Escritos sobre a Guerra Civil Americana
Artigos do New-York Daily Tribune, Die Presse e outros (1861-1865)

Karl Marx e Friedrich Engels


Seção IV. Desdobramentos do conflito
Linha do tempo II - A Guerra Civil de 1861 a 1865


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Esta segunda linha do tempo trata de eventos posteriores ao final de 1861, relativos a alterações dos jogos de poder dentro dos EUA, além de repercussões internacionais da guerra conforme ela se estendeu até 1865.

13/5/1861: A rainha Vitória declara a neutralidade da Grã-Bretanha perante o conflito estadunidense. No mês seguinte, em 10 de junho, Napoleão III fará o mesmo com a França.

21/7/1861: Batalha de Bull Run. Esta primeira grande batalha da guerra tem a vitória confederada; sobreviventes do exército da União fogem das forças inimigos (como uma boiada foge do vaqueiro; daí vem o nome do evento, “Corrida dos bois”) e, na mídia internacional, são humilhados.

25/7/1861: O Congresso dos EUA passa a Resolução Crittenden, criticada por Marx em A questão americana na Inglaterra (18/9/1861). O documento atesta que os estados do Norte abrem mão da abolição da escravatura caso a União seja preservada. A ala abolicionista se enfurece. O documento atesta o desacordo, dentro dos próprios unionistas, acerca da questão do negro.

27/7/1861: O general George McClellan, veterano da Guerra México-Americana, assume o comando das forças federais em Washington. McClellan viria a receber destaque como estrategista, encontrando vulnerabilidades do exército inimigo e estabelecendo uma rota fluvial para Richmond (capital dos Confederados) pela primeira vez. Por razões políticas, a partir de 1862 instalou-se uma inimizade entre o presidente Lincoln e McClellan, o que resultou na demissão do último em novembro desse ano. McClellan, como Marx comenta no artigo Para uma crítica dos assuntos americanos, era um racista incorrigível e contrário à emancipação afro-americana.

30/8/1861: O general unionista John Frémont proclama lei marcial no Missouri.

8/11/1861: O capitão Charles Wilkes apreende dois oficiais confederados a bordo do navio britânico SS Trent. O incidente inicia uma das grandes crises diplomáticas entre Reino Unido e União, que quase leva a Inglaterra entrar para o lado dos Confederados. Marx e Engels comentam os desdobramentos do evento em diversos artigos da época (ver Seção V deste volume).

9/3/1862: O navio dos unionistas Monitor enfrenta o Virginia próximo a Hampton Roads. Engels usa essa batalha para comentar inovações em tecnologia naval da época no artigo Novidades da América sobre artilharia.

16/4/1862: O Congresso Confederado instaura uma nova lei de conscrição. Homens entre 18 e 35 anos devem se alistar no serviço militar.

25/4/1862: Captura de Nova Orleans pelos unionistas. A importância do evento é comentada por Marx em A situação no teatro de guerra americano.

6/6/1862: Memphis, Tennnessee, é capturada pelas forças unionistas.

17/9/1862: Batalha de Antietam. O dia com mais perdas humanas de toda a guerra: em um único dia de conflito 22.717 soldados perdem a vida, são mutilados, gravemente feridos ou desaparecem. O exército da União foi liderado por McClellan; o da Confederação, por Robert E. Lee. Não há vencedores decisivos.

22/9/1862: Abraham Lincoln confecciona a primeira versão da Emancipation Proclamation, declarando livres todos os escravizados dentro de territórios confederados. A versão definitiva da proclamação, de 1/1/1863, viria a ser tornar a 13ª emenda à Constituição dos EUA.

7/11/1862: McClellan é exonerado de seu cargo e substituído por Ambrose Burnside. Dois anos mais tarde, McClellan sairá como candidato à presidente do Partido Democrata, contra Lincoln. Burnside, por sua vez, prova ser um militar medíocre, e é logo substituído por Joseph Hooker em 23/1/1863.

3/3/1863: Lei da conscrição. O Congresso da União intensifica as leis de alistamento compulsório. Quatro meses mais tarde haverá uma onda de protestos violentos contra o alistamento na cidade de Nova Iorque.

A partir desse mês, Karl Marx deixa de contribuir com o New-York Daily Tribune, dedicando-se à divulgação de eventos da guerra no Die Presse. Ver comentários no posfácio deste volume.

1/7/1863: Início da famosa batalha de Gettysburg, Pennsylvania, um dos momentos de virada da guerra. Robert E. Lee, general que acumulava glórias no campo de batalha por meses, tenta invadir o Norte, mas perde suas melhores tropas em uma campanha exemplar de resistência de seus oponentes. As vantagens das forças da União se intensificam quando assumem controle de Port Hudson, Louisiana, no dia 9 do mesmo mês. A conquista garante o controle da região norte ao Rio Mississippi, impedindo movimentações e abastecimentos importantes das forças confederadas.

Cinco meses mais, Lincoln promoveria uma cerimônia em homenagem aos soldados mortos na batalha, declamando o famoso Gettysburg Address.

12/3/1864: O general Ulysses S. Grant é nomeado como comandante supremo das forças da União em campanhas do Oeste.

8/11/1864: Abraham Lincoln é reeleito presidente dos Estados Unidos.

14/4/1865 Abraham Lincoln é alvejado por John Wilkes Booth no Ford’s Theatre em Washington e falece no dia seguinte. Andrew Johnson o substitui. O assassino é rendido e alvejado onze dias depois em Bowling Green, Virginia.

10/5/1865: O presidente Jefferson Davis é levado como prisioneiros por tropas da União em Irwinsville, Geórgia. Dezesseis dias depois, todas as tropas confederadas terão se rendido.

1866: As Civil Rights Acts (Leis dos direitos civis) passam no Congresso, contra o posicionamento do então presidente Andrew Johnson, provendo cidadania aos negros libertos. O ano é marcado por conflitos violentos entre a população branca e negra em Memphis, Tennessee e Nova Orleans, Louisiana. Johnson recebe lideranças negras na Casa Branca (incluindo Frederick Douglass) e deixa evidente sua falta de interesse em integrar os ex-escravizados à Commonwealth. Até a virada do século, os estados do Sul e do Norte, um por um, terão criado leis de interdição de votos para a população negra. Esta reconquistará seu direito de plena cidadania somente no século seguinte, com as conquistas do Movimento dos Direitos Civis em 1964. Tal acidente de percurso dá indício do fracasso relativo do processo de Reconstrução social dos EUA – período em que estados sulistas permaneceram sob vigília militar do governo federal, tendo a tarefa imposta de promover integração da população negra à sociedade civil e ao processo democrático.

1867: O grupo terrorista Ku Klux Klan adota uma constituição e elege como seu primeiro líder o antigo general confederado Nathan Bedford. Membros do Klan farão parte da alta cúpula do governo americano, até onde foi provado, até 1989, com o candidato à presidência David Duke.

24/02/1868: O presidente Johnson sofre impeachment em decorrência de onze acusações diferentes.

1877: Como parte de uma barganha com o novo presidente do Partido Republicano, Rutherford Hayes, estados do Sul conseguem suspender o sistema de vigilância militar por parte de tropas federais. O evento marca o fim da Era da Reconstrução. Até 1910, não havia um estado sulista que não voltara a fazer emendas em suas constituições para proibir o voto negro. Apenas em 1965, com o movimento dos Direitos Civis, que a décima quinta emenda à Constituição federal se efetivou. Nesse ínterim, punições extrajudiciais promovidas por multidões enfurecidas – os chamados “linchamentos” – se tornam um evento comum contra comunidades afro-americanas. Estima-se que, entre 1882 e 1968, 3.446 afro-americanos foram assassinados impunemente nos Estados Unidos da América, muitas vezes com o aval da polícia local. Isso continua a acontecer.


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Inclusão: 18/08/2022