Sobre Organização

J. Stáline


Sobre o trabalho prático
(Extracto da intervenção final de STÁLINE da Assembleia Plenária do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética, Março de 1939)


COMO DEVE SER FORTALECIDO O TRABALHO POLÍTICO DO PARTIDO

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Supomos que já todos agora compreenderam, todos têm consciência de que a preocupação excessiva com as campanhas e sucessos económicos, enquanto as questões políticas do Partido são subestimadas e esquecidas, conduz a um beco sem saída. É por isso necessário orientar a atenção dos militantes para os problemas políticos do Partido, a fim de que os sucessos económicos se combinem e acompanhem com os sucessos do trabalho político do Partido.

Como é que na prática deve ser realizada a tarefa de fortalecer o trabalho político do Partido, a tarefa de libertar as organizações do Partido das pequenas tarefas da economia? Os debates mostraram que alguns camaradas têm tendência para tirar a falsa conclusão de que nos devíamos agora afastar por completo do trabalho no campo da economia. Pelo menos fizeram-se ouvir vozes: Enfim, «graças a Deus», ficaremos livres dos assuntos económicos, agora podemo-nos dedicar ao trabalho político do Partido. Será justa esta conclusão? Não, não é. Quando os camaradas do Partido, absorvidos pela economia, abandonaram a política, caíram num extremo que nos custou grandes sacrifícios. Se agora alguns camaradas, com o objectivo de fortalecerem o trabalho político do Partido, pensam afastar-se dos problemas económicos, cairão num outro extremo, que não nos custará menores sacrifícios. Não pudemos passar dum extremo para o outro. Não se pode separar a política da economia. Não podemos abandonar a economia da mesma maneira que não podemos abandonar a política. Por conveniência de estudo costumam separar-se metodologica­mente os problemas da economia dos problemas da política. Mas isto faz-se apenas metodologi­camente, artificialmente, só para conveniência de estudo. Mas na vida, pelo contrário, a política e a economia são praticamente inseparáveis. Existem em conjunto e actuam em conjunto. E os que pensam em separar, no nosso trabalho político, a política da economia, em fortalecer o trabalho económico diminuindo a importância do trabalho político, ou, inversamente, em fortalecer o trabalho político diminuindo a importância do trabalho económico, achar-se-ão num beco sem saída

COMO SE DEVEM ESCOLHER OS MILITANTES

O que significa escolher judiciosamente os militantes e distribuir-lhes judiciosamente as tarefas?

Isto significa escolher os militantes, em primeiro lugar de acordo com um critério político, isto é, conforme a confiança política neles depositada, e em segundo lugar de acordo com critério prático, isto é, se eles servem ou não para um determinado trabalho concreto.

Isto significa não transformar uma maneira séria de julgar num praticismo estreito, o que se dá quando há exclusivo interesse nas qualidades práticas dos militantes mas não há interesse na sua fisionomia política.

Isto significa não transformar a maneira política de julgar na única maneira de julgar, o que sucede quando nos interessamos pela fisionomia política dos militantes, mas não nos interessamos pelas suas qualidades práticas.

Podemos dizer que esta regra bolchevique é aplicada pelos nossos camaradas do Partido? Infelizmente não podemos dizer isto.. Já se falou nesta questão nesta Assembleia Plenária. Mas nem tudo foi dito. O facto é que esta regra bem segura é constantemente violada na prática, e além disso da maneira mais grosseira. Muito frequentemente os militantes são escolhidos não de acordo com critérios objectivos, mas de acordo com critérios de acaso, subjectivos, estreitos e mesquinhos. Muitos frequentemente são escolhidos os «conhecidos», amigos pessoais, conterrâneos, pessoas que mostraram devoção pessoal, mestres no elogio aos chefes, sem olhar às suas capacidades políticas e práticas.

Deste modo, em vez de um grupo de dirigentes responsáveis, obtém-se um grupo familiar, uma sociedade cujos membros procuram viver pacificamente, sem se prejudicarem, a lavar a roupa suja em família, a elogiarem-se uns aos outros, e a enviarem, de tempos a tempos, à direcção central, relatórios vazios de sentido e repugnantes sobre os seus êxitos.

Não é difícil de compreender que em tal ambiente de família não pode haver lugar quer para uma crítica das deficiências do trabalho quer para uma auto-crítica dos dirigentes do trabalho. ...

COMO CONTROLAR O TRABALHO DOS CAMARADAS

O que significa controlar os militantes, controlar a execução das tarefas?

Controlar os militantes significa controlá-los não pelas suas promessas e declarações mas pelos resultados do seu trabalho.

Verificar a execução das tarefas significa verificá-las não apenas à secretária, segundo os relatórios oficiais, mas antes de tudo nos próprios locais de trabalho de acordo com os resultados efectivos da execução.

Necessitamos em geral de um tal controle? Sem dúvida que sim. Necessitamo-lo em primeiro lugar porque só um tal controle tornará possível conhecer um militante, determinar as suas reais qualidades. Necessitamo-lo em segundo lugar porque só um tal controle permite avaliar as qualidades e defeitos do aparelho de execução. Necessitamo-lo em terceiro lugar porque só um tal controle tornará possível determinar as qualidades e defeitos das próprias tarefas.

Alguns camaradas pensam que só de cima se podem avaliar as pessoas, quando os dirigentes controlam os dirigidos segundo os respeitados do seu trabalho. Isto não é verdade. O controle de cima é necessário, de certo, como uma das medidas efectivas para avaliar os homens e a execução das tarefas. Mas o controle de cima está longe de esgotar todo o trabalho de verificação. Há ainda outra espécie de controle, o controle de baixo para cima, pelo qual as massas, os dirigidos, examinam os dirigentes, apontando os seus erros e mostrando-lhes as formas de os corrigir. Esta espécie de verificação é um dos métodos mais eficientes para controlar os homens.

Os membros de base do Partido controlam os seus dirigentes nas reuniões, nas conferências e congressos, .ouvindo os relatórios da sua actividade, criticando os .seus defeitos e finalmente elegendo ou não este ou aquele camarada dirigente para os órgãos de direcção. Cumprimento exacto do centralismo democrático no Partido, como se exige nos estatutos do nosso Partido, constituição dos organismos do Partido inteiramente por via de eleição, direito de apresentar ou rejeitar candidatos, voto secreto, liberdade de crítica e de auto-crítica, todas estas medidas e outras semelhantes devem ser postas em prática, a fim de consequentemente facilitarem a verificação e o controle dos dirigentes do Partido pelos membros de base do Partido.

Às massas sem Partido controlam os seus dirigentes económicos, sindicais e outros, nas reuniões, nas conferências de massas de toda a espécie, onde ouvem os relatórios da actividade dos seus dirigentes, criticam os defeitos e indicam os meios de os corrigir.

Enfim, o povo controla os dirigentes do país, durante as eleições dos organismos do poder da União Soviética pelo sufrágio universal, igual, directo e secreto.

A tarefa consiste em juntar o controle de cima ao controle realizado de baixo.

INSTRUIR OS QUADROS NA BASE DOS SEUS PRÓPRIOS ERROS

O que significa instruir os quadros na base dos seus próprios erros?

Lénine ensinou-nos que uma das maneiras mais seguras de instruir e educar correctamente os quadros do Partido, de instruir e educar correctamente a classe operária e as massas trabalhadoras é descobrir conscienciosamente os erros do Partido, estudar as causas que deram origem a esses erros e indicar as medidas necessárias; para corrigir esses erros. Lénine disse:

«A atitude dum Partido político em face dos seus erros é um dos critérios mais importantes e mais seguros para julgar se esse Partido é sério e se cumpre realmente os seus deveres em relação à sua classe e em relação às massas trabalhadoras. Reconhecer francamente os seus erros, descobrir-lhes as causas, analisar as circunstâncias que os originaram, examinar atentamente os meios de corrigir esses erros, eis a marca de um Partido sério, eis aquilo que se chama, para um Partido, cumprir os seus deveres, instruir e educar a sua classe e em seguida as massas.»

Isto significa que os bolcheviques têm por dever não tentar diminuir a extensão dos seus erros, não iludir a sua discussão como frequentemente sucede connosco, mas pelo contrário reconhecer aberta e honestamente os seus erros, indicar aberta e honestamente a maneira de os corrigir e aberta e honestamente corrigi-los.

Eu não direi que todos os nossos camaradas se lancem nesta via com satisfação. Mas os bolcheviques, se realmente querem ser bolcheviques, devem encontrar em si próprios a coragem de reconhecer abertamente os seus erros, descobrir-lhes as causas, indicar os meios de os corrigir e ajudar assim o Partido a dar aos quadros uma verdadeira educação e uma verdadeira instrução políticas. Porque é apenas por este processo, apenas num ambiente de auto-crítica aberta e honesta que os quadros bolcheviques podem ser educados, que verdadeiros dirigentes bolcheviques podem ser educados. ...

Alguns camaradas dizem que não é aconselhável falar abertamente dos nossos erros, dado que o reconhecimentos aberto dos nossos erros pode ser interpretado pelos nossos inimigos e explorado por eles como um sinal de fraqueza. Isto são imbecilidades, camaradas, imbecilidades e nada mais... Pelo contrário, o reconhecimento aberto dos nossos erros e a sua rectificação honesta apenas podem fortalecer o nosso Partido, elevar a sua autoridade aos olhos dos operários, camponeses e trabalhadores intelectuais e aumentar a força e o poder do nosso Estado. E isto é o essencial. Desde que estejam connosco os operários, os camponeses e os trabalhadores intelectuais, tudo o resto se resolverá por si mesmo.

Outros camaradas dizem que o reconhecimento aberto dos nossos erros pode conduzir não à formação e melhoramento dos quadros, mas ao seu enfraquecimento e desorganização, que devemos poupar os nossos quadros, que devemos acautelar o seu amor próprio e a sua tranquilidade. Com este fim propõem que se passe ao de leve por cima dos erros dos nossos camaradas, que se atenue o vigor da crítica e, ainda melhor, que se ignorem estes erros. Tal orientação é não só fundamentalmente errada mas ainda perigosa ao mais alta grau, perigosa acima de tudo para os quadros que eles querem «poupar» e «acautelar». Poupar e conservar os quadros escondendo os seus erros é arruinar de certeza esses mesmos quadros

ENSINAR AS MASSAS E APRENDER COM AS MASSAS

Lénine ensinou-nos não só a ensinar as massas mas também a aprender com as massas.

O que significa isto?

Isto significa, em primeiro lugar, que nós, dirigentes, não nos devemos tornar presunçosos e devemos compreender que se somos membros do Comité Central ou Comissários do Povo, isto não quer dizer que possuamos todos os conhecimentos necessários para um trabalho de direcção correcto. Uma posição oficial, por si própria, não dá conhecimentos e experiência.

Isto significa em segundo lugar, que a nossa experiência sozinha, a experiência dos dirigentes, não chega para um trabalho de direcção correcto e que, por consequência, é necessário que a experiência individual, a experiência dos dirigentes, seja completada pela experiência das massas, pela experiência dos membros de base do Partido, pela experiência da classe operária, pela experiência do povo.

Isto significa, em terceiro lugar, que não devemos, nem por um instante, enfraquecer, e menos ainda romper, a nossa ligação com as massas.

Isto significa, em quarto lugar, que devemos prestar cuidadosa atenção à voz das massas, à voz dos membros de base do Partido, à voz das chamadas «pessoas simples», à voz do povo.

O QUE SIGNIFICA DIRIGIR CORRECTAMENTE

Não significa de maneira nenhuma sentarmo-nos num escritório e alinharmos directivas.

Dirigir correctamente significa:

Em primeira lugar encontrar a justa solução do problema. Mas não podemos achar uma justa solução sem tomarmos em consideração a experiência das massas que verificam os resultados da nossa direcção à sua própria custa.

Em segundo lugar organizar a aplicação da justa solução, o que não pode ser feito sem a ajuda directa das massas.

Em terceiro lugar organizar o controle da execução desta solução, o que de novo não pode ser feito sem a ajuda directa das massas.

Nós, dirigentes, vemos as coisas, acontecimentos e pessoas apenas de um lado, eu diria de cima; o nosso campo de visão é por consequência mais ou menos limitado. As massas, pelo contrário, vêm as poisas, acontecimentos e pessoas dum outro lado, eu diria de baixo; o seu campo de visão é, por consequência, também limitado, em certo grau. Para que o problema tenha uma solução justa, devemos juntar estas duas experiências. Só neste caso a direcção será correcta.

Isto é o que significa não só ensinar as massas, mas também aprender com elas.

Assim se conclui que a nossa experiência, a experiência dos dirigentes, sozinha, está longe de ser suficiente para nos guiar nos nossos problemas. A fim de que nos guie correctamente, a experiência dos dirigentes deve ser completada pela experiência das massas partidárias, pela experiência da classe operária, pela experiência dos trabalhadores, pela experiência das chamadas «pessoas simples».

Mas como é isto possível?

Isto só é possível se os dirigentes estão estreitamente em contacto com as massas, se estão ligados à massa dos membros do Partido, à classe operária, ao campesinato, aos trabalhadores intelectuais.

A ligação com as massas, o reforço dessa ligação, a vontade de ouvir a voz das massas, eis o que faz a força e a invencibilidade da direcção bolchevique.

Pode-se estabelecer como regra geral que, enquanto os bolcheviques mantiverem a sua ligação com as grandes massas do povo serão invencíveis. E, pelo contrário, será suficiente que os bolcheviques se separem das massas e quebrem a sua ligação com elas para se cobrirem da ferrugem burocrática, para perderem toda a força e se reduzirem a nada.

Os gregos da antiguidade tinham na sua mitologia um herói famoso, Anteu, que era, segundo a lenda, filho de Poseidon, deus dos mares, e de Gea, deusa da terra. Anteu queria muito a sua mãe, que o tinha dado à luz, que o tinha criado e educado. Não havia nenhum herói que Anteu não tivesse vencido. Era considerado um herói invencível. Onde residia a sua força? Residia no facto de que sempre que se encontrava em dificuldades numa luta com um adversário, tocava a terra, sua mãe, que o tinha dado à luz e criado, e ganhava novas forças. Mas tinha um ponto fraco: o perigo de ser de qualquer modo separado da terra. Os seus inimigos, conheciam esta fraqueza e espreitavam-na. E houve um inimigo que, aproveitando essa fraqueza, venceu Anteu. Foi Hércules. Como conseguiu vendê-lo? Agarrou-o levantou-o ao ar e impedindo-o de tomar contacto com a terra, estrangulou-o.

Penso que os bolcheviques lembram Anteu, o herói da mitologia grega. Do mesmo modo que Anteu são fortes porque mantêm contacto com sua mãe, as massas, que os deram à luz, os criaram e educaram. E enquanto mantiverem o contacto com sua mãe, com o povo, têm todas as possibilidades de serem invencíveis. Eis o segredo da invencibilidade da direcção bolchevique.

SOBRE A ATITUDE PARA COM OS QUADROS

Enfim, ainda uma questão. Quero falar da atitude formalista e francamente burocrática de alguns dos nossos comunistas perante o destino dos camaradas, perante as exclusões do Partido ou a reintegração dos excluídos nos seus direitos de membros do Partido.

A verdade é que alguns membros do nosso Partido pecam por uma grande falta de atenção pelos homens, pelos membros do Partido, pelos militantes. Mais ainda: não procuram conhecer os membros do Partido, não sabem como vivem nem como trabalham; duma maneira geral não conhecem os militantes. Por isso na sua maneira de abordar os membros do Partido, os militantes do Partido, não têm em conta o factor individual. E justamente porque, ao julgar os membros do Partido, não têm em conta o factor individual, agem à sorte: ou os elogiam em bloco e exageradamente ou os excluem do Partido por milhares e por dezenas de milhar, ou os censuram em bloco e também com exagero.

Esta atitude de seca indiferença em relação às pessoas, em relação aos membros e militantes do Partido cria artificialmente o descontentamento e a irritação de certos contingentes do Partido; e os traidores fascistas aproveitam-se habilmente destes camaradas irritados e arrastam-nos sabiamente para o lamaçal da sabotagem trotskista.


Inclusão 07/06/2019