Manual de Economia Política

Academia de Ciências da URSS


Capítulo XVI — O Sistema Colonial do Imperialismo


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O Aparecimento do Sistema Colonial do Imperialismo. Essência do Colonialismo

As conquistas coloniais e a aspiração a formação de grandes impérios, através da escravização dos países e povos mais fracos, existiram também antes da época do imperialismo e mesmo antes do aparecimento do capitalismo. Todavia, como indicou Lênin, no período do imperialismo, o papel e a significação das colônias modifica-se essencialmente não só com relação as épocas pré-capitalistas, como também com relação ao período pré-monopolista do capitalismo.

A modificação do papel das colônias, na época do imperialismo, é condicionada pela substituição da livre concorrência pelo domínio dos monopólios nos países escravizadores de colônias e semicolônias. a exploração das colônias e dos países dependentes representa uma das fontes mais importantes dos elevados lucros monopolistas. A política colonial do imperialismo está indissoluvelmente ligada a conclusão da divisão territorial do mundo e a luta pela sua redivisão. Aos “velhos” métodos da política colonial se acrescenta a luta dos monopolistas pelas fontes de matérias-primas, pela exportação de capital, pelas esferas de influência, pelos territórios de importância econômica e militar-estratégica.

Com a conclusão da divisão territorial do mundo na época do imperialismo, culmina a criação do sistema colonial. O sistema colonial do imperialismo representa todo o conjunto de colônias, semicolônias e países dependentes, oprimidos e escravizados pelos Estados imperialistas.

Como resultado das anexações coloniais do período de 1876/1914, quase toda a África, grande parte da Ásia e a América Latina foram transformadas em colônias e semicolônias de uns poucos países imperialistas.

Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, dos 57 milhões de quilômetros quadrados de terras coloniais, 9,9 milhões cabiam a Itália, Holanda, Dinamarca. Bélgica, Portugal e Espanha. A Inglaterra contava com 47 milhões de habitantes, mas nas colônias inglesas habitavam mais de 480 milhões, ou seja, dez vezes mais; a França possuía 42 milhões de habitantes e as colônias francesas, 70 milhões; a Holanda com 9 milhões de habitantes e as colônias holandesas com 67,7 milhões; a Bélgica com 8 milhões e as colônias belgas com 14 milhões.

“É de todos sabido — escrevia Lênin — que as colônias foram conquistadas a ferro e fogo, que nas colônias a população é tratada selvagemente, que ela é explorada de mil maneiras (através da exportação de capital, das concessões, etc., do engodo na venda de mercadorias, da submissão aos poderes da nação “dominante”, assim por diante).”(87)

O colonialismo (a administração imperialista das colônias) deteve por longo tempo o desenvolvimento das forças produtivas nos países, nos quais vive a esmagadora maioria da humanidade, privando tais países das condições necessárias ao progresso econômico.

Da mais-valia produzida pelo penoso trabalho forçado de centenas de milhões de homens, nos países do mundo colonial, a maior parte é confiscada pelos monopolistas estrangeiros e uma outra parte se destina ao consumo não produtivo das classes dominantes das colônias. Esta sistemática pilhagem das colônias priva-as de recursos necessários ao desenvolvimento econômico. Ao mesmo tempo, o capital, que chega as colônias, se destina ao reforçamento da sua dependência econômica para com as potências imperialistas.

Em consequência, povos, que, desde os tempos mais antigos, trouxeram valiosa contribuição ao tesouro de cultura humana, ficaram numa situação de povos atrasados. Países antes riquíssimos, possuidores de enormes recursos naturais e de uma população amante do trabalho, foram condenados ao extremo atraso técnico, e os seus povos, a um miserável nível de vida. Tal foi o destino do grande povo hindu, que viveu dois séculos de dominação colonial britânica, o destino dos povos da Birmânia, da Indonésia, dos países do Oriente árabe, que somente há pouco se desvencilharam do jugo do colonialismo.

Os defensores do imperialismo difundem a mentirosa lenda de que o atraso dos povos coloniais, no terreno econômico e cultural, seria o resultado da sua indolência, da sua incapacidade para o autogoverno, etc.. Com este fundamento, eles declaram os povos escravizados da Ásia e da África, como “raça inferior”, que, pela própria natureza, está condenada a permanecer sob o poder da suposta “raça superior” dos senhores brancos. A realidade nada tem de comum com esta invencionice desumana. Na verdade, o desenvolvimento histórico dos povos da Ásia começou muito antes que os povos europeus entrassem na arena histórica. E, se o desenvolvimento econômico e político de muitos países da Ásia e da África, durante os últimos séculos, foi freado e eles permaneceram países subdesenvolvidos, a única causa disto reside na situação forçada em que se encontram, submetidos a monstruosa exploração dos colonizadores.

Através da ocupação e da pilhagem das colônias, os países imperialistas se esforçam para superar as suas crescentes contradições internas. Os gigantescos lucros, extorquidos das colônias, dão a burguesia monopolista a possibilidade de subornar algumas camadas de operários qualificados, por meio dos quais a burguesia se esforça para introduzir a desagregação no movimento operário. Ao mesmo tempo, a exploração das colônias conduz a um maior agravamento das contradições do sistema capitalista em conjunto.

As Colônias como Apêndices Agrários e de Matérias-Primas das Metrópoles

Na época do imperialismo, as colônias representam, antes de tudo, o mais seguro e vantajoso campo de aplicação de capital. Nas colônias, a oligarquia financeira dos países imperialistas dispõe do indivisível monopólio da aplicação de capital, recebendo elevados lucros monopolistas.

Penetrando nos países atrasados, o capital financeiro decompõe as formas pré-capitalistas de economia — pequeno artesanato, economia pequeno-camponesa seminatural — e suscita o desenvolvimento de relações capitalistas. Para o fim da exploração dos países coloniais e dependentes, os imperialistas constroem, nos seus territórios, estradas de ferro, criam empresas industriais, que asseguram o abastecimento de matérias-primas e gêneros alimentícios as metrópoles.

Ao mesmo tempo, os imperialistas estão interessados na conservação do atraso econômico das colônias, uma vez que este atraso é uma condição do seu domínio e exploração dos países dependentes. Os imperialistas freiam, de todas as maneiras, o desenvolvimento da indústria nacional nas colônias e países dependentes.

Mesmo ali, onde a indústria se encontra relativamente mais desenvolvida — por exemplo, em alguns países da América Latina —, desenvolvem-se somente a indústria extrativa e alguns ramos da indústria leve: têxtil, de couros, alimentícia. A indústria pesada, que é a base da independência econômica de cada país, é extremamente fraca; a construção de máquinas quase não existe. Os monopolistas dominantes aplicam medidas especiais a fim de impedir a criação da produção de instrumentos de produção: recusam as colônias e países dependentes créditos para este fim, não vendem patentes e equipamento necessário. O colonialismo obstaculiza a industrialização dos países dependentes.

Privadas de condições para o desenvolvimento industrial independentes, as colônias e semicolônias continuam países agrários. As fontes de existência da esmagadora massa da população destes países é a agricultura, agrilhoada por relações semifeudais. A estagnação e a decadência da agricultura detêm o crescimento do mercado interno.

A aspiração dos monopólios a extorsão, nas colônias, de massas sempre crescentes de matérias-primas e gêneros alimentícios conduz ao crescimento da indústria extrativa e do cultivo e elaboração primária de produtos agrícolas mercantis. A economia das colônias e semicolônias adquire um caráter extremamente unilateral. O imperialismo transforma os países escravizados em apêndices agrários e de matérias-primas das metrópoles.

A economia de muitos países coloniais e dependentes está especializada na produção de um ou dois produtos, que se destinam inteiramente a exportação. Assim é que, no período após a Segunda Guerra Mundial, o petróleo constitui 95% da exportação da Venezuela; o minério de estanho, 65% da exportação da Bolívia; o café, cerca de 60% da exportação do Brasil; o açúcar, mais de 80% da exportação de Cuba; a borracha e o estanho, 55% da exportação da Malaia; o café e o algodão, mais de 60% da exportação de Quênia e de Uganda; o cobre, cerca de 85% da exportação da Rodésia do Norte; o cacau, mais de 80% da exportação de Gana (África). O desenvolvimento unilateral da agricultura (a chamada monocultura) entrega países inteiros ao completo arbítrio dos monopolistas — açambarcadores de matérias-primas.

Em ligação com a transformação das colônias em apêndices agrários e de matérias-primas das metrópoles, cresce, em medida imensa, o papel das colônias como fontes de matérias-primas baratas para os países imperialistas. Quanto mais desenvolvido o imperialismo, tanto mais aguda a concorrência e a corrida por fontes de matérias-primas em todo o mundo, tanto mais desesperada a luta pela conquista de colônias. Nas condições da época atual, quando a indústria emprega volumes enormes de carvão, petróleo, algodão, minério de ferro, metais não ferrosos, borracha, etc., nenhum monopólio pode considerar-se garantido, se não tiver em suas mãos, fontes permanentes de matérias-primas.

As colônias e os países dependentes fornecem aos monopólios as matérias-primas, que lhes são necessárias, por baixos preços. O domínio monopolista das fontes de matérias-primas dá uma decisiva superioridade na luta de concorrência. A ocupação das fontes de matérias-primas baratas permite aos monopólios industriais ditar preços de monopólio no mercado mundial, vendendo os seus artigos por preços inflacionados.

Objeto de encarniçada luta são as fontes de diferentes tipos de matérias-primas estratégicas, necessárias para a condução da guerra: carvão, petróleo, minério de ferro, metais não ferrosos e raros, borracha, algodão, etc.. No decurso de uma série de decênios, as potências imperialistas — em primeiro lugar, os Estados Unidos e a Inglaterra — lutam pelo domínio monopolista de ricas fontes de petróleo. No período após a Segunda Guerra Mundial, cresceu, particularmente, o papel dos países do Oriente Próximo e do Oriente Médio (Irã e países árabes) na extração mundial de petróleo. Ao tempo em que a extração de petróleo em todos os países capitalistas aumentou, de 1938 a 1958, em 3,2 vezes, a extração de petróleo naquelas regiões cresceu em 13,3 vezes; a sua parte na extração total de petróleo elevou-se, neste período, de 7 a 27%. Atualmente (1º de janeiro de 1959), estão concentrados nas regiões citadas 71% de todas as reservas petrolíferas descobertas no mundo capitalista. Essas regiões supriam, em 1957, 72% de todas as necessidades da Europa ocidental em petróleo. Durante os últimos 20 anos (1938/1958), a parte dos monopólios americanos, na extração do petróleo do Oriente Próximo e do Oriente Médio, aumentou em 4 vezes, ao passo que a parte dos ingleses reduziu-se em quase duas vezes. A distribuição das reservas mundiais de petróleo toca não só nos interesses econômicos, como também nos interesses políticos das potências imperialistas.

Na época do imperialismo, cresce a importância das colônias como mercados de venda para as metrópoles. Utilizando uma política aduaneira, que lhes é conveniente, os imperialistas defendem os mercados de vendas coloniais contra a concorrência exterior. Desta maneira, os monopólios obtêm a possibilidade de vender a sua produção, nas colônias, por preços desmedidamente elevados, inclusive as mercadorias ruins, que não encontram saída em outros mercados.

A troca não equivalente entre as potências imperialistas e os países dependentes cresce constantemente. Os monopólios, que se ocupam do comércio com as colônias (compra de matérias-primas e venda de mercadorias industriais), obtêm enormes lucros. Os monopólios são verdadeiros amos de países inteiros, dispondo da vida e dos bens de dezenas de milhões de seres humanos.

As colônias servem de fonte de força de trabalho extremamente barata. A monstruosa exploração das massas operárias assegura rendimentos particularmente altos para os capitais invertidos no mundo colonial. Além disso, as metrópoles importam dos países dependentes centenas de milhares de operários, que executam as tarefas especialmente pesadas por uma miserável remuneração. Assim é que os monopólios dos Estados Unidos, particularmente os do sul do país, submetem a uma exploração desumana os operários do México e de Porto Rico, os monopólios da França fazem o mesmo com os operários norte-africanos, etc..

Uma ideia da grandeza do tributo, cobrado pelas metrópoles as colônias e semicolônias, é fornecida pelos seguintes cálculos, realizados com fundamento em dados oficiais.

Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, o tributo anual, extorquido pelo imperialismo inglês da Índia, representava 150 a 180 milhões de libras esterlinas, incluindo: 40 a 50 milhões, de lucros das inversões inglesas de capital; 25 a 30 milhões, de gastos estatais da Inglaterra, postos na conta da Índia; 25 a 30 milhões, de ingressos e vencimentos de funcionários ingleses e especialistas militares na Índia; 15 a 20 milhões, de comissões de bancos ingleses; 25 a 30 milhões, de ingressos do comércio; 20 a 25 milhões, de ingressos da navegação.

Os monopólios americanos receberam, em 1948, os seguintes ingressos dos países dependentes: 1,9 bilhões de dólares, de inversões de capital; 1,9 bilhões, de fretes, seguros e outras operações; 2,5 milhões, da venda de mercadorias por preços inflacionados; 1,2 bilhões, da compra de mercadorias por preços rebaixados; perfazendo um total de tributo monopolista de 7,5 bilhões de dólares. Deste total, não menos de 2,5 bilhões foram recebidos dos países da América Latina.

Na situação em que o mundo já está dividido e se encontra em curso a preparação para a luta armada pela sua redivisão, as potências imperialistas ocupam todos os territórios, que possuem ou podem possuir qualquer importância estratégica como pontos de apoio, como bases militar-navais ou aéreo-militares.

As colônias servem de fornecedoras de “carnes para canhão” as metrópoles. Na Primeira Guerra Mundial, bateram-se do lado da França cerca de um e meio milhão de soldados negros das colônias africanas. Em tempo de guerra, as metrópoles descarregam sobre as colônias uma parte considerável do seu ônus financeiro. Realiza-se nas colônias uma parte importante dos empréstimos de guerra; a Inglaterra utilizou largamente as reservas de divisas de suas colônias, ao tempo da Primeira e da Segunda Guerras Mundiais.

A rapinante exploração das colônias e países dependentes pelo imperialismo aguça a inconciliável contradição entre as necessidades essenciais da economia dos países oprimidos e os ávidos interesses egoístas dos colonizadores.

Os Métodos da Exploração Colonial das Massas Trabalhadoras. Particularidades da Estrutura de Classes dos Países Coloniais Dependentes

O traço característico dos métodos coloniais de exploração, que garantem os elevados lucros monopolistas ao capital financeiro das metrópoles, é a combinação do saque imperialista com as formas feudal-servis de exploração dos trabalhadores.

O desenvolvimento da produção mercantil e a expansão das relações monetárias, a expropriação da terra de massas imensas da população nativa e a destruição da pequena produção artesanal se processam ao lado da conservação artificial de sobrevivências feudais e a implantação de métodos de trabalho coercitivo e semi-coercitivo. Com o desenvolvimento das relações capitalistas, a renda em espécie é substituída, numa série de casos, pela renda em dinheiro, os impostos em espécie pelos impostos em dinheiro, o que acelera ainda mais a ruína das massas camponesas. Ao mesmo tempo, em muitos países dependentes, a forma predominante de arrendamento da terra permanece o arrendamento por uma parte do produto em espécie.

As classes dominantes nas colônias e semicolônias são os latifundiários feudais e os capitalistas. A classe dos capitalistas se divide em burguesia compradora e burguesia nacional. A burguesia compradora(88) é aquela parte da grande burguesia, que se encontra estreitamente ligada aos monopólios estrangeiros. São os grandes capitalistas locais, intermediários dos bancos estrangeiros, das firmas industriais e comerciais, etc., que representam os interesses do capital financeiro das potências imperialistas. Estes capitalistas ajudam os monopólios estrangeiros a explorar as fontes de matérias-primas e os mercados de venda das colônias. Os latifundiários feudais e a burguesia compradora constituem os vassalos do capital financeiro estrangeiro, a agência direta do imperialismo internacional, que escraviza as colônias e semicolônias.

Com o desenvolvimento da sua própria indústria, cresce a burguesia nacional, que se encontra numa situação dúplice: por um lado, a opressão do imperialismo estrangeiro e das sobrevivências feudais barra-lhe o caminho ,ao domínio econômico e político; mas, por outro lado, a sua existência está ligada a exploração da classe operária e do campesinato. Na medida em que a luta de libertação nacional dos países coloniais e dependentes é dirigida, antes de tudo, no sentido da derrubada do domínio do imperialismo, da conquista da independência nacional e da liquidação das sobrevivências feudais, a burguesia nacional participa desta luta, desempenhando determinado papel progressista.

A classe operária cresce nas colônias e países dependentes a medida em que se desenvolve a indústria e se expandem as relações capitalistas. A sua parte avançada é o proletariado industrial. Na composição do proletariado entram também as massas de operários agrícolas (jornaleiros), de operários das manufaturas capitalistas e das pequenas empresas, de jornaleiros urbanos, ocupados com toda a espécie de trabalho manual.

Pela sua quantidade, o campesinato é a massa fundamental da população das colônias e semicolônias. Em sua parte esmagadora, consiste de camponeses sem terra ou com pouca terra — camponeses pobres e médios. A burguesia rural consiste de camponeses ricos, comerciantes e usurários. A numerosa pequena burguesia urbana é representada pelos pequenos comerciantes e artesãos.

A concentração da propriedade da terra em mãos dos latifundiários e usurários é completada pela conquista de vastas posses territoriais pelos colonizadores. Numa série de colônias, o imperialismo criou uma economia de plantações.

As plantações são grandes empresas agrícolas para a produção de determinados tipos de matérias-primas vegetais (algodão, borracha, juta, café, etc.), pertencentes de preferência aos colonizadores e baseadas numa baixa técnica e no trabalho semiescravo da população sem direitos.

Numa série de países, o colonialismo conserva as formas diretas da corveia e do pagamento em trabalho: pelo arrendamento ou por dívidas, os camponeses sem terra são obrigados a trabalhar alguns dias da semana para o latifundiário. A extrema necessidade obriga o camponês a contrair dívidas e a se tornar um servo e, as vezes, um escravo do usurário; ocorrem casos em que o camponês é obrigado a vender membros de sua família como escravo. Amplamente difundido é o parasitário subarrendamento, de muitos degraus, que consiste na intromissão de diversos intermediários entre o proprietário da terra e o camponês, que trabalha a terra, intermediários que extorquem do lavrador considerável parte da colheita. Habitualmente, o camponês se encontra inteiramente nas mãos do latifundiário, com o qual fica endividado. Enormes proporções atinge a superpopulação agrária.

A economia da China, antes da revolução democrático-popular, era extremamente atrasada, tendo caráter semicolonial e semifeudal.

Constituindo de 4 a 5% da população rural da China de antes da revolução, os latifundiários possuíam mais de metade de toda a terra; os camponeses pobres e médios, representando 90% da população rural, possuíam somente 30% de toda a terra. Os camponeses arrendavam a terra na base do endividamento, pagando ao latifundiário pelo arrendamento da terra e dos instrumentos de trabalho, entre 50 e 70% da colheita. Cerca de 60% de todas as economias camponesas permanentemente apelavam para a “ajuda” dos usurários a fim de pagar impostos e adquirir objetos de consumo, pagando elevadíssimos juros pelos empréstimos.

Antes da dominação britânica na Índia, o Estado recebia parte da produção dos camponeses sob a forma de impostos. Após a ocupação da Índia, os poderes britânicos transformaram os antigos coletores de impostos do Estado em grandes proprietários de terra, possuidores de latifúndios de centenas de milhares de hectares. Cerca de 3/4 da população rural da Índia ficou, de fato, sem terra. O camponês foi obrigado a pagar ao latifundiário, sob a forma de arrendamento, de 1/2 a 2/3 da colheita, e com a parte restante devia pagar juros ao usurário. Os camponeses empobrecidos eram obrigados a tomar empréstimos ao latifundiário, com a obrigação de pagá-los em trabalho. Neste sistema (a chamada “peouagem”), as obrigações passam de geração a geração e toda a família do camponês se torna, de fato, propriedade do latifundiário. Marx chamou a peonagem de escravidão sob forma encoberta.

Esmagada pela opressão do latifundiário e do usurário, a economia camponesa só estava em condições de aplicar a mais primitiva técnica, que permanecia sem modificações essenciais no decurso de séculos e até de milênios. A técnica primitiva de cultivo do solo conduz ao extremo esgotamento do solo. Em consequência de tudo isto, muitas colônias, ainda que sejam países agrários, não estão em condições de alimentar sua população, que sistematicamente passa fome.

O colonialismo significa para a classe operária a ausência de direitos políticos e uma feroz exploração. A jornada de trabalho nas colônias atinge de 12 a 14 e mais horas. Como regra, nas empresas industriais e nos transportes não existe qualquer segurança do trabalho. O forte desgaste do equipamento e a recusa do empresário a fazer gastos na reparação e na técnica de segurança, conduzem a avarias parciais, nas quais morrem ou se tornam mutilados centenas de milhares de seres humanos. A inexistência de legislação social priva o operário de quaisquer meios de existência no caso de desemprego, de mutilação na produção ou de doença profissional.

O salário dos operários das colônias é insuficiente mesmo para a satisfação das necessidades mais essenciais. O operário é obrigado a pagar certa parte do seu miserável salário a todo gênero de intermediários — ao contratista, ao mestre, ao zelador, que lidam com o contrato da força de trabalho. Está amplamente difundido o trabalho das mulheres, bem como o trabalho de crianças com 6 e 7 anos de idade, que são pagos ainda mais miseravelmente do que os homens.

A maioria dos operários vive enredada na servidão por dividas. Em muitos casos, os operários vivem em barracas ou campos especiais, numa situação de encarcerados, privados do direito de livre locomoção. É aplicado, em grande escala, o trabalho coercitivo aberto, tanto na agricultura, como na indústria. O nível de vida da grande massa da população é muito baixo. A mortalidade é extraordinariamente elevada: a fome e as epidemias levam a extinção a população de regiões inteiras. Reina, nas colônias, a discriminação racial.

Assim, por exemplo, o salário médio dos operários e empregados africanos é inferior ao salário dos operários europeus: em Quênia — aproximadamente em 15 vezes, na Rodésia do Sul — em mais de 20 vezes, na Rodésia do Norte — em quase 30 vezes. Nas minas do Congo belga, os operários africanos recebem de 5 a 10 vezes menos do que os operários europeus; mais de 53% de todas as crianças da população nativa morrem na mais tenra infância; a população desta colônia, desde o tempo da conquista, diminuiu em quase 2 vezes.

A Luta de Libertação Nacional dos Povos Coloniais

Em todo o decorrer da época capitalista, os povos dos países coloniais travaram a luta contra os escravizadores estrangeiros, não raro levantando-se em insurreições, que foram cruelmente reprimidas pelos colonizadores.

No período do imperialismo, a luta libertadora dos povos coloniais e dos países dependentes adquire uma dimensão desconhecida antes. Já nos inícios do século XX, em particular após a primeira revolução russa de 1905, as massas trabalhadoras dos países coloniais e dependentes foram despertadas para a vida política. O movimento revolucionário se ergueu na China, na Coreia, na Pérsia, na Turquia e na Índia.

Os países do mundo colonial se distinguem entre si pelo nível do desenvolvimento econômico e pelo grau de amadurecimento do seu proletariado. Isto determina as particularidades do movimento de libertação nacional em cada um dos países coloniais e dependentes.

Uma vez que o campesinato constitui a massa fundamental da população dos países coloniais e dependentes, a questão camponesa tem enorme importância em todo o desenvolvimento da luta de libertação nacional. O fim comum do movimento de libertação nacional nas colônias e países dependentes é a libertação do domínio do imperialismo e a liquidação de todas as sobrevivências feudais. Por este motivo, todo movimento de libertação nacional nas colônias e países dependentes, dirigido contra o imperialismo e o jugo feudal, tem caráter progressista, mesmo se o proletariado nesses países tiver desenvolvimento relativamente débil.

O movimento de libertação nacional nas colônias e países dependentes arrasta a luta contra o imperialismo a gigantesca maioria da população da Terra, oprimida pela oligarquia financeira de umas poucas grandes potências imperialistas. Na luta dos povos do mundo colonial pela sua libertação, o proletariado desempenha crescente papel dirigente, como chefe reconhecido de amplas massas do campesinato e de todos os trabalhadores.

Os interesses do movimento proletário, nos países capitalistas desenvolvidos, e do movimento de libertação nacional, nas colônias, exigem x unificação destes dois tipos de movimento revolucionário na frente comum de luta contra o inimigo comum, o imperialismo.

“A revolução socialista — escreveu V.I. Lênin — não será somente e principalmente uma luta dos proletários revolucionários de cada país contra a sua burguesia. Não, ela será a luta de todas as colônias e países subjugados pelo imperialismo, de todos os países dependentes contra o imperialismo internacional.”(89)

O internacionalismo proletário parte de que não pode haver povo livre que oprima outros povos. Assim sendo, como ensina o leninismo, o verdadeiro apoio do proletariado das nações dominantes ao movimento libertador das nações oprimidas consiste na defesa e na aplicação da palavra de ordem sobre o direito das nações a separação e a existência estatal independente.

O crescimento do movimento de libertação nacional dos povos oprimidos das colônias e países dependentes mina os fundamentos do imperialismo e prepara a sua queda.


Notas de rodapé:

(87) V.I. Lênin, O Socialismo e a Guerra, Obras, t. XXI, p. 275. (retornar ao texto)

(88) Comprador: Palavra espanhola, que significa intermediário, comerciante. (retornar ao texto)

(89) V.I. Lênin, Informe ao II Congresso Pan-Russo das Organizações Comunistas dos Povos do Oriente, Obras, t. XXX, p. 138. (retornar ao texto)

Inclusão 30/03/2015