A Luta Continua: Canções de Intervenção

Círculo Cultural de Setúbal

1976?


Autores: As cancões no livrinho ou são da autoria ou do José Afonso ou do Vitorino, ou são tradicionais e cantados por eles. O Zé Afonso era o elemento mais conhecido do Círculo Cultural.

Fonte: Documento gentilmente emprestado por Carole Bonifas.

Transcrição e HTML: Graham Seaman.


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Introdução: O papel do cantor de intervenção em Portugal

As cantigas de teor politizante tiveram um papel de relevante importância na formação de toda uma consciência anti-fascista ao longo de, pelo menos, os últimos treze anos (1961-74) da ditadura terrorista de Salazar-Caetano.

O cantor era — é! — acima de tudo, um militante, um agitador. As situações em que ele podia cantar nada tinham a ver com a segurança e a amenidade de uma sala de espectáculos. Em definitivo, a concepção de “show”, de recital, é totalmente estranha à realidade da actuação do cantor de intervenção, neste país.

Poder-se-á situar o aparecimento da canção de contestação nos anos 1961-62, revestindo uma forma de ruptura com as tradicionais cantigas dos estudantes de Coimbra, os fados. Os textos reflectiam a revolta contra a guerra fratricida que o povo português era obrigado a praticar em África — em Angola, em Moçambique, em S. Tomé e Príncipe, na Guiné. José Afonso é o iniciador do movimento, logo seguido por Adriano Correia de Oliveira e Manuel Freire. Mais tarde vieram, da emigração, os testemunhos de José Mario Branco, Luis Cilia, Sérgio Godinho, Tino Flores, e, dentro do país, Vitorino, José Jorge Letria, Pedro Barroso, Francisco Fanhais, José Barata Moura, Aristides, o Grupo de Acção Cultural, Fausto,

Os discos saem, é certo, mas quem os consome é a burguesia, Há que ir ás aldeias, ás fábricas, aos bairros, contactar directamente com os operários, com os camponeses — com os explorados! Aprender para divulgar!

Aconteceu o 25 de Abril. Se “Grândola” é o sinal para o despoletar da acção dos capitães, o papel dinamizador que poderia caber aos cantores nunca foi enquadrado ou simplesmente reconhecido a nível oficial.

Os cantores mais coerentes estão, neste momento, a dar todo o seu esforço ao apoio e divulgação das lutas que se travam a nível das cooperativas, das fábricas, do quartéis, dos últimos redutos do Poder Popular, o que é olhado com desconfiança, quer por alguns partidos — aos quais interessa não a consciencialização, mas sim a capitalização de votos — quer pelo Governo de Soares, o governo que serve os interesses dos autores do golpe contra-revolucionário de 25 de Novembro.



Inclusão: 04/05/2023