A Revolução de Outubro e a Política Nacional dos Comunistas Russos

J. V. Stálin

7 de Novembro de 1921


Primeira Edição: Jornal «Pravda» («A Verdade»), n. 251. 6 e 7 de novembro  de 1921.
Fonte: J.V. Stálin - Obras - 5º vol., Editorial Vitória, 1954 - traduzida da edição italiana da Obras Completas de Stálin publicada pela Edizioni Rinascita, Roma, 1949.
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
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Fernando A. S. Araújo, setembro 2006.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

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A força da Revolução de Outubro consiste, entre outros, no fato de que, ao contrário das revoluções do Ocidente, agrupou em torno do proletariado russo a pequena burguesia, que conta muitos milhões de elementos, e sobretudo as suas camadas mais potentes e numerosas, os camponeses. Graças a isso a burguesia russa ficou isolada e sem exército, enquanto o proletariado russo se converteu no árbitro dos destinos do país. Em caso contrário, os operários russos não se teriam mantido no Poder.

A paz, a revolução agrária e a libertação das nacionalidades são os três acontecimentos principais que reuniram sob a bandeira vermelha do proletariado russo os camponeses de mais de vinte nacionalidades da imensa Rússia.

E desnecessário falar aqui dos dois primeiros acontecimentos: sobre eles já se disse o suficiente em letra de forma e, além disso, eles falam por si mesmos. No que diz respeito ao terceiro acontecimento, à política nacional dos comunistas russos, a sua importância evidentemente ainda não foi de todo compreendida. Isso justifica algumas palavras sobre o assunto.

Comecemos por assinalar que dos 140 milhões de habitantes da RSFSR (exclusive a Finlândia, a Estónia, a Letônia, a Lituânia e a Polônia), os grão-russos não constituem mais de 75 milhões; os 65 milhões restantes são formados por outras nações.

Ademais, essas nações ocupam sobretudo as regiões periféricas,   os   pontos   mais   vulneráveis   do   ponto-de-vista militar,  nas quais  existem  em  abundância  matérias-primas, combustíveis e gêneros alimentícios.

Finalmente, as regiões periféricas são menos desenvolvidas, industrial e militarmente, do que a Rússia central (ou de modo algum se acham desenvolvidas), motivo por que não estão em condições de defender a sua independência sem a ajuda econômica e militar da Rússia central, do mesmo modo que a Rússia central não está em condições de manter a sua potência econômica e militar sem receber ajuda em combustíveis, matérias-primas e gêneros alimentícios das regiões periféricas.

Tais circunstâncias, somadas aos conhecidos princípios do programa nacional do comunismo, determinaram o caráter da política nacional dos comunistas russos.

A essência dessa política se pode exprimir em poucas palavras: renúncia a quaisquer "pretensões" e "direitos" sobre as regiões habitadas por nacionalidades não-russas; reconhecimento (não de palavra, mas de fato) do direito dessas nacionalidades a uma existência estatal autônoma; livre união econômica e militar dessas nacionalidades com a Rússia central; ajuda às nacionalidades atrasadas para que possam desenvolver-se do ponto-de-vista cultural e econômico, sem o que a chamada "igualdade de direitos das nações" se torna uma palavra destituída de significação; tudo isso com base na emancipação total dos camponeses e na concentração de todo o Poder em mãos dos elementos trabalhadores das nacionalidades periféricas: esta é a política nacional dos comunistas russos.

É desnecessário dizer que os operários russos no Poder não teriam conquistado as simpatias e a confiança dos seus camaradas das outras nacionalidades e, sobretudo, das massas oprimidas das nacionalidades. que não gozavam da igualdade de direitos, se não tivessem demonstrado com fatos a sua disposição de realizar essa política nacional, se não tivessem renunciado ao "direito" sobre a Finlândia, se não tivessem retirado suas tropas da Pérsia setentrional, se não tivessem liquidado as pretensões dos imperialistas russos sobre certas regiões da Mongólia e da China, se não tivessem ajudado as nacionalidades atrasadas do antigo Império russo a desenvolva a sua cultura e vida estatal na própria língua.

Somente à base dessa confiança pôde surgir entre os povos da RSFSR essa união indestrutível contra a qual se revelaram impotentes todos os estratagemas "diplomáticos" e "bloqueios" meticulosamente postos em prática.

Ainda mais: sem essa simpatia e sem essa confiança das massas oprimidas das regiões periféricas da velha Rússia, os operários russos não teriam conseguido vencer Koltchak, Denikin e Wrangel. Não se deve esquecer que o campo de ação desses generais facciosos se limitava às regiões periféricas, habitadas em maioria por nacionalidades não-russas e que estas últimas não podiam deixar de odiar Koltchak, Denikin e Wrangel por sua política imperialista e russificadora. A Entente, que se envolveu na questão, e que sustentava esses generais, só podia apoiar-se nos elementos russíficadores das regiões periféricas. Com isso, não fez senão exacerbar o ódio da população dessas regiões aos generais facciosos, tornando mais profunda a simpatia desses povos para com o Poder Soviético.

Essa circunstância determinou a debilidade intrínseca das retaguardas de Koltchak, Denikin e Wrangel e, em conseqüência, a debilidade das suas frentes, isto é, em última análise, a sua derrota.

Mas os bons resultados da política nacional dos comunistas russos não se manifestam apenas dentro dos limites da R.S.F.S.R. e das repúblicas soviéticas a ela unidas. Esses resultados, indiretamente, é verdade, se fazem sentir também na atitude dos países vizinhos em face da R.S.F.S.R. A melhoria radical da atitude da Turquia, da Pérsia, do Afeganistão, da Índia e de outros países orientais para com a Rússia, que era antes considerada como o espantalho desses países constitui um fato que agora não ousa contestar nem mesmo um político tão audacioso como Lord Curzon. Não é necessário demonstrar que, se durante os quatro anos de existência do Poder Soviético não se tivesse aplicado sistematicamente, dentro da R.S.F.S.R., a política nacional que delineamos acima, teria sido inconcebível a citada mudança radical na atitude dos países vizinhos em face da Rússia.

Eis, em geral, os resultados da política nacional dos comunistas russos. Estes resultados se evidenciam particularmente, agora, no quarto aniversário do Poder Soviético, no momento em que, terminada uma dura guerra, se inicia o vasto trabalho de edificação e instintivamente se contempla o caminho percorrido, para abarcá-lo com um só golpe-de-vista,

Assinado: J.  Stálin.

(veja outra tradução da Editorial Vitória para este texto)


pcr
Inclusão 22/10/2007