Carta do Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia e do governo albanês ao Comitê Central do Partido Comunista da China e ao governo chinês

Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia

29 de julho de 1978


Fonte: Thomas Schreiber: L’Albanie — Evolution Politique, Èconomique et Sociale — Notes et Etudes Documentaires, La Documentation Française n.° 4.482, outubro de 1978.

Recuperação histórica: Thales Caramante — Jornal A Verdade e Edições Manoel Lisboa.

HTML: Lucas Schweppenstette.


Nota do editor

Em resposta à carta chinesa, o PTA organizou esse documento que faz uma contextualização histórica sobre as relações entre a China e a Albânia e como o documento chinês não passou de um instrumento de chantagem para dobrar o povo albanês e o PTA com o camarada Enver Hoxha à frente.

AO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA DA CHINA (PCCH),
AO CONSELHO DOS NEGÓCIOS DE ESTADO DA REPÚBLICA POPULAR DA CHINA,

A 7 de julho de 1978, o Ministério dos Negócios Estran­geiros da República Popular da China enviou uma nota oficial à embaixada da República Popular Socialista da Albânia em Pequim, através da qual o governo chinês informava a sua de­cisão de “suspender a ajuda econômica e militar à Albânia, interromper os créditos a título de assistência à Albânia e reti­rar os especialistas económicos e militares chineses” que traba­lhavam na Albânia até aquela data.

Com esta ação desleal e hostil contra a Albânia socialista, a República Popular da China rasgou, inescrupulosamente, os acordos oficiais assinados entre nossos países; violou, de ma­neira brutal e arbitrária, elementares regras e normas interna­cionais, e levou, para o plano das relações estatais, as divergên­cias ideológicas com a Albânia.

Com este ato hostil contra a Albânia socialista, a República Popular da China procurou prejudicar a economia e a capacidade de defesa de nosso país, sabotou a causa da revolução e do socialismo na Albânia. Ao mesmo tempo, solapou gravemente a amizade fraternal que une o povo albanês ao povo chinês. Com estas ações que prejudicam um país socialista como a República Popular Socialista da Albânia, a República Popular da China alegrou os inimigos do socialismo e da revolução. A parte chinesa será inteiramente responsável pelas consequências deste ato reacionário e hostil contra a Albânia.

O Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia (PTA) e o governo albanês denunciam à opinião pública mundial a suspensão brutal da ajuda e dos créditos à Albânia socialista como um ato reacionário, executado a partir de posições de grande potência, é um ato que reproduz, tanto pelo conteúdo como pela forma, os ferozes métodos chauvinistas de Tito, Khrushchev e Brejnev, ainda recentemente denunciados pela China.

O Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia (PTA) e o governo albanês contestam as tentativas da nota chinesa de culpar a Albânia e acusar, sem nenhuma base, a direção albanesa de ser ingrata e de não reconhecer a ajuda que a China lhe prestou, e ainda de ter tentado sabotar a colaboração econômica e militar entre os dois países. Qualquer pessoa sensata acharia inacreditável e destituído de toda lógica que um pequeno país como a Albânia — que luta contra o cerco e o bloqueio imperialista-revisionista; que se entregou a uma ampla e multiforme tarefa visando assegurar seu rápido desenvolvimento econômico e cultural; e que trabalha incansavelmente para reforçar a defesa da pátria socialista — provocasse e procurasse romper a colaboração com a China, e recusasse seus créditos e sua ajuda civil e militar.

O povo, o partido e o governo albaneses, inspirados nos ensinamentos do marxismo-leninismo e nos princípios do internacionalismo proletário, lutaram com sinceridade e perseverança pelo fortalecimento da amizade, da colaboração fraternal e do apoio mútuo entre a Albânia e a China. Sempre tiveram em alta estima a ajuda prestada pela China, considerando que era uma ajuda intenacionalista do povo chinês, uma ajuda que servia à causa geral da revolução e do socialismo no mundo, uma ajuda proveniente de um país que se dizia socialista. O povo, o partido e o governo albaneses mantêm a avaliação que fizeram no passado sobre o papel que esta ajuda desempenhou, entre outros fatores exteriores, para o desenvolvimento de nosso país.

A Albânia socialista nunca considerou que a amizade com os povos de outros países fosse um meio de obter vantagens econômicas. A Albânia também nunca permitiu que ninguém considerasse a ajuda e a colaboração econômica como um investimento destinado a ditar e a impor a nosso país pontos de vista políticos e ideológicos contrários ao marxismo-leninismo e aos interesses do socialismo. A República Popular Socialista da Albânia nunca transigiu em seus princípios, nunca fez e nem faz deles um objeto de negócios.

Quando o Partido do Trabalho da Albânia (PTA) defendeu o Partido Comunista da China (PCCh) contra os ataques dos revisionistas khrushchevistas, durante o Encontro de Bucareste e durante a Conferência dos Partidos Comunistas e Operários em Moscou, em 1960, o fez conscientemente, para defender os princípios do marxismo-leninismo, e não para obter da China o equipamento de algumas fábricas e alguns tratores. Quando a Albânia socialista defendia, durante anos, os direitos da China na Organização das Nações Unidas (ONU), contra o complô americano, não o fazia por causa de interesses materiais, mas sim para defender uma causa justa e de princípio. O Partido do Trabalho da Albânia (PTA) e a nossa classe operária apoiaram os objetivos estratégicos da Revolução Cultural Chinesa não para receber qualquer coisa em troca, mas para ajudar a classe operária chinesa, os comunistas e o povo chinês, a salvar o país dos elementos capitalistas que haviam usurpado o poder na China.

Para justificar a interrupção da ajuda à Albânia, o governo chinês limitou-se, não podendo agir de outra maneira, a levantar “argumentos” económicos e técnicos da prática usual nas relações entre dois Estados. A República Popular da China agiu desta forma para dissimular as verdadeiras razões que a levaram a cometer este ato hostil contra a Albânia socialista.

A suspensão da assistência e dos créditos à Albânia não pode ser justificada com os oito “fatos” evocados na nota chinesa, a saber:

— Que o “vice-ministro da Indústria e das Minas da Albânia [...] recusou-se a fazer consultas posteriores [...] e interrompeu as discussões de forma insolente”;

— Que os técnicos albaneses “não respeitaram as indicações técnicas dos especialistas chineses” na refinaria de tratamento completo de petróleo;

— Que o projeto chinês de uma obra militar não foi realizado com sucesso por causa da desoberta tardia de deslocamentos subterrâneos que os estudos geológicos insuficientes da parte albanesa não permitiram revelar; e que a parte albanesa, mudando de opinião, continuou as obras sozinha, interrompendo a assistência chinesa nesse projeto;

— Que a parte albanesa invocou diversos pretextos, e ao contrário do que estabeleciam os acordos, recusou-se a assinar os documentos de execução das obras;

— Que a parte albanesa, abruptamente, recusou-se a aceitar 25 faturas no valor de 100 milhões de yuans (Renminbi);

— Que, por causa da inobservância de instruções técnicas dos especialistas chineses por parte dos albaneses, formou-se uma crosta no alto-forno do complexo metalúrgico, e que os próprios albaneses removeram esse obstáculo, sem esperar a chegada dos técnicos da China;

— Que “o embaixador albanês na China recusou-se a receber a nota chinesa do dia 7 de julho de 1978”.

Estes “argumentos” e “fatos” citados pelo governo chinês foram inteiramente inventados ou deformados. Porém, mesmo que correspondessem à realidade, jamais poderiam servir de base moral e jurídica para justificar a cessação unilateral e brutal da assistência econômica e militar que um Estado presta a outro Estado, com o qual manteve uma estreita aliança durante muito tempo.

Os verdadeiros motivos da suspensão da ajuda e dos créditos concedidos à Albânia não têm um caráter puramente técnico, como a nota chinesa procura demonstrar, mas um caráter profundamente político e ideológico. Através desta carta, o Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia (PTA) e o governo albanês esclarecerão estas causas políticas e ideológicas. Mas primeiramente vamos demonstrar que mesmo os “argumentos” invocados pela parte chinesa em sua nota não correspondem, de maneira nenhuma, à realidade.

I

O Governo da República Popular Socialista da Albânia informará à opinião pública mundial a verdade sobre as relações econômicas entre a China e a Albânia, mais particularmente sobre as questões levantadas pela nota chinesa, publicando o teor integral da correspondência trocada a este respeito entre os governos dos dois países. Aqui vamos esclarecer certos “fatos” mencionados na nota chinesa.

Alinhando, de maneira tendenciosa, uma série de cifras sobre a ajuda concedida pela China à Albânia, a nota chinesa de 7 de julho traduz o desejo da direção chinesa de se vangloriar aos olhos do mundo. A direção chinesa age da mesma maneira que agiu e continua a agir a direção revisionista soviética, que se gaba constantemente, com presunção de grande Estado, da ajuda que prestou no passado à Albânia.

Somos obrigados a lembrar aos dirigentes chineses que suas fanfarronices estão em completo desacordo com as declarações oficiais feitas no passado pelo governo chinês.

A declaração solene do governo chinês sobre os oito princípios de ajuda aos outros países diz o seguinte: “O governo chinês se baseia sempre no princípio da igualdade e da vantagem recíproca para conceder ajuda a outros países. O governo chinês nunca considera estas ajudas como uma esmola unilateral, mas como qualquer coisa de recíproco”. Zhou Enlai, por ocasião da visita que fez em 1964 a catorze países, ressaltou: “Vangloriar-nos da ajuda que prestamos a outros países seria chauvinismo de grande Estado”.

O povo, o partido e o governo albaneses jamais negaram a ajuda da República Popular da China e a importância desta ajuda para o desenvolvimento económico de seu país. Esta ajuda sempre foi sinceramente reconhecida e estimada, com o pensamento de que era proveniente de um Estado amigo e que havia sido concedida no espírito dos princípios do socialismo.

Mas na nota chinesa de 7 de julho, que exagera e embeleza a ajuda econômica e militar concedidas pela China à Albânia, não se encontra uma só palavra para lembrar que a Albânia também ajudou a China, como os próprios dirigentes chineses já reconheceram em diversas ocasiões anteriores.

Avaliando a ajuda prestada pela Albânia à China, Mao Zedong afirmou: “Somos nós que devemos, em primeiro lugar, agradecer a vocês, pois vocês permanecem na primeira linha da frente, vocês se encontram em condições muito difíceis e lutam obstinadamente pela defesa do marxismo-leninismo. Isto é extremamente meritório e de grande valor”(1). (Trecho de uma entrevista com uma delegação albanesa dia 29 de junho de 1962).

Zhou Enlai, por sua vez, declarou: “Os camaradas albaneses sempre relembram o apoio e a ajuda da China à Albânia. Eu gostaria de acentuar aqui que foi a Albânia quem primeiro nos prestou uma grande ajuda e um grande apoio”.

O povo chinês nunca esquecerá que, à época em que os revisionistas modernos caluniavam e atacavam furiosamente o Partido Comunista da China (PCCh), o Partido do Trabalho da Albânia (PTA) adotou uma atitude justa e, apesar de todas as pressões, dificuldades e perigos, colocou-se na dianteira, com coragem, para desafiar aquela corrente adversária, desmascarando e atacando sem piedade os complôs antichineses do revisionismo moderno"(2).

Em outra ocasião, Zhou Enlai sublinhou: “Nós cumprimos nosso dever intemacionalista, e estaríamos cometendo uma traição se não os ajudássemos... bastião do socialismo na Europa, vocês lutam contra o imperialismo, o revisionismo e toda a reação. Se nós não os ajudássemos não seríamos comunistas internacionalistas, mas traidores. Entre a China e a Albânia há uma ajuda e um apoio recíprocos. Vocês estão erguidos na Europa como um farol, vocês lutam sem se dobrar, impávidos. Vocês dão para nós e para os povos do mundo uma grande ajuda e um grande apoio”(3).

Kang Cheng também fez uma declaração semelhante: “Eu sempre digo e repito a meus camaradas que os camaradas albaneses nos prestam uma ajuda considerável, colossal. A fábrica de adubos químicos, a central térmica, as diversas usinas e fábricas que lhes oferecemos não são grande coisa comparadas com o grande apoio que os camaradas albaneses prestam a nós e ao movimento comunista internacional”.(4)

Estamos constrangidos por relembrar a ajuda que a Albânia deu à China, pois o que o partido e o povo albaneses fizeram pela China foi com uma consciência comunista, inspirada em sentimentos fraternais e internacionalistas. Mas a República Popular da China nos obriga a falar dessa ajuda, pois, seguindo o exemplo de Khrushchev e de Brejnev, se pôs a contar os yuans e os fens que deram à Albânia!

Através de sua nota, o governo chinês tenta dar à opinião pública a impressão de que se a Albânia conseguiu algum sucesso em seu desenvolvimento económico foi graças à ajuda da China. Com este objetivo, e para impressionar a opinião pública interna e internacional, os números citados pela nota chinesa foram aumentados e manipulados cuidadosamente. A nota sublinha que “para aplicar os acordos assinados entre a China e a Albânia, o governo chinês gastou mais de 10 bilhões de yuans (Renminbi)”. Este é um número arbitrário, que não corresponde à realidade.

Em primeiro lugar, convém assinalar que, quando o governo chinês fala de ajuda trata-se, na realidade, de créditos, de obrigações previstas pelos acordos assinados entre os dois govemos, conforme a vontade e os interesses das duas partes, e conforme a prática internacional conhecida das relações entre dois Estados soberanos, que comportam obrigações bilaterais. Não se trata, portanto, de esmolas nem de caridade cristã.

Por outro lado, com base nos documentos em poder da parte albanesa, ressalta-se que de dezembro de 1954 a julho de 1975, foram assinados dezessete acordos governamentais de cessão de créditos da China à Albânia, fora os acordos de ajuda militar. Segundo esses acordos, a ajuda em créditos foi calculada em rublos antigos, depois em rublos novos, em seguida em libras esterlinas, mais tarde em yuans internos ou em yuans comerciais ou ainda em dólares americanos. Se as diversas moedas citadas nos acordos forem convertidas em yuans comerciais, segundo o câmbio oficial chinês, fixado pelo Banco Chinês nos períodos respectivos, resulta que, ao contrário do que afirma a nota de Pequim, o valor global da ajuda econômica chinesa em créditos, concedidos à Albânia de 1954 a 1975, ano da assinatura do último acordo, não é “superior a 10 bilhões de yuans”, mas chega a somente 3 bilhões e 53 milhões de yuans comerciais. Se for calculado o valor das obras concluídas e dos equipamentos aos preços unilaterais fixados pela parte chinesa, a Albânia utilizou, até julho de 1978, cerca de 75% daquele total. Mas é preciso ressaltar que os valores constantes nas faturas do Banco Chinês para as obras e os equipamentos não foram calculados com base em preços estabelecidos “de comum acordo”, mas fixados de maneira arbitrária somente pela parte chinesa, sem nenhuma consulta à parte albanesa, como deveria ter sido feito segundo os termos do acordo. É por esta razão que a recusa das faturas do Banco Chinês referentes às obras construídas na Albânia, por parte do Banco do Estado Albanês, não foi “uma violação dos acordos” como pretende a nota chinesa.

Os preços das obras e dos equipamentos sobre os quais foi calculado o montante das faturas apresentadas pela China não foram fixados, segundo o acordo oficial assinado dia 8 de junho de 1965 entre o governo da República Popular da Albânia e o governo da República Popular da China e nem segundo as disposições mencionadas na correspondência trocada dia 22 de dezembro de 1971, onde está claramente estabelecido que: “Os preços das obras e dos equipamentos serão fixados de comum acordo, segundo os princípios de fixação dos preços comerciais entre a China e a Albânia”.

Em relação à ajuda militar, as estimativas da parte chinesa são inteiramente arbitrárias, pois segundo os acordos desta categoria, anteriores a 1967, os preços foram calculados em moeda chinesa, sem que a parte albanesa tenha sido consultada, enquanto que nos acordos posteriores referentes à maior parte da ajuda militar chinesa à Albânia, nenhum preço concreto foi fixado, nem em moeda chinesa, nem em qualquer outra moeda.

Assim, os bilhões de yuans mencionados na nota chinesa não representam o verdadeiro montante da ajuda econômica e militar concedida pela China à Albânia; constituem, porém, uma propaganda da parte chinesa, montada em cálculos arbitrários, unilaterais e tendenciosos. Afirmamos que a parte chinesa, com a intenção de nos prejudicar, apressou-se em fixar esses números. Os cálculos completos serão feitos segundo os acordos, os protocolos e os critérios estabelecidos pelas duas partes. Nestes cálculos serão levado sem conta as perdas e os prejuízos causados à nossa economia pela parte chinesa, que não cumpriu os cronogramas definidos nos contratos e deixou inconclusa parte importante das obras.

A parte chinesa não foi correta na aplicação dos acordos, dos protocolos oficiais e dos critérios estabelecidos de comum acordo. A grande maioria das obras econômicas construídas na Albânia com a ajuda dos créditos da China foi concluída com atrasos de 1 a 6 anos. Existem até mesmo algumas obras, como a usina de ferro-cromo que deveria ter sido construída na Albânia conforme o acordo assinado em 1965 e que, por culpa da parte chinesa, não foi concluída até hoje. O mesmo ocorreu com o complexo metalúrgico, cuja construção começou com atraso e até o momento, por culpa da parte chinesa, somente 67% do valor total dos seus investimentos foram aplicados. Além disso, a China só entregou 74% dos equipamentos previstos.

Estas flagrantes violações dos acordos oficiais por parte da China causaram grandes prejuízos à economia albanesa, pelos quais o governo chinês deve assumir toda a responsabilidade material e moral. Depois que tudo for calculado com base na documentação oficial e nos fatos concretos, ver-se-á qual das duas partes é devedora e em que medida.

A nota chinesa tenta fazer crer que a ajuda concedida pela China à Albânia foi o fator determinante do desenvolvimento de nosso país. Mas esta ajuda não foi e não poderia ser um fator de tamanha importância. O fator determinante, que ninguém pode negar, foram a luta e o trabalho resolutos, obstinados e heroicos do povo albanês, dirigido pelo Partido do Trabalho da Albânia (PTA), pela construção do socialismo, segundo o princípio leninista do apoio nas próprias forças. Os grandiosos sucessos obtidos pela Albânia na edificação do socialismo e na defesa do país são obra do Partido do Trabalho da Albânia (PTA), do Estado albanês de ditadura do proletariado, do povo albanês, e não fruto da ajuda estrangeira.

A ajuda recebida da China foi apenas um fator auxiliar. O valor de todos os créditos chineses utilizados até o final de 1977 pela Albânia equivalia a uma pequena porcentagem da nossa renda nacional. Esta é a realidade e não a falsa versão da parte chinesa, que tenta dar a impressão de que foi graças à China que o povo albanês se manteve vivo.

As concepções chauvinistas de grande Estado embaralharam a lógica da direção chinesa e levaram-na a adotar uma linguagem de grande proprietário feudal. A China, em sua nota, vangloria-se de ter fornecido à Albânia 1,8 milhões de toneladas de trigo etc. Faltou dizer que se a Albânia “não está morta, foi graças ao pão que a China lhe deu”! Esta é uma atitude que ofende o povo albanês. É certo que a Albânia importou trigo da China, de 1956 a 1975. A cifra global citada, porém, não só não corresponde à realidade como é preciso acrescentar que a Albânia recebeu da China, durante todo aquele período, apenas 436.000 toneladas de trigo em créditos e o resto foi entregue pela via comercial, regulamentada por um acordo de clearing. Já que a nota chinesa agrupa num só total o trigo importado pela Albânia a título de crédito, e o importado pelo acordo de clearing, por que a parte chinesa não menciona as exportações da Albânia, justamente pelo acordo de clearing, no período 1954 à 1977? A Albânia entregou à China mais de 1,7 milhões de toneladas de petróleo, mais de 1,3 milhões de toneladas de betume e cerca de 2,7 milhões de toneladas de minério de cromo e de concentrado de cromo etc.

Relembrando, em nota que tornou pública, a sua ajuda militar, o governo chinês divulgou um segredo militar relativo à defesa da República Popular Socialista da Albânia. Com este ato, o governo chinês prejudicou gravemente a defesa da República Popular Socialista da Albânia, ajudando os nossos inimigos externos, em particular as forças da OTAN e o imperialismo americano, as forças do Pacto de Varsóvia e o social-imperialismo soviético. Foi um ato de deslealdade, pelo qual o governo chinês deve assumir a responsabilidade.

Em sua nota, o governo chinês consagra um capítulo especial às acusações contra os trabalhadores albaneses, como se estes não tivessem respeitado os especialistas chineses e não quisessem colaborar com eles. São puras invenções que nem merecem ser desmentidas. Estamos convencidos de que, em seu foro íntimo, nenhum técnico chinês que tenha vivido e trabalhado no meio de nosso povo concordará tais acusações. Os operários, técnicos e dirigentes albaneses sempre colaboraram com os especialistas chineses, com espírito amistoso e fraterno; sempre estimaram o trabalho deles e respeitaram seus conhecimentos e experiências.

Com segundas intenções, a nota chinesa afirma que, no espaço de 24 anos, 6 mil especialistas foram enviados à Albânia. Este número é mencionado para dar a entender que o mérito por tudo o que foi realizado nas construções, na indústria e na agricultura, por tudo o que foi feito na Albânia, deveu-se a estes 6 mil especialistas chineses. Mas a edificação da nova Albânia é obra do próprio povo albanês. Dezenas de milhares de especialistas, de engenheiros e técnicos albaneses, sem contar os técnicos médios e os operários qualificados, que são centenas de milhares, trabalharam na construção das diversas obras, todos os dias e sem descanso. Sem o trabalho e os conhecimentos deles nenhuma obra poderia ter sido construída. A nota chinesa também não menciona que o povo albanês retribuiu amplamente o trabalho dos especialistas enviados da China. Se a nota não fala disto, não esquece, entretanto, de nos lembrar que a China teria gasto 100 milhões de yuans para fazer experiências com o minério de ferro albanês! De resto, por ordem dos seus superiores, os especialistas chineses retirados da Albânia não deixaram nenhum documento técnico aos especialistas albaneses; eles queimaram ou levaram consigo todos os documentos técnicos relativos às obras que estavam sendo construídas na Albânia com ajuda da China.

No âmbito das questões econômicas concretas entre dois parceiros, entre dois Estados, é natural o surgimento de problemas, cuja solução só pode ser encontrada através de discussões. A direção chinesa, porém, nunca julgou necessário promover discussões normais, pois queria impor as suas concepções à Albânia. No que se refere às questões econômicas, as pressões exercidas pela parte chinesa sobre a Albânia — através de diversas formas e maneiras — não são de hoje. Há muito tempo a direção chinesa faz dessas pressões uma prática corrente. Durante as conversações para a conclusão dos acordos de concessão de uma ajuda econômica à Albânia, sob a forma de créditos e, em seguida, para a aplicação desses acordos, houve numerosos debates, durante os quais a parte albanesa se opôs, com sucesso, aos pontos de vista da direção chinesa, que procuravam impor à Albânia um desenvolvimento unilateral e frear seu progresso rápido e seguro.

Durante os longos debates, a pressão da direção chinesa chegou ao ponto em que a parte chinesa renunciou à execução dos projetos da central hidrelétrica de Vau i Dejës e da central hidrelétrica de Fierzë, apostando que nós não construiríamos essas importantíssimas obras. A direção chinesa pensava que a Albânia não tendo, segundo ela, capacidade técnica para construir projetos de centrais hidrelétricas tão grandes e complexas, renunciaria à construção dessas obras. Porém, depois que a parte albanesa começou a executar os projetos dessas duas hidrelétricas, finalmente a parte chinesa se viu forçada a aprovar os créditos.

As duas hidrelétricas foram projetadas e construídas pelos especialistas albaneses: os chineses não puseram as mãos nos projetos, tendo sido simples conselheiros.

Existem numerosos fatos e documentos para provar que, em certos momentos, cada vez que a política chinesa sofria reviravoltas, às quais o partido e o governo albaneses não se associaram, o governo chinês as fazia acompanhar de diversas pressões e medidas econômicas restritivas. Essas atitudes constituem um desmentido flagrante das ruidosas e reiteradas declarações do governo chinês, segundo as quais “na concessão de ajudas a outros países, o governo chinês respeita escrupulosamente a soberania dos países beneficiados e nunca impõe condições nem exige qualquer privilégio”.

A nota chinesa sublinha que “a parte albanesa, devido às necessidades de sua política interna e externa [...] deformou intencionalmente os fatos relativos à ajuda que a China prestou à Albânia” Isto atesta o espírito de intriga da direção chinesa e o seu desejo de ver a Albânia política, ideológica e economicamente subjugada pelo social-imperialismo soviético ou pelo imperialismo americano e pela burguesia reacionária. A direção chinesa se expressa desta maneira porque imaginava que a Albânia estivesse isolada, que ela respirava e sobrevivia graças à China e que, atualmente, ela está sem eira nem beira, só lhe restando tornar-se presa dos imperialistas ou dos social-imperialistas. Foi o que também pensaram, no passado, Khrushchev e Mikoyan. A Albânia, segundo eles, se venderia “por trinta moedas de prata”; sem a ajuda soviética, “ela morreria de fome em quinze dias”!

Ora, a vida demonstrou que a Albânia não se vendeu e também não morreu de fome. Ela progrediu com grande êxito na edificação do socialismo. E tudo isto foi realizado não por causa da ajuda chinesa, mas graças ao trabalho heróico e à luta gloriosa do povo albanês.

Também no futuro, o povo albanês, sob a direção do Partido do Trabalho da Albânia (PTA), apoiando-se em suas próprias forças, marchará, sempre triunfante, pela via do socialismo, mostrando, pelo seu exemplo, a seus amigos e aos povos, a força e a vitalidade invencíveis do marxismo-leninismo, a força do socialismo e a força do povo.

Em nossa luta pela edificação do socialismo e pela defesa da Pátria, em nossos esforços para atacar e superar com êxito as dificuldades que o ato hostil do governo chinês criaram para o nosso país, contamos e contaremos cada vez mais com a ajuda internacionalista dos revolucionários autênticos, dos povos amantes da liberdade e dos homens progressistas do mundo inteiro. A Albânia nunca esteve e jamais ficará isolada.

Os planos de desenvolvimento da Albânia, estabelecidos pelo partido, serão cumpridos graças ao trabalho abnegado, à determinação do povo, com as nossas próprias forças, em todos os campos, inclusive nas obras que a China deixou sem concluir e outras obras que se ajuntarão às primeiras.

II

A anulação unilateral pelo governo chinês dos acordos de colaboração econômica e militar com a Albânia, a violação arbitrária dos contratos assinados pelos dois países, a suspensão dos trabalhos em diversas obras importantes para a nossa economia socialista, a retirada dos especialistas etc., refletem uma linha política e ideológica bem definida da direção chinesa. Trata-se de uma consequência do desvio da direção chinesa do marxismo-leninismo e dos princípios do internacionalismo proletário, de sua aproximação e de seu conluio com o imperialismo americano, com o capital internacional e a reação; da sua renúncia em ajudar e sustentar as forças revolucionárias e de libertação no cenário internacional; das ambições da China em transformar-se numa superpotência imperialista.

A linha seguida pela direção chinesa, cheia de ziguezagues, chocou-se com a oposição constante do Partido do Trabalho da Albânia (PTA), que coloca acima de tudo a causa do socialismo, da revolução e da libertação dos povos. Esta é a razão pela qual surgiram sérias contradições ideológicas entre o Partido do Trabalho da Albânia (PTA) e o Partido Comunista da China (PCCh), contradições que se agravaram progressivamente. Foi precisamente porque o nosso partido e o povo albanês não aceitaram esta linha e os pontos de vista chineses de grande potência e a eles não se submeteram, que a direção do PCCh e o governo chinês chegaram ao ponto de suspender a ajuda à Albânia socialista, e a levar as divergências ideológicas ao campo das relações entre os dois Estados.

O Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia (PTA) esforçou-se constantemente no sentido de resolver essas divergências pela via marxista-leninista, através de consultas e de explicações com espírito de camaradagem, sem nunca tê-las tornado públicas.

Nesta questão, nosso partido baseou-se no princípio segundo o qual podem surgir divergências e mal-entendidos entre os partidos e os Estados, mesmo se eles mantêm estreitas relações de amizade. De quem quer que seja a culpa, essas divergências e mal-entendidos requerem discussões para ser resolvidas. Este princípio deve ser aplicado tanto em relação aos países socialistas como em relação aos partidos comunistas. Normas como as consultas e as explicações amistosas recíprocas sempre devem ser aplicadas, pois estas normas marxista-leninistas preservam a amizade sincera e não a amizade hipócrita que dissimula as segundas intenções; elas preservam a pureza da nossa teoria científica, o marxismo-leninismo, e fortalecem a revolução e a luta dos povos.

As normas marxista-leninistas, que regem as relações entre partidos comunistas, incluem entre outras, a crítica justa e mútua, de princípio, construtiva, aos erros constatados na linha e na atividade deste ou daquele partido. Uma crítica deste tipo, feita com espírito de camaradagem, não pode ser qualificada de polêmica, como a direção chinesa interpretou. A polêmica, como diz a própria palavra, traduz um estado de luta ideológica e política, em que as divergências não antagónicas tornam-se antagónicas.

O Partido do Trabalho da Albânia (PTA), em suas relações com o Partido Comunista da China (PCCh), fixou-se rigorosamente nestes princípios e nestas normas marxista-leninistas aplicadas entre os partidos comunistas autênticos. Cada vez que nosso partido constatava atitudes e atos do Partido Comunista da China (PCCh) que se opunham ao marxismo-leninismo e ao internacionalismo proletário, que se opunham aos interesses do socialismo e da revolução, explicitou esses erros e os criticou com espírito de camaradagem. Prova disso são os documentos escritos por nosso partido e pelo nosso Estado em poder dos chineses. Mas qual foi a atitude da direção chinesa? Ao mesmo tempo que acolhia com ardor e saudava com estardalhaço o apoio e a ajuda que o Partido do Trabalho da Albânia (PTA) e o governo albanês davam à China, a direção chinesa nunca recebia bem as observações justas, de acordo com os princípios, que lhe fazia o nosso partido. A direção do Partido Comunista da China (PCCh) nunca quis que as normas e os métodos leninistas fossem aplicados nas relações entre os partidos. Raciocinando e agindo segundo concepções e lógica de grande potência, de grande partido e de grande Estado, e considerando-se como um gênio infalível, a direção chinesa demonstrou que ela não conhece outro caminho senão o do diktat e da imposição de seus pontos de vista aos outros, em particular aos pequenos.

Independentemente das divergências existentes, o Partido do Trabalho e o governo da Albânia apoiaram publicamente a China e a causa do socialismo na China, sobretudo nos momentos políticos mais difíceis, tanto internos como externos, nos momentos em que a China estava isolada ou era atacada por todos os lados, até mesmo por seus amigos atuais. Nosso partido e nosso governo agiram assim sem titubear, convencidos de que estavam defendendo a sorte da revolução na China, gravemente ameaçada, os supremos interesses do internacionalismo proletário e a amizade entre a Albânia e a China. Perfilando-se ao lado da China contra os inimigos do socialismo, e apoiando suas atitudes e atos corretos, os comunistas e o povo albanês lutavam para fortalecer as posições do marxismo-leninismo e do socialismo na China.

Para melhor compreender as razões políticas e ideológicas que levaram a direção chinesa a suspender, de maneira arrogante, a ajuda à Albânia, para compreender suas atitudes chauvinistas e de grande potência nas relações com o Partido do Trabalho da Albânia (PTA), e para ilustrar a atitude franca, fraterna e correta do partido, do governo e do povo albaneses em relação à China e ao povo chinês, vamos observar a evolução das relações albano-chinesas:

1. As relações entre os nossos partidos e países foram estabelecidas logo depois do triunfo da Revolução na China e da fundação da República Popular da China; mas estas relações foram estreitadas e fortalecidas especialmente após 1960, quando se iniciou a luta aberta contra o revisionismo khrushchevista. A luta contra o imperialismo e o revisionismo moderno uniu nossos partidos, o distanciamento da China desta luta separou nossos caminhos.

A luta do Partido do Trabalho da Albânia (PTA) contra o revisionismo moderno havia começado antes da condenação do titoísmo pela Cominform. Depois da morte de Stálin, quando a variante khrushchevista do revisionismo ainda mal começava a se manifestar, esta luta endureceu. Nosso partido ampliou e intensificou este combate cada vez mais, opondo-se aos atos e atitudes antimarxistas de Khrushchev e de sua quadrilha, tanto em relação à política externa como em relação aos partidos comunistas, em particular o nosso.

O desvio khrushchevista representava a revisão da teoria marxista-leninista em todos os campos e questões. A estratégia khrushchevista visava solapar a ditadura do proletariado e restabelecer o capitalismo na União Soviética, transformar o país numa superpotência imperialista que repartisse e dominasse o mundo com o imperialismo americano. Para levar adiante esta estratégia, Khrushchev atacou Stálin e o bolchevismo, preconizou a extinção da luta de classes, tanto no interior da União Soviética como no exterior. Sob o pretexto de que a correlação de forças no mundo atual havia mudado, de que o imperialismo americano e a burguesia reacionária internacional haviam se tornado sensatos, Khrushchev justificava o abandono da tese fundamental do marxismo-leninismo sobre a revolução violenta, e espalhava a ilusão da pretensa via pacífica. Em suas relações com os partidos comunistas e operários, os khrushchevistas aplicavam a noção de “partido-mãe” e tocavam com “a varinha de maestro”. O que os khrushchevistas queriam era submeter os partidos a seu diktat e a suas concepções, transformá-los em instrumentos de sua política externa. Com este intuito, Khrushchev, Brejnev e companhia pactuaram-se com os revisionistas iugoslavos e com eles se aliaram na luta contra o marxismo-leninismo e a revolução.

O Partido do Trabalho da Albânia (PTA) lutou com resolução e sem desfalecimento contra esta linha traidora e contra-revolucionária do khrushchevismo. Em particular, rejeitou e denunciou a reabilitação ideológica do titoísmo por Khrushchev, que provou com este ato seu escorregão no pântano do oportunismo e da traição. Os documentos provam que o Partido Comunista da China (PCCh), independentemente das suas vacilações em relação ao revisionismo iugoslavo, também condenou, no início de 1960, sem ser influenciado por ninguém, a reabilitação de Tito e de seu grupo por Khrushchev.

Em junho de 1960, como se sabe, aconteceu o Encontro de Bucareste. A linha contra-revolucionária de Khrushchev e dos khrushchevistas foi confirmada naquela ocasião. Eles não só atacaram o marxismo-leninismo integralmente, como atacaram diretamente o Partido Comunista da China (PCCh). O Partido do Trabalho da Albânia (PTA) apoiou abertamente o Partido Comunista da China (PCCh) durante o Encontro, atraindo sobre si o fogo da cólera e as pressões de todos os khrushchevistas. Nosso partido assumiu esta defesa de princípio com a consciência pura de comunista, plenamente convencidos de estarem defendendo o marxismo-leninismo e a China Popular.

O Encontro de Bucareste e, mais tarde, a Conferência dos 81 Partidos Comunistas e Operários que se realizou em Moscou, marcaram a ruptura definitiva entre os marxista-leninistas e os revisionistas khrushchevistas, e o começo da polêmica aberta entre eles. Mas enquanto o nosso partido começava e prosseguia a luta contra o revisionismo khrushchevista com perseverança e determinação, a direção chinesa se mostrava hesitante e não adotava atitudes firmes contra os khrushchevistas. Nos primeiros tempos da áspera polêmica mantida entre o Partido do Trabalho da Albânia (PTA) e os revisionistas khrushchevistas, a China esteve de acordo com a Albânia, mas somente na superfície. Pois no fundo, como ficou provado depois, a China desejava reconciliar-se com os soviéticos e abafar a polêmica. Isto ficou evidente especialmente no discurso que Zhou Enlai pronunciou durante o 23º Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), quando, de fato, ele não defendeu o nosso partido, e pediu que a polêmica fosse abafada. A direção chinesa considera esta obscura atitude como uma ajuda em favor da Albânia, mas pedir para abafar a polêmica não era do interesse da Albânia socialista e nem do interesse da própria China. Isto só podia interessar a Khrushchev, em sua luta contra o socialismo e o marxismo-leninismo.

2. A atitude vacilante do Partido Comunista da China (PCCh) na luta contra o revisionismo ficou mais clara em junho de 1962. Naquele período, o Partido do Trabalho da Albânia (PTA) enviou a Pequim uma delegação para manter conversações com o Partido Comunista da China (PCCh) sobre questões importantes, referentes à tática e à estratégia da luta comum de nossos dois partidos no cenário internacional. A delegação de nosso partido combateu, na ocasião, os pontos de vista erróneos da direção chinesa.

Liu Shaoqi que, à época, era o principal dirigente do Partido Comunista da China (PCCh) depois de Mao Zedong, e que conduziu as conversações pelo lado chinês, assim como Deng Xiaoping, então secretário-geral do Partido Comunista da China (PCCh), sustentaram com insistência o ponto de vista segundo o qual a frente anti-imperialista deveria incluir também a União Soviética, então dirigida pela quadrilha revisionista de Nikita Khrushchev.

A delegação de nosso partido defendeu a linha do Partido do Trabalho da Albânia (PTA), que se baseia nos ensinamentos de Lênin, segundo os quais não se pode combater com sucesso o imperialismo sem combater, ao mesmo tempo, o revisionismo. Nossa delegação insistiu no ponto de vista do Partido do Trabalho da Albânia (PTA), segundo o qual a frente anti-imperialista, longe de precisar incluir os revisionistas soviéticos, deveria, ao contrário, lutar simultaneamente contra o imperialismo em geral, e o imperialismo americano em particular, e contra o revisionismo soviético.

A direção chinesa justificava a linha de reconciliação com os revisionistas soviéticos pela necessidade de unir “todos” contra o imperialismo americano que, segundo ela, era o inimigo principal. Esta tese oportunista expressava, entre outras, as ilusões da direção chinesa com relação aos chefes revisionistas soviéticos. Deng Xiaoping fez a seguinte declaração à delegação do Comitê Central de nosso partido, durante as conversações em Pequim: “É impossível que Khrushchev mude e se transforme num Tito. A União Soviética nunca poderá deixar de ser um país socialista”(5).

O Partido do Trabalho da Albânia (PTA) não aderiu a estas concepções, nem aceitou a tese chinesa da frente única anti-imperialista, na qual seriam incluídos também os revisionistas khrushchevistas. A direção chinesa, entretanto, manteve as suas posições oportunistas.

O desenrolar dos acontecimentos posteriores — o crescimento da luta das forças marxistas-Ieninistas contra o revisionismo khrushchevista, a intensificação da atividade divisionista de Khrushchev e especialmente a assinatura do Tratado anglo-soviético-americano, em agosto de 1963, sobre a suspensão de experiências nucleares na atmosfera (que traduzia os esforços das duas superpotências de impor seu domínio ao mundo — obrigaram a direção chinesa a encetar a polêmica aberta contra Khrushchev. Somente depois que a reconciliação e o acordo com os revisionistas soviéticos — desejados pela direção chinesa — não se realizaram, foi que o Partido Comunista da China (PCCh) efetivamente se engajou na luta contra o Khrushchevismo e aderiu à luta resoluta, consequente e de princípio do Partido do Trabalho da Albânia (PTA). O Partido do Trabalho da Albânia (PTA) e o povo albanês que, durante quase três anos, haviam combatido sozinhos os furiosos ataques abertos de Khrushchev e de todo o revisionismo moderno, não podiam deixar de se alegrar. Os laços e a colaboração entre nossos dois partidos na luta contra o imperialismo e o revisionismo se fortaleceram ainda mais.

Nosso partido não poupou nenhum esforço para que esta luta se ampliasse e se intensificasse, pois ela servia para mobilizar as forças anti-imperialistas e anti-revisionistas, na defesa da causa do socialismo e da libertação dos povos. Mas, como veremos mais adiante, a direção chinesa não se mostrou consequente nem fiel aos princípios durante esta luta.

3. Durante o verão de 1964, a propaganda chinesa se pôs a relembrar os problemas da fronteira sino-soviética. Referindo-se a uma entrevista de Mao Zedong com um grupo de parlamentares japoneses, a propaganda chinesa afirmava que vastos territórios, de centenas de milhares de quilómetros quadrados, haviam sido arrancados da China pelos czares russos, e que a União Soviética também tinha problemas territoriais na Europa, surgidos com a Segunda Guerra Mundial.

O Partido do Trabalho da Albânia (PTA) não aprovou a iniciativa de Mao Zedong de levantar a questão da revisão das fronteiras. Segundo a opinião de nosso partido, a direção chinesa cometia dois erros graves. Em primeiro lugar, levantar a questão das fronteiras naquele momento não contribuía para a luta ideológica contra o khrushchevismo. Ao contrário, isto fornecia uma arma possante para a direção soviética, que a utilizaria contra a China e os marxista-leninistas, visando neutralizar o efeito de nossa luta ideológica para desmascarar a traição khrushchevista, apresentando a questão como se aquela luta tivesse como motivação uma disputa de fronteiras, reivindicações territoriais. Por outro lado, ao colocar em causa os ajustes de fronteiras efetuados pela União Soviética em relação a certos países, depois da Segunda Guerra Mundial, atacava-se injustamente ao camarada Josef Stálin, em apoio à acusação feita contra ele pela reação internacional a respeito da criação de “zonas de influência”. Neste ponto, a direção chinesa estava conciliando com Tito, que sustentava esta tese. Todavia, se Tito gritava contra as injustiças cometidas pelas potências vitoriosas contra a lugoslávia, ele se calava quando essas injustiças eram cometidas em detrimento de outros países, mas em favor da lugoslávia.

A tese chinesa da revisão das fronteiras não era uma questão simples. Expressava um espírito de chauvinismo de grande Estado e de nacionalismo burguês, que incitava a guerra na Europa.

O Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia (PTA), respeitando as normas leninistas, e com espírito de perfeita correção e camaradagem, expôs abertamente seus pontos de vista sobre estas questões ao Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh) e ao presidente Mao Zedong em pessoa, através de uma carta enviada dia 10 de setembro de 1964. A carta dizia, entre outras coisas:

Pensamos que levantar no momento as questões territoriais com a União Soviética causará um grande prejuízo à nossa luta. Se agirmos desta maneira, forneceremos ao inimigo uma grande arma com a qual ele nos combaterá, o que paralisará a nossa marcha adiante.

As massas do povo soviético, sob pressão da propaganda revisionista de Khrushchev, sob influência das calúnias e invenções de Khrushchev, e ainda por outras razões, não compreenderão porque a China Popular apresenta agora reivindicações territoriais à União Soviética; elas não aceitarão isso, e a propaganda soviética aproveitará para colocá-las contra vocês. Pensamos que nem mesmo os verdadeiros comunistas soviéticos compreenderão e aceitarão essas reivindicações. Isto constituirá uma perda colossal para a nossa luta.

Somos da opinião de que não devemos reabrir as antigas feridas, se elas existem. Somos da opinião de que não devemos entrar na luta e na polêmica sobre o fato de que a União Soviética arrancou ou não territórios de outros países. Devemos lutar, sim, concentrando nosso combate unicamente contra a grande chaga do imperialismo e do revisionismo moderno: a grande traição dos grupos pérfidos de Khrushchev, Tito e de todos os seus asseclas.

O Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh) não respondeu a esta carta correta, baseada em princípios, do nosso partido. A direção chinesa nunca deu a menor explicação sobre esta questão de grande importância a nosso partido. Mao Zedong se limitou a dar uma declaração verbal: “Não responderemos à carta de vocês para não causar polêmica”. Nós consideramos que, de acordo com as normas leninistas, a troca de idéias, a crítica feita com espírito de camaradagem, e as explicações recíprocas são práticas normais entre dois partidos comunistas. Essas práticas não constituem nenhuma polêmica.

Apesar da atitude incorreta da direção chinesa, nosso partido não tornou públicas essas divergências. O partido continuou sua luta revolucionária contra o imperialismo e o revisionismo, ao lado da China.

4. Em outubro de 1964, Khrushchev foi derrubado. Este fato fez realçar novamente a atitude vacilante dos dirigentes chineses em relação aos revisionistas soviéticos. O desejo de uma reconciliação e de uma reaproximação com eles foi reanimada.

Dia 29 de outubro de 1964, Zhou Enlai pediu, em nome do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh) e do Conselho de Negócios de Estado da República Popular da China — na presença dos embaixadores do Vietnã, da Coréia, da Roménia e de Cuba — ao embaixador albanês em Pequim que transmitisse ao Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia (PTA) a proposta chinesa para que nosso partido enviasse uma delegação a Moscou no sentido de apoiar a nova direção da União Soviética, com Brejnev à frente, e unir-se a ela “na luta contra o inimigo comum, o imperialismo”. Zhou Enlai acrescentou que, para aquele fim, ele havia sugerido à parte soviética que convidasse a Albânia para as festas do 7 de Novembro.

Durante a entrevista, Zhou Enlai declarou o seguinte, para justificar o ponto de vista da direção chinesa:

Houve mudanças na União Soviética. Sua influência e sua capacidade não se limitam apenas à União Soviética, mas se estendem aos partidos e países socialistas e todo o movimento comunista internacional, e até mesmo aos nossos inimigos comuns e seus agentes. Em suma, houve mudanças e isto é bom.

Por esta razão é que mandamos um telegrama de felicitações à nova direção do partido e do governo da União Soviética, expressando o nosso apoio à mudança, considerando-a com grande satisfação. Desde o dia 16 de outubro, proclamamos em Pequim o armistício em nossa imprensa. Agimos assim visando à nossa união em bases marxista-leninistas, ainda que muitos dos grandes problemas que existem entre nós não possam ser resolvidos no momento.

Zhou Enlai sabia muito bem que não havia relações diplomáticas entre a União Soviética e a Albânia; sabia que essas relações haviam sido brutalmente rompidas, por iniciativa dos khrushchevistas. Mesmo assim, ele insistiu para que a Albânia enviasse uma delegação a Moscou. Ele fez a seguinte afirmação a nosso embaixador: “Achamos que os camaradas albaneses deveriam estudar a nossa proposta. Esta é uma boa ocasião para estender as mãos aos soviéticos e unir-se a eles na luta contra nossos inimigos”.

O Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia (PTA) não podia aceitar esta proposta, que implicava na extinção da luta contra o revisionismo e na reconciliação ideológica com ele. Subscrever tal linha de reconciliação com os revisionistas soviéticos teria sido catastrófico para o marxismo-leninismo, teria sido um golpe de consequências desastrosas. Foi por isso que o nosso partido se opôs categoricamente ao pedido chinês e o rejeitou com firmeza.

Na carta enviada dia 5 de novembro de 1964 ao Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh), o Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia (PTA) explicou pacientemente, com espírito de correção marxista-leninista, que a análise feita pela direção chinesa sobre as mudanças operadas na União Soviética estava incorreta e que a sua proposta de se dirigir a Moscou era inaceitável. Nesta carta, entre outras coisas está dito o seguinte:

Este acontecimento, ainda que importante e destinado a ter consequências sérias, não levou, pelo menos até o momento, o revisionismo à derrota completa; este acontecimento não marcou a vitória final do marxismo-leninismo sobre o revisionismo; apenas fez acelerar a decomposição do revisionismo. Este acontecimento empurrou o revisionismo para mais perto do túmulo, apesar dos sucessores de Khrushchev se esforçarem para salvar o revisionismo desse túmulo, aplicando a política do khrushchevismo sem Khrushchev.

Se bem que o afastamento de Khrushchev da cena política constitua uma importante vitória para o marxismo-leninismo, o Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia (PTA) considera que não se pode superestimar este fato; os marxista-leninistas não devem afrouxar sua vigilância, nem cessar sua luta de princípio pela destruição do revisionismo moderno khrushchevista.

Somos da opinião que a polêmica aberta e de princípio para denunciar sem descanso o revisionismo moderno deve prosseguir até que o revisionismo seja completamente enterrado como ideologia... Recuar das posições que conquistamos com a nossa luta seria uma perda para nós e uma vantagem para os revisionistas.

Achamos que não nos é permitido ignorar tudo isso unicamente porque a pessoa de Nikita Khrushchev foi afastada. Além do mais, isto não é nem marxista, nem digno de um Estado soberano, já que foi o governo soviético quem tomou a iniciativa de romper as relações diplomáticas conosco e nos atacou com odiosos atos antimarxistas.

Por essas razões, somos constrangidos a nos expressar contra a proposta do camarada Zhou Enlai de aceitarmos um eventual convite do partido e do governo soviético para enviarmos uma delegação às festas do 7 de Novembro.

O Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh) recebeu com desprezo esta carta confidencial do nosso partido. A direção chinesa nunca respondeu a essa carta, nem levou em consideração suas observações razoáveis, feitas com espírito de camaradagem.

Zhou Enlai encabeçou uma delegação do partido e do governo chinês que esteve em Moscou dia 7 de novembro de 1964 para saudar a ascensão de Brejnev ao poder. Mas como os fatos demonstraram, ele não obteve sucesso em sua missão de reconciliação e acomodação com a nova direção soviética e, desde que voltou à China, a direção chinesa foi obrigada a retomar a polêmica com a União Soviética.

Ficou provado então que a atitude de nosso partido e a análise que fez dos fatos concernentes à queda de Khrushchev estavam corretas, eram marxista-leninistas. Já a posição da direção chinesa era conciliadora, oportunista e inteiramente errada na apreciação da nova direção revisionista da União Soviética, e na atitude tomada em relação a ela. Embora a direção chinesa não se tenha mostrado correta e não tenha feito autocrítica, e embora as nossas divergências ideológicas tenham se aprofundado, nosso partido continuou marchando em sua luta pelo fortalecimento dos laços de amizade e de colaboração com o Partido Comunista da China (PCCh), na esperança de que a direção chinesa assumisse posições sólidas na luta comum contra o revisionismo e o imperialismo.

5. Independentemente das contradições que surgiram entre nós, e levando em conta a situação difícil atravessada pela China, desejando sinceramente ajudar o Partido Comunista e o povo chinês a superá-la, o Partido do Trabalho da Albânia (PTA) continuou a apoiar a China com determinação, sobretudo nas questões políticas e ideológicas sobre as quais tínhamos pontos de vista comuns.

Nosso partido apoiou a Revolução Cultural a pedido do próprio Mao Zedong, que afirmou a nosso partido que a China deveria enfrentar um perigo colossal e que não se sabia quem, se as forças socialistas ou revisionistas, iriam se apoderar da China.(6) O Partido do Trabalho da Albânia (PTA) ajudou a China nesse período crítico, embora ele próprio estivesse enfrentando grandes dificuldades e sendo ferozmente atacado pela frente única imperialista-revisionista. O partido apoiou a linha geral da Revolução Cultural pela liquidação dos elementos capitalistas e revisionistas que haviam ocupado posições-chave no partido e no poder, ainda que não estivesse de acordo com numerosas questões de princípio que estavam na base dessa revolução, e nem com os métodos que foram utilizados durante a sua realização. Apoiando a Revolução Cultural, nosso partido esperava que a China encontrasse o caminho da verdadeira luta revolucionária, guiada pela classe operária e sua vanguarda, o Partido Comunista. A Revolução Cultural foi um período muito difícil para o socialismo na China, durante o qual se criou uma situação complexa e caótica. Esta situação foi o resultado lógico das lutas fracionistas que aconteceram, contrariamente aos princípios, no seio do Partido Comunista da China (PCCh), durante o período da luta pela consecução da Revolução Democrático-burguesa e, após 1949, em torno do caminho que a China devia percorrer para o desenvolvimento ulterior da revolução.

As grandes idéias da Grande Revolução Socialista de Outubro e a ideologia marxista-leninista não se tornaram — como deveriam ter-se tornado — um exemplo, uma bússola para o Partido Comunista da China (PCCh), o eixo de sua ação nas condições concretas da China. O resultado foi que mesmo o núcleo marxista-leninista do partido foi levado a um ecletismo perigoso, o que fez gerar uma luta caótica e desenfreada de frações, de pessoas e de grupos com diversas concepções não marxista-leninistas sobre o poder, entravando seriamente a construção das bases do socialismo na China. Este caos político, ideológico e organizativo do Partido Comunista e do Estado chinês fez com que elementos capitalistas e revisionistas se apoderassem de posições-chave no partido, no poder e no Exército. Foi nestas condições que estourou a Revolução Cultural, inspirada e dirigida pelo próprio Mao Zedong.

O Partido do Trabalho da Albânia (PTA) apoiou a estratégia geral da Revolução Cultural. Mas devemos ressaltar que o nosso partido apoiou a estratégia dessa revolução e não qualquer uma de suas táticas. O partido defendeu firmemente a causa do socialismo na China, defendeu o irmão povo chinês, o Partido Comunista da China (PCCh) e a Revolução; mas ele não apoiou, de maneira nenhuma, a luta fracionista dos grupos antimarxistas, quaisquer que fossem, que se degladiavam, até mesmo pelas armas, de maneira aberta ou dissimulada, para tomar o poder.

A Revolução Cultural, na maioria dos casos, desenvolveu-se em desacordo com os princípios, tanto na teoria como na prática; não foi conduzida por um verdadeiro partido da classe operária, que combatesse pela instauração da ditadura do proletariado. Os ataques entre os grupos fracionistas terminaram com a instauração de um poder nas mãos de elementos burgueses e revisionistas.

A atual direção chinesa se esforçou e se esforça para que o Partido do Trabalho da Albânia (PTA) condene a Revolução Cultural segundo os objetivos e desejos dela. O Partido do Trabalho da Albânia (PTA) nunca aceitará este diktat. Nosso partido e todos os revolucionários no mundo esperam que o Partido Comunista da China (PCCh) faça uma verdadeira análise da Revolução Cultural, que tenha a coragem de dizer a verdade sobre as ideias que conduziram essa Revolução e sobre os grupos e as pessoas que a fizeram e a dirigiram; que tenha a coragem de dizer a verdade sobre aqueles contra os quais a Revolução era dirigida; e adote atitudes claras sobre estas questões. A direção do Partido Comunista da China (PCCh) não procedeu a esta análise até o momento pois teme a verdadeira interpretação marxista-leninista que pode ser feita dos fatos.

6. O Partido do Trabalho da Albânia (PTA) despendeu múltiplos esforços para defender firme e abertamente a China no cenário internacional, ainda que, em relação a numerosas questões, seus pontos de vista sobre os princípios fossem diferentes das concepções chinesas. Assim foi a luta diplomática, longa e perseverante que a Albânia manteve pelo restabelecimento dos legítimos direitos da República Popular da China nas Nações Unidas, que lhe eram negados pelo imperialismo americano e seus aliados.

Em suas relações com os outros países do mundo, a China seguia uma política fechada. A direção do nosso partido, em casos particulares, e com toda camaradagem, expressou aos dirigentes chineses o desejo de ver a China Popular conduzir uma política externa mais ativa, ampliar os contatos e suas relações políticas, econômicas, culturais etc., com diversos países, especialmente com os países vizinhos. Segundo nosso ponto de vista, essa política seria do interesse da própria China e da causa do socialismo e da revolução em todo o mundo. Mas a direção chinesa não considerou oportuno este desejo da Albânia e preferiu se isolar, invocando diversos pretextos a todos os Estados que manifestavam o desejo de estabelecer relações com ela.

7. Em 1968, uma delegação do partido e do governo albaneses, encabeçada por Beqir Balluku, então membro do Birô Político, vice-presidente do Conselho de Ministros, e ministro da Defesa Popular, esteve na China. Esta delegação estava encarregada de apresentar à direção chinesa o nosso pedido de ajuda para fortalecer a capacidade de defesa da Albânia.

Nessa ocasião, Zhou Enlai expôs abertamente a Beqir Balluku o ponto de vista da direção chinesa, segundo o qual a Albânia, sendo um pequeno país, não precisava de armamentos pesados e que ela jamais poderia se defender de uma agressão estrangeira — especialmente do social-imperialismo soviético e do imperialismo americano — com as suas próprias forças, qualquer que fosse a ajuda militar que recebesse da China. Por esta razão, disse Zhou Enlai, para a Albânia se defender de uma agressão estrangeira só lhe restava uma alternativa: aplicar a tática da guerra de guerrilhas e fazer uma aliança com a Iugoslávia e com a Romênia.

Quando a nossa delegação voltou à Albânia, Beqir Balluku relatou a proposta de Zhou Enlai ao Birô Político. O Birô Político do Comitê Central do nosso partido denunciou e rejeitou unanimemente a proposta antialbanesa e contra-revolucionária de Zhou Enlai. Beqir Balluku, formalmente associado à decisão do Birô Político, acrescentou que ele estava contra a proposta de Zhou Enlai. Os fatos e os acontecimentos posteriores demonstraram porém que Beqir Balluku estava plenamente de acordo com a proposta da direção chinesa e que ele agia em segredo para realizar este plano estratégico hostil à República Popular Socialista da Albânia.

Esta mesma tese foi novamente proposta por Zhou Enlai à delegação albanesa que, em julho de 1975, se encontrava em Pequim para assinar o acordo de ajuda econômica da China à Albânia para o Plano Quinquenal (1976-1980). Nossa delegação novamente rejeitou a proposta de maneira categórica.

A direção do nosso partido considerou a proposta de aliança militar que Zhou Enlai procurava nos impor como uma tentativa de caráter reacionário de parte da direção chinesa; que visava levar a Albânia a cair na armadilha dos complôs belicistas, por meio de alianças militares que tinham como objetivo final transformar a região dos Bálcãs num barril de pólvora, como tentaram fazer o social-imperialismo soviético e os imperialistas americanos.

Não sabemos se a Iugoslávia e a Romênia estão a par desses planos da direção chinesa. Mas constatamos que, mesmo no presente, a direção chinesa manifesta um grande zelo em tratar de questões referentes aos Bálcãs, a embaralhar as cartas e instigar a guerra nesta região tão delicada da Europa. Temos confiança em que os povos do Bálcãs jamais aceitarão afastar-se uns dos outros, jamais aceitarão transformar-se em instrumentos do imperialismo americano, do social-imperialismo russo ou do hegemonismo chinês.

Estes atos reacionários da direção chinesa e a oposição do nosso partido contra eles tiveram mais tarde sérias consequências no relacionamento dos dois países.

Nosso partido jamais se imiscuiu nos assuntos internos da China. Mas a direção chinesa, em determinados momentos, intrometeu-se de maneira criminosa nos assuntos internos da Albânia. Os fatos serão denunciados no momento oportuno. Se tais atos condenáveis empreendidos pela direção chinesa em colaboração com os traidores albaneses fossem levados às últimas consequências, a República Popular da Albânia, a nossa independência e a nossa soberania estariam liquidadas.

8. Enquanto o nosso partido trabalhava para fortalecer a colaboração fraterna com a China, enquanto desejava desenvolver e intensificar, numa frente comum com a China e todos os partidos e forças marxista-leninistas a luta contra o imperialismo, o revisionismo moderno e a reação, a China olhava as coisas sempre através do seu próprio prisma, procurando dominar os outros e lhes impor sua estratégia e táticas.

O desenrolar dos acontecimentos mostrou cada vez melhor que a luta ideológica do Partido Comunista da China (PCCh) contra os khrushchevistas não tinha bases sólidas e que ela não tinha, de fato, por objetivo, defender o marxismo-leninismo, a revolução e a libertação dos povos. A China era levada apenas por objetivos pragmáticos e interesses egoístas. Isto ficou claro com a mudança radical da estratégia chinesa, oficialmente selada com a viagem de Nixon a Pequim.

No verão de 1971, a Albânia — que se considerava a aliada mais próxima da China — soube, através das agências internacionais de imprensa, a notícia, difundida no mundo inteiro, que Henry Kissinger havia feito uma viagem secreta a Pequim. Com Kissinger foram feitas negociações que marcaram uma mudança radical na política chinesa. Neste como em outros casos, embora se tratasse de uma grande mudança política, de uma mudança na linha estratégica, o Partido Comunista e o governo da República Popular da China não julgaram útil discutir previamente com o Partido do Trabalho e com o governo da Albânia para saber o que eles pensavam disso. A direção chinesa optou pela prática do fato consumado, julgando que os outros devessem obedecê-la sem nada dizer.

Para o nosso partido estava claro que a visita de Nixon a Pequim não fazia parte da série de negociações que estavam sendo realizadas até então em Varsóvia entre os embaixadores chinês e americano; que a visita não foi feita para estabelecer a “diplomacia do povo” nem para abrir o caminho para as relações com o povo americano, como pretendiam os dirigentes chineses. A visita de Nixon a Pequim lançava as bases de uma nova política por parte da China.

Com a visita de Nixon, a China entrava na dança das alianças e das rivalidades imperialistas em torno de uma nova partilha do mundo, na qual ela também teria a sua parte. Aquela visita abria as portas para a aproximação e a colaboração com o imperialismo americano e seus aliados. A inauguração da aliança com os Estados Unidos marcava, ao mesmo tempo, o abandono, por parte da direção chinesa, dos países verdadeiramente socialistas, do movimento marxista-leninista, da revolução e da luta de libertação nacional dos povos.

A aliança e o encontro da direção chinesa com o presidente americano em Pequim ocorreu quando os Estados Unidos estavam empenhados na guerra de rapina do Vietnã, usando os métodos de combate mais modernos — com a única exceção da bomba atómica — para massacrar o heroico povo vietnamita irmão e reduzir o Vietnã a cinzas. Esta aliança monstruosa e o encontro sino-americano foram atos condenáveis de consequências catastróficas para os povos.

Por esta razão, o Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia (PTA), constatando esta reviravolta perigosa na política exterior da China, enviou, dia 6 de agosto de 1971, uma longa carta ao Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh), expressando sua firme desaprovação a esta mudança, que ia contra os interesses da própria China Popular, da revolução e do socialismo. Nesta carta está dito, entre outras coisas, o seguinte:

Consideramos que a sua decisão de receber Nixon em Pequim não tem base e é inoportuna. Nós desaprovamos e não apoiamos esta decisão. Julgamos que a anunciada visita de Nixon à China também não será compreendida nem aprovada pelos povos, pelos revolucionários e pelos comunistas de todo o mundo.

O fato de receber Nixon na China — ele que é conhecido como um anticomunista raivoso, como um agressor e um assassino de povos, como o representante da pior reação americana — tem vários aspectos negativos e trará conseqiiências nefastas para o movimento revolucionário e para a nossa causa.

A ida de Nixon à China e as negociações com ele não podem deixar de criar ilusões nocivas nas pessoas simples e nos povos e revolucionários, sobre o imperialismo americano, sobre a sua estratégia e a sua política.

As negociações com Nixon fornecem uma arma aos revisionistas para menosprezar toda a luta e a grande polêmica mantidas pelo Partido Comunista da China (PCCh) visando denunciar os renegados soviéticos como aliados e cúmplices do imperialismo americano; essas conversações dão aos soviéticos uma arma para identificar a atitude da China, em relação ao imperialismo americano, com a linha de traição e de colaboração que eles mesmos seguem. Isto cria, para os revisionistas khrushchevistas, a possibilidade de brandir ainda mais alto a bandeira do falso anti-imperialismo e de intensificar sua demagogia e suas mistificações para levar as forças anti-imperialistas a reboque.

A visita do presidente americano à China não pode deixar de suscitar interrogações e mesmo mal-entendidos entre as pessoas simples, que não podem conceber como a China mude de atitude em relação ao imperialismo americano e entre no jogo das superpotências.

Nossa estratégia prevê uma estreita aliança com os povos que lutam, com os revolucionários do mundo inteiro, numa frente comum contra o imperialismo e o social-imperialismo; nunca uma aliança com o social-imperialismo soviético, supostamente contra o imperialismo americano e nunca uma aliança com o imperialismo americano, supostamente contra o social-imperialismo soviético.

A carta concluía ressaltando que “a linha e as atitudes do Partido do Trabalho da Albânia (PTA) sempre estarão de acordo com os princípios, consequentes, inalterados. Nós combateremos o imperialismo americano e o revisionismo soviético, sem compromissos e com perseverança”. A carta expressava a esperança de que as observações feitas por nosso Partido do Trabalho a um partido irmão “fossem examinadas com espírito de camaradagem e compreendidas de maneira correta”.

Também em relação a esta carta a direção chinesa portou-se da maneira habitual. Não se dignou a respondê-la. Com isto a direção chinesa não mostrava apenas a sua megalomania de grande Estado, mas também o temor de ser confrontada com argumentos justos e de princípio, com os argumentos marxista-leninistas de nosso partido. Dois meses depois do envio dessa carta, ocorreu o 6º Congresso do Partido do Trabalho da Albânia (PTA). Era uma boa ocasião para uma troca de opiniões com a delegação chinesa convidada a este Congresso para esclarecer as posições respectivas. Mas a direção chinesa, consequente com a sua linha de recusa às consultas e à solução das divergências por meio de conversações, mais uma vez agiu contra toda a prática de relações internacionalistas entre partidos irmãos. A direção chinesa levantou algumas razões absurdas para não enviar uma delegação ao Congresso de nosso partido. Nesta época, o Partido Comunista da China (PCCh) adiava unilateralmente as relações entre os dois partidos, cujos encontros eram puramente formais.

A mudança da estratégia chinesa efetuou-se no bojo de uma luta interna do Partido Comunista da China (PCCh), que tinha profundas contradições, onde floreciam “as cem flores e as cem escolas”, encontrando-se em sua direção pró-khrushchevistas, pró-americanos, oportunistas e revolucionários. Isto explica as sucessivas mudanças da linha política do Partido Comunista da China (PCCh), suas atitudes vacilantes, oportunistas e contraditórias em relação ao imperialismo americano, ao revisionismo moderno e à reação internacional. No espaço de dez anos, entre 1962 e 1972, o eixo da política chinesa mudou três vezes. No início, o Partido Comunista da China (PCCh) defendia a fórmula estratégica da “frente única mesmo com os revisionistas soviéticos e outros contra o imperialismo americano e seus aliados”. Depois, o Partido Comunista da China (PCCh) lançou a palavra de ordem da “frente única bastante ampla do proletariado e dos povos revolucionários de todos os países contra o imperialismo americano, o revisionismo soviético e a reação dos diversos países”. Após a visita de Nixon à China, a estratégia chinesa fala de uma nova “frente única e ampla”, na qual se integram, desta vez, “todos aqueles que possam se unir”, inclusive os Estados Unidos da América, contra o social-imperialismo soviético.

9. Depois da reaproximação com o imperialismo americano e a abertura para os Estados Unidos e seus aliados, a direção do Partido Comunista da China (PCCh) proclamou a teoria anti-marxista e contra-revolucionária dos “três mundos”, apresentada como uma estratégia da revolução, que os chineses se esforçam para impor ao movimento marxista-leninista e a todos os povos do mundo como linha geral de sua luta.

O Partido do Trabalho da Albânia (PTA), assim como o Partido Comunista da China (PCCh) tinha como princípio e acentuava — quando combatiam juntos o revisionismo moderno e, em particular, o revisionismo khrushchevista — que não existe “partido-mãe” e nem “partido filho”; que cada partido tem o direito de ter as suas próprias opiniões sobre todos os problemas e que um partido é verdadeiramente comunista, revolucionário, quando considera esses problemas com a ótica do marxismo-leninismo. O Partido Comunista da China (PCCh) violou estes princípios e estas normas em todos os campos. Ele procura impor a mudança contra-revolucionária da união da China com o imperialismo americano e a reação mundial a todos os marxista-leninistas; procura passar suas concepções e suas análises antimarxistas sobre o imperialismo, sobre a situação internacional atual, sobre as alianças etc., como verdades absolutas e inatacáveis, ao conjunto do movimento revolucionário e de libertação.

A prática prova que o Partido Comunista e o governo chinês, na maior parte das vezes, não consideraram as questões internacionais sob o ângulo do marxismo-leninismo, dos interesses da revolução e das lutas de libertação dos povos. A política chinesa é uma luta pragmática, e não poderia ser de outra forma, pois a sua estratégia e as suas táticas também são pragmáticas. Por isso é que o mundo viu e também verá no futuro outras reviravoltas completas na política chinesa. Essas mudanças são apresentadas como marxista-leninistas. Na realidade, porém, são mudanças antimarxistas, mudanças que servem aos interesses do grande Estado chinês, que busca nas alianças com o imperialismo americano, com o social-imperialismo soviético e com o capital mundial, transformar a China numa superpotência imperialista.

Atualmente, o plano da China de se transformar numa superpotência encontra sua expressão concentrada na teoria tristemente famosa dos “três mundos”. A teoria dos “três mundos” tenta substituir o marxismo-leninismo com uma salada eclética de ideias e teses oportunistas, revisionistas e anarco-sindicalistas; procura abafar o espírito revolucionário do proletariado e a sua luta de classe, preconizando a união com a burguesia e o imperialismo. A teoria dos “três mundos”, com as teses de que o momento não é apropriado para a revolução, visa manter o status quo, a situação de opressão e de exploração capitalista, colonialista e neo-colonialista.

A China pede aos povos para renunciarem à luta de libertação nacional, econômica e social e para submeter-se ao imperialismo americano e às outras potências capitalistas do Ocidente — os antigos colonizadores —, pretensamente em nome da defesa e da independência nacional contra o social-imperialismo soviético, que ela considera hoje como o único perigo e ameaça. A China procura fortalecer o Mercado Comum Europeu e a União Européia, que são organismos criados para manter a servidão capitalista do proletariado da Europa, e para oprimir e explorar os povos dos outros países. Incitando a corrida dos armamentos das superpotências, apoiando os instrumentos de guerra do imperialismo americano, a OTAN e seus outros blocos militares, a teoria dos “três mundos” incita à guerra imperialista mundial.

A teoria dos “três mundos” é uma cortina de fumaça que serve para a China esconder seu objetivo de estabelecer a hegemonia sobre o que ela chama de “terceiro mundo”. Não foi por acaso que a China se incorporou ao “terceiro mundo” e assume a sua liderança no cenário internacional. Também não é por acaso que a direção chinesa faça a corte dos “não alinhados” e procure submetê-los à sua vontade.

A direção chinesa não é a primeira a manifestar seu “amor” e sua “solicitude” pelo pretenso “terceiro mundo”. Os imperialistas, os social-imperialistas e outros neo-colonialistas elaboraram, bem antes da China, diferentes teorias sobre o “terceiro mundo”, a fim de dominar e subjugar os países e os povos desse “mundo”. Em vão, a direção chinesa tenta fazer crer que elaborou essa teoria baseada numa pretensa análise objetiva da situação internacional feita por Mao Zedong. Todo o mundo sabe que a teoria do “terceiro mundo” foi criada pela reação mundial. O Partido do Trabalho da Albânia (PTA) e o governo albanês combateram, desde 1960 e mesmo antes, no cenário internacional, as especulações teóricas e práticas sobre o “terceiro mundo’”, desmascarando-as como manobras e complôs burgueses-capitalistas, neo-colonialistas e racistas, que visavam oprimir os povos que lutavam por sua liberdade e independência.

A “contribuição” dos dirigentes chineses à teoria dos “três mundos” consiste apenas na “argumentação” sobre a necessidade de conciliação do “terceiro mundo” com o imperialismo. Eles não descobriram nada, eles conceberam a aliança do “terceiro mundo” com o imperialismo americano e com os outros imperialistas para conseguir a ajuda deles e fazer da China uma superpotência imperialista.

Portanto, não é o Partido do Trabalho da Albânia (PTA) que ataca o autor chinês e os defensores dessa teoria. Foram precisamente eles, os chineses, quem, no passado, atacaram o Partido do Trabalho da Albânia (PTA) e a sua luta contra essa teoria da reação mundial, luta travada em apoio à liberdade e à independência dos povos da África, da Ásia, da América Latina etc.

A aplicação da teoria dos “três mundos” levou a direção chinesa a se unir até mesmo com o “diabo”; a se unir com os imperialistas americanos e com os monopolistas da Europa; com os fascistas e os racistas; com os reis e os senhores feudais; com os militares e os belicistas mais raivosos. A China fez aliados como Pinochet e Franco, ex-generais nazistas da Wehrmacht alemã e do Exército Imperial Japonês; criminosos notórios como Mobutu e reis sanguinários, boss americanos e presidentes de companhias multinacionais.

Esta linha antimarxista levou a direção chinesa a se unir com Tito, Carrillo e outros revisionistas. Antigamente a direção chinesa era contra Tito e agora se uniu a ele. Isto comprova a sua falta de princípios marxista-leninistas e as inconsequências de sua linha. Mas o nosso partido faz questão de dizer à direção chinesa: a união atual de vocês com Tito e as alianças suspeitas que vocês tentam estabelecer nos Bálcãs trazem grande perigo para os povos dessa península, para os povos iugoslavo, albanês, grego, turco e outros. A Albânia conhece bem os planos e objetivos da direção chinesa em relação aos Bálcãs. Os povos do mundo também devem permanecer vigilantes contra as intrigas chinesas nesta região.

10. O Partido do Trabalho da Albânia (PTA) fez todo o possível para que as divergências que surgiam entre os dois partidos — e que, com tempo, tendiam a aumentar — fossem resolvidas pela via marxista-leninista.

Com esta intenção, o Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia (PTA), percebendo que a direção chinesa se recusava sistematicamente a responder às suas cartas e a enviar delegações oficiais à Albânia e, por outro lado, constatando que as divergências ideológicas com a direção chinesa assumiam grandes proporções, não se acomodou. Ao contrário, fez novos esforços para realizar conversações de camaradas com os chineses.

Assim, em janeiro de 1974, o Comitê Central do nosso partido propôs ao Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh) o envio à China de uma delegação do nosso partido e do nosso governo, a fim de manter conversações de cúpula, ressaltando que essa visita deveria acontecer, se possível, antes do fim do primeiro semestre de 1974. Mas a direção chinesa, embora tenha formalmente aceito a proposta do nosso partido, de fato se opôs ao envio da nossa delegação a Pequim. Primeiro, a direção chinesa informou que a visita da nossa delegação deveria ocorrer no segundo semestre de 1974; depois adiou-a para o primeiro semestre de 1975; por fim, silenciou sobre esta questão, fechando assim a possibilidade de negociações, ao mesmo tempo que reis e príncipes, reacionários e fascistas diversos eram recebidos em Pequim, acompanhados de grande pompa. Ficou claro, então, que a direção chinesa continuava obstinadamente no caminho antimarxista. Ficou claro que nas relações com o nosso partido e com o nosso país ela se baseava em concepções chauvinistas de grande potência, exigindo que sua linha e seu diktat fossem aceitos incondicionalmente.

Nestas circunstâncias, em que a direção chinesa recusava todo o contato, furtava-se a toda discussão e consulta e tentava, com arrogância e brutalidade, impor ao movimento marxista-leninista a teoria dos “três mundos”, o que devia fazer o Partido do Trabalho da Albânia (PTA)? Aceitar a linha antimarxista do Partido Comunista da China (PCCh) e renegar a si próprio? Renunciar à luta contra o imperialismo e o revisionismo moderno e se unir aos inimigos da revolução, do socialismo, da liberdade e da independência dos povos? Separar-se dos revolucionários marxista-leninistas e associar-se aos oportunistas e à burguesia reacionária? Parar de apoiar a luta de libertação nacional dos povos, contra as superpotências e os seus agentes?

O Partido do Trabalho da Albânia (PTA) permaneceu fiel ao marxismo-leninismo e à sua correta linha revolucionária, que ele sempre seguiu com resolução, com perseverança e sem esmorecimento. Foi esta a linha marxista-leninista apresentada pelo partido no seu 7º Congresso, quando expôs seus pontos de vista e suas posições em relação aos principais problemas internacionais atuais, em relação à revolução e à luta de libertação dos povos. No 7º Congresso, como em cada um dos outros congressos, nosso partido expressou seus pontos de vista, com espírito internacionalista proletário, sobre os problemas concernentes ao movimento marxista-leninista. A linha do 7º Congresso, aprovada por unanimidade pelo partido, constitui o fundamento de toda a política interna e externa de nosso país.

Esta linha marxista-leninista de nosso partido, a política independente da Albânia socialista, as posições firmes e de princípios tomadas pelo povo albanês, que foram e são contrárias à linha e à política antimarxistas e de grande potência da direção chinesa, são a causa essencial e verdadeira das posições e dos atos antialbaneses do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh) e do governo chinês e que levaram à suspensão arbitrária das ajudas civis e militares à Albânia.

Isto ficou claro principalmente depois do 7º Congresso do Partido do Trabalho da Albânia (PTA), quando a direção chinesa, violando todas as normas das relações entre partidos irmãos, precipitou-se e acusou o 7º Congresso de atacar a China, o Partido Comunista da China (PCCh) e Mao Zedong.

A acusação da direção chinesa é destituída de qualquer fundamento. Para se convencer disto basta ler os documentos do 7º Congresso, que foram todos publicados. Qualquer um pode facilmente constatar que neles não há nenhum ataque, seja contra a China, seja contra o Partido Comunista da China (PCCh), seja contra Mao Zedong. Em carta dirigida dia 24 de dezembro de 1976 ao Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh), o Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia (PTA) pediu que fosse apontado em quê ou onde o nosso partido havia atacado a China e Mao Zedong. A direção chinesa, como de costume, não deu nenhuma resposta até hoje.

O problema, porém, não está nos “ataques” que, de fato, não existem. A cólera e a arrogância da direção chinesa contra o 7º Congresso devem-se ao fato de o nosso partido não ter adotado as teses e os pontos de vista antimarxistas chineses, a teoria contra-revolucionária dos “três mundos”. O Partido do Trabalho da Albânia (PTA), na condição de partido marxista-leninista autêntico, aceita discutir os problemas, mas nunca recebeu de quem quer que fosse nem ordens nem diretivas sobre os problemas que ele devia resolver, nem sobre a maneira de expressar seus pontos de vista nos congressos. Por isso ele não permitiu e nem permite a qualquer partido, seja grande ou pequeno, e muito menos ao Partido Comunista da China (PCCh), que se intrometa nos seus assuntos internos e lhe dite o que deve fazer e como agir.

11. A direção do Partido Comunista da China (PCCh) conheceu uma série de mudanças em sua linha, em sua estratégia e em seus quadros. O Partido do Trabalho da Albânia (PTA) nunca defendeu este ou aquele grupo ou aquela personalidade afastados da direção do Partido Comunista da China (PCCh). Nós sempre tivemos e temos as nossas próprias opiniões sobre cada coisa e cada indivíduo ou grupo da direção chinesa. Isto é natural.

A direção chinesa atual desejou imensamente que o Partido do Trabalho da Albânia (PTA) apoiasse as mudanças por ela efetuadas na cúpula do Partido Comunista da China (PCCh). Quando ficou claro que não demos esse apoio, a direção chinesa concluiu que éramos partidários de Lin Biao e do “Bando dos Quatro”. Ela se engana nos dois casos, o que de resto constitui uma das grandes razões políticas e ideológicas inconfessadas que levaram a direção chinesa a suspender a ajuda à Albânia. A direção chinesa atual quis que o nosso partido apoiasse a sua atividade ilegal, conduzida por um caminho que não é marxista-leninista, para empolgar o poder na China. Nosso partido não satisfez nem satisfará este desejo da direção chinesa. O Partido do Trabalho da Albânia (PTA) jamais violará os princípios marxista-leninistas; ele não é e nunca será instrumento de ninguém.

A verdadeira razão da decisão chinesa para suspender sua ajuda à Albânia reside nas divergências e nas contradições ideológicas e políticas com o Partido do Trabalho da Albânia (PTA), no fracasso dos esforços da direção chinesa para impor ao Partido do Trabalho da Albânia (PTA) seus pontos de vista e sua linha. Precisamente porque não pôde submeter a Albânia socialista, a direção chinesa procura agora se vingar e se opor ao desenvolvimento do socialismo na Albânia. Mas através deste ato ela desmascara ainda mais a sua face antimarxista e contra-revolucionária.

III

Tão grave é a suspensão dos créditos e das ajudas à Albânia pela direção chinesa que não constitui apenas um episódio nas relações entre a Albânia e a China. Este ato reveste-se de grande importância internacional; prova que a China tomou posição contra o marxismo-leninismo proletário, prova que ela adotou e segue uma política chauvinista e de diktat de grande potência, que ela aplica práticas hegemónicas e realiza atos arbitrários e brutais de grande potência.

Para realizar seus objetivos egoístas, para fazer da China uma potência central no mundo, a direção chinesa posa de “defensor dos pequenos e médios países”, declara luta contra “a injusta repartição da economia mundial”, contra “a discriminação econômica dos países em desenvolvimento pelas potências imperialistas”, declara ser pelo “desenvolvimento da economia nacional dos países em desenvolvimento”, pelo “fortalecimento da independência e da soberania desses países”, lutar “contra o diktat dos grandes sobre os pequenos” etc. Ora, a atitude hostil da direção chinesa em relação à Albânia, a suspensão de sua parte das ajudas e créditos firmados até então — porque o Partido do Trabalho da Albânia (PTA) não obedeceu à sua varinha de maestro — desmascara claramente a falsidade da linha chinesa, as suas intenções que não são benevolentes de jeito nenhum, as mentiras que ela quer fazer os povos do “terceiro mundo” engolir, para oprimi-los e subjugá-los, para lhes impor a sua vontade e a vontade dos antigos e novos colonizadores.

Suspendendo as ajudas que prestava à Albânia socialista, ao mesmo tempo que a China recebe ajudas e créditos consideráveis do imperialismo americano e do capitalismo mundial e concede ajudas e créditos aos agentes do imperialismo, como Mobutu e consortes, a direção chinesa mostra abertamente à opinião mundial que ela não está ideologicamente de acordo com um verdadeiro país socialista. Ao contrário, este ato mostra que a China é contra a ordem socialista, contra os países e os povos que querem se libertar precisamente da dominação do imperialismo e do social-imperialismo, da opressão e do diktat do chauvinismo de grande Estado.

Nós fazemos questão de dizer aos dirigentes chineses: vocês levaram para o campo das relações estatais com nosso país as discordâncias e divergências ideológicas. Procedendo desta maneira, vocês prejudicaram gravemente a amizade albano-chinesa pela qual tanto lutaram o povo albanês c o povo chinês. Vocês tomaram públicas as nossas divergências e abriram a polêmica. Aceitamos o desafio, não tememos a polêmica. Mas vocês são inteiramente responsáveis, perante o povo chinês e o povo albanês, perante toda a opinião pública mundial, por todos os seus atos hostis, antimarxistas e anti-albaneses.

Para que o povo albanês, o povo chinês e toda a opinião pública internacional possam tomar conhecimento e julgar os pontos de vista do partido e do governo de vocês, e também do partido e do governo albaneses, sobre a suspensão pela China dos créditos e ajudas à Albânia, nós publicaremos em nosso jornal Zëri I Popullit esta carta e também a nota do governo chinês. Esperamos que vocês também publiquem a nossa carta no jornal Renmin Ribao. Esta é uma prática que a China mantinha antigamente.

O Partido do Trabalho da Albânia (PTA), o governo e o povo albanês lutarão para salvaguardar a amizade albano-chinesa, que é uma amizade entre povos. E o farão na medida em que isto dependa deles, para que sejam mantidas as relações estatais normais entre a Albânia e a China. Eles têm a firme esperança de que o povo chinês apreciará a atitude albanesa e saberá também julgar as ações antialbanesas da direção chinesa.

A direção chinesa suspendeu a ajuda econômica e militar à Albânia pensando que a Albânia fosse obrigada a capitular e a submeter-se a ela ou estender a mão aos outros, desacreditando-se. Mas a direção chinesa ainda não conhece bem o Partido do Trabalho da Albânia (PTA) e o povo albanês, a sua determinação, sua força e sua unidade.

A República Popular Socialista da Albânia e o povo albanês, sob a direção consequente do Partido do Trabalho da Albânia (PTA), com o camarada Enver Hoxha à frente, cumprirão com honra e até o fim a missão histórica da edificação do socialismo, apoiando-se em suas próprias forças; mostrando, cada vez melhor, ao proletariado mundial e a todos os povos do mundo, a vitalidade inesgotável e invencível da ideologia marxista-leninista, que toma possível, mesmo a um pequeno país como a Albânia — cercado pelo imperialismo e pelo revisionismo — o êxito na edificação do socialismo, a sua defesa e o seu progresso constante.

A Albânia jamais se renderá a ninguém, ela continuará fiel até o fim ao marxismo-leninismo e ao internacionalismo proletário, ela marchará sem parar pelo caminho do socialismo e do comunismo, iluminada pelos ensinamentos imortais de Marx, Engels, Lênin e Stálin.

O povo albanês, com o Partido do Trabalho à frente, apoiará, com determinação e perseverança, as lutas revolucionárias e de libertação dos povos, o combate desses povos pela liberdade, a independência e o progresso social. O Partido do Trabalho da Albânia (PTA) lutará com intransigência e até o fim contra o imperialismo americano, o social-imperialismo soviético, o revisionismo moderno e a reação mundial. A Albânia nunca se curvou, nem abaixou a cabeça no passado e não o fará hoje nem no futuro.

A direção chinesa se atolará tanto em sua teses como em suas intrigas. O ato reacionário que ela cometeu contra a Albânia revolta a consciência de qualquer pessoa honesta. A Albânia socialista está cercada mas não está isolada, pois ela dispõe do respeito e da afeição do proletariado mundial, dos povos amantes da liberdade e dos povos honestos no mundo inteiro. Este respeito e esta afeição não cessarão de crescer. Nossa causa é justa! A Albânia socialista triunfará!

O Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia (PTA)
O Conselho de Ministros da República Popular Socialista da Albânia.

Tirana, 29 de julho de 1978.

Leia aqui a nota anterior do Ministério das Relações Exteriores da China


Notas de rodapé:

(1) Trecho de uma entrevista com uma delegação albanesa dia 29 de junho de 1962. (retornar ao texto)

(2) Zëri I Popullit, 9 de janeiro de 1964, discurso no comício em Tirana. (retornar ao texto)

(3) Trecho de uma entrevista com uma delegação albanesa, em Pequim, dia 29 de agosto de 1971. (retornar ao texto)

(4) Trecho do discurso pronunciado durante o jantar oferecido em homenagem à delegação chinesa em Tirana, dia 13 de novembro de 1966. (retornar ao texto)

(5) Trecho das conversações realizadas dia 11 de junho de 1962. (retornar ao texto)

(6) Trecho de uma entrevista com a delegação do partido e do governo albanês em maio de 1966. (retornar ao texto)

 

Jornal A Verdade
Inclusão: 17/05/2023