Comunicado n.º 36 da Comissão de Trabalhadores da COTRA

1975


Data: 1975

Publicado por: Comissão de Trabalhadores da COTRA da Siderurgia Nacional

Fonte: Anexo do livro: "Contrapoder e Revolução" de Fernando Pereira Marques, Diabril 1977

Nota: Referências feitas a nomes de pessoas retiradas por um principio de discrição

Transcrição e HTML: Graham Seaman.


COMISSÃO DE TRABALHADORES

Comunicado n.º 36

CAMARADAS

A Comissão de Trabalhadores, logo que viu encerrada a nossa gloriosa luta pela queda de um velho e seboso privilégio de que a administração se servia para ter junto de si um aparelho humano especializado em espezinhar toda a gente, reiniciou a tentativa de resolução de um outro gravíssimo problema que afecta a grande maioria dos Trabalhadores SN: o tratamento salarial desigual entre categorias, cujo resultado, à velha maneira colonial, é a transformação de uns em «brancos» e outros em «pretos».

Este tratamento é tão velho como o fascismo, mas ultimamente foi agravado pela posição unilateral da administração, quando promoveu, sem a concordância de COTRA, os Encarregados, Assistentes e Engenheiros, aumentando ainda mais o leque salarial e provocando a indignação e discordância da grande massa de Trabalhadores.

Nessa mesma altura e dando seguimento a várias manifestações de Trabalhadores, COTRA exigiu que a administração desse solução para o problema e indicou que só um tratamento igual poria as coisas no seu devido lugar. À administração disse que iria tratar do assunto. Entretanto meteram-se outras lutas e não foi possível tratar continuamente deste problema.

Agora filámos novamente o animal e depois de mais uma tentativa com a administração (infrutífera como todas as outras, pois a administração só cede perante a força), fomos ao Ministério do Trabalho e pusemos o problema. Aí foi-nos dito que sim senhor, que nós tínhamos razão, mas que gostariam de ter uma reunião em conjunto com COTRA e a administração, para que os dados do problema fossem postos pelas partes em litígio.

A administração disse que era uma questão terrível, que envolvia grandes somas em dinheiro, que isso acarretaria graves problemas à economia da Empresa e que não sabiam que a dar-se andamento à nossa reivindicação, onde iriam parar as finanças da empresa.

Então, nós dissemos. que para aumentar as classes «amiguinhas» não pensaram sequer no problema financeiro, foi atar e pôr ao fumeiro e nem se preocuparam com o problema dos retroactivos, foi abrir a bolsa e já está — tomem lá que vocês são dos que precisam.

Mas é claro, água mole em pedra dura, tanto dá até que fura e o Ministério do Trabalho começou a ceder perante o espantalho do caos económico, que as administrações exploram até à exaustão.

E o mais interessante é que este espantalho dá para as duas coisas: para aumentar o preço do ferro e não aumentar os salários.

Daí que o Ministério do Trabalho, dissesse que o melhor nesta altura era não haver tratamento igual, o que a administração não considerava: aumento geral, más sim fazer-se um estudo preparatório que permitisse fazer um acordo de maior interesse para 1975.

COTRA disse qué poderia fazer um estudo, mas que o fazia sem compromisso, pois só os nossos Camaradas em Plenário é que teriam de dizer se concordavam ou não com ele, com o que evidentemente o Ministério do Trabalho concordou. Fez-se o estudo, em que se alinhavam por cima várias categorias, reduzindo em muito o número de valores salariais.

Assim:

Este estudo, ou: melhor, ideia a desenvolver, foi apreciado pelo Ministério do Trabalho; mas porque envolvia verbas que a administração cohsiderou elevadas, não foi aceite.

Perante a situação de impasse que se gerou, o representante do Ministério sugeriu que COTRA indicasse um certo número de elementos que, conjuntamente a outros indicados pela administração, estudassem no espaço de uma semana um processo que resolvesse O assunto.

Nós pensámos que isto era andar a brincar aos estudos, mas para que não dissessem que o Trabalhadores da SN só querem é dinheiro, concordámos mas chamámos novamente a atenção de que o estudo seria feito mas não vinculava os Trabalhadores a ele. Só estes em Plenário poderiam decidir.

Foi feita nova tentativa, e dela resultou que os 42 actuais mínimos de salários passariam para 17 e os dinheiros necessários para que isto fosse levado a efeito cifravam-se em 2550 contos mensais (sem encargos).

O projecto foi em 21/1/75 posto perante a administração e O Ministério do Trabalho e o eng.º ........, mal o viu, disse logo que só o conselho de administração poderia decidir, mas logo a seguir para assustar disse que a verba anual iria para 45 000 contos.

O representante do Ministério do Trabalho ficou assustado, argumentou que não se saberia ainda qual a atitude do Governo em relação à SN, que o problema era difícil, etc.

Nós sorrimos, ao fim de um ano de experiência destas coisas podemos garantir a toda a gente que negociações nunca conduzem a nada; se os Trabalhadores querem uma coisa têm de a conquistar. Argumentar é muito bonito mas não conduz a nada.

Andou a administração a gozar com os Trabalhadores, quando promoveu a seu bel-prazer quem entendeu e agora diz que não faz justiça aos restantes porque implica verbas proibitivas.

Agora é que a administração está satisfeita pois tem a seu lado um grande aliado: o projecto de nacionalização de 51% da SN.

E entretanto o que está mal está mal, os Trabalhadores não têm culpa, mas têm de aguentar.

CAMARADAS

COTRA tomou conhecimento através da acusação de dois Camaradas nossos de que um componente desta Comissão Sr. ....... teria dito: «tenho desgosto de pertencer à Comissão». COTRA considerou grave esta frase e chamou o Sr. ......... e os seu acusadores para uma acariação. Aí O Sr. ....... não só não desmentiu o que tinha afirmado, como o reafirmou, dizendo que assumia a responsabilidade do dito. Ora quem sente desgosto de pertencer a uma Comissão eleita por todos os Trabalhadores, será o mesmo que sentir desgosto de estar na vanguarda dos Trabalhadores — isto é, pertencer à sua Comissão.

Sabemos também que só interessa aos Trabalhadores quem sinta orgulho em os defender, daí que quem sinta desgosto não os serve e portanto à falta de poderes maiores, COTRA o ter suspenso pois demiti-lo ó aos Trabalhadores compete. Assim num próximo Plenário, este assunto será resolvido.

INFORMAÇÃO

Informamos que o automóvel sorteado, a favor da Associação Portuguesa de Pais e Amigos das Crianças Diminuídas Mentais, coube rifa com o n.º 26 460.


Inclusão: 08/04/2020