiro ao acaso apenas um: An Inquiry into the Principies of the Distribution of Wealth, Most Conducive to Human Happiness, by William Thompson; a new edition,(40*) London, 1850. Este escrito composto em 1822 foi publicado pela primeira vez em 1824.(41*) Também aqui por toda a parte se designa a riqueza apropriada pelas classes que não produzem como abatimento ao produto do operário, e isto com expressões bastante duras.

«O esforço constante daquilo a que foi chamado sociedade tem sido enganar e induzir, aterrorizar e compelir, o operário produtivo [productive labourer] a trabalhar pela porção mais pequena possível do produto do seu próprio trabalho.» (P. 28.) «Por que não lhe dar todo o produto absoluto do seu trabalho?» (P. 32.) «Este montante de compensação, extorquido pelos capitalistas aos operários produtivos sob o nome de renda ou lucros é reclamado pelo uso de terra ou de outros artigos... Como todos os materiais físicos com os quais, ou por intermédio dos quais,(42*) as suas forças produtivas [productive powers] podem ser tomadas disponíveis estão nas mãos de outros com interesses opostos aos dele, e como o seu consentimento é um preliminar necessário para qualquer extorsão sobre ele, não está ele, e não tem ele sempre que permanecer à mercê desses capitalistas para qualquer porção que seja dos frutos do seu próprio trabalho que eles possam pensar apropriado deixar à sua disposição como compensação pelas suas labutas?» (P. 125.) «... em proporção ao montante de produto sonegado, chame-se-lhes lucros ou impostos, ou roubo...» (p. 126), etc.

Confesso que escrevo estas linhas não sem uma certa vergonha. Que a literatura anticapitalista inglesa dos anos vinte e trinta seja tão completamente desconhecida na Alemanha, não obstante Marx já na Misère de la Philosophie se referir directamente a ela e a muito dela — o panfleto de 1821, Ravenstone, Hodgskin, etc. — ser citado várias vezes no primeiro volume do Capital, isso ainda pode passar. Mas que, não apenas o literatus vulgaris,(43*) que se agarra com desespero às abas do casaco de Rodbertus, «que realmente também não aprendeu nada»,(44*) mas também o Professor em funções e cumulado de honrarias [in Amt und Würden],(45*) que «faz alarde de erudição»,(46*) tenha esquecido a sua economia clássica ao ponto de seriamente acusar Marx de ter roubado a Rodbertus coisas que já se podem ler em A. Smith e Ricardo — isso prova quão baixo a economia oficial hoje chegou.

Que disse então Marx de novo sobre a mais-valia? Como é que acontece que a teoria da mais-valia de Marx tenha caído como um raio de céu limpo, e isso em todos os países civilizados, enquanto as teorias de todos os seus antecessores socialistas, incluindo Rodbertus, rebentaram sem produzir efeito?

A história da química pode mostrar-nos isto com um exemplo.

Ainda pelos finais do século passado [século XVIII] dominava, como se sabe, a teoria flogística, segundo a qual a essência de toda a combustão consistia em que do corpo em combustão se separa outro corpo, hipotético, uma matéria combustível absoluta, que foi designada pelo nome de flogisto. Esta teoria chegava para explicar a maioria dos fenómenos químicos então conhecidos, se bem que em vários casos não sem recurso à violência. Então em 1774 Priestley preparou uma espécie de ar

«que ele verificou [ser] tão puro ou tão livre de flogisto que o ar habitual em comparação com ele parecia já viciado».

Chamou-lhe: ar desflogistizado. Pouco depois, Scheele, na Suécia, preparou a mesma espécie de ar [Luftart], e demonstrou a sua presença [Vorhandensein] na atmosfera. Também verificou que ele desaparecia quando se queimava um corpo no seu seio ou no ar habitual, e chamou-lhe, por isso, ar de fogo [Feuerluft],

«Destes resultados ele tirou a conclusão de que a combinação que surgia da reunião do flogisto com uma das partes componentes do ar» {portanto, na combustão} «não era mais do que fogo ou calor que escapava através do vidro.»(2)

Tanto Priestley como Scheele tinham preparado o oxigénio, mas não sabiam o que tinham entre mãos. Eles «permaneciam presos nas categorias» flogísticas «tal como as tinham encontrado».(47*) O elemento que havia de derrubar toda a intuição [Anschauung] flogística e revolucionar a química estava nas suas mãos ferido de esterilidade. Mas Priestley tinha logo a seguir comunicado a Lavoisier, em Paris, a sua descoberta, e Lavoisier, tendo na mão este facto novo, investigou toda a química flogística, [e] descobriu primeiro que a nova espécie de ar era um novo elemento químico, que na combustão não é o misterioso flogisto que se liberta [weggeht] do corpo em combustão, mas que este novo elemento se combina com o corpo; e assim colocou pela primeira vez sobre os pés toda a química, que na sua forma flogística estava de cabeça para baixo. E ainda que ele não tenha preparado o oxigénio ao mesmo tempo que os outros e independentemente deles, como mais tarde afirmou, permanece, todavia, como o descobridor [Entdecker] propriamente dito do oxigénio, face aos [outros] dois que o tinham meramente preparado sem sequer suspeitarem do que tinham preparado.

Tal como Lavoisier está para Priestley e Scheele, assim está Marx para os seus predecessores na teoria da mais-valia. A existência [Existenz] da parte de valor dos produtos [Produktenwertteil] a que agora chamamos mais-valia foi estabelecida muito antes de Marx; do mesmo modo, estava enunciado, com maior ou menor claridade, aquilo em que ela consiste, a saber: no produto do trabalho pelo qual o apropriador [Aneigner] não pagou nenhum equivalente. Mais longe, porém não se pôde ir. Uns — os economistas burgueses clássicos —, investigaram, no máximo, a proporção em que o produto de trabalho se reparte entre o operário e o possuidor dos meios de produção. Os outros — os socialistas — acharam esta repartição injusta e procuraram, por meios utópicos, eliminar a injustiça. Ambos permaneceram presos nas categorias económicas tal como as tinham encontrado.

Então entrou Marx em cena. E [fê-lo] em oposição directa a todos os seus predecessores. Onde estes tinham visto uma solução ele viu apenas um problema. Viu que o que havia aqui não era nem ar deflogistizado nem ar de fogo, mas oxigénio — que não se tratava aqui ou da mera constatação de um facto económico, ou do conflito deste facto com a justiça eterna e a moral verdadeira, mas de um facto que estava chamado a revolucionar a economia toda e que fornecia — a quem o soubesse utilizar — a chave para o entendimento de toda a produção capitalista. Tendo na mão este facto, ele investigou todas as categorias que encontrou, tal como Lavoisier, tendo na mão o oxigénio, tinha investigado as categorias que encontrou da química flogística. Para saber o que era a mais-valia tinha que saber o que era o valor. A própria teoria do valor de Ricardo tinha, antes de tudo, que ser submetida à crítica. Marx, portanto, investigou o trabalho na sua qualidade de formador de valor [wertbildend] e estabeleceu pela primeira vez que trabalho e porquê e como ele forma valor, e que o valor, em geral, nada mais é do que trabalho coagulado desta espécie [Art] — um ponto que Rodbertus até ao fim não compreendeu. Marx investigou depois a relação entre mercadoria e dinheiro, e demonstrou como e porquê, devido à propriedade de valor que lhe é inerente, a mercadoria e a troca de mercadorias [Warenaustausch] têm que gerar a oposição entre mercadoria e dinheiro; a sua teoria do dinheiro, fundada nisto, é a primeira exaustiva e agora de modo tácito universalmente aceite. Investigou a transformação de dinheiro em capital, e demonstrou que ela repousa sobre a compra e a venda da força de trabalho. Ao colocar aqui a força de trabalho, a propriedade [Eigenschaft] criadora de valor, no lugar do trabalho, ele resolveu de um golpe uma das dificuldades em que a escola de Ricardo se tinha afundado: a impossibilidade de pôr em consonância a troca recíproca de capital e trabalho com a lei ricardiana da determinação do valor [Wertbestimmung] pelo trabalho. Ao constatar a diferenciação do capital em constante e variável, conseguiu pela primeira vez expor o processo de formação da mais-valia na sua marcha real até aos mais pequenos pormenores — e, portanto, explicá-lo, coisa que nenhum dos seus predecessores tinha logrado fazer; constatou, portanto, [a existência de] uma diferença no interior do próprio capital, com a qual nem Rodbertus nem os economistas burgueses estavam em condições de empreender um mínimo [que fosse], a qual, porém, fornece a chave para a solução dos mais complicados problemas económicos, de que aqui, uma vez mais, o Livro II e mais ainda — como se mostrará — o Livro III, são a prova mais contundente. Continuou a investigar a própria mais-valia, encontrou as suas duas formas: mais-valia absoluta e [mais-valia] relativa, e demonstrou o diverso, mas em ambos os casos decisivo, papel que ela desempenha no desenvolvimento histórico da produção capitalista. Na base da mais-valia, ele desenvolveu a primeira teoria racional que temos do salário e forneceu pela primeira vez os traços fundamentais de uma história da acumulação capitalista e uma exposição da sua tendência histórica.

E Rodbertus? Após ter lido tudo isto, ele — como sempre economista tendencioso [Tendenzökonom] — acha aí uma «efracção à sociedade»;[N6] acha que ele próprio já tinha dito, de um modo muito mais curto e claro, de onde surgia a mais-valia; e acha por fim que, com efeito, tudo se ajusta à «forma hodierna de capital», i. é, ao capital como historicamente subsiste, mas não «ao conceito de capital», i. é, à representação utópica do capital do senhor Rodbertus. Exactamente como o velho Priestley que até ao fim jurou pelo flogisto e nada quis saber do oxigénio. Só que Priestley tinha preparado realmente pela primeira vez o oxigénio, enquanto Rodbertus com a sua mais-valia, ou antes com a sua «renda», apenas tinha redescoberto um lugar comum [Gemeinplatz], e que Marx, em oposição ao procedimento de Lavoisier, rejeitou afirmar ter sido ele o primeiro a revelar o facto da existência da mais-valia.

O que, para além disso, Rodbertus realizou, no domínio da economia [ökonomisch], situa-se ao mesmo nível. A sua elaboração da mais-valia em uma utopia já foi inintencionalmente criticada por Marx na Misère de la Philosophie; o que mais havia a dizer a esse respeito disse eu no prefácio da tradução alemã desse escrito.(48*)

A sua [de Rodbertus] explicação das crises do comércio pelo sub-consumo da classe operária acha-se já em Sismondi, Nouveaux Príncipes de l'économique politique, liv. IV, cap. IV.(3) Só que Sismondi tinha aí sempre em vista o mercado mundial, enquanto o horizonte de Rodbertus não vai além da fronteira prussiana. As suas especulações sobre se o salário provém de capital ou de rendimentos [Einkommen] pertencem à escolástica, e liquidam-se definitivamente pela terceira secção deste segundo livro do Capital. A sua teoria das rendas permaneceu sua propriedade exclusiva, e pode continuar a dormitar até que apareça o manuscrito de Marx que a critica.(49*) Por fim, as suas propostas para a emancipação da veteroprussiana propriedade fundiária relativamente à opressão do capital são de novo utópicas de uma ponta à outra; elas evitam, nomeadamente, a única questão prática de que aqui se trata — a questão: como pode o velho latifundiário rural [Landjunker] veteroprussiano receber todos os anos, digamos 20 000 marcos e despender qualquer coisa como 30 000 marcos e, no entanto, não contrair dívidas?

A escola de Ricardo soçobrou, por volta de 1830, pela [questão da] mais-valia. O que ela não podia resolver permaneceu, com mais razão, irresolúvel para a sua seguidora, a economia vulgar [Vulgärökonomie]. Os dois pontos em que ela [a escola de Ricardo] se afundou foram estes:

Primeiro. O trabalho é a medida do valor. Ora, o trabalho vivo, na troca com o capital, tem, porém, um valor menor do que o trabalho objectivado [vergegenständlichte Arbeit] contra o qual é trocado. O salário, o valor de um determinado quantum de trabalho vivo, é sempre menor do que o valor do produto que é criado por este mesmo quantum de trabalho vivo ou no qual este se expõe. A questão, nesta formulação, é de facto, irresolúvel. Ela foi correctamente colocada por Marx, e, desse modo, respondida. Não é o trabalho que tem um valor. Como actividade criadora de valor, ele [o trabalho] tão-pouco pode ter um valor particular, como a gravidade um peso particular, o calor uma temperatura particular, a electricidade uma intensidade de corrente particular. Não é o trabalho que, como mercadoria, é comprado e vendido, mas a força de trabalho. Logo que ela se toma mercadoria, o seu valor regula-se pelo trabalho nela incorporado — como um produto social —; [o seu valor] é igual ao trabalho socialmente preciso para a sua produção e reprodução. A compra e venda da força de trabalho em razão deste seu valor não contradiz, portanto, de modo nenhum a lei económica do valor.

Segundo. De acordo com a lei ricardiana do valor, dois capitais que empregam um tanto igual de trabalho vivo, e o pagam igualmente alto, produzem em tempos iguais — permanecendo todas as outras circunstâncias iguais — produtos de igual valor e, do mesmo modo, mais-valia ou lucro de igual montante. Mas se empregarem conjuntos desiguais de trabalho vivo não podem produzir mais-valia, ou — como dizem os ricardianos — lucro, de igual montante. Ora, o caso é, porém, o contrário. Efectivamente, capitais iguais produzem em média lucros iguais em iguais períodos de tempo — indiferentemente do muito ou do pouco trabalho vivo que empregam. Aqui reside, portanto, uma contradição relativamente à lei do valor, que já Ricardo encontrara e que a sua escola foi igualmente incapaz de resolver. Também Rodbertus não pôde deixar de ver esta contradição; em vez de a resolver, fez dela um dos pontos de partida da sua utopia. (Zur Erk., p. 131.) Esta contradição tinha-a já Marx resolvido no manuscrito Zur Kritik;(50*) a solução sucede, segundo o plano do Capital, no Livro III.(51*) Até à sua publicação decorrerão ainda meses. Os economistas, portanto, que querem descobrir em Rodbertus a fonte secreta de Marx e um antecessor que o supera têm aqui uma oportunidade para mostrar o que a economia de Rodbertus pode efectuar. Se provarem, não só sem lesão da lei do valor, mas, antes, na base dela, como pode e tem que se formar uma taxa de lucro média igual, então queremos continuar a falar uns com os outros. Entretanto, que tenham a amabilidade de se apressarem. As brilhantes investigações deste Livro II, e os seus resultados completamente novos, em domínios em que até agora quase se não entrou, são apenas premissas para o conteúdo do Livro III, que desenvolve os resultados conclusivos da exposição de Marx do processo social de reprodução em base capitalista. Quando esse livro III aparecer, muito pouco se falará de um economista [chamado] Rodbertus.

Os Livros segundo e terceiro(52*) do Capital deviam ser dedicados, como Marx frequentemente me disse, à sua mulher.

London, no dia dos anos de Marx, 5 de Maio de 1885.

Friedrich Engels


Notas de rodapé:

a) Notas da edição portuguesa:

(1*) Este manuscrito será publicado em Marx/Engels, Gesamtausgabe (doravante: MEGA2), vol. II/4.3. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(2*) Ver MEGA2, vols. II/3.1-3.6. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(3*) Ver MEW, vol. 13, pp. 3-160. (Nota da edição alemã.) Ver MEGA2, vol. 11/2, pp. 95-255. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(4*) Os textos do Manuscrito I referentes ao Livro II de O Capital encontram-se publicados em MEGA2, vol. II/4.1, pp. 137-381. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(5*) Ver MEGA2, vol. 11/11, pp. 1-522. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(6*) Ver MEGA2, vol. 11/11, p. 539. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(7*) Ver MEGA2, vol. 11/11, pp. 525-548. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(8*) Ver MEGA2, vol. 11/11, pp. 556-660. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(9*) Ver MEGA2, vol. 11/11, pp. 665-678. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(10*) Ver MEGA2, vol. II/11, pp. 684-697. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(11*) Ver MEGA2, vol. II/11, pp. 698-828. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(12*) Ver Karl Marx/Frederick Engels, Collected Works, International Publishers, New York, 1995, vol. 47, p. 39. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(13*) Ver MEW, vol. 4, pp. 558-569. (Nota da edição alemã.) Cf. K. Marx, Miséria da Filosofia, Edições «Avante!», Lisboa, 1991, pp. 9-24. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(14*) Ver MEW, vol. 4, pp. 63-182. (Nota da edição alemã.) Cf. K. Marx, Miséria da Filosofia, ed. cit. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(15*) Ver MEW, vol. 6, pp. 397-423. (Nota da edição alemã.) Cf. K. Marx, F. Engels, Obras Escolhidas em três tomos. Edições «Avante!»-Edições Progresso, Lisboa-Moscovo, t-1, 1982, pp. 142-177. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(16*) Ver MEW, vol. 26.2, pp. 7 e segs. (Nota da edição alemã.) Ver MEGA2, vol. II/3.3, pp. 673-813. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(17*) Em latim no texto: quantidade; plural: quanta. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(18*) A categoria dialéctica Darstellung, que podemos traduzir por «exposição», denota uma mostração ou apresentação de algo que, no entanto, envolve igualmente um seu desdobramento. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(19*) Em inglês no texto da tradução de Engels. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(20*) Ver a Smith, An Inquiry into Nature and Causes of the Wealth of Nations, London, 1843, vol. I, pp. 131-132. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(21*) Ibid, p. 134. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(22*) Ver MEW, vol. 26.1, p. 53. (Nota da edição alemã.) Ver MEGA2, vol. II/3.2. p. 375. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(23*) Em inglês no texto da tradução de Engels. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(24*) Ver A. Smith, An Inquiry into Nature and Causes of the Wealth of Nations, ed. cit., pp. 172-173. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(25*) Ver MEW, vol. 26.1, pp. 56. (Nota da edição alemã.) Ver MEGA2, vol. II/3.2, p. 377. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(26*) Ver MEW, vol. 26.1, p. 53. (Nota da edição alemã.) Ver MEGA2, vol. II/3.2, p. 375. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(27*) Ver MEW, vol. 23, pp. 543-547. (Nota da edição alemã.) Cf. a presente edição, Livro I. Tomo II, pp. 590-594. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(28*) Ver MEW, vol. 23, p. 614. (Nota da edição alemã.) Cf. a presente edição, Livro 1. Tomo I, p. 670. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(29*) Em inglês no texto: «Os possuidores de sobreproduto ou capital». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(30*) Em inglês no texto da tradução de Engels. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(31*) Em inglês no texto da tradução de Engels, o qual traduz por: «Não se contesta» (Man bestreitet nicht). (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(32*) Para além de uma eventual contaminação pelo inglês interest (juro), encontra-se ao tempo lexicalmente atestado que lnteressen também pode significar Rente (rendas). (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(33*) Ver MEW, vol. 26, pp. 234-235. (Nota da edição alemã.) Ver MEGA2, vol. II/3.4, p. 1370. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(34*) Em inglês no texto: “lucro”. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(35*) Em latim no texto: gratuitamente. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(36*) Ver MEW, vol. 26.3, p. 250. (Nota da edição alemã.) Ver MEGA2, vol. II/3.4. p. 1385-1386. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(37*) Em MEW, vol. 26.3, p. 250, e MEGA2, vol. II/3.4, p. 1385: interest of capital. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(38*) Em inglês no texto: calão. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(39*) Ver MEW, vol. 4, p. 98. (Nota da edição alemã.) Cf. K. Marx, Miséria da Filosofia, ed. cit, p. 65. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(40*) Em inglês no texto: uma nova edição. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(41*) Na 1.ª e 2.ª edições: 1827. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(42*) Na sua tradução, Engels explicita: «o operário produtivo sem posses [besitzlos], que não possui nada além da sua capacidade para produzir». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(43*) Em latim no texto: literato vulgar. Alusão a Rudolf Meyer. (Nota da edição portuguesa) (retornar ao texto)

(44*) Engels usa aqui um verso do poema satírico de Heinrich Heine, Jung-Katerverein für Poesiemusik (literalmente: Sociedade de Jovens Gatos para a Música Poética) de 1853. (Nota da edição portuguesa) (retornar ao texto)

(45*) Alusão a Adolph Wagner. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(46*) Engels usa aqui um verso do poema satírico de Heinrich Heine, Jung-Katerverein für Poesiemusik (literalmente: Sociedade de Jovens Gatos para a Música Poética) de 1853. (Nota da edição portuguesa) (retornar ao texto)

(47*) Ver o presente tomo, p. 21. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(48*) Ver MEW, vol. 4, pp. 558-569. (Nota da edição alemã.) Cf. K. Marx, Miséria da Filosofia, ed. cit., p. 10. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(49*) Ver MEW, vol. 26.2, pp. 7-106. (Nota da edição alemã.) Ver MEGA2, vol. II/3.3, pp. 673-813. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(50*) Ver MEW, vol. 26.2, pp. 19-24,58-65,170-234,428-470. (Nota da edição alemã.) Ver também MEGA2, vol. II/3.5, pp. 1598-1672. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(51*) Ver MEW, vol. 25, 1 e 2 secções. (Nota da edição alemã.) (retornar ao texto)

(52*) Na 1.ª edição: «Este segundo livro...». (Nota da edição portugesa.) (retornar ao texto)

b) Notas da edição publicada por Engels:

(1) No prefácio a: Das Elend der Philosophie. Antwort auf Proudhons Philosophie des Elends, de Karl Marx. Tradução alemã de E. Bernstein e K. Kautsky, Stuttgart, 1885(13*) (retornar ao texto)

(2) RoscoeSchorlemmer, Ausführliches der Chemie, Braunschweig, 1877, [vol.] I, pp. 13, 18. (retornar ao texto)

(3) «Assim, portanto, pela concentração das fortunas entre um pequeno número de proprietários, o mercado interior estreita-se cada vez mais, e a indústria é cada vez mais reduzida a procurar as suas saídas nos mercados estrangeiros, onde maiores revoluções as esperam» (a saber: a crise de 1817, que é descrita logo a seguir). Nouv. Princ., éd. 1819, [vol.] I, p. 336. (retornar ao texto)

c) Notas de fim de tomo:

[N1] Engels já não pôde realizar a sua intenção de editar as Teorias acerca da Mais-Valia como quarto volume de O Capital. As Teorias acerca da Mais-Valia foram publicadas pela primeira vez, nos anos de 1905 a 1910, por Karl Kautsky. Esta edição contém, no entanto, toda uma série de desvios arbitrários relativamente ao manuscrito de Marx, um ordenamento erróneo do material, bem como frequentes omissões de secções importantes. Uma nova edição em língua alemã das Teorias acerca da Mais-Valia foi preparada pelo Instituto para o Marxismo-Leninismo junto do Comité Central do Partido Socialista Unificado da Alemanha, e apareceu de 1956 a 1962. (Cf. o prefácio das MEW, vol. 26.1.). (retornar ao texto)

[N2] Socialistas de cátedra [Kathedersozialisten] e socialistas de Estado [Staats-sozialisten] — orientação da Economia Política burguesa na Alemanha, que surgiu nos anos 70 do século XIX. Os socialistas de cátedra (Gustav Schmoller, Lujo Brentano, Adolph Wagner, Karl Bücher, Werner Sombart, entre outros) eram inimigos rancorosos do marxismo e representavam um reformismo burguês. Propagavam a paz de classe entre burguesia e proletariado, procuravam enfraquecer a luta de classes e propunham algumas reformas sociais, para reprimir a influência da social-democracia revolucionária e reconciliar os operários com o Estado prussiano reaccionário. Apresentavam como «Socialismo de Estado» a estatização dos caminhos-de-ferro prosseguida pelo governo prussiano e a introdução do monopólio estatal do tabaco e da aguardente, planeada por Bismarck. Marx e Engels travaram uma luta consequente contra o socialismo de cátedra e desmascaram a sua essência reaccionária e não-científica. (retornar ao texto)

[N3] Engels remete aqui para uma carta de Rodbertus a J. Zeller de 14 de Março de 1875, que foi publicada pela primeira vez em 1879 na Zeitschrift für die gesammte Staatswissenschaft de Tübingen. (retornar ao texto)

[N4] Rodbertus - Jagetzow, Soziale Briefe an von Kirchmann. Drietter Brief: Widerlegung der Ricardo’sschen Lehre von der Grundrente und Begründung einer neuen Rententheorie, Berlin, 1851, p. 87. (retornar ao texto)

[N5] «Este incrível sapateiro» (this most incredible cobler) — designação dada por John Wilson MacCulloch numa brochura, publicada com o pseudónimo de Mordecai Mullion: Some Illustrations of Mr. M’Culloch’s principies of political economy, Edinburgh, 1826. (retornar ao texto)

[N6] Rodbertus - Jagetzow, Briefe und Socialpolitische Aufsätze, ed. Rudolph Meyer, Berlin, [1881], vol. I, p. 111. (retornar ao texto)

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Inclusão: 18/12/2023