A revolta de Yen Bay e o que ela significa

Tạ Thu Thâu

4 de abril de 1930


Primeira edição: publicado em La Vérité, órgão semanal da Liga Comunista (Oposição), n° 30, em 4 de abril de 1930.

Fonte para a tradução: seção espanhola do Arquivo Marxista na Internet.

Tradução: Rick Magalhães de Sá.

HTML: João Victor Bastos Batalha.

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Para compreender bem a revolta de Yen Bay e seu alcance histórico, é importante ter uma visão de conjunto do movimento revolucionário, que conduz necessariamente à análise do desenvolvimento econômico e social do país. O escopo desse artigo não nos permite realizar um estudo extenso. O esquema que aqui traço pode ser considerado como uma visão simples e geral da situação Indochina. É evidente que os diferentes pontos aqui esboçados serão desenvolvidos nos números seguintes.

Por enquanto, vamos nos limitar a falar sobre o desenvolvimento econômico e social da Indochina, por um lado, e o movimento revolucionário, por outro; simplesmente o que é necessário para compreender as características essenciais da revolta de Yen Bay, e compreender nossas perspectivas e nossas tarefas imediatas.

Esboço do desenvolvimento econômico e social da Indochina

Sabe-se que, antes de ser conquistada pela França, a Indochina era um país isolado, com uma economia rural extremamente disseminada, com um modo de produção ainda primitivo. Os habitantes viviam do cultivo em pequena escala, da criação de gado, da pesca, da caça e do artesanato.

A colonização foi uma verdadeira revolução. Introduziu a maquinaria, novo método de produção, e assim colocou o país em relação ao mundo “civilizado” (capitalista). Porém, essa foi uma revolução artificial, que nasceu do fato brutal da conquista, e não do processo normal de evolução econômico-social e cultural dos povos independentes. O período que vai desde a tomada de Saigon (1859), e o decreto de 21 de abril de 1891, que instituiu o poder civil, pode ser considerado um período de penetração militar. Ainda paralelamente a este último, se desenvolveu um processo de penetração econômica, evidentemente de lentidão extrema; se pode dizer que o início da exploração da Indochina se situa ao redor dos anos de 1900 (a primeira exploração mineira remonta a 1889, mas terminou em duas liquidações, a segunda datando de 1899). As minas, as grandes sociedades (dragagens, trabalhos públicos, eletricidade, cimento, destilarias), os transportes; em suma, as novas indústrias e o comércio, criaram no país um proletariado muito importante à medida que, a seu lado, se desenvolveu com uma surpreendente rapidez o trabalho assalariado dos campos de arroz e das plantações de seringueiras. (O processo de expropriação dos camponeses pelas grandes propriedades rurais, as concessões das grandes companhias e da missão católica foram objeto de estudo detalhado, tão importante é a questão agrária na Indochina). Quanto à nova burguesia comercial e industrial nativa, que vale ressaltar que nasceu de um choque artificial, ela tem dificuldades para estabelecer seu “equilíbrio vital”. O boicote de 1919, sob slogans patrióticos, é apenas uma das múltiplas tentativas dessa burguesia de criar um lugar no sistema capitalista. Em termos gerais, as relações das classes sociais são as seguintes:

Por um lado, um proletariado novo, duramente explorado, sem experiência política, e uma classe camponesa explorada e saqueada, formando três quartos da população Indochina.

Por outro lado, a burguesia europeia e chinesa rebocando a grande burguesia indígena e domesticando uma parte da pequena-burguesia com a ajuda de um aparato militar e administrativo relativamente importante. Entre estes dois campos se debatem, ainda, as classes médias (pequena burguesia agrícola, pequenos funcionários, intelectuais); que são muito importantes, uma vez que o processo de diferenciação de classes ainda não terminou sua curva.

Movimento “revolucionário”

Como se compreende atualmente, todo movimento dirigido contra o imperialismo é um movimento revolucionário, mas temos que dividir este movimento em dois períodos. O primeiro período vai desde a conquista até 1900. É o período anti-imperialista das guerrilhas (Phan-Dinh-Phung, Dê Tam), e das conspirações militares, em essência bem mais reacionária, já que sua profunda causa é a resistência ao novo modo de vida, de produção.

O segundo período começa a partir de 1900, e é de tendência progressista. Compreende as tramas mais ou menos sérias (tentativas de envenenamento da guarnição de Hanói, revolta de Thai Nguyen, conspiração Duy Tan), os movimentos mais ou menos prolongados (Phan-Chau-Trinh, Phan-Boi-Chau), que, ainda que diferentes por seu conteúdo de organização social, têm em comum o caráter burguês de suas reinvindicações, formuladas ou não: liberdade econômica e independência.

A revolta de Yen Bay

A revolta de Yen Bay é obra da fração de esquerda desse nacionalismo liberal, mais precisamente do Viet Nam Quoc Dan Dang (Kuomintang anamita). Convém distinguir da corrente nacionalista duas tendências claramente opostas: a primeira, reunindo os elementos formados na escola francesa, é claramente reformista (Partido Constitucionalista). A segunda, agrupando os estudantes influenciados pela revolução chinesa e partidários do “sunyatsenismo”, opta pela derrubada do imperialismo pela violência.

O Kuomintang anamita, partido ilegal, foi descoberto no início de 1929. Seu julgamento, conduzindo pela Comissão Criminal de Hanói, concluiu ano passado a condenação de 57 de seus membros a quase quatro séculos de detenção e de prisão, o que desconcertou o partido e o conduziu a essa explosão de Yen Bay, conquistando em três dias todo o delta do Rio Vermelho, a região mais povoada e pobre de Tonquim. Sempre prestando homenagem ao heroísmo dos valentes combatentes dos acontecimentos de Yen Bay, cuja importância no movimento revolucionário da Indochina é indescritível, sempre se declarando como solidários com os 52 condenados à morte, com os 50 condenados a campos de trabalho forçado, assim como com os 5 deportados; nos reservamos, entretanto, o “direito revolucionário” de fazer críticas a este movimento. Os acontecimentos de Yen Bay constituem “apenas uma revolta organizada”, o prólogo de um movimento revolucionário mais vasto e profundo. Isso não é uma revolução. Significa que não o culpamos por seu caráter localizado, muito menos a falta de organização com a população civil. Durante o curso da revolta, grande parte da população permaneceu calma, enquanto os camponeses ofereceram seu apoio aos agentes da repressão. Entretanto, os militantes do Kuomintang anamita não são leigos. São formados na escola de Sun Yat Sen, alguns prematuramente na de Marx e Lenin. O que abordamos é a questão da ideologia revolucionária. Não nos surpreende que, no período atual, onde a frente anti-imperialista ainda é desorganizada, a base ideológica que presidiu o movimento de Yen Bay seja confusa: uma sorte do misticismo nacionalista facilmente acessível para as massas explica a rapidez com a qual o Kuomintang anamita conquistou partidários. A síntese sunyatsenista da democracia, do nacionalismo e do socialismo tem esse grave inconveniente que a mantém: a luta em sua etapa abstrata, que não permite ver as relações concretas de classes, e os laços reais e orgânicos entre a burguesia indígena e o imperialismo francês. A revolta de Yen Bay, caracterizada por uma insuficiência ideológica, para não dizer uma ausência de base teórica ligada a uma realidade (o sunyatsenismo não é um alimento substancial em período revolucionário), levanta mais que nunca o problema da formação marxista dos militantes. Sendo parte do movimento “revolucionário” há cinco anos, tivemos mais de uma vez a ocasião de constatar traições e desânimos, provenientes de uma falta de preparação ideológica. Esta grave deficiência foi apontada mais de uma vez para a Internacional Comunista e para sua seção francesa. O que fizeram para preenchê-la? O partido francês continua arrastando seus quadros, que, por outro lado, são pequeno-burgueses, para uma agitação estéril, sem pensar em sua formação. Continua a se gabar do que chama de movimento revolucionário na Indochina, sem querer entender que a situação que ainda é revolucionária na Indochina não corresponde a uma igual consciência revolucionária. Já não se trata mais de uma diferença tática entre nós e a Internacional. É a velha luta que Lenin sempre travou contra a espontaneidade no movimento revolucionário, contra o empirismo revolucionário degenerado em oportunismo, ainda mais horrível quando leva o manto revolucionário aos olhos das massas. Nas colônias, nos países orientais, a oposição possui tarefas importantes, tem que conquistar as massas, ainda virgens da fraseologia stalinista.

Um comunista indochino