Carta a Marx
(em Londres)

Friedrich Engels

24 de Maio de 1876


Fonte: Materialismo e Empiro-Criticismo, Editorial Calvino Ltda., Rio, 1946, pág. 492-493.
Tradução: Abguar Bastos
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
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3 Adelaide Gardens. Ramsgate.
Querido Moro.

Acabo de receber as duas cartas que te envio. A maldição dos agitadores a soldo, dessas gentes meio cultos, pesa terrivelmente sobre o nosso partido na Alemanha. Se as coisas continuarem assim, cedo os lassallianos serão as cabeças mais esclarecidas, já que menos disparates assimilam, e os livros de Lassalle os recursos de agitação menos nocivos.

Gostaria de saber o que, a rigor, esse Most deseja de nós e o que temos ainda de fazer para agradá-lo. É evidente que, segundo o modo de pensar dessa gente, Dühring se fez inviolável para nós com os seus vis e repugnantes ataques contra ti, pois, se quisermos pôr em ridículo suas parvoíces teóricas, na certa dirão que é uma vingança por questões pessoais. Quanto mais grosseiramente se porta tanto mais humildes e submissos nos devemos comportar e ainda temos que agradecer ao Sr. Most que, além de nos pedir que assinalemos as falhas do Sr. D[ühring] — como se se tratasse somente de falhas! — com toda benevolência e discrição, para que as corrija na próxima edição, não nos diga que lhe beijemos também o traseiro. Esse homem, quero dizer Most, foi capaz de condensar todo O Capital sem entender uma só palavra, como o prova redondamente essa carta, e, com isso, fica mais do que retratado. Todas essas tolices seriam impossíveis se, ao invés de Guilherme (Guilherme Liebknecht) , estivesse à frente (do partido) um homem de alguma penetração teórica, por menor que fosse, alguém que não entregasse às tipografias, com verdadeira fruição, a primeira baboseira que lhe viesse às mãos (quanto mais tola, melhor), recomendando-a aos operários com toda a autoridade do Volkestaat.

Enfim, a história deixou-me furioso e é o caso de se perguntar se já não chegou a hora de se refletir seriamente sobre a nossa posição vis-à-vis com a desses cavalheiros. Para o mentecapto Guilherme tudo isso não passa de ótimo pretexto para insistir pedindo originais. Grande chefe de Partido!...

Neste momento, vejo que Gui[lherme] me enviou, registado, o manuscrito inteiro de Most. Não sei se isso é permitido no correio internacional e é provável que não chegue. Contudo, queres saber se já chegou, e, no caso positivo, enviá-lo quanto antes? Eu estarei aqui até sexta-feira da próxima semana. Mrs. Leeson te dirá onde por os papeis, etc., que chegaram para mim.

Outras cartas sobre as origens do Anti-Dühring
1ª Carta a Marx (em Londres) - 24 de Maio de 1876
Carta a Engels (em Ramsgate) - 25 Maio 1876
Carta a Marx (em Londres) - 28 Maio de 1876
Carta a Marx (em Londres) - 25 Julho 1876
Carta a Marx (em Karlsbad) - 25 Agosto 1876
Carta a Engels (em Brighton) - 5 Março 1877
Carta a Engels (em Brighton) - 7 Março 1877

 


Inclusão