Stalinismo

Manoel Coelho Raposo


Introdução


Ao iniciar este livro, sinto-me na obrigação de declarar publicamente que no momento não milito em nenhum partido político, grupo ou tendência de esquerda que se declarem estruturados de acordo com os princípios do Marxismo-Leninismo.

Esta situação me deixa mais livre para expor, com toda franqueza, minhas concepções políticas, teóricas e ideológicas. Isto não significa que eu haja renunciado definitivamente à militância político-partidária. Entretanto, só voltarei a fazê-lo se me encontrar absolutamente convencido da justeza das propostas do partido, grupo ou tendência a que venha a aderir.

A minha ausência da militância partidária não me conduzirá, necessariamente, a ser um elemento passivo de meu tempo, mesmo residindo distante dos centros decisórios da política, na cidade de Fortaleza – CE. Muito menos desejo ficar conivente com as deformações ideológicas que avassalam a juventude operária, camponesa e estudantil, e a maioria das forças comprometidas com as lutas pela construção do socialismo.

Dentro deste espírito, estarei atento às opiniões das pessoas que porventura venham a discordar de meu pensamento, como estarei disposto a assumir uma atitude autocrítica diante dos erros que porventura eu venha a cometer.

Assumindo este comportamento, penso estar contribuindo para o grande debate ideológico que se reinicia no mundo, e que, certamente, culminará com o advento da terceira onda revolucionária do proletariado, que conduzirá os povos à conquista da sociedade socialista em toda a sua plenitude.

Este livro marca, também, o meu rompimento público com a tendência que se autointitulou de COMUNISTAS ALINHADOS ÀS POSIÇÕES REVOLUCIONÁRIAS DE LUÍS CARLOS PRESTES, conhecida como a “corrente dos prestistas”. Ao fazê-lo, jamais deixarei de reconhecer em Luís Carlos Prestes a maior figura revolucionária brasileira, tanto por sua prática, dedicando toda a vida à causa da revolução, como pela honradez de seu caráter e a honestidade que marcou seus 93 anos de vida.

Do ponto de vista político, apoiei Prestes em 1980, após compreender a justeza de sua tese sobre a estratégia da revolução brasileira, esboçada em sua conhecida CARTA AOS COMUNISTAS, em que Prestes rompia com 60 anos de política à direita que predominou na teoria e na prática do PCB, desde a suá fundação em 1922, para, finalmente, degenerar no atual PCB do senhor Roberto Freire, que aderiu, abertamente, às concepções burguesas da social-democracia europeia.

Durante esses 10 anos de prestismo, venho defendendo a tese da necessidade de estabelecer um grande debate ideológico, político e teórico, levando em conta a confusão reinante no movimento comunista internacional, em geral, e no brasileiro, em particular, frente à política direitista posta em prática pelo PCUS a partir da ascensão de Khruchov à direção do partido de Lênin e Stálin.

Para tanto, participei de um encontro com amigos defensores dos princípios políticos da “Carta aos Comunistas”, de Prestes, e propus a fundação de um jornal que preenchesse aquele objetivo. Nossa iniciativa não foi aceita sob a alegativa de “falta de condições”.

Resolvemos, então, organizar outro grupo tendo em vista a fundação do jornal, um sonho que se transformara, em mim, numa obsessão. Dessa iniciativa surge O POPULAR, com uma linha editorial democrática e independente, e de luta contra a ditadura.

O Conselho Editorial do jornal foi constituído por pessoas da maior competência, prestígio e dedicação; Jáder de Carvalho, de saudosa memória, Olavo Sampaio, Lúcio Uma, Gervásio de Paula, Abdias Lima, Fenelon Almeida, Rogaciano Leite Filho e Humberto Magalhães. Na editoria, nosso respeitado e competente amigo jornalista Paulo Verlaine.

Bem depressa O POPULAR conquistou o 3º lugar em venda nas bancas de Fortaleza. Não tínhamos nenhuma dúvida acerca de seu sucesso e buscamos a principal força de oposição política à ditadura, o MDB, na tentativa de viabilizar uma base de sustentação material para o jornal.

Não queríamos nada em ajudas diretas. Apenas reivindicávamos, em vários encontros que mantivemos com o Presidente do MDB, atualmente Presidente do Congresso Nacional, Dr. Mauro Benevides, influir junto aos empresários do MDB na concessão de alguns poucos anúncios para completar a inexpressiva receita de O POPULAR. Dizemos inexpressiva porque todos os membros do Conselho Editorial trabalhavam apenas por amor ao jornal, sem receberem nenhum centavo.

Recebemos promessas que nunca foram cumpridas, porém nós mantivemos firme nossa linha editorial e arcamos com a responsabilidade das despesas gerais de nosso jornal.

Com a queda da ditadura e o advento do Colégio Eleitoral, O POPULAR pára de circular, só voltando mais tarde, agora desligado do antigo Conselho Editorial. O jornal passa a refletir o pensamento dos “comunistas que se alinham em tomo das posições revolucionárias de Luís Carlos Prestes”. Forma novo Conselho Editorial, que exclui o meu nome. Ao aceitar esta situação, cometi o maior erro político de minha vida, pois nem mesmo o objetivo que tinha em mente, isto é, de O POPULAR se transformar numa tribuna de debate teórico do marxismo e da realidade do nosso tempo, foi alcançado.

As pessoas me indagavam sobre o que estava ocorrendo. Eu simplesmente calava, não queria criar mais uma cisão no conturbado panorama “comunista” brasileiro.

A confusão ideológica no movimento comunista mundial conduziu os PCs de quase todos os países do mundo a se transformarem em simples partidos dirigentes das lutas pelas reivindicações imediatas dos trabalhadores, perdendo, portanto, sua função fundamental de partidos revolucionários, cujo objetivo é transformar a sociedade, destruir as relações de produção burguesas e instituir o Estado socialista.

Lamento profundamente que, no processo de elaboração de meu pensamento, eu tenha sido vítima de ataques pessoais e de ameaças à minha integridade física. Isto não me amedrontou, apenas me convenceu da necessidade de substituirmos tais comportamentos pelo aprofundamento teórico do Marxismo-Leninismo por parte das pessoas que sempre considerei bem intencionadas e que, por esta ou aquela razão, encontram-se perdidas no mar da confusão ideológica. Jamais renunciarei a uma luta séria, alicerçada em princípios, mesmo que tenhamos de ferir sensibilidades ou vaidades pessoais.

Entretanto, não posso concordar que pessoas identificadas com o socialismo restrinjam suas atividades à luta econômica e sindical dos trabalhadores, principalmente aquelas pessoas dotadas de capacidade intelectual e de vasto conhecimento da doutrina marxista-leninista. A estas pessoas está reservado outro papel, muito mais importante, que é o de ajudar na elaboração de uma proposta política marxista-leninista para os trabalhadores brasileiros, neste momento carentes de lideranças políticas. Assim me expresso por saber que a luta econômica e sindical, embora necessária, não conduzirá os trabalhadores à sua libertação; esta só se dará através da luta política pela tomada do poder.

Se isto é verdade, verdade também é que a simples luta política dos trabalhadores, desvinculada da consciência socialista, também não conduzirá a classe operária à sua libertação. Para que isto ocorra, torna-se necessário que os dirigentes socialistas, além de dominarem a ciência marxista-leninista, estejam à altura do conhecimento da realidade objetiva do mundo que os rodeia.

Por último, assumimos a defesa de Stálin e do Stalinismo por considerá-lo como sendo o Leninismo da época da Construção do Socialismo. Partimos do princípio de que a ira do imperialismo contra Stálin apenas visava e visa a macular o nome dos grandes líderes proletários, para mais facilmente golpeá-los e destruí-los.

Fortaleza, janeiro de 1992


Inclusão: 25/03/2020