Dossier Brigadas Revolucionárias


ENTREVISTA DO CAMARADA «ANDRÉ SÉRGIO» — CARLOS ANTUNES — MILITANTE DAS BRIGADAS REVOLUCIONÁRIAS À RÁDIO «VOZ DA LIBERDADE» SETEMBRO DE 1972


O QUE SÃO AS BRIGADAS REVOLUCIONÁRIAS

R.V.L. — Ultimamente, pode dizer-se que cada vez com maior frequência, temos recebido cartas de ouvintes que nos escrevem, quer do interior de Portugal, quer de núcleos da emigração, saudando a acção das Brigadas Revolucionárias. Por outro lado, a imprensa fascista, a imprensa controlada pela alta finança, procura deformar o sentido das acções das Brigadas Revolucionárias. Ao mesmo tempo, certos sectores da oposição, de maneira diferente e também por razões diferentes, procuram minimizar essas acções e por vezes mesmo deformá-las. Entretanto, Marcelo Caetano, num discurso que pronunciou a 19 de Junho na margem Sul, reconheceu publicamente que havia em Portugal uma situação nova, que se se assistia em Portugal — como ele afirmou — a um renovo da acção armada. Nós considerámos que era importante ouvir um camarada das Brigadas Revolucionárias, dar a palavra às Brigadas Revolucionárias, para que elas expliquem o que são, quais os seus objectivos, porque lutam, como consideram a luta armada, como consideram a luta geral dos trabalhadores portugueses.

A. — Eu quero dizer-te, camarada, que nós aceitamos o convite da Voz da Liberdade para falar atravês dos seus microfones por duas razões fundamentais: a primeira é por que isso nos permite contactar e explicar a camadas muito mais amplas do nosso povo, do que através de simples comunicados, a nossa acção e o que pretendemos fazer; a segunda razão é por que consideramos que somos militantes políticos, quer dizer, não somos nem comandos, nem homens de mão, nem nenhuma forma de grupo de pressão.

Somos militantes políticos que lutam politicamente através da acção armada. Nessa medida consideramos que temos o direito e o dever de nos exprimirmos politicamente, através de todos os meios revolucionários. de comunicação com o povo.

R.V.L. — Parece-nos, importante, depois do que acabas de nos dizer, que nos digas agora qual a composição das Brigadas Revolucionárias, quem são, do ponto de vista da sua origem social, os militantes que compõem as Brigadas Revolucionárias?

A. — Há dois aspectos a considerar na tua pergunta: o 1.º é o des camaradas que já participaram na acção, digamos assim, os camaradas combatentes; o 2.º aspecto é o dos camaradas que por mil formas, desde a simples informação, até ao apoio técnico e logístico, participam e são também combatentes, a nosso ver, da luta armada. Em relação aos camaradas que participaram directamente, digamos, fisicamente, nas acções realizadas, queria dizer-te, simplesmente o seguinte: só dois camaradas, é que não são operários ou camponeses. Todos os outros são operários e camponeses: Mas muito mais importante do que isso, é dizer o seguinte: é que não são camaradas que tenham vindo à luta política, pela 1.º vez, através da luta armada. Não, são camaradas, que já antes, de uma forma legal ou clandestina participavam na luta de classes em Portugal, como militantes ou mesmo como dirigentes. Quanto aos outros camaradas que apoiam tecnicamente ou através da informação as Brigadas Revolucionárias, bem entendido que não são todos operários e camponeses. Há técnicos, há estudantes, há homens e mulheres das mais variadas origens. Mas também aqui eu queria dizer o seguinte: a maioria esmagadora dessas dezenas e dezenas de militantes, são de origem operária e camponesa.

R.V.L. — Penso que não é um acaso as primeiras Brigadas Revolucionárias serem constituídas na sua quase totalidade por militantes operários e camponeses. Isso exprime algo de mais profundo. Significa que as Brigadas Revolucionárias e a sua acção apareceram na vida política portuguesa como uma expressão da luta de classes. Mas significa isso que as Brigadas Revolucionárias devem ser constituídas só por militantes operários e camponeses?

A. — Não, de forma nenhuma, (isto não quer dizer que os operários e camponeses não continuem a ser a maioria dos camaradas que compõem as Brigadas Revolucionárias). Mas posso mesmo afirmar que já hoje, militantes de outras origens, estudantes e intelectuais revolucionários integram as Brigadas Revolucionárias e se preparam para entrar em combate. Esperamos que dentro em breve o possam fazer com êxito. O que quero dizer também é que estes camaradas vêem à luta armada pelos objectivos da classe operária.

R.V.L. — Depois de termos focado este aspecto da composição das Brigadas Revolucionárias eu gostaria de passar a outros aspectos, a outras características das Brigadas. Fundamentalmente: como é que surgiram as Brigadas? Como é que elas funcionam? São organismos que se constituem para uma acção e depois se dissolvem? São organismos que têm um comando central? São organismos que têm uma acção permanente, uma acção contínua? Gostaria que tu explicasses aos ouvintes da Voz da Liberdade um pouco do que são, por dentro, as Brigadas Revolucionárias.

A. — Tentarei explicar aquilo que é possível explicar, e que é justo explicar, sem com isto querer dizer que somos uma organização misteriosa. Mas todos compreenderão que na situação política do nosso país, na situação repressiva do nosso país, os aspectos particulares de funcionamento têm de ser secretos e duma forma extremamente compartimentada. Isso não quer dizer de modo nenhum que eu pense que a forma orgânica no sentido político geral, se deva manter secreta. Não estou com isto a tentar fugir às perguntas... Tu sabes que a acção das Brigadas começou antes de tudo por uma ruptura de um punhado de militantes com uma determinada forma de fazer política.

É isto, fundamentalmente, que cria a possibilidade de uma nova prática política no nosso país, que estamos a ver não só através da luta armada, como através de outras formas políticas. É, concretamente, uma forma nova de fazer intervir os militantes revolucionários e as massas no processo da luta geral no nosso país.

R.V.L. — Mas então, como é que surgiram as Brigadas Revolucionárias, a própria ideia das Brigadas Revolucionárias na sua aplicação prática? Será que são como alguns pretendem, uma cópia de outros modelos? Será que elas se inspiram no guevarismo, no castrismo, como se tem afirmado? Será que são de inspiração pró-chinesa? Ou, pelo contrário uma criação de militantes revolucionários portugueses, de militantes operários de Portugal, de acordo com as realidades do nosso país?

A. — Naturalmente que os militantes que iniciaram a acção das Brigadas conheciam e estudaram as experiências de luta armada tanto na China, como em Cuba, como na Palestina, como na Argélia, como no Vietnam. Sobretudo no Vietnam, que é um dos exemplos mais extraordinários de como se pode pôr um povo em luta, com armas na mão, contra o imperialismo. Portanto, como ia dizendo, os camaradas que iniciaram a acção das Brigadas Revolucionárias conheciam essas experiências. Mas há uma coisa que eles aprenderam com todas essas experiências, é que a experiência a fazer em Portugal tinha de ter em conta a situação concreta do nosso país. Em Portugal dadas as condições específicas do nosso país, era necessário que a luta armada, para conduzir a um processo novo de intervenção se baseasse na situação concreta. Era necessário que os organismos a construir, fossem criados em função das condições específicas do nosso país. Isto, é que é importante. Assim nós pensamos que para começar, era necessário criar núcleos autónomos de combatentes, de modo a que cada núcleo pudesse passar à acção, recolher a experiência das acções realizadas e, ao mesmo tempo, defender-se da repressão.

R.V.L. — Isso significava, portanto, que no início as Brigadas não tinham comando central nem um organismo de coordenação?

A. — Sim, é verdade. E posso dizer que, mesmo hoje, não têm um comando central. O que têm hoje é um organismo de coordenação e estão muito mais interligadas, embora a compartimentação e a autonomia se tenham até reforçado com isso.

R.V.L. — Mas, então, explica melhor. As Brigadas constituíram-se para realizar aquelas primeiras acções e depois dissolveram-se ou transformaram-se em consequência das suas próprias acções e da evolução da situação?

A. — Transformaram-se. E transformaram-se na medida em que cada camarada, tendo passado por uma experiência extremamente importante, discutiu colectivamente essa experiência, que lhe permitiu revelar-se a ele próprio e aos outros na acção e lhe deu a possibilidade de ir formar outras brigadas. Assim começaram a surgir novas brigadas, tendo-se criado, entre elas um sistema de interligação e coordenação.

R.V.L. — Portanto, neste momento, à coordenação está muito mais avançada, existe...

A. — Existe, mas não há um comando central. E não há porque nós pensamos que, na actual situação, isso não é possível. A experiência de cada camarada não permite uma tal coisa. E como é que poderia haver um comando central? Só se fossem uns tantos a proclamarem-se comando central, sem terem passado pela prova de fogo, que é, quanto a nós, uma prova longa e sem terem experiência prática que lhes permitisse exercer essa função.

R.V.L. — Pensas portanto, que será o próprio desenvolvimento da acção, a própria prática, a experiência acumulada por cada militante, que permitirão evoluir ainda, isto é, pensas que os dirigentes da acção armada têm que ser criados no próprio processo da luta armada?

A. — É isso mesmo. Ou então teríamos indivíduos vindos de fora e que se atribuíriam esse papel de uma maneira postiça.

R.V.L. — Eu gostaria que exemplificasses melhor. Como é que por exemplo, são escolhidos os objectivos da acção? Quem os escolhe? Quem participa nas decisões?

A. — Quem escolhe os objectivos de uma acção são sempre e em definitivo, os camaradas que a fazem.

R.V.L. — Portanto, não há uma intervenção de fora?

A. — Não há uma intervenção de fora ao nível da decisão. Ao nível da informação há.

R.V.L. — Mas não há um organismo fora das Brigadas a dizer às Brigadas o que elas devem fazer?

A. — De forma nenhuma. Nunca elas poderiam aceitar tal coisa... Pensamos mesmo que uma tal situação levaria a uma deformação profunda em cada militante e deformaria os próprios objectivos das Brigadas.

R.V.L. — Isto é, se tal acontecesse, as Brigadas passariam a ser uma espécie de comandos, ou um braço armado de uma política pensada por outros...

A. — Claro. E outros, que na maioria dos casos ninguém conheceria.

R.V.L. — Como é que são elaborados os comunicados das Brigadas Revolucionárias?

A. — Os comunicados das Brigadas Revolucionárias são elaborados pelos camaradas que participam na acção.

R.V.L. — Portanto, todos participam na elaboração?

A. — Sim, todos participam na elaboração e neste momento pensamos mesmo que devemos ir mais longe neste aspecto. Pensamos que na elaboração do comunicado devem participar não só os comaradas que fazem a acção mas também os camaradas dos serviços técnicos que imprimem e os camaradas das Brigadas de Agitação e Propaganda que o vão distribuir. Aqui levanta-se um problema conspirativo, que é o de revelar uma acção que ainda não foi feita a camaradas que não vão participar nela. Pensamos superar este problema, limitando a parte da descrição da acção àqueles que a realizam e que sabem, portanto, quando ela se faz, e promovendo a participação na elaboração do comentário político não só àqueles que realizam a acção como também àqueles que imprimém o comunicado (e que estão a fazer uma acção) e àqueles que o distribuem, os quais não fazem uma acção menor, antes pelo contrário, fazem uma acção que, sob muitos aspectos, é mais arriscada.

R.V.L. — Portanto é dessa maneira, por esse método, que nós pensamos que é um método novo e original, que se assegura a participação efectiva e a sua aplicação prática. É pensamos, também, que se trata de um método que implica uma responsabilidade autêntica de cada militante em todo este processo.

A. — Sobre o problema da responsabilidade há ainda um ponto que eu gostaria de referir. Para que se realize uma acção, é necessário que todos os camaradas estejam de acordo, isto é, que todos os camaradas da Brigada que a deve realizar estejam de acordo com ela. Quer dizer, funciona o princípio da unanimidade. Só quando todos estão de acordo é que a acção se realiza. Por outro lado, importa dizer que os camaradas que fazem parte do comité de coordenação existente (que nós consideramos provisório) não têm prerrogativa especial.

São militantes como os outros, com a mesma responsabilidade e função dentro da respectiva Brigada e que, como os outros, participam na acção.

A LUTA ARMADA

R.V.L. — Queria agora fazer-te uma pergunta. Tu pensas que a luta armada deverá ser praticada apenas por militantes integrados em organismos especiais, organismos neste momento necessariamente secretos, compartimentados e limitados a um número relativamente reduzido de militantes ou pensas que a luta armada deverá vir a ser praticada pelos próprios trabalhadores? Qual é o objectivo das Brigadas Revolucionárias em relação à perspectiva da luta armada.

A. — Esse é o grande problema. Seria muito mau (e não é por acaso que nós não temos comandos centrais, conselhos superiores, etc.) seria muito mau dizia, qu os trabalhadores portugueses, os militantes políticos e o povo português pensassem que as Brigadas Revolucionárias ou outras organizações de luta armada podem fazer aquilo que só eles podem fazer, isto é, a revolução. Isso seria voltarmos muitos anos atrás e cairmos no putchismo, agora com outro nome. Quero com isto dizer o seguinte: é que para nós, Brigadas Revolucionárias, o problema é o de dar o exemplo e mais nada.

R.V.L. — Abrir um caminho...

A. — Abrir um caminho pela prática, demonstrando que é possível fazer, que é possível recolher uma experiência. Mas, ou damos origem a um exército revolucionário dos trabalhadores ou a revolução não se faz.

R.V.L. — Ou seja: as Brigadas pensam que a revolução deve ser feita pelos próprios trabalhadores e que os trabalhadores terão necessariamente que empunhar as armas para que ela se faça.

A. — É isso. E desde já consideramos que não basta sequer divulgar os objectivos da nossa acção e dizer e explicar porque fazemos determinadas acções. É necessário levar a cada grupo de trabalhadores, a cada organismo de trabalhadores a experiência da luta armada, a experiência da violência revolucionária. E pensamos também, que o problema da luta armada não é um problema que diga respeito somente aos militantes que fazem a acção armada.

R.V.L. — Isso parece-me muito importante. Nós temos assinalado que não basta aplaudir as acções das Brigadas Revolucionárias, não basta aplaudir as acções efectuadas por militantes revolucionários. É preciso participar na luta. Temos assinalado também que há um perigo: o perigo do sebastianismo e do atentismo. É o que sucederá se as acções provocam entusiasmo, mas as pessoas se limitam a ver e a aplaudir. Qual a vossa opinião a esse respeito?

A. — A nossa opinião é a que transmitimos no comunicado n.º 2. Ou seja: consideramos isso um grave perigo. Um perigo que se pode voltar contra nós próprios.

R.V.L. — E contra a perspectiva da luta armada.

A. — E contra a perspectiva da luta armada, naturalmente. Num país como Portugal, onde a repressão tem sido e continua a ser brutal, e onde não se acreditava que fosse possível esta forma de luta, (e quanto a isto de não acreditar, não era só o simples trabalhador, o simples homem do povo, que não acreditava, havia muitos militantes que se diziam revolucionários, que se diziam a vanguarda, que não acreditavam e consideravam que «o momento era político» — (como se todos os momentos não fossem políticos) — num tal país e numa tal situação, é fácil cultivar «o héroísmo» dos outros e aplaudir os homens que se lançam no caminho da luta armada.

Ora, nós pensamos que há que fazer uma viragem neste domínio. Hoje, não importa tanto o número de acções que se façam; importa a maneira como se fazem e a repercussão que elas vão ter ao nível da consciência dos trabalhadores e da organização dos trabalhadores.

R.V.L. — Problema de que vocês falam no comunicado n.º 2.

A. — Sim. E que nos conduziu à uma coisa que só hoje aparece publicamente: a criação das Brigadas Revolucionárias de Agitação e Propaganda, que são organismos armados (já que num país como o nosso a acção de propaganda deve ser armada, defendida), e que tem como forma específica de actuação a agitação e a propaganda, de acordo com a situação política e com o objectivo de mobilizar os trabalhadores e de os consciencializar em relação a todo o processo político. A necessidade da constituição das Brigadas Revolucionárias de Agitação e Propaganda tornou-se evidente para nós, sobretudo depois de termos constatado uma certa euforia triunfalista, provocada pela acção que realizámos no Barreiro (a destruição de uma bateria de canhões).

R.V.L. — Como é que tu explicas isso, como é que explicas que essa acção tenha tido maior impacto popular do que a destruição da base da NATO, que teve uma larga repercussão internacional, e que foi sem dúvida uma acção muito mais importante?

A. — Eu explico isso por várias razões. Por um lado, porque a base não era uma coisa visível; por outro lado, porque estava situada numa região pouco habitada. Além disso, porque nós não conseguimos fazer uma propaganda suficientemente intensa a explicar essa acção. Finalmente, porque a acção dos canhões foi realizada num centro operário onde há uma grande consciência política e onde era visível que os canhões existiam para atacar os trabalhadores desde 1942.

R.V.L. — Voltemos agora a alguns aspectos que dizem respeito ao funcionamento das Brigadas Revolucionárias. Como é que funciona uma Brigada em relação à acção que vai realizar? Eu penso que há vários tempos: há o da preparação, há o do ataque, há o da defesa.

A. — Tens inteiramente razão. O problema é exactamente esse. Um tipo de organização como esta, está, digamos, permanentemente em acção. O que é que eu quero dizer com isto? Quero dizer que uma acção é feita de muitas acções. Um exemplo concreto Boliqueime. A acção de Boliqueime surge num momento em que nós não temos material explosivo. Mas nós precisamos de continuar a acção. E para continuarmos a acção precisamos de fazer aquela acção. E assim...

R.V.L. — Conquistar os meios para a acção...

A. — Mas mais, sabes. O último comunicado, por exemplo, fala da acção de Boliqueime e diz que esse material foi utilizado na destruição dos camiões. Mas os comunicados não falam de outras acções que, não são visíveis. Sobretudo acções de defesa, da nossa própria defesa. Se falassem, teríamos já um pequeno romance...

R.V.L. — Já que falámos dos comunicados, há uma pergunta que gostaria de te fazer.

O comunicado n.º 1 é assinado pela Brigada n.º 2, o comunicado n.º 2 é assinado pela Brigada n.º 4, mas o comunicado n.º 3 não é assinado por uma brigada seguida de um número, é assinado simplesmente por «Brigadas Revolucionárias». O que é que isto significa?

A. — Olha, em primeiro lugar, não significa, como pode parecer, que nós nessa altura, numerávamos as Brigadas de 2 em 2. Não. Significa outra coisa. Significa que a Brigada n.º 1 já tinha actuado numa dessas acções de que não se pode falar mas sem a qual a Brigada n.º 2 não podia ter actuado. Com a Brigada n.º 3 aconteceu a mesma coisa. Quando a Brigada n.º 4 actuou já havia mais de 4. Entretanto, como já disse, nós não tinhamos um organismo de coordenação. Não tínhamos uma experiência comum suficientemente avançada, para os comunicados poderem ser assinados em nome das Brigadas Revolucionárias. Hoje, a situação é diferente. De acordo com essa situação e por decisão de todos os camaradas, os comunicados passaram a ser assinados simplesmente por «Brigadas Revolucionárias».

R.V.L. — Mas isso não significa que cada Brigada não continue a ter a sua autonomia? À coordenação (parece que já falaste nisso) não destrói a autonomia?

A. — Podemos dizer que, até este momento, se tem dado o contrário. À. autonomia tem-se reforçado. A compartimentação tem-se reforçado. O facto de existir um comité de coordenação não implica um afrouxamento da defesa. Pelo contrário: reforçou-se a defesa perante o inimigo. Compartimentámo-nos mais e responsabilizou-se mais cada Brigada.

OS PROBLEMAS DE DEFESA

R.V.L. — Falaste do problema da defesa perante a repressão. Este é um problema extremamente importante. Alguns consideraram que os militantes («os aventureiros» como eles diziam) empenhados em iniciar uma nova prática em Portugal, estavam condenados a desaparecer. O problema é que ainda não desápareceram. Já passaram dois anos. As Brigadas Revolucionárias constituíram-se, as Brigadas pássaram à acção. Realizaram já um conjunto de acções sem terem tido nenhuma baixa. Isto parece indicar que afinal é possível fazer acções sem desaparecer politicamente. É possível fazer acções e continuar. Talvez isto signifique que novos métodos de defesa foram aplicados. Mas eu gostava que tu nos falasses deste problema, que preocupa muitos militantes: o problema da defesa perante a repressão.

A. — Levantas um problema da mais alta importância. Aqueles que nos chamaram «aventureiros», aqueles que se substituíram ao inimigo para nos chamarem «terroristas» aqueles, camarada, que chegaram à desvergonha de nos terem idenunciado, enganaram-se redondamente. E enganaram-se porque não tiveram em conta a situação objectiva do nosso país. O problema de defesa é um problema político e só político. Ao contrário do que se diz, não é defendendo o quê se conquista que nos podemos defender da repressão. A defesa perante a repressão tem de ser concebida em termos de ataque. Não há defesa possível perante o inimigo da classe que não passe por um ataque permanente. O que é que eu quero dizer com isto? Quero dizer que não podemos viver à custa do que organizámos. Quero dizer que não podemos viver voltados para dentro; só podemos viver voltados para fora, realizando. É como remar contra a maré: não se pode parar, ou se avança ou se recua. Naturalmente que há um mundo de problemas técnicos a resolver e de novos métodos a aplicar. Mas o fundamental é a consideração, a caracterização correcta do inimigo e a linha política que se adopta.

Aventureirismo, para nós, é pensar-se que a partir de estruturas vulneráveis, voltadas para objectivos legalistas, se pode fazer acção armada. É pensar-se que se pode realizar acções armadas tendo uma política eleitoralista e reformista. Há uma contradição entre os objectivos políticos e as formas de luta e se, a partir da realização de acções armadas, não se adaptam a esta nova situação as restantes formas de luta, é evidente que se sofrem as consequências.

R.V.L. — Mas então como é que as Brigadas consideram o problema da luta legal? Pensas, que uma vez iniciada a luta armada, se deve pôr de parte, por razões de defesa, a luta legal?

A. De forma nenhuma, e dizêmo-lo desde o 1.º comunicado. O problema não é esse: O problema é o de colocar a luta legal ao serviço da luta revolucionária, e que não pode desenvolver-se senão baseando-se em estruturas clandestinas. São as formas de luta clandestina que movimentam, que fazem avançar, as outras formas de luta. São elas que permitem aproveitar convenientemente as oportunidades da luta legal. Fazer o contrário disto, isto é, criar estruturas clandestinas para servir uma perspectiva legalista, em vez de fazer com que a luta legal ajude a luta clandestina revolucionária, é misturar tudo e arriscarmo-nos a gravíssimas derrotas.

R.V.L.— É expôr a organização revolucionária às investidas da repressão.

A. — Penso que no ano passado se verificaram factos que ilustram tragicamente o que acabas de dizer. Refiro-me à prisão de dezenas e dezenas de militantes e à emigração forçada de muitos outros.

R.V.L. — Pretendes então dizer, que a utilização de novos métodos impedirá que se registem baixas?

A. — Não. Não pretendo dizer que a aplicação de novos métodos evitará que tenhamos baixas. As baixas são uma consequência, em 1.º lugar, da acção que se realiza. Não pode haver acção sem baixas.

R.V.L. — Mas parece que, até agora, as Brigadas não sofreram baixas.

A. — Não sofreram nenhuma baixa, mas isso não quer dizer que não venham a sofrer. O problema também aí é outro. O trabalho que iniciámos, a perspectiva com que iniciámos a nossa acção, os objectivos que definimos já não são apenas dos militantes que estão organizados nas Brigadas; são hoje de muitos homens que reflectiram, que pensaram. Uns preparam-se para a acção; outros vão começá-la. Podemos, portanto, dizer que o desaparecimento de cada um de nós, o desaparecimento daqueles que iniciaram e que têm estado até hoje neste processo; não implicaria uma ruptura com ele, já não o poria em causa. O processo é irreversível. O processo continua porque está inscrito nos factos e na consciência de milhares de militantes.

A ORGANIZAÇÃO REVOLUCIONÁRIA E A LUTA ARMADA

R.V.L. — Queria levantar, agora, um probléma um tanto diferente: Tu, há pouco disseste que o objectivo das Brigadas Revolucionárias, em relação à perspectiva da luta armada, era o de criar condições, o de abrir o caminho para a formação de um exército revolucionário dos trabalhadores, o qual deverá ser o grande instrumento da revolução, aquele que levará os trabalhadores à tomada do poder. Alguns acusam-nos (digo nós, porque tanto os militantes da Voz da Liberdade como os das Brigadas Revolucionárias estão empeénhados num processo comum) de sermos praticistas, outros de termos iniciado a acção sem termos resolvido o problema do «partido do proletariado». Ou seja: alguns afirmam que o problema central é o da construção ou reconstrução do «Partido do Proletariado» e pretendem que sem resolver esse problema não é possível realizar uma acção révolucionária consequente, não é possível abrir o caminho para a revolução socialista. Mas a verdade parece-me ser outra. A verdade é que já há militantes empenhados neste processo, lutando na prática pela revolução socialista como é o caso dos militantes das Brigadas Revolucionárias, e de outros. Penso que é extremamente importante saber a opinião dos camaradas das Brigadas sobre este problema; o problema do partido do proletariado, o problema da organização política dos trabalhadores.

A. — Em relação a este problema, nós constatámos que não são propriamente os trabalhadores que o levantam. São, em particudar, jovens estudantes ou intelectuais que vieram recentemente à luta política e que se preocupam com o facto de não existir umá organização revolucionária que integre todos os revolucionários. Organização a que eles chamam o Partido do Proletariado. É legítima essa preocupação. Mas, quando analisamos de perto o que se passa, somos obrigados a constatar que o facto de se ter uma preocupação não significa que ela se resolva. E verificamos mesmo que há pessoas, que, por formas diferentes, manifestam essa preocupação. Para alguns isso funciona como um alibi para não fazerem aquilo que o momento e as condições exigem, para não realizarem acção. Dizer que a acção armada impede a construção dessa organização parece-nos absurdo. Seria à mesma coisa que dizer que as greves dos operários e as outras manifestações, políticas ou reivindicativas dos operários impediam essa construção. Ora aqui é que a nossa divergência se manifesta e de uma maneira profunda. Nós consideramos que a organização dos trabalhadores, à organização política dos trabalhadores, a organização da vanguarda dos trabalhadores, só se pode criar no próprio movimento da classe. Ou se está nesse movimento ou não se está. E estar no movimento da classe significa, em 1.º lugar estar no movimento para o puxar para a frente. Aqueles que estão nele para conservar, opõem-se ao movimento, puxam-nos para trás, condenam-se a desaparecer. Este é um aspecto do problema. O outro é que as formas orgânicas não são estáticas. O proletariado cria formas orgânicas de acordo com cada período histórico. Aquilo que é válido hoje (ou que foi válido ontem) não o será amanhã.

Marx deu-nos um exemplo concreto ao propor a liquidação da 1.º Internacional, que ele tinha ajudado a criar, por ela já não corresponder à dimensão e aos objectives do movimento operário dessa altura. O pretender conservar, neste terreno, não serve de facto o movimento da classe — trava o movimento da classe. Existimos porque o acompanhamos e faremos a prova se somos ou não capazes de nos adaptar à sua evolução e ao seu ritmo.

Transformar-se-ão as Brigadas? Se não se transformarem estarão condenadas a desaparecer, porque ou se adaptam àquilo que elas próprias ajudaram a criar ou não terão condições de existência. Pensamos que alguns grupos, sobretudo de jovens intelectuais, que de facto estão fora do movimento da classe não se preocupam sequer em ir ouvir o que os operários têm a dizer sobre o problema da sua própria organização, inventaram a melhor forma de não fazer nada.

R.V.L. — O que é que concretamente queres dizer com isso?

A. — Quero dizer que não se pode afirmar que os trabalhadores não têm organização, e quando os trabalhadores eles próprios, se organizam, inclusivamente para a luta armada, continuar a gritar que não há organização.

No fundo os que procedem assim, arvoram-se em censores daquilo que os outros fazem.

R.V.L. — E consideram a organização como um fim em si mesmo, como um mito. Não como um instrumento de acção e de transformação da realidade, mas como um remédio milagroso.

Não será isso uma manifestação de um outro reformismo?

A. — É, tenha a nome que tiver. Porque o problema de ter uma posição revolucionária, se implica naturalmente a luta ideológica, obriga a uma prática que lhe corresponda.

R.V.L. — Já Marx dizia que a prática é o único critério da verdade.

A. — Fazer só luta ideológica, desligada da prática, não significa nada.

R.V.L. — Temos aqui, por exemplo, um jornal editado cá fora por um grupo de camaradas desligados de uma prática concreta no interior do país. Eles referem-se às Brigadas Revolucionários em termos que considero altamente paternalistas. Não fazem uma apreciação crítica, política da acção desenvolvida pelas Brigadas Revolucionárias. Pretendem dar lições aos militantes das Brigadas Revolucionárias. E pretendem até chamá-los ao que eles consideram o bom caminho, o caminho deles. Ora isto é um exemplo típico daquilo que tu dizes: inventar a maneira de não fazer nada e de pretender administrar política e ideclogicamente aquilo que os outros fazem na prática.

A. — É verdade. Mas penso que depende muito de nós a possibilidade de transformar esses camaradas em miltantes revolucionários. Não no sentido de virem a fazer parte ou não da nossa organização. Não é isso que importa.

R.V.L. — Não é esse o problema. O problema é o de eles se integrarem de facto no processo da luta revolucionária.

A. — Parece-me que o fenómeno grupuscular está neste momento a sofrer uma profunda crise, lá onde apareceu, dentro da Universidade. As últimas lutas dos estudantes, nomeadamente em Coimbra, no Técnico e em Económicas, em Lisboa, envolveram milhares de estudantes. Essas lutas mesmo nas suas formas clandestinas, foram animadas por estudantes que não se reclamam de nenhuma tendência partidarista.

A A.R.A. EM QUESTÃO

R.V.L. — Passemos a outro problema. Um problema que intriga muitos militantes. O problema da A.R.A.

O que pensas das acções da A.R.A. em si mesmas e o que pensas da A.R.A. em relação ao futuro?

A. — É uma pergunta difícil porque podem ser mal interpretadas as minhas palavras, dado que se pretende, e não é esse o nosso desejo, fazer da A.R.A. uma organização concorrente das Brigadas Revolucionárias e das Brigadas Revolucionárias uma organização concorrente da A.R.A.

É ainda uma pergunta difícil porque não sou militante da A.R.A. nem conheço nenhum militante da A.R.A. Portanto o único critério de julgamento que posso tér, e que, aliás, é o único que conta nestas coisas, é aquilo que se baseia naquilo que a A.R.A. fez. Partindo deste critério, quero dizer que considero algumas acções da A.R.A. por exemplo Tancos, como acções extremamente importantes no sentido de terem favorecido a perspectiva da luta armada, isto independentemente de um certo aproveitamento que se quis fazer delas no sentido de manobra política.

Também é verdade, por outro lado, que a A.R.A. não definiu nos seus comunicados, uma política própria com objectivos estratégicos e tácticos precisos.

Aquilo que conhecemos dela é muito mais pelas apreciações que tem feito a Direcção do PCP.

Seja como for, a A.R.A. realizou. E isso é importante quanto a nós.

Quanto ao problema do futuro... eu só posso dizer que o futuro... se verá.

R.V.L. — Tu sabes, que nós fizemos um apelo aos combatentes da A.R.A., isto é, saudando as últimas acções das Brigadas Revolucionárias, nomeadamente a destruição dos 15 camiões Berliet, fizemos, ao mesmo tempo, um apelo aos combatentes da A.R.A. para que continuem a sua acção e para que não se deixem envolver por possíveis manobras políticas daqueles que não estão interessados, nesta fase, na continuação das acções da A.R.A. O que é que pensas a este respeito?

A. — Eu penso que na luta armada como em todas as outras formas de luta revolucionária no nosso país não há monopólio. É necessário dizer que nunca houve monopólios. Parece-me que nos últimos anos e particularmente nos últimos meses, se tornou de facto visível que não há monopólios. Nesta matéria tudo depende da posição que se tem em relação ao futuro. Mas eu considero que é extremamente importante não haver monopólio da luta revolucionária.

Nós devemos declarar que não temos monopólio da luta armada nem da luta revolucionária no nosso país. Não temos nem o queremos ter. Neste sentido consideramos que é importante que a A.R.A., ou os outros organismos, ou outras organizações façam acção armada integrada numa perspectiva revolucionária. Pelo nosso lado, e queremo-lo declarar, fraternalmente, perante todos os trabalhadores e revolucionários portugueses, jamais permitiremos que as nossas acções sirvam para qualquer espécie de manobra política que tente impedir essa perspectiva revolucionária.

LUTA ARMADA E LUTA DE MASSAS

R.V.L. — As Brigadas Revolucionárias, nos seus comunicados, definem-se como organismos de operários que têm como forma especial de luta a acção armada. Temos aqui outro problema que é o dás Brigadas Revolucionárias como organismos com uma forma específica de luta, é o problema da organização política. Ao fim é ao cabo o problema da ligação entre a luta armada e a luta política.

As Brigadas esgotam o procêsso ou são apeénas parte desse processo?

A. — Como tu sabes as Brigadas foram criadas por militantes que já estavam organizados ou começavam a organizar-se. Assim, se é verdade que hoje as Brigadas, ajudam, quanto a nós, os militantes políticos a organizarem-se, também é verdade que elas foram criadas por militantes políticos que se tinham organizado ou se estavam a integrar politicamente.

Portanto, ao nível. da organização, as Brigadas são uma parte e nunca se podem entender como um todo. Quer dizer; nós não temos nenhuma espécie de conceito militarista da acção armada. Temos esta forma específica de luta e, na situação específica do nosso país, ela não esgota de maneira nenhuma todas as potencialidades da luta revolucionária.

R.V.L. — Portanto as Brigadas não são a organização ou toda a organização, nem pretendem substituir a organização política. São constituídas por militantes políticos que se consideram parte integrante da organização política e trabalham pela organização revolucionária dos trabalhadores portugueses. Isto é: não se trata de uma organização política que tenha um braço armado, nem tão pouco dum aparelho militar que tenha um braço político. Trata-se, assim pensamos, da busca de uma nova síntese entre a luta política e a luta armada?

A. — Naturalmente. Busca duma nova síntese entre a luta política e a luta armada, tal como entre a luta legal e a luta clandestina, entre a luta contra a repressão e a luta por aumento de salários ou ainda entre a luta contra a guerra colonial e a luta pela revolução socialista.

As diferentes formas de luta obrigam a estruturas específicas. Mas estas estruturas específicas não dividem a organização: antes pelo contrário, formam-na num todo.

R.V.L. — Isto é; formas de organização especificas adaptadas às diversas formas de luta-e integradas numa mesma organização, numa mesma perspectiva revolucionária global.

A. — É isso. Neste aspecto, pensamos que é preciso levar em conta que existe acção armada. Os militantes revolucionários que se estão a organizar para outras formas de luta política. Se o esquecerem, a repressão acabará por lho lembrar.

R.V.L. — As Brigadas Revolucionárias, no seu comunicado n.º 3, lançam um apelo a todos os militantes revolucionários no sentido que estes façam um esforço para ligar num mesmo objectivo a luta armada e a luta política de massas. Ora, como é que tu consideras que a luta armada e, mais especificamente, a acção das Brigadas Revolucionárias, pode servir o desenvolvimento da luta de massas e como é que tu pensas que, dentro da luta de massas, se deve trabalhar para que a luta de massas se integre na perspectiva revolucionária, que conduza à tomada do poder pelos trabalhadores pela via revolucionária armada?

A. — Tu lembras-te da nossa acção do 1.º de Maio? Apesar de ser uma acção falhada, pode servir de exemplo. Nós pretendíamos através de um golpe de força, dum acto de violência revolucionária, cortar nesse dia a energia eléctrica em parte do centro e em todo o sul do país, o que faria com que milhares e milhares de trabalhadores pudessem comemorar o seu dia, uma vez que as fábricas, com o corte da energia, ficariam paralisadas. Mas não eram as Brigadas que poderiam mobilizá-los no sentido de comemorarem, através da luta, essa jornada; eram os camaradas que estão nas fábricas e nos campos que podiam fazer essa tarefa. Eram eles que poderiam, juntamente com todos os trabalhadores, discutir a maneira de realizar acções do mais variado tipo. Temos aqui, portanto, um exemplo concreto, de como a acção armada não impede, antes pode fomentar a acção de massas. Naturalmente que este tipo de acção não se pode fazer ném se deve fazer sem o coordenar com os militantes revolucionários que estão no movimento de massas.

Pensamos, quanto a isto, que as Brigadas devem continuar a procurar objectivos que sirvam a luta de massas, não só no seu aspecto geral, mas também em relação a objectivos específicos, desde as lutas por aumento de salário até lutas directas contra a guerra colonial ou contra o imperialismo. Independentemente disso, estamos convencidos de que, pelo facto de existirmos e de realizarmos as acções que realizamos, ajudamos o movimento de massas.

Nós podemos constátar que este ano se registou um desenvolvimento na luta de massas, não só no plano político como no plano reivindicativo, de que são exemplo a Juta dos médicos, a luta dos estudantes, numerosas lutas da classe operária e de outras camadas da população portuguesa. Isto é curioso porque, não o posso esquecer, havia aqueles que diziam que com a luta armada não se podia fazer lutas de massas e havia também aqueles que diziam que as massas se intimidariam com o recrudescimento da repressão.

R.V.L. — Afinal verificou-se o contrário.

A. — Verificou-se o contrário...

R.V.L. — Que a luta de massas, se tem desenvolvido e até assumido novas formas após o início das acções armadas.

A. — Tem assumido novas formas e é curioso que o desenvolvimento da luta de massas (porque também ela não esgota o processo) tem permitido que novos quadros apareçam a ligar-se à acção armada. Há uma relação dialéctica entre as várias formas de luta. Pensamos que mesmo acções de tipo cultural, acções legais, podem servir o objectivo revolucionário, desde que não se transformem num fim em si mesmas e não queiram ultrapassar as suas possibilidades e os seus limites.

R.V.L. — Aliás, as Brigadas, no seu comunicado n.º 1, sublinham a necessidade de utilizar e coordenar todas as formas de luta.

A. — Tu lembras isso e eu lembro o apelo que nós fizemos no último comunicado, sobre a destruição dos camiões Berliet. «Caminhar firmemente para ligar num mesmo objectivo a acção armada e a luta de massas, eis a tarefa imperiosa que se põe a todos os. revolucionários».

R.V.L. — Pensas, portanto, que a luta armada e a luta de massas devem estar voltadas para o mesmo objectivo?

A. — Sem dúvida.

R.V.L. — ...a tomada do poder pelos trabalhadores.

A. — Sem dúvida. E se, alguma delas, algum dia prejudicar a outra, isso quer dizer que alguma coisa está mal.

R.V.L. — Portanto, não se trata de militantes da luta armada dirigirem a luta política, nem dos militantes da luta política dirigirem a luta armada; trata-se de assegurar uma coordenação e uma direcção global do processo revolucionário.

A. — Pensamos que isso é um problema que nos diz respeito e que devemos, volto a repetir, continuar a procurar objectivos que ajudem o desenvolvimento da luta de massas; mas pensamos também que compete aos camaradas que dirigem a luta de massas, que procuram fomentar a luta de massas, encontrar as formas correctas de ajudar a luta armada a desenvolver-se. Por outro lado, há um problema que é o de dar às duas direcções da luta um mesmo objectivo, não só táctico mas estratégico. O que é que quero dizer com isto? Quero dizer que nós devemos procurar que a luta armada se desenvolva no sentido de uma perspectiva socialista e devemos procurar que a luta de massas se desenvolva no mesmo sentido.

REFORMA OU REVOLUÇÃO?

R.V.L. — Sim: o problema é que nem toda à gente está de acordo com essa perspectiva, com à perspectiva da revolução socialista. Uns definem a etapa actual da revolução como uma «revolução democrática e nacional»; outros falam de «revolução democrática e popular»; outros ainda dizem que o objectivo fundamental é a conquista da liberdade política e que depois se verá. Ora, nós temos dito aqui várias vezes que o problema fundamental é o de operar uma transferência de classe ao nível do poder; o problema fundamental é o da conquista do poder pelos trabalhadores. É isso que define o conteúdo, a natureza e os objectivos da revolução. Qual é a tua opinião a este respeito?

A. — Eu penso que nas condições actuais do nosso país, em que a revolução burguesa se fez até ao fim; neste país oprimido por uma ditadura fascista, por um poder de estado fascistas; neste país que sofre uma guerra colonial que lhe é imposta pela burguesia e pelo seu imperialismo; neste país que está integrado na Europa (e a Europa não é só o poder dos monopólios, é também a luta dos trabalhadores pela revolução socialista); neste momento da História do nosso país e da História dos trabalhadores europeus e da História dos trabalhadores do Mundo, pretender regenerar o poder da burguesia é absurdo. É tanto mais absurdo quanto se procura que essa seja a tarefa do proletariado.

R.V.L. — Seria como pedir ao proletariado para lutar pela liberdade da burguesia... ou de uma parte da burguesia.

A. — Claro. E falta-me saber se ela está oprimida. O problema hoje, é que, quer se queira quer não, o que está inscrito no nosso país é a perspectiva da revolução socialista.

E nós, sem querermos ser acusados de categóricos dizemos que ou é uma revolução socialista ou não é revolução; quer dizer: a mudança do governo, com um indivíduo mais ou menos liberal...

R.V.L. — Com uma fachada democrática...

A. — Mesmo até com uma fachada democrática, mesmo até com alguns dos que hoje se batem contra éste governo, não por meios revolucionários mas através de formas de pressão, nós pensamos que uma tal mudança não era uma revolução. Era a gerência dos interesses capitalistas feita por indivíduos que se dizem defensores das liberdades.

R.V.L. — Mas liberdades para quem?

A. — Aí é que está. Liberdades para explorar e para continuar a explorar, por esta ou por outra forma, os trabalhadores.

Ora nós não acreditamos numa tal mudança. Não acreditamos, embora não nos seja indiferente a forma que o Estado assume. Quer dizer: nós consideramos que existe uma ditadura fascista. Mas ela existe e, a nosso ver manter-se-á porque a burguesia portuguesa está metida em contradições de que não pode sair, com o problema da guerra colonial e com o problema da sua ligação ao imperialismo. Ela não pode liberalizar e a sua tendência será, a nosso ver, para reforçar as formas fascistas do poder.

Nestas condições nós consideramos que não se pode separar a luta anti-fascista da luta contra o capitalismo, de que o estado fascista é a forma política actual, e que, portanto, a perspectiva é à da revolução socialista.

Há aqueles que insinuam que alguns dos objectivos do programa que propõem para o derrubamento da Ditadura são já objectivos socialistas.

Se o são, não o afirmam... Mas procurando mais a fundo, nós, compreendemos porque é que eles não o dizem, embora consideremos que esses objectivos não são objectivos socialistas.

Eles não o dizem porque isso iria alterar a sua estratégia é a sua táctica e iria sobretudo obrigá-los a definir um novo conceito de unidade. Quer dizer: não se podiam realizar tais objectivos com uma parte da burguesia. E como essas correntes têm um modelo e definem uma estratégia baseada na unidade com uma parte da burguesia, não podem propor objectivos socialistas, porque a burguesia não quer de facto o socialismo.

R.V.L. — Sim. Mas, admitindo que esses objectivos da revolução democrática nacional ou dá revolução democrática popular eram objectivos socialistas — não o são — mas admitindo que o eram, o problema não é esse. O problema é o de saber se o sistema de alianças que preconizam permitiria a realização desses objectivos. Ora, nós pensamos que objectives socialistas só podem ser realizados pelos trabalhadores, que são aqueles que, efectivamente, estão interessados na construção do socialismo.

Como é que se pode dizer que os objectivos de um determinado programa são socialistas, se não se define claramente o conteúdo do futuro poder, se não se diz claramente que a perspectiva é a tomada do poder pelos trabalhadores?

A. — Naturalmente. Objectivos toda a gente os pode proclamar. Mas é como tu dizes: é na resposta ao problema de quem toma o poder, que se define o conteúdo da revolução.

Eu não acredito que, se os trabalhadores tomarem o poder no nosso país, vão gerir os interesses da burguesia...

A GUERRA COLONIAL E A LUTA PELO SOCIALISMO

R.V.L — Ainda outra coisa. Há quem diga que nós, definindo a perspectiva da revolução nos termos em que o fazemos, ou seja a luta pela tomada do poder pelos trabalhadores, a luta pela revolução socialista, estamos a prejudicar a luta contra a Ditadura fascista e até a luta contra a guerra colonial.

Que te parece?

A. — Parece-me que é uma afirmação e que para além de uma afirmação não é mais nada. Os factos provam exactamente o contrário.

Não é por termos uma perspectiva socialista que nós deixamos de lutar contra a guerra colonial e contra a ditadura fascista.

Aqueles que dizem o contrário não são capazes de próvar com factos aquilo que afirmam.

E não nos mostram pelo seu exemplo, mais actividade, mais desenvolvimento, mais capacidade de luta que nós.

É definindo uma perspectiva socialista, que nós somos capazes de encontrar hoje formas correctas de luta contra a ditadura fascista e contra a guerra colonial. É por considerarmos este combate na perspectiva da revolução socialista, que nós somos obrigados a bater-nos hoje com: muito mais força contra o fascismo e contra a guerra colonial.

R.V.L. — O que mostra, aliás, um caso concreto e recente: a destruição dos 15 camiões Berliet em Lisboa. É um acto concreto contra a guerra colonial.

O problema está, portanto, penso eu, em não separar a luta contra a guerra colonial e contra o fascismo da luta pelo socialismo. Penso que se trata de um só e mesmo combate.

A. — Claro, que implica muitos combates parciais. É aqueles que se batem pela revolução socialista não ficam impossibilitados de lutar hoje nesses combates parciais. Pelo contrário: são eles que, se querem pôr de pé e em actos, a perspectiva da revolução socialista, têm que ser os primeiros nestes combates parciais.

R.V.L. — É aqui, penso eu, que se inscreve o problema da 4.º Frente. Fomos nós, aqui aos microfones da Voz da Liberdade, que pela 1.º vez, utilizámos esta expressão: 4.º Frente. Isto é, dissemos que era preciso dar um conteúdo concreto à aliança entre os povos que lutam pela sua libertação nacional e o povo do pais colonialista e que nos encontrávamos em condições históricas únicas para realizar na prática esta aliança. E assinalámos que a via para realizar essa aliança era a da abertura de uma 4.º Frente em Portugal. Ora a 4.º Frente já não é só um projecto, nem tão pouco um «slogan» como alguns pretenderam. Ela começa a existir, e de tal maneira, que o próprio chefe do governo, Marcelo Caetano, se referiu a ela, reconhecendo publicamente a sua existência, no discurso que pronunciou em Setúbal a 18 de Junho. Alguns, no entanto, procuram agora dar à 4.º Frente um conteúdo diferente daquele que nós apontámos e entendemos que ela deve ter. Ou seja: alguns fazem da 4º Frente um simples movimento de apoio à luta dos povos das colónias, um simples movimento anti-colonial. Mais uma vez, do nosso ponto de vista, se põe o problema de ligar a luta anti-colonial à luta pela revolução socialista. Que pensam as Brigadas Revolucionárias?

A. — A nossa posição perante o problema colonial não pode ser nunca uma posição humanitarista. Nós não podemos lutar no nosso país por razões humanitárias em relação aos povos das colónias.

R.V.L. — Isso seria até uma forma de paternalismo.

A. — Claro. E de neo-colonialismo.

Não. É outro o problema. É que a guerra colonial não é só uma guerra contra os povos das colónias, é uma guerra contra o nosso próprio povo.

R.V.L. — Fundamentalmente contra as classes trabalhadoras do nosso país...

A. — E contra os jovens. Essa guerra manifesta-se das mais variadas formas. Pela perda de muitos trabalhadores, de muitos jovens portugueses que nela vão morrer e matar jovens e trabalhadores das colónias; por uma crise económica gravíssima que leva o imperialismo a apoderar-se facilmente das riquezas nacionais; pela emigração de centenas de milhares de trabalhadores, que são obrigados a deixar o país para serem criados dos capitalistas europeus. Portanto, nós têmos motivos nossos, inteiramente nossos, para fazer desta guerra colonialista uma guerra contra os que a fazem. Este é todo o problema.

Não é por acaso que as Brigadas Revolucionárias, no seu comunicado n.º 3, dizem que é preciso transformar esta guerra colonialista numa guerra dos trabalhadores portugueses contra os seus opressores.

R.V.L. — Que é também um combate pela construção do socialismo em Portugal. São inseparáveis, as duas coisas.

A. — É impossível separá-las. E aqueles que as querem separar, é porque no fundo têm pensamentos neo-colonialistas.

A QUESTÃO DO ESTADO E A DITADURA DO PROLETARIADO

R.V.L. — Marcelo Caetano, no mesmo discurso a que já me referi, falou também do problema da ditadura do proletariado. Ele pôs até o dilema claramente, e disse que não valia a pena iludi-lo com malabarismos teóricos. Segundo ele o dilema é: capitalismo ou socialismo.

E, evidentemente, pintou com cores tenebrosas o socialismo. Deformou, nomeadamente, o conceito de ditadura do proletariado. Ora as Brigadas, no seu comunicado n.º 3, falam da ditadura do proletariado. Dizem que a perspectiva é a tomada do poder pelos trabalhadores; o triunfo da ditadura do proletariado. Mas que poder dos trabalhadores? Que ditadura do proletariado? É importante que tu como militante das Brigadas Revolucionárias, digas o que pensas a este respeito aos ouvintes da Voz da Liberdade, dado que se trata de um problema em discussão.

A. — O Marcelo Caetano fala nisso no sentido de dizer que a ditadura do proletariado é uma ditadura sanguinária.

R.V.L. — ...que oprime os trabalhadores.

A. — E que oprime os trabalhadores. Entretanto, o que é que a gente vê? O que é que a gente vê em todos os países capitalistas e no nosso país é que a ditadura da burguesia é que é sanguinária, é que oprime, é que mata, é que faz guerras.

Como é que este problema se coloca em termos, digamos, científicos?

Nós consideramos que o Estado é sempre uma forma de poder de uma classe sobre a outra. E é sempre uma ditadura. É a ditadura de uma classe através do seu aparelho de Estado, sobre outra classe ou sobre outras classes.

A ditadura do proletariado é também um Estado, o Estado dos proletários, que dita a sua lei àqueles que hoje possuem os bens, aos exploradores e que os impede de continuarem a explorar.

Em regime burguês há liberdade. Há liberdade para os burgueses. Liberdade para explorarem os trabalhadores. Como é que se pode admitir que a ditadura do proletariado não seja o reino da liberdade para os proletários?

R.V.L. — A menos que haja deformações. Mas isso como temos dito até aqui, na Voz da Liberdade, não tem nada que ver com o conceito de ditadura do proletariado.

A. — Se há deformações, compete aos trabalhadores, pela luta revolucionária, assumir o poder é assegurár o seu exercício e contrôle.

Aliás, pensamos, que nos tempos de hoje, o desenvolvimento da técnica e da ciência, assim como o desenvolvimento dos meios de comunicação, permitem que a ditadura do proletariado revista formas que até hoje não pôde ter, (ou que alguns não querem que tenha). Pensamos, por exemplo, que a televisão pode ser um meio espantoso para o governo dos trabalhadores se reunir perante os trabalhadores e discutir perante eles os problemas que lhes dizem respeito.

Se nos dizem, portanto, que a ditadura do proletariado é «sanguinária» nós dizemos que não; nem mesmo para os burgueses desapossados necessita de o ser. A acção política de milhões de homens não precisa de utilizar a violência que hoje, uma minoria, de grandes proprietários, é obrigada a uti- lizar. contra milhões de homens explorados.

R.V.L. — No tal regime, como diz Marcelo Caetano, a propriedade garante a liberdade. A liberdade de explorar, a liberdade de oprimir. Mas este -aspecto é importante e é importante que fique claro. Tu pensas, portanto, que a ditadura do proletariado, que é, como dizia Lénine, «uma violação da democracia para os exploradores», é a mais ampla forma de democracia para os trabalhadores, para os proletários.

A. — É exactamente por isso que Lénine, por oposição à ditadura da burguesia, chamava também à ditadura do proletariado, democracia proletária. O que é que ele quis dizer com isto? Em nosso entender quis dizer que a democracia proletária é a mais ampla forma de liberdade com um conteúdo real, que milhões de homens podem viver todos os dias. Ao passo que a mais livre das democracias burguesas é sempre uma democracia formal. À única liberdade real que nela existe é a liberdade de explorar os trabalhadores.

A LUTA ARMADA E O ELEITORALISMO

R.V.L. — Como sabes, em 1973, deverão realizar-se novamente eleições, isto é, deverá realizar-se uma nova fantochada eleitoral, organizada e controlada pelos fascistas.

Mais uma vez, nós vemos que certas correntes da oposição, aquelas que têm como vocação aparecêr de 4 em 4 anos na vida política e reivindicar a sua existência legal, consideram que as próximas eleições legislativas são uma importante batalha política. Alguns dizem mesmo que a tarefa fundamental do movimento democrático é preparar a próxima campanha eleitoral.

E dizem-no no momento em que existe já no nosso país uma situação nova, reconhecida pelo próprio inimigo. Dizem-nos apesar de se ter iniciado em Portugal um processo que nós consideramos irreversível: o processo da luta armada. Este é um aspecto muito concreto que o reformismo assume no nosso país: o eleitoralismo.

A ilusão dé que é possível impor um movimento legal durante a campanha eleitoral e continuá-lo para além das eleições.

E há, como tu sabes, manobras, conversações, negociações de bastidores, nas costas dos trabalhadores, nas costas do povo.

Ora o que é que as Brigadas Revolucionárias pensam a respeito de uma eventual participação na próxima campanha eleitoral?

A. — É evidente que não vamos participar, legalmente, na campanha eleitoral. Mas também não é essa a tua pergunta.

Nós pensamos que, nos dois anos, houve uma inversão no terreno de luta. Quer dizer: a luta deixou de se processar no terreno consentido pelo inimigo, para passar a um terreno clandestino, ilegal, não só através da acção armada como outras formas de luta: greves, manifestações, etc.

Parece-nos, portanto, que em 1.º lugar, é necessário levar em consideração esta situação para saber se é possível ou não aproveitar o período eleitoral, como uma oportunidade de travar um combate, no terreno legal, contra o regime. Nós dissemos e continuaremos a dizer, que não é através da luta eleitoral que se resolverão os problemas do povo português, dos trabalhadores portugueses. Ainda agora o dissemos de uma maneira bem evidente, com «a acção dos porcos» no dia da eleição do Tomaz.

É, pois, necessário que cada organização política defina aquilo que pretende com as eleições. Se nos dizem que pretendem resolver os problemas do povo através de eleições, nós dizemos que não acreditamos e batemo-nos contra a mistificação do povo numa tal perspectiva. Se nos dizem que se pode aproveitar esse período, como qualquer outro período, para fazer agitação, para levantar os problemas populares, para levantar os problemas com que se debatem os trabalhadores, evidentemente que estamos de acórdo. Mas, o que quer dizer então, a participação numa campanha eleitoral? Quer dizer que desde a 1.º hora devemos declarar que não entramos no jogo em que o governo nos quer meter. Quer dizer que não participamos, seja em que condição for, no voto e que a nossa posição, desde a 1.º hora, embora admitindo o aproveitamento desse período, é de abstenção.

R.V.L. — Agora, para acabar, só mais uma coisa. Qual a atitude das Brigadas Revolucionárias? Vão parar a acção por causa do período eleitoral?

A. — Eu penso que as Brigadas Revolucionárias não podem ser condicionadas pela luta legal. As Brigadas Revolucionárias levarão em conta a situação e procurarão, através da sua forma de actuação específica, contribuir para que o movimento se clarifique e se desenvolva.


Inclusão 17/06/2019