Resumo da História do Partido do Trabalho da Albânia


Capítulo VI - Esforços para Aplicar a Nova Linha na Albânia


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No Outono de 1937 o Grupo de Korcha foi o primeiro que teve conhecimento das novas orientações do Komintern. Quando estudaram a nova linha, os dirigentes deste grupo ainda que recebendo com reservas a orientação de dissolver as células comunistas e o Comité, e ao princípio vacilando em cumpri-la, aceitaram-na como programa da sua actividade ulterior. O Grupo designou o seu próprio representante no núcleo comunista do Comité Central, e decidiu pôr em prática as novas orientações, intensificando o trabalho entre as massas nas organizações legais, tais como as associações artesanais, conselhos de bairros, Conselho Municipal, Conselho da Câmara do Comércio, grupos para militares, associações juvenis, imprensa legal, etc...

A difusão da nova linha entre as outras organizações comunistas do país chocou desde o princípio com a oposição dos dirigentes do grupo de Shkodra. Zef Mala e Niko Xoxi não aceitaram a nova linha, dizendo que em princípio eram por uma revolução social e não nacional, que repudiavam o imperialismo mas não queriam trabalhar com os nacionalistas, que eram partidários de acções directas no momento oportuno, e não de acções a longo prazo e indirectas, etc...

A organização trotskista de Tirana também se opôs à nova linha, o seu dirigente Aristidh Qendro, tal como Zef Mala, considerava como traição à classe operária a colaboração com os nacionalistas e a criação da Frente Popular.

Era necessário desenvolver um trabalho resoluto e inquebrantável de esclarecimento político e ideológico dos comunistas, desmascarar os trotskistas e unir as forças comunistas sãs num só Partido Comunista Albanês. Mas os que haviam assumido esta tarefa deixaram-se vencer perante as dificuldades. O núcleo comunista dentro do Comité Central da nova organização que se haveria de formar, nunca actuou como tal Os seus membros não tinham espírito de sacrifício. O próprio Kocho Tashko que havia transmitido as novas directivas e era o principal responsável pela sua aplicação, mostrou-se totalmente incapaz do ponto de vista político e organizativo para pô-las em prática.

Por seu lado, o Grupo de Korcha continuava encerrado na sua cidade. Em Março de 1938 dissolveu as suas células. Esta medida provocou certa confusão e desorientação entre as fileiras dos comunistas, que viam a célula como a forma mais adequada para a educação ideológica marxista e o estudo colectivo das questões do movimento operário. Apesar d'e tudo, antes e depois da dissolução das células, os comunistas do grupo lutaram para aplicar a nova linha em Korcha e alcançaram importantes êxitos neste sentido. Souberam pôr-se à cabeça do movimento democrático da cidade e aumentaram a sua influência entre as massas populares que viam nos comunistas os defensores mais resolutos dos interesses do povo. Isto pode-se comparar na eleições dos conselhos de bairro, do Conselho da Câmara do Comércio, da organização «Juventude de Korcha», etc.... e particularmente nas eleições municipais (...)

Em relação aos problemas internos do país, o Grupo de Korcha seguiu em geral uma linha justa (...) sentia a necessidade de estreitar os laços dos comunistas com as grandes massas populares, dirigi-las na luta diária pela conquista das suas mais elementares reivindicações políticas e económicas e criar uma Frente Popular que mobilizasse as massas na luta contra o perigo fascista (...)

O Grupo Comunista de Korcha dava grande importância ao movimento dirigido contra o imperialismo italiano, movimento que englobava diversas camadas sociais e considerava-o uma base segura para a criação da Frente Popular.

Com a aplicação desta linha o Grupo Comunista de Korcha conseguiu uma série de êxitos mas só na cidade. O grupo tinha um conceito estreito acerca da base em que se devia formar a Frente Popular num país agrário atrasado como era a Albânia, onde o campesinato constitui a maior parte da população. Apesar de proclamar estender a sua actividade a outras camadas do povo para além da classe operária, não desenvolveu quase nenhuma actividade no campo, em torno da aliança operária - camponesa, sem a qual não se podia organizar a Frente Popular.

O Grupo de Shkodra, por seu lado, não havia tirado ensinamentos úteis dos êxitos obtidos pelos comunistas nas eleições dos conselhos de diversas instituições em Korcha, Durvos e outros lugares. Os principais dirigentes deste grupo, em lugar de lutarem pela unidade dos comunistas do país e estreitar os seus vínculos com as massas populares, seguiam o caminho da cisão e de combater o grupo que havia aceitado a nova linha. Neste sentido desempenhou um papel negativo a aparição na segunda metade de 1938 do «Boletim Verde», órgão clandestino do Grupo de Shkodra.

Neste boletim publicavam-se extractos das obras dos clássicos do marxismo-leninismo... Estes escritos constituíam uma importante contribuição para o movimento comunista albanês. Mas ao mesmo tempo, o Grupo Comunista de Shkodra por meio também do «Boletim Verde», defendia teoricamente a sua linha, apresentando teses erróneas e manifestando uma atitude antimarxista, imposta por Zef Mala e Niko Xoxi face ao problema fundamental da criação da Frente Popular.

Os pontos de vista antimarxistas dos dirigentes do Grupo de Shkodra tinham origem num conceito errado sobre o papel das classes e dos estratos sociais no movimento revolucionário albanês e sobre a situação criada na Albânia pela política de subjugação do fascismo italiano. Consideravam que na Albânia o proletariado não existia, nem tão pouco a burguesia no sentido real da palavra, que a parte mais revolucionária da população eram os artesãos e que o campesinato seria aliado do proletariado só quando, este último, com um maior desenvolvimento capitalista do país, crescesse e chegasse a ser capaz de hastear com as suas mãos a bandeira da Revolução Socialista.

Assim, segundo eles, como não existia proletariado nem burguesia, não se travava tão pouco uma verdadeira luta de classes e como consequência, não se tinham produzido ainda as condições para a revolução. Inclusive o próprio movimento comunista não tinha surgido, segundo eles, como uma necessidade imperiosa de que a classe operária dirigisse a luta contra os capitalistas, mas como resultado de influência estrangeira. Nestas condições, tendo já surgido este movimento o dever dos comunistas era educar e formar quadros que amanhã começassem o trabalho de agitação entre as massas populares, atraíssem o proletariado e tomassem nas suas mãos a direcção da revolução comunista. Com estes quadros, educados e formados teoricamente, eles tencionavam organizar o Partido Comunista Albanês (...) Estes conceitos confundiam ainda mais os militantes do Grupo do ponto de vista ideológico.

Entre os grupos agravaram-se pois as contradições ideológicas e políticas acerca da aplicação do marxismo nas condições históricas concretas do país. Esta luta estendeu-se ao campo organizativo e teve um carácter de conflito sem princípios (...)

Os grupos comunistas foram as únicas organizações políticas que naqueles momentos difíceis (invasão da Albânia pelos italianos) se preocuparam com o destino do país e do povo. Estes grupos mantiveram uma atitude resoluta contra o regime de ocupação. Mas a cisão impedia a elaboração de uma linha comum para a luta de libertação, a ligação às massas e o conseguir encabeçá-las.

Na ordem do dia colocava-se com urgência a necessidade da união dos grupos e a criação de um único partido comunista. Resolver este problema não era fácil. Era necessário superar grandes obstáculos para eliminar as contradições e a cisão que era alentada sobretudo pelos dirigentes, apesar da necessidade de unidade ser sentida pela maioria dos comunistas.

Mas, para realizar a unidade das forças comunistas e organizar a luta antifascista seguiu-se o velho caminho das conversações entre dirigentes. Nestas conversações chocaram-se de novo as duas linhas opostas acerca do carácter da luta. Os dirigentes do Grupo de Korcha mantinham a posição de organizar a luta pela libertação nacional com a participação de todas as classes e camadas sociais que queriam lutar contra os invasores. Os chefes do Grupo de Shkodra e de outras organizações que não cediam na sua actividade sectária, sustinham os seus antiquados pontos de vista na nova situação. Acreditavam que com a ocupação italiana a Albânia se encaminhava para um acelerado desenvolvimento capitalista. Como consequência, o crescimento da classe operária criaria a base para a revolução socialista.

As conversações entre os dirigentes dos grupos de Korcha e de Shkodra conduziram à formação no Outono de 1939, de um chamado «Comité Central» conjunto, com paridade de representação, dois por cada grupo. (Este acordo não foi outra coisa senão «um compromisso social-democrata». Não propunha a fusão dos grupos numa única organização, e estes continuavam separados, mantendo cada um os seus pontos de vista e sem depurarem as suas fileiras dos elementos antimarxistas. Os dirigentes do Grupo de Shkodra só aceitaram expulsar o trotskista Niko Xoxi. Apoiada em bases tão débeis, esta «unidade» realizada de cima foi puramente formal (...)

Os simples militantes dos grupos compreendiam cada vez melhor que a unidade não se podia conseguir através de conversações infrutíferas entre os dirigentes, mas sim na luta comum contra a invasão fascista. Isto deu como resultado que estas divergências políticas e ideológicas dos dirigentes foram pouco a pouco relegadas para segundo plano pelos militantes.

A autoridade e influência dos dirigentes sobre os militantes dos grupos havia declinado. Por sua própria iniciativa, os comunistas lançaram-se na luta contra os invasores estrangeiros e converteram-se em agitadores da luta de libertação.

«Os comunistas de base de diversos grupos, na luta e no combate contra o ocupante e seus títeres, unidos com um único objectivo — a libertação do país do invasor, ligavam-se por vínculos de sangue uns aos outros, e esqueciam as rixas e rancores; cristalizava-se assim neles a correcta linha dos comunistas e buscavam a unidade num só Partido, condições «sina qua non» para organizar a luta de libertação e alcançar a sua direcção». (Enver Hoxha — Informe do CC do PCA — I Congresso, Tirana, 1950).

Os êxitos que os comunistas obtiveram com a organização do movimento antifascista nos primeiros meses da ocupação do país, serviram ao Grupo Comunista de Korcha para consolidar e incrementar a sua actividade nas outras regiões do país, e terminar com o bairrismo que vinha sendo um grande obstáculo. No princípio do ano de 1940 o Grupo de Korcha estendeu a sua organização a Tirana. A sua direcção foi confiada a Enver Hoxha (...).


Inclusão 22/05/2014