Manifesto Programa da UDP

União Democrática Popular

3 de Janeiro de 1975


Primeira Edição: ....

Fonte: Ephemera - Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira

Transcrição: Graham Seaman

HTML: Fernando Araújo.


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Neste momento, de toda a parte procura-se virar as atenções populares para as eleições à Constituinte, como se fosse essa a chave do bem-estar e de uma democracia verdadeira.

A UDP surge para dizer ao povo operário e camponês: Não são as eleições que vão mudar a nossa vida. A igualdade do direito de voto assente nas desigualdades sociais é uma burla. Aqueles que dizem à classe operária que vote e que não se preocupe com o resto são os agentes da burguesia que querem cozinhar tranquilamente as leis que convêm ao capital. Iremos votar, sim, para pôr à prova os partidos e os seus programas, mas não esquecemos que a decisão do nosso destino está na luta contra o capital e que as eleições não são mais do que um episódio nessa luta.

A UDP não vem adormecer-vos com promessas eleitorais mas propor o seu programa de luta porque hoje, como ontem, como amanhã, é a luta de classe a única estrada que conduz os explorados e oprimidos à libertação.

Neste momento, de toda a parte procura-se virar as atenções populares para as eleições à Constituinte, como se fosse essa a chave do bem-estar e de uma democracia verdadeira.

1- O CAPITALISMO RESISTE

A CRISE SOBRE OS NOSSOS OMBROS — A aventura colonial terminou em desastre para os capitalistas, arrastando consigo a ditadura fascista para o lixo. Mas a burguesia, que foi quem nos meteu na guerra, essa não caiu; continua a viver à nossa custa e mais, entende que devemos ser nós a pagar os custos da crise em que lançou o pais com a sua avidez de lucro.

Prometem-nos vida nova e maior justiça, mas o que vemos de concreto, passados já 8 meses sobre a queda do fascismo? Duzentos mil desempregados, carestia galopante. ritmos e horários de trabalho cada vez mais pesados — são estas as tenazes com que o capital nos estrangula. A crise avoluma-se de dia para dia e é nas nossas costas que a descarregam. Aquilo que obrigámos os capitalistas a darem a mais no Verão, volta-lhes agora para os bolsos e com juros, por meio da alta dos preços, da campanha da produtividade e da redução do emprego. Quem ganha são eles, quem perde somos nós.

A situação dos camponeses continua a ser tão aflitiva como era no tempo do fascismo: os monopólios, os proprietários, os comerciantes, toda a casta de parasitas, vivem à custa do seu trabalho. reduzido-os à fome.

A CAUSA DA INFLAÇÃO É A GANANCIA BURGUESA — Dizem-nos que a crise é o resultado da inflação que alastra em todo o mundo. Mas a inflação não é nenhuma força misteriosa, é a ganância da exploração capitalista que, a cada aumento de 1$00 nos salários, carrega nos preços em mais 2$00 e intensifica o ritmo de trabalho. A inflação é a ditadura do lucro máximo roubando os trabalhadores. Perguntem porque não há inflação na China ou na Albânia. Lá, os preços não sobem; pelo contrário, descem! E descem porque lá não há parasitas a viver à custa dos produtores. Esse é o segredo. Mas os governantes gostam de falar em tudo menos em exploração e por isso inventam explicações confusas sobre a inflação.

A DEMOCRACIA NÃO CHEGOU AS FABRICAS — Antes não sabíamos o que era a «democracia» capitalista. Agora começamos a saber o que é: um regime em que a burguesia sorri e promete para melhor nos arrancar a pele; um regime em que se denunciam as desigualdades para melhor nos convencer a ter paciência; um regime em que os ricos são tão ricos como antes mas juram que não querem privilégios porque são democratas.

Certos abusos mais odiosos que vigoravam nas fábricas e nas herdades à sombra do terror da PIDE estão a vir abaixo ao embate da luta operária dos últimos meses; mas o essencial nas relações entre os homens não mudou: apesar da revolução, os operários e camponeses continuam a ser máquinas condenadas a produzir mais-valia para sustentar os parasitas burgueses, tal como no fascismo. Como dizem os camaradas têxteis da BARROS: «A democracia não chegou às fábricas; lá fora convencem-nos de que já somos homens livres mas aqui dentro continuamos a ser escravos do capital». Isto é o resumo da democracia burguesa: ditadura da burguesia.

ANTI-MONOPOLISMO É EXPROPRIAR OS MONOPÓLIOS — A actual crise económica é manobrada pelos banqueiros que querem pôr a classe operária de joelhos e demonstrar ao Exército ao governo que devem seguir a política por eles ditada; por isso, desde o 28 de Setembro provocam o desemprego, cortam os créditos e a produção, exportam capitais para o estrangeiro, fazendo chantagem para se assegurarem que das eleições sairá o regime que lhes convém. E o Exército e o governo, desejosos de lhes agradar, apressam-se a satisfazê-los, tentando enganar o povo com frases sonoras.

Com efeito, a estratégia anti-monopolista, ultimamente tão apregoada, o que é? Acudir às empresas em falência (BIP, TRAMAGAL, PROPAM, AC-TORRALTA. etc.) para salvar os interesses dos accionistas à custa do Tesouro público, ou seja, à nossa custa; criar empresas do Estado nos ramos que de momento não dão interesse ao capital (minas, transportes, energia); meter na cadeia por 15 dias um ou outro financeiro mais trafulha — será isto uma política anti-monopolista ou será antes consolidar o poder do grande capital em crise, à custa do dinheiro do povo, a quem se tenta enganar? Política anti-monopolista real seria expropriar os capitais dos monopólios sem indemnização, mas disso ninguém fala no governo!

A UDP afirma que a estratégia anti-monopolista do governo actual está a resultar numa ajuda para o capital financeiro escapar à grande crise que atravessa, pondo o orçamento do Estado ao seu serviço; é isso que significa o programa de «associar o controle do Estado sobre a economia com o incremento da iniciativa privada»: isto é capitalismo monopolista de Estado com fachada progressista.

O PAIS CONTINUA ABERTO AO IMPERIALISMO — Ao mesmo tempo que se fala em estratégia anti-monopolista. delegados do governo e do patronato visitam os E.U.A., Alemanha, Inglaterra, França, etc., oferecendo garantias para as multinacionais investirem o seu capital. O ministro Cunhal, que se diz comunista, perde toda a vergonha e suplica o investimento estrangeiro como se pedisse uma esmola a benfeitores.

Mas investimento estrangeiro o que é? É exploração redobrada da nossa força de trabalho, é sujeição dobrada ao imperialismo! Teremos que agradecer que nos apertem mais ainda a canga que levamos ao pescoço?

Dizem que sem o investimento estrangeiro a economia nacional vai abaixo. Já no tempo do fascismo nos diziam o mesmo, é quererem convencer-nos de que só poderemos sobreviver explorados, que não podemos existir livres. Quem precisa do investimento estrangeiro não é o povo trabalhador de Portugal, são os capitalistas e os seus agentes, dispostos a vender o país aos talhões e a alugar os operários como cabeças de gado para poderem prosperar à sombra dos gigantes monopolistas.

A UDP alerta: perdidas as colónias, o grande capital está disposto a vender o pais em leilão para garantir a sua taxa de lucro, está disposto a todas as cedências perante o imperialismo, que aproveita a crise actual para amarrar ainda mais Portugal à situação de país explorado.

NOS CAMPOS, TUDO NA MESMA — Todos sabem que Portugal não poderá ser livre e próspero enquanto não for feita uma revolução agrária que dê aos camponeses a Terra e os meios de a tornar fértil. Todos sabem que a classe dos latifundiários e dos proprietários sempre foi um alicerce da reacção e do fascismo. Mas o actual regime democrático tem tanto medo de tocar no pilar central do edifício burguês, a sagrada propriedade privada, que nem mesmo esses se atreve a beliscar sequer, embora sejam um estorvo ao desenvolvimento do próprio capitalismo.

Até agora, em matéria de reforma agrária, o regime não conseguiu ir mais longe do que prever o arrendamento pelo Estado dos latifúndios incultos; será mais um bom negócio para os proprietários à custa do orçamento e em nada beneficiará os assalariados e camponeses pobres. Para estes, a perspectiva é esperar e o ministro Cunhal já diz claramente que por agora não se põe a questão da reforma agrária. A massa dos camponeses, tal como a classe operária, terá que tirar as suas conclusões sobre os interesses que serve o novo regime.

O REGIME ESTA COM A VELHA SOCIEDADE — Como se explica que nenhum dos cancros que corroem o país fosse até agora atacado e pelo contrário estejam a ser protegidos? O M.F.A. tem dito que não lhe compete fazer alterações à estrutura social do país, as quais só cabem por direito à Assembleia Constituinte. Mas mete-se pelos olhos dentro que se o M.F.A. fosse o movimento popular e revolucionário que diz ser, o seu primeiro cuidado seria destruir a base social do fascismo, e isto precisamente antes de quaisquer eleições, a fim de impedir qualquer hipótese da reacção levantar cabeça.

Falemos claro! Perante a esmagadora engrenagem monopolista-imperialista que sufoca o país só há duas atitudes possíveis: ou se recorre à energia revolucionária do povo para a derrubar, ou se entra na via do compromisso com os inimigos do povo. Os oficiais democratas do M.F.A. atacaram certos ramos podres da nossa sociedade mas não se atrevem a tocar na raiz da podridão, no maior explorador, no maior tirano de Portugal, no causador da miséria e da guerra — o grande capital. Por esse motivo põem-se contra os trabalhadores.

OS RICOS QUE PAGUEM! — De todos os lados clama-se à classe operária: «Austeridade! Apoio à reconstrução nacional! Nada de greves!» O Ministério do Trabalho, o partido de Cunhal e a Intersindical até já são elogiados pelas multinacionais, pela maneira como resolvem os conflitos de trabalho!

A classe operária já demonstrou de sobejo o seu apoio ao 25 de Abril, chegando mesmo a oferecer ao governo o fruto do seu trabalho. Agora chegou a altura de dizer: Basta! Os ricos que deem o exemplo de austeridade! Já pagámos a aventura colonial com 13 anos de privações, mortos e estropiados, não vamos continuar a pagar a reorganização dos negócios dos nossos patrões. Falam-nos do interesse de todos nós; não sabemos o que isso é. Conhecemos sim os interesses da nossa classe em oposição aos interesses dos exploradores. Se estamos em democracia como nos apregoam a todo o momento, exigimos medidas a bem da maioria e contra a minoria exploradora; essa é que é a prova real de toda a verdadeira democracia e essa prova real ainda não a vimos.

A classe operária não se deixará amarrar eternamente com o papão do caos económico; como assinalam os camaradas da MOMPOR-CUF, é a exploração capitalista e não a luta operária que põe em perigo a economia nacional. Se o dinheiro não chega, pois é muito simples: cortem nos ordenadões dos administradores, nas despesas inúteis de milhões de contos que se desbaratam todos os meses. A classe operária está disposta a lançar-se na luta para forçar os capitalistas a pagarem os custos da crise que eles provocaram como dizem os camaradas da CAMBOURNAC.

2 - O FASCISMO ESTÁ VIVO

SALVADORES DO POVO OU SALVADORES DO CAPITAL? — Fim da PIDE, liberdades, partidos... Há trabalhadores que se admiram ingenuamente pela facilidade com que se sumiu o fascismo porque não medem a enorme derrota sofrida em África pelo exército colonialista e o tremendo golpe aplicado ao capitalismo português pelo triunfo dos povos irmãos das colónias.

Confrontada com um grande desastre militar, político e económico, a burguesia fez um enorme esforço para se adiantar aos acontecimentos e jogou tudo por tudo na audácia, na iniciativa, nas concessões e nas promessas, a fim de não ser varrida com o fascismo. Para não ser derrubada, para convencer o povo a suportar as privações da crise que ela própria cavou, a burguesia não tinha outro remédio senão fazer-se democrata por uns tempos.

É certo que o povo ganhou com esta viragem que o livrou da ditadura e por isso deu o seu apoio ao M.F.A. O interesse popular era apoiar e empurrar para diante todas as forças que varriam o lixo reaccionário. Mas neste momento torna-se já claro que a acção anti-fascista do M.F.A. não se destinou a salvar o povo mas a salvar o capital da bancarrota e que a sua capacidade renovadora chegou ao fim. Quanto mais se apregoa a revolução do 25 de Abril, mais claro se toma que essa revolução já deu tudo o que tinha a dar.

É vital para o povo e sobretudo para a classe operária perder todas as ilusões e preparar-se para as duras batalhas de classe que se avizinham.

A «REVOLUÇÃO DAS FLORES» — Embebedam-nos diariamente com as conquistas da revolução, procurando convencer-nos de que podemos dormir descansados à guarda do Exército que nos salvou. Mas a autenticidade duma revolução sempre se mediu pela iniciativa revolucionária das massas trabalhadoras, irrompendo na cena política e varrendo sem cerimónia, pela força, os privilégios instalados. Ora, o traço mais marcante da nossa revolução foi a forma pacífica, gradual, vinda do alto, como se têm feito as transformações. Cunhal, Soares, Sá Carneiro, de mãos dadas com o Exército, têm-se aplicado a substituir os quadros e estruturas fascistas com o mínimo de solavancos, evitando as convulsões, para não deixar o poder cair na rua. De todos os lados nos gritam: «Nada de intolerância! Civismo! Serenidade!» Os cunhalistas então excedem todos os outros no zelo com que sabotam qualquer acção popular e já ganharam o título de «sapadores bombeiros do capital».

Como resultado deste pavor geral pela iniciativa popular, o ataque aos criminosos fascistas-capitalistas foi filtrado, neutralizado, castrado; não se extremaram os campos entre revolução e contra-revolução; a grande vassourada popular foi reduzida a um tímido espanejar de pó e a massa dos fascistas e colaboracionista pôde passar tranquilamente à categoria de respeitáveis democratas; o inimigo não foi desbaratado, recuou em boa ordem e pode agora preparar o contra-ataque. Eis os resultados da revolução das flores!

VIGILANCIA! — Aquilo que realmente mudou foi muito pouco. Mas à burguesia convém neste momento convencer o povo de que está a avançar a passos de gigante e que é mesmo dono do poder. Daí a demagogia desenfreada com a foice e o martelo, com o socialismo e o comunismo, em que Cunhal é especialista e que está a iludir certos sectores populares; daí as proclamações apresentando o Exército como o povo em armas (no mesmo momento em que os soldados são de novo sujeitos à velha disciplina da caserna e proibidos de reunir e discutir!). Os burgueses lamentam-se que isto assim vai para o socialismo e piscam o olho uns aos outros; sabem que lhes convém chorar-se e regatear para darem o menos possível, fingindo que se arruínam. A sua táctica é desarmar o ímpeto popular por meio da demagogia até que a situação esteja suficientemente segura e se possa voltar a falar a sério, ou seja, reprimir brutalmente as massas.

A atmosfera parece de tal modo desanuviada que muitos trabalhadores não sentem a tempestade que se acumula no horizonte e caminha velozmente sobre nós.

A UDP alerta: se alguém vos oferecer uma revolução pacífica, podeis estar certos de que é falsa! Meio século de fascismo não pode ser varrido com um pronunciamento militar, umas tantas prisões e umas tantas demissões. Vigilância, camaradas! Na República do 5 de Outubro, também o povo foi compreensivo e tolerante e por isso acabou por ser amordaçado pelo fascismo. Desta vez poderá ser muito pior!

UNIDADE! — A medida que os trabalhadores manifestam o seu descontentamento pelo caminho que levam as coisas, o Exército e os partidos da coligação procuram tapar-lhe a boca com o apelo: «Unidade para não deitar a perder a liberdade! Quem enfraquece a unidade serve a reacção!» Mas a classe operária já aprendeu a perguntar. Unidade, sim, mas à volta de quem? À volta dos que querem levar a luta anti-fascista até ao fim, ou à volta dos conciliadores, oportunistas e falsos democratas, que têm pena dos pides e não querem saber dos sofrimentos do povo?Unidade para lutar ou para nos rendermos? Para não romper a unidade, teremos que nos pôr de joelhos?

Os camaradas da LISNAVE já definiram em Setembro a táctica que convém à classe operária: «Estaremos com o M.F.A. sempre que ele esteja connosco». Isto quer dizer: Independência operária! Direcção operária! Unidade à volta da classe operária! É esta a unidade que a UDP defende.

AS LIÇÕES DE 8 MESES — Nestes 8 meses tivemos mais lições de luta de classes do que em muitos dos anos que passaram.

Vimos como, mesmo depois de se reconhecer derrotada em África, a burguesia não recuou perante novos crimes para tentar salvar alguma coisa da exploração colonial e prepara neste momento novos massacres em Angola, isto dá-nos uma ideia do inimigo feroz que temos pela frente.

Vimos como o M.F.A. ganhou o apoio e simpatia de milhões de trabalhadores pela sua avançada anti-fascista, para logo a seguir usar esse prestígio como dique para conter a torrente popular; isto mostra-nos as duas caras de democracia burguesa, mesmo da que parece mais radical.

Vimos em Setembro, quando uma parte da burguesia julgou a situação madura para voltar ao fascismo, como os democratas burgueses se sumiram pelo alçapão, enquanto os trabalhadores acorriam às barragens nas estradas; isto mostra-nos em quem podemos confiar.

Vimos o partido traiçoeiro de Cunhal agitar a bandeira do comunismo ao mesmo tempo que se senta nas cadeiras do governo, trata de negócios de importação e exportação, fura as greves e persegue os operários revolucionários; isto mostra-nos o inimigo infiltrado no nosso campo.

Chegou a hora de aproveitarmos estas lições para darmos um passo em frente.

A CLASSE OPERARIA TEM UMA PALAVRA A DIZER — Neste momento, a reacção fascista-imperialista, travada pelo povo em Setembro, passou a uma nova táctica: infiltra-se em toda a parte e ganha terreno à sombra dos partidos legais, enquanto as forças chamadas progressistas, receosas das massas e da revolução, fazem equilibrismos no arame para tranquilizar o grande capital e preparam o terreno para passar a uma nova fase.

O grosso da burguesia está a jogar na cartada eleitoral mas se ela não chegar para vergar o povo, tem o golpe terrorista de reserva. É uma hipótese para ter em conta. Durante a campanha eleitoral, com os partidos burgueses disputando furiosamente o controle do aparelho de Estado, numa situação instável que é agravada pela crise do fascismo em Espanha, o imperialismo e o capital financeiro podem lançar-se no golpe.

Nesse novo crime, eles contariam com o apoio não só da escumalha fascista que por ai anda à solta, mas também dos dois cães de fila da reacção: os colonos que preparam um último golpe em Angola, cheios de raiva pelos privilégios perdidos, e os latifundiários, saudosos dos velhos tempos do salazarismo e ansiosos por desforra. Quanto à pequena burguesia, sempre hesitante e cobarde, girando como um catavento. sempre medrosa dos «excessos populares», é incapaz de qualquer oposição séria ao fascismo.

Pela via constitucional ou pela via do golpe, a burguesia prepara-se para reforçar de novo a sua ditadura e encerrar o período de transição aberto pela derrota colonial. A classe operária, chamando para o seu lado os camponeses e toda a massa do povo trabalhador, deve preparar-se para responder a esta ofensiva que se avizinha. Não queremos que a democracia recue, queremos que avance! E para que ela avance é preciso atacar a reacção. «Democracia aos operários, repressão sobre os reaccionários», apontam os camaradas da LISNAVE.

3 - O NOSSO PROGRAMA

O NOSSO OBJECTIVO — O programa da UDP é a democracia popular e o socialismo. Queremos acabar com esta sociedade cruel em que o trabalho torna o produtor escravo do que nada faz, queremos construir em Portugal uma sociedade nova donde seja banida a exploração do homem pelo homem e onde a classe operária aliada aos camponeses mande em tudo; uma sociedade em que os bens sociais pertençam ao Estado e o Estado pertença à classe operária, tal como acontece hoje na China e na Albânia. Nós podemos organizar tudo e dirigir tudo — somos nós que produzimos tudo; não precisamos dos burgueses para nada. Esta é a grande lição que ainda há pouco nos foi dada mais uma vez pelas camaradas da SIDERURGIA. Lutar pelo socialismo e pelo comunismo é hoje o alvo de todo o trabalhador consciente.

A UDP vê na Democracia Popular a fase inicial da ditadura do proletariado e do socialismo, quando os trabalhadores, tendo tomado o poder, darão as primeiras três grandes machadadas no capitalismo:

A partir dai avançaremos com segurança na edificação do socialismo em Portugal.

O CAMINHO PARA O SOCIALISMO — A UDP não procura conquistar a adesão dos trabalhadores ao seu programa fazendo o rol das regalias que obterão no socialismo. Todo o operário, todo o camponês pobre, é capaz de compreender de imediato que uma sociedade onde não haja exploradores e onde as massas resolvam os seus problemas em verdadeira democracia, uma sociedade sem privilegiados, sem crises e sem inflação, é mil vezes melhor do que a sociedade actual. Aquilo que a classe operária precisa não é que lhe prometam regalias mas sim de um partido seu que a oriente na via que conduz ao socialismo; por aí é que se vê se um partido é servidor dos trabalhadores ou é um servidor disfarçado da burguesia.

Enganam a classe operária os cunhalistas e soaristas quando prometem um socialismo em liberdade e por via pacífica, um socialismo por meio do voto, um socialismo sem derrubamento da burguesia e sem ditadura do proletariado sobre a burguesia; enganam a classe operária os soaristas e outros social-democratas quando acenam com o avanço para o socialismo por meio da auto-gestão e da co-gestão; enganam a classe operária os que acenam com a possibilidade actual de contrôle popular como faz o MPD-CDE, ou com o contra-poder operário, como faz o MES, ou com os comités operários — órgãos do poder popular na fábrica, como faz o MRPP, os trotskistas e outros falsos revolucionários. Todas essas promessas são ópios para quebrar a combatividade dos operários, desviá-los do seu Partido e da insurreição. O Estado não se democratiza gradualmente nem se toma por dentro — tem que ser destruído para dar lugar a um novo Estado dos trabalhadores. Não há socialismo nem contrôle nem poder enquanto os operários e camponeses não tomarem o poder à burguesia. Até lá, um só caminho — a luta, a organização, a unidade dos explorados.

LUTA DE MASSAS — O nosso programa resume-se assim numa palavra: luta de massas! É a acção das massas o grande criador da História e o motor que transforma as sociedades e varre tudo o que é caduco. É na luta de massas contra a reacção que a revolução cresce e progride como um rio caudaloso que nada pode deter. Quando o povo operário e camponês, guiado pe!o seu Partido, estiver erguido na luta contra tudo o que é reaccionário, não haverá forças que o impeçam de se tornar dono dos seus destinos. O nosso programa para a democracia popular e o socialismo está pois na luta popular pelo Pão, pela Paz, pela Terra, pela Liberdade, pela Independência nacional.

A UDP organiza-se nas fábricas, nos bairros, nas aldeias, para mobilizar os trabalhadores pela luta; não é uma massa amorfa de membros, mas um conjunto organizado de núcleos militantes voltados para a acção diária.

O INIMIGO ENTRE NÓS — Para que cresça a decisão de combate dos operários e camponeses, unidos como um verdadeiro exército de explorados, as suas fileiras têm que ser limpas dos que cá andam a servir a causa inimiga: os que defendem a colaboração com a burguesia, espalham a esperança nas reformas oferecidas de cima, semeiam o pavor perante o inimigo, a dúvida, a vacilação, a desconfiança, a divisão. Nenhum exército ganha vitórias sem se limpar dos sabotadores.

Esses sabotadores existem entre nós: são os agentes do partido de Álvaro Cunhal, que mostram a bandeira vermelha do comunismo para se fazer passar por nossos e melhor se infiltrarem por toda a parte. Nas fábricas, nos sindicatos, nos quartéis, nas aldeias, eles não param no seu serviço desprezível de sabotadores do movimento operário e camponês, furando as lutas e greves (lembremos a LISNAVE, TAP, EFACEC, CTT, etc., etc.), pondo o movimento a reboque do governo, pregando a via das reformas e do voto — entregando-nos à burguesia.

As suas grandes proclamações são como os tambores: fazem muito barulho mas não têm nada dentro. Começam por nos dar muita razão e falar contra as injustiças, mas passada meia hora já não estão a empurrar para a cedência, a esperança, a consolação; gostam de resolver tudo à porta fechada com os chefes, patrões e ministros; furam por toda a parte e querem saber de tudo; são todos sorrisos, boas vontades e palavras camaradas mas caluniam da forma mais reles os revolucionários, chamando-lhes provocadores, aventureiros ou agentes da CIA.

Muitos bons camaradas operários e camponeses têm sido iludidos por esta canalha de lacaios do capital e entrado para o seu partido, convencidos de que é um verdadeiro Partido Comunista; devemos abrir-lhe os olhos antes que se estraguem lá dentro. Àqueles que se desorientem com o palavreado marxista dos cunhalistas, devemos mostrar que o marxismo começa por uma coisa muito simples: ódio de classe à burguesia – e isso é o que eles não têm.

Ultimamente, descobriram mais um argumento para quebrar a luta: «Estejamos calmos — dizem — porque se os americanos boicotarem a nossa economia, os barcos russos virão acudir-nos; se os americanos ameaçarem a nossa liberdade, os russos virão defender-nos.» Como se nós não soubéssemos que os dirigentes actuais da URSS são tão comunistas como Cunhal! Depois que renegaram Staline e criaram uma nova classe privilegiada que oprime os operários e camponeses, eles deixaram de se importar com as lutas dos povos: o que querem é dominar o mundo de sociedade com os imperialistas americanos.

Camaradas: estejamos vigilantes contra os agentes da burguesia que usam a bandeira comunista!

O LUGAR DA UDP — A UDP surge como uma frente destinada a unir todos os que querem tomar parte na luta pela democracia popular e o socialismo. Se não foi possível até agora reunir numa única organização todos os que defendem esse objectivo, temos consciência de que não poupámos esforços para isso. Continuaremos a trabalhar pela unificação de todo o campo revolucionário popular numa frente única; é isso que exigem os interesses da revolução e todos os operários conscientes. A nossa prática demonstrará a nossa sinceridade.

Sabemos contudo que os progressos na ampliação da unidade popular revolucionária serão limitados enquanto não ressurgir em Portugal o Partido Comunista, o glorioso partido operário de José Gregório, Militão Ribeiro e Alex. Esse partido, cujo nome o traidor e renegado Álvaro Cunhal hoje usa abusivamente, só esse partido poderá ser o guia do proletariado para a revolução, o alicerce seguro da frente popular e da mais larga unidade. Na sua reconstrução se concentram actualmente os esforços das organizações marxistas-leninistas, de todos os operários conscientes, de todos os que servem a classe operária. A ausência do Partido Comunista acumula enormes perigos sobre o povo português no momento actual; assim que ele apareça, daremos grandes passos em frente na via da revolução.

A UDP não pretende de forma nenhuma substituir-se a esse partido mas ajudar pela sua acção a reunir as condições para que ele ressurja no mais breve prazo.

4 - A LUTA IMEDIATA

A NOSSA POLÍTICA NA FÁBRICA

A NOSSA POLÍTICA NA CIDADE

A NOSSA POLÍTICA SINDICAL

A NOSSA POLÍTICA NO CAMPO

A NOSSA POLÍTICA ANTI-FASCISTA

A NOSSA POLÍTICA ANTI-COLONIAL

A NOSSA POLÍTICA ANTI-IMPERIALISTA

APELO!

Camarada operário! Camarada camponês!

Camaradas soldados e marinheiros!

Empregado, estudante ou intelectual que desejas servir a causa do povo!

Este é o nosso programa de luta.

Precisamos da tua adesão à UDP, do teu trabalho organizado num núcleo UDP, da tua acção na fábrica, no sindicato, no bairro, na herdade, no quartel, para ajudar a consolidar o bloco popular revolucionário! Precisamos da tua ajuda financeira para divulgarmos o programa UDP! Precisamos do teu voto nas eleições, para dar a conhecer que existe uma corrente popular revolucionária em Portugal.

Ajuda-nos a pôr de pé a UDP, a frente combativa dos explorados e oprimidos!

Ajuda-nos a dar novo impulso à luta popular durante a próxima campanha eleitoral e para além dela!

Ajuda-nos a tornar mais próxima a reconstrução do Partido Comunista, a vanguarda organizada da classe operária destinada a conduzir o nosso povo ao derrubamento do capitalismo!

Viva a classe operária! Viva a aliança operária camponesa!

Viva a Democracia Popular e o Socialismo!

Em frente com a UDP!

Lisboa, 3 de Janeiro de 1975.

A COMISSÃO PROMOTORA DA UDP

Agostinho Fernandes Palma
Angelo Moreira Lourenço Rodrigues
Dionísio João da Silva Lopes

Eduardo da Silva Pires
João Pulido Valente
José Manuel Andrade Luz
José Pisco
Secundino António Ribeiro
Vladimiro Marques Guinot


Inclusão 08/04/2019