Lênin(1)

J. V. Stálin

28 de Janeiro de 1924


Primeira Edição: Jornal «Pravda» («A Verdade»), n. 34, 12 de fevereiro de 1924.
Fonte: J.V. Stálin – Obras – 6º vol., Editorial Vitória, 1954 – traduzida da edição italiana da Obras Completas de Stálin publicada pela Edizioni Rinascita, Roma, 1949.
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
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Fernando A. S. Araújo
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Camaradas!

Comunicaram-me que organizastes uma solenidade em memória de Lênin e que eu era um dos oradores que haviam sido convidados. Acho que não é preciso fazer uma exposição sistematizada das atividades de Lênin. Creio preferível limitar-me a uma série de fatos que ponham em relevo certas particularidades de Lênin como homem e como político. Talvez não haja relação interna entre esses fatos, mas isso não terá importância decisiva para quem quiser fazer uma idéia geral de Lênin. De qualquer maneira, não me seria possível no momento fazer mais do que acabo de vos prometer.

A águia das montanhas

Conheci Lênin pela primeira vez em 1903. É verdade que não foi um conhecimento pessoal, mas através de correspondência. Deixou em mim, porém, uma impressão indelével, que não se apagou por todo o tempo em que venho atuando no Partido. Encontrava-me, então, no exílio, na Sibéria. Ao conhecer a atividade revolucionária de Lênin nos últimos anos do século XIX e, sobretudo, depois de 1901, depois do aparecimento da '"Iskra",[N16] convencera-me de que tínhamos em Lênin um homem extraordinário. Não via nele um simples líder do Partido, mas seu verdadeiro criador, pois que só ele compreendia a natureza própria e as necessidades urgentes de nosso Partido. Quando o comparava com os outros dirigentes de nosso Partido, me parecia sempre que ele estava com juros acima de seus companheiros de luta: Plekhanov, Mártov, Axelrod e outros; que, comparado a eles, Lênin não era apenas um dos dirigentes, mas um dirigente de tipo superior, uma águia das montanhas, que não temia a luta e conduzia o Partido com audácia pelos caminhos inexplorados do movimento revolucionário russo. Esta impressão apoderou-se de tal forma de mim que senti necessidade de escrever a respeito a um amigo íntimo, exilado político no estrangeiro, pedindo-lhe sua opinião. Tempos mais tarde, quando eu já estava exilado na Sibéria — em fins de 1903 — recebi uma resposta entusiástica de meu amigo e uma simples, mas profundamente expressiva, carta de Lênin, a quem meu amigo mostrara minha própria carta. O bilhete de Lênin era relativamente curto, mas continha uma crítica audaz e destemerosa das atividades práticas de nosso Partido, assim como uma exposição magnificamente clara e concisa de todo o plano de trabalho do Partido para o futuro próximo. Só Lênin sabia escrever sobre as questões mais complexas com tanta simplicidade e clareza, com tanta concisão e audácia, que suas frases mais pareciam disparar que falar. Esta simples e ousada carta me convenceu ainda mais de que Lênin era a águia das montanhas de nosso Partido. Não me posso perdoar o ter queimado aquela carta de Lênin, como muitas outras, segundo o costume de um velho militante da ilegalidade.

Datam desse momento minhas relações com Lênin.

A modéstia

Encontrei-me pela primeira vez com Lênin em dezembro de 1905, na Conferência bolchevique de Tammerfors (Finlândia). Eu aguardava o encontro com a águia das montanhas de nosso Partido, o grande homem, grande não só politicamente, mas, se permitis, também fisicamente, pois em minha imaginação eu figurava Lênin como um gigante de postura imponente e majestosa. Qual não foi meu desapontamento, quando vi um homem perfeitamente comum, de estatura abaixo da mediana e que não se diferençava em nada, absolutamente em nada, dos demais mortais...

É geralmente aceito que um "grande homem" deva chegar tarde às reuniões, enquanto os assistentes esperam sua aparição com o coração batendo; que, quando o grande homem vai surgir, corra o sussurro de aviso: "Pss!... Silêncio!... Já vem!" Parecia-me que esse cerimonial não era supérfluo, porque cria um ambiente de expectação, inspira respeito. Qual não foi meu desapontamento, quando soube que Lênin chegara à reunião antes dos delegados e que, afastado a um canto, mantinha, sem qualquer afetação, a mais banal das conversações com os mais simples dos delegados à Conferência. Não posso deixar de dizer-lhes que, na ocasião, aquilo me pareceu violar um tanto certas regras imprescindíveis.

Foi somente mais tarde que compreendi que esta simplicidade e esta modéstia, este desejo de passar despercebido ou pelo menos de não chamar a atenção, de não pôr em relevo sua alta posição, eram traços que constituíam um dos mais fortes méritos de Lênin como o novo líder das novas massas, das massas simples e comuns das "camadas inferiores" mais profundas da humanidade.

A força da lógica

Os dois discursos que Lênin pronunciou naquela Conferência foram magníficos. Um versou sobre a situação política e o outro sobre a questão agrária. Infelizmente, não foram conservados. Foram discursos cheios de inspiração, que despertaram em toda a Conferência o mais caloroso entusiasmo. O extraordinário poder de convicção, a simplicidade e a clareza da argumentação, a frase curta e facilmente compreensível para todos, a ausência de afetação, de gestos teatrais, de linguagem requintada para produzir efeito, tudo isso pôs em relevo a superioridade dos discursos de Lênin relativamente aos discursos dos oradores "parlamentares" comuns.

Não foi, porém, este aspecto dos discursos de Lenin o que mais me cativou então e, sim, a força invencível da sua lógica que, embora um tanto seca, assenhoreou-se totalmente do auditório, eletrizou-o pouco a pouco e depois, como se diz, cativou-o por completo. Lembro-me de que muitos delegados diziam:

“A lógica dos discursos de Lênin é como um poderoso tentáculo que agarra por todos os lados e de cujo abraço é impossível livrar-se: não há outro recurso que render-se ou preparar-se para a derrota total."

Creio que esta particularidade dos discursos de Lênin era a característica mais forte de sua arte oratória.

Sem lamúrias

A segunda vez que encontrei Lênin foi em 1906, em Estocolmo, no Congresso do nosso Partido.[N17] Como se sabe, os bolcheviques estavam em minoria nesse Congresso e sofreram uma derrota. Pela primeira vez vi Lênin no papel de derrotado. Mas ele não se parecia em nada com esses líderes que se lamentam e perdem o ânimo quando são batidos. Pelo contrário, a derrota fez com que Lênin centuplicasse suas energias, impulsionando seus partidários para novos combates e para a futura vitória. Falei da derrota de Lênin. Mas terá sido uma derrota? Era preciso ver os adversários de Lênin, os vencedores no Congresso de Estocolmo: Plekhanov, Axelrod, Mártov e outros. Não pareciam nem de longe verdadeiros vencedores, pois que Lênin, com sua crítica implacável do menchevismo, não lhes havia deixado, por assim dizer, nem um osso inteiro. Lembro-me de que nós, os delegados bolcheviques, nos reunimos num grupo compacto, de olhos fitos em Lênin, pedindo seu conselho. A fala de alguns delegados revelava cansaço e desânimo. Lembro-me de que Lênin respondeu por entre dentes, em tom mordaz:

"Nada de lamúrias, camaradas, haveremos de vencer, porque temos razão".

O ódio aos intelectuais lamurientos, a fé nas próprias forças, a confiança na vitória, isso foi o que nos transmitiu Lênin então. Percebia-se que a derrota dos bolcheviques era passageira, que eles haveriam de vencer num futuro próximo.

"Não lamuriar-se em caso de derrota". Foi este aspecto da atividade de Lênin que lhe permitiu reunir em torno de si um exército fiel à causa até o fim e cheio de fé em suas próprias forças.

Sem presunção

No Congresso seguinte, realizado em Londres,[N18] em 1907, foram os bolcheviques que obtiveram a vitória. Vi então, pela primeira vez, Lênin no papel de vencedor. A vitória, em geral vira a cabeça dos líderes e os torna cheios de vaidade e presunção. Põem-se na maioria dos casos a cantar vitória e a dormir sobre os louros. Lênin não se parecia em nada com esses líderes. Pelo contrário, era após uma vitória quando ele se mostrava mais vigilante e cauteloso. Lembro-rne de que Lênin repetia com insistência para os delegados:

"A primeira coisa é não se deixar levar pela vitória, não se tornar presunçoso; a segunda, consolidar a vitória, e a terceira esmagar o inimigo, porque ele está apenas derrotado, mas ainda não esmagado."

Zombava mordazmente dos delegados que afirmavam levianamente que "se havia acabado para sempre com os mencheviques". Não lhe foi difícil mostrar que os mencheviques ainda conservavam raízes no movimento operário, que precisavam ser combatidos com habilidade e que era necessário evitar qualquer superestimação das próprias forças e, sobretudo, qualquer subestimação da força do adversário.

"Não envaidecer-se com a vitória". Foi este traço do caráter de Lênin que lhe permitiu avaliar com lucidez as forças do inimigo e garantir o Partido contra possíveis surpresas.

Fidelidade aos princípios

Os líderes de um partido não podem deixar de valorizar a opinião da maioria de seu partido. A maioria é uma força com a qual um chefe não pode deixar de contar. Lênin o compreendia tão bem como qualquer outro líder partidário. Mas Lênin jamais foi prisioneiro da maioria, principalmente quando essa maioria não se apoiava numa base de princípios. Houve momentos na história de nosso Partido em que a opinião da maioria ou os interesses momentâneos do Partido chocavam-se com os interesses fundamentais do proletariado. Em tais casos, Lênin sem vacilar punha-se resolutamente ao lado dos princípios, contra a maioria do Partido. Mais ainda, não temia, em casos semelhantes, ficar absolutamente só contra todos, considerando — como ele dizia freqüentemente — que:

"uma política de princípios é a única política correta".

Particularmente característicos, a esse respeito, são os dois fatos seguintes:

Primeira fato: Estávamos no período de 1909-1911, quando o Partido, derrotado pela contra-revolução, entrava em plena decomposição. Era um período de descrença no Partido, de deserção em massa do Partido, não somente por parte dos intelectuais, mas mesmo por um certo número de operários; um período em que se negava a necessidade de atividade clandestina, período de liquidacionismo e desmoronamento. Não só os mencheviques, mas até os bolcheviques estavam então divididos numa série de frações e correntes distintas, desligadas em sua maioria do movimento operário. Como se sabe, foi precisamente nesse período que surgiu a idéia de liquidar completamente as atividades clandestinas do Partido, para organizar os operários num partido legal, liberal, stolipiniano,[N19] Lênin foi então o único que não se deixou levar pelo contágio e que manteve erguida a bandeira do Partido, reunindo, com paciência assombrosa, com persistência extraordinária, as forças dispersas e combalidas do Partido, combatendo no interior do movimento operário todas as tendências hostis ao Partido, defendendo o princípio do Partido com uma coragem fora do comum e uma perseverança sem paralelo.

Como se sabe, Lênin saiu vencedor dessa luta pela manutenção do princípio do Partido.

Segundo fato: Estávamos no período de 1914-1917, quando a guerra imperialista entrava no seu clímax e todos ou quase todos os partidos social-democratas e socialistas, levados pelo delírio patriótico geral, se tinham posto a serviço do imperialismo de seus países. Era o período em que a II Internacional inclinava sua bandeira diante do capitalismo, em que inclusive homens como Plekhanov, Kautsky, Guesde, etc., mostravam-se incapazes de resistir à onda de chauvinismo. Lênin foi então o único homem, ou quase o único, que se lançou à luta decidida contra o social-chauvinismo e o social-pacifismo, que pôs a nu a traição dos Guesdes e dos Kautsky e estigmatizou a indecisão dos "revolucionários" que se mantinham entre duas águas. Lênin sabia que era seguido apenas por uma insignificante minoria, mas isso não tinha para ele importância decisiva, porque sabia que a única política correta, que olhava para o futuro, era a do internacionalismo conseqüente; que a política de princípios era a única acertada.

Como se sabe, Lênin saiu vencedor dessa luta por uma nova Internacional.

"Uma política de princípios é a única política correta". Foi precisamente com a ajuda dessa fórmula que Lênin tomou de assalto posições "inexpugnáveis", ganhando para o marxismo revolucionário os melhores elementos do proletariado.

A fé nas massas

Os teóricos e os líderes de partidos, homens que conhecem a história dos povos e que estudaram minuciosamente a história das revoluções, padecem às vezes de uma enfermidade inconfessável Esta enfermidade é o temor às massas, a falta de fé na capacidade criadora das massas, coisa que provoca, por vezes, nos líderes, uma certa atitude aristocrática com relação às massas, as quais, embora pouco versadas na história das revoluções, estão fadadas a destruir a velha ordem e a construir a nova. Esta atitude aristocrática é devida ao temor de que os elementos se desencadeiam, de que as massas possam "destruir demasiado"; ao desejo de representar o papel do preceptor que tenta ensinar as massas por meio de livros, mas que sente aversão a aprender das massas.

Lênin era completamente o oposto de semelhantes líderes. Não conheço nenhum revolucionário que tenha tido uma fé tão profunda nas forças criadoras do proletariado e no acerto revolucionário de seu instinto de classe, como Lênin. Não conheço nenhum revolucionário que tenha sabido fustigar tão impiedosamente os críticos presunçosos do "caos da revolução" ou da "bacanal dos atos espontâneos das massas", como Lênin. Lembro-me de que Lênin replicou sarcàsticamente a um camarada, que dissera em conversa que "depois da revolução deveria vir uma ordem normal".

"É uma lástima que os que desejam ser revolucionários se esqueçam de que a ordem mais normal na História é a revolução".

Daí seu desprezo para com todos os que se comportavam sobranceiramente com relação às massas e tentavam ensiná-las por meio de livros. Por esta razão é que Lênin repetia constantemente que é preciso aprender das massas, tentar compreender suas ações, estudar cuidadosamente a experiência prática da luta das massas.

A fé no poder criador das massas: tal o aspecto particular da atividade de Lênin que lhe permitiu compreender o significado do movimento espontâneo das massas e orientá-lo pelo caminho da revolução proletária.

O gênio da revolução

Lênin nascera para a revolução. Foi realmente o gênio das explosões revolucionárias e o grande mestre da arte de dirigir as revoluções, Nunca se sentia tão a gosto, tão feliz, como na época das comoções revolucionárias. Mas isso não quer dizer, de modo algum, que Lênin aprovava igualmente toda comoção revolucionária, nem tampouco que se pronunciava sempre, quaisquer que fossem as circunstâncias, a favor das explosões revolucionárias. De forma alguma. O que quero dizer é que nunca se manifestava com tanta plenitude, com tanta precisão, a perspicácia genial de Lênin, como nos momentos de explosão revolucionária. Nos dias de eclosão revolucionária ele resplandecia, na extensão da palavra, tornava-se um vidente, adivinhava com antecipação o movimento das classes e os ziguezagues prováveis da revolução, como se os lesse na palma da mão. Com razão se dizia no Partido:

"Ilitch nada nas ondas da revolução como um peixe na água."

Daí a clareza "assombrosa" das palavras de ordem táticas de Lênin e a audácia "vertiginosa" de seus planos revolucionários.

Lembro-me de dois fatos particularmente característicos dessa peculiaridade de Lênin.

Primeiro fato: Estávamos no período imediatamente anterior à Revolução de Outubro, quando milhões de operários, camponeses e soldados, impulsionados pela crise na retaguarda e na frente, exigiam a paz e a liberdade; quando os generais e a burguesia preparavam a instauração de uma ditadura militar com o objetivo de levar a guerra "até o fim"; quando a pretensa "opinião pública" e os pretensos "partidos socialistas" mostravam-se hostis aos bolcheviques e os qualificavam de "espiões alemães"; quando Kerenski tentava lançar o Partido dos bolcheviques na ilegalidade, já o tendo conseguido em parte; quando os exércitos ainda poderosos e disciplinados da coalizão austro-alemã se antepunham aos nossos exércitos cansados e em estado de desintegração, enquanto os "socialistas" da Europa Ocidental faziam tranqüilamente bloco com seus governos, com o objetivo de levar "a guerra até a vitória completa".

Que significava desencadear uma insurreição naquele momento? Desencadear uma insurreição em tais condições significava arriscar tudo. Mas Lênin não temia o risco, porque sabia, via com seu olhar clarividente, que uma insurreição era inevitável, que ela venceria; via que uma insurreição na Rússia prepararia o fim da guerra imperialista, poria de pé as massas extenuadas do Ocidente, transformaria a guerra imperialista em guerra civil; via que dessa insurreição nasceria a República dos Soviets e que a República dos Soviets serviria de baluarte para o movimento revolucionário no mundo inteiro.

Como se sabe, essa previsão revolucionária de Lênin foi posteriormente cumprida com fidelidade sem par.

Segundo fato: Estávamos nos primeiros dias que se seguiram à Revolução de Outubro, quando o Conselho de Comissários do Povo tentava obrigar o general rebelde Dukônin, Comandante-Chefe dos exércitos russos, a suspender as hostilidades e entabular negociações com os alemães, tendo em vista um armistício. Lembro-me de que Lênin, Krilenko (o futuro Comandante-Chefe) e eu fomos ao Estado-Maior Central de Petrogrado para nos pormos em contacto com Dukônin pelo telefone. Era um momento angustioso. Dukônin e o Grande Quartel General se negava categoricamente a cumprir as ordens do Conselho de Comissários do Povo. Os quadros de comando do exército estavam completamente nas mãos do Grande Quartel General. Quanto aos soldados, não se podia prever o que diria aquele exército de doze milhões de homens, subordinado como estava às chamadas organizações do exército, que eram hostis ao Poder Soviético. Na própria Petrogrado, como se sabe, incumbava-se então o motim dos alunos das escolas de guerra. Além disso, Kerenski marchava sobre Petrogrado. Lembro-me de que após um momento de silêncio, no aparelho, o rosto de Lênin iluminou-se, tornou-se extraordinariamente radiante. Era evidente que Lênin chegara a uma decisão.

"Vamos até a estação de rádio — disse ele — ela nos prestará um bom serviço. Transmitiremos uma ordem especial destituindo o General Dukônin e nomeando Krilenko Comandante-Chefe, em seu lugar; dirigír-nos-emos aos soldados, passando por cima dos oficiais, apelando a que isolem os generais, cessem as hostilidades, entrem em contato com os soldados austro-alemães e tomem em suas próprias mãos a causa da paz."

Era um "salto no desconhecido". Lênin, porém, não o temia; pelo contrário, dava-o com ansiedade, porque sabia que o exército queria a paz e a conquistaria, varrendo de seu caminho todos os obstáculos que se lhe antepunham. Sabia que esse método de estabelecer a paz repercutiria sobre os soldados austro-alemães e reavivaria o desejo de paz em todas as frentes sem exceção.

Como se sabe, também essa previsão revolucionária de Lênin foi posteriormente cumprida da maneira mais exata.

Uma perspicácia genial, uma faculdade de apreender e adivinhar rapidamente o sentido profundo dos acontecimentos iminentes, foram precisamente essas qualidades de Lênin que lhe permitiram elaborar a estratégia correta e uma linha clara de conduta nas situações cruciais do movimento revolucionário.


Notas:

(1) Discurso pronunciado na solenidade organizada pelos alunos da Escola Militar do Kremlin. (retornar ao texto)

[N16] «Iskra» («A Centelha»), primeiro jornal ilegal marxista para toda a Rússia, foi fundada por Lênin em dezembro de 1900, no estrangeiro, de onde se introduzia clandestinamente na Rússia. Sobre a importância e o papel da «Iskra» (Vide «História do P.C. (b) da U.R.S.S.», Edições - Horizonte Ltda., Rio, 1947, 2ª ed., pág. 16). (retornar ao texto)

[N17] O IV Congresso (de Estocolmo, «Congresso de Unificação») do P.O.S.D.R. realizou-se de 10 a 25 de abril (23 de abril a 8 de maio) de 1906. (Vide «História do P.C. (b) da U.R.S.S.», Edições Horizonte Ltda., Rio, 1947, 2ª ed., pág. 361. (retornar ao texto)

[N18] O V Congresso (de Londres) do P.O.S.D.R. realizou-se de 30 de abril a 19 de maio (13 de maio a 1º de junho) de 1907. (Vide Stálin, «Obras», vol. II, págs. 54 a 82, Editorial Vitória, Rio, 1952, e «História do P. C. (b) da U.R.S.S.» Edições Horizonte Ltda., Rio, 1947. 2ª edição, pág. 38). (retornar ao texto)

[N19] Partido Stolípiniano: no período da reação que se seguiu à derrota da revolução de 1905, eram assim, ironicamente, designados os mencheviques que queriam liquidar o partido ilegal revolucionário do proletariado e criar um partido «legal», que agisse nos limites do regime reacionário imposto pelo Primeiro-Ministro tzarista Stolipin. (retornar ao texto)

pcr
Inclusão 23/01/2011