Introdução à Economia Política
Primeira Parte - Considerações Preliminares

J. Harari


Capítulo III - A Escola Marxista


O método
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Método é um conjunto de regras, que nos permitem chegar à compreensão exata da realidade em seu movimento, expressa por meio do que chamamos de verdade científica.

As verdades não são elementos extramateriais; são realidades expressas por meio do pensamento.

Em primeiro lugar: Existe uma realidade material exterior (a natureza) e anterior à nossa consciência?

Marx responde afirmativamente a esta primeira questão. Por isso, ele é um filósofo materialista. É necessário esclarecer que algumas pessoas, que ignoram os problemas filosóficos, creditam que o materialismo é utilitarismo, que despreza o "espiritual", etc. E essa ignorância é utilizada por certos individuos para confundir o povo. A verdade é que os materialistas (comunistas) são os mais extraordinários idealistas (no sentido comum) do mundo.

Em segundo lugar: Essa realidade é cognoscível?

Marx responde numa de suas Teses sobre Feuerbach:

"A gestão de se saber se o pensamento pode conduzir a uma verdade objetiva não é uma questão teórica, mas, sim, uma gestão prática. É na prática que se faz necessário provar a verdade, isto é, a realidade e a força, que se encontram fora do pensamento. A discussão sobre a realidade ou a irrealidade do pensamento, isolada da prática, é simplesmente escolástica",

Pois bem, essa realidade é constituída de matéria em movimento, em transformação. Compõe-se de processos.

Qual é a forma desse movimento?

Quando falamos da evolução dos regimes econômicos, vimos como cada regime, em seu próprio desenvolvimento, vai criando um regime antagônico que se choca com o anterior, resultando dessa luta, entrechoque, a superação de ambos. E esse regime superior cria, em seu movimento evolutivo posterior, outro regime antitético, voltando a reproduzir-se o processo: tese, donde surge a antítese, produzindo-se desse conflito a síntese. Tudo isso se forma num processo ininterrupto do movimento real. Na História, cada regime econômico dá origem aos agrupamentos humanos, os quais, nas suas lutas, fazem a História, mas condicionados sempre às circunstâncias objetivas.

O processo dialético verifica-se em toda a natureza: até as células são um produto de um processo dialético da natureza, e por isso se reproduzem pelo desenvolvimento dentro de seu núcleo bipartido de dois polos antitéticos que, depois da síntese, fusão dos dois polos, bipartem-se outra vez e passam a presidir a evolução das novas células formadas.

A dialética tem sido muito mal interpretada. Não exprime uma simples oposição de dois fenômenos contrários, para se "sintetizar" um outro fenômeno que não é nem um nem outro, mas sim um processo real que parte de uma unidade, dentro da qual se desenvolvem os contrários.

Compreendendo, pois, que para a investigação dar resultados deve ser baseada num método que siga o movimento real da matéria, devemos afastar toda a pretensão de acomodar os fatos dentro de regras apriorísticas. No exterior há uma tal quantidade de fatos, que, unindo-os segundo a nossa imaginação, poderemos "demonstrar" qualquer coisa.

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Marx afirmava:

"É certo que se deverá distinguir formalmente a arte da exposição do modo de investigação. A investigação deverá examinar a matéria em seu detalhe, analisar as diferentes formas de seu desenvolvimento e descobrir o seu enlace íntimo. Uma vez realizado este trabalho, poderá ser exposto o correspondente processo real.

Depois de se conseguir isso, ao apresentar a vida da matéria refletida na nossa consciência, acreditar-se-ia ter em nossa frente uma construção apriorística".

Expliquemos esse trecho: Uma vez descoberto o processo dialético na natureza real do movimento material, expressamos a lei desse processo e dizemos: Tese—Antitese—Síntese, que não são categorias mentais das quais depende a realidade ou categorias que acomodamos à realidade aprioristicamente, mas, pelo contrário, realidade à qual devemos acomodar o nosso pensamento.

O método dialético supera o método dedutivo "puro", que se contradiz quando parte de uma verdade induzida ou quando deriva em parte de uma concepção pretensamente não-induzida.

Supera também o método indutivo "puro", pois este é limitado e exclusivamente empírico, pois não chega às leis científicas que, por sua vez, por dedução, nos guiariam nas investigações.

Além disso, supera o método dialético, o ecletismo indutivo-dedutivo da ciência atual, pois este escamoteia a relatividade de ambos os conceitos. Isto se deve a que supõem existir um abismo entre o particular e o geral, entre causa e efeito.

Quando eu digo: "Preciso de uma secretária" estou dizendo que necessito de uma secretária, de modo geral, isto é, de um móvel do qual existem muitos tipos diferentes., mas que tem um conjunto de qualidades comuns que nos permite a generalização; ao mesmo tempo estou afirmando que preciso de uma coisa concreta e não abstrata como o conceito "secretária"; concreta como o é uma determinada secretária. Além disso, todo o fato é, ao mesmo tempo, causa e efeito, pela interdependência que une um a outro, no desenvolvimento.

Como investigava Marx: Observava a realidade. Conhecendo o movimento dialético da natureza, procurava na aparente unidade das coisas a contradição dialética no seu seio que produz o seu movimento.

Estudando essa antítese, investiga para que síntese conduz esse processo.

Partiu, particularmente, da análise da mercadoria. E nela descobriu a lei econômica e histórica da existência de duas classes antagônicas e fundamentais (não únicas, como às vezes se afirma): o capitalismo e o proletariado. Seus interesses irreconciliáveis produzem a luta de classes que, segundo Marx e os fatos já comprovaram, leva à ditadura do proletariado, como uma parte do processo que conduz à síntese, a sociedade sem classes, na qual desaparecem os dois termos: tese e antítese, porque síntese.

Isto foi explicado por Marx há cerca de 70 anos. Já dissemos que Marx e o marxismo pretendem ter como principal argumento a seu favor a realidade histórica. Existe nalgum país a ditadura do proletariado? Evidentemente que sim.

Para não estender este trabalho não analisaremos sob o ponto de vista marxista cada um dos métodos empregados na Economia Política. Entretanto, com o que já dissemos, pode-se deduzir a posição marxista frente a cada um destes, "dedutivos" , "indutivos" ou "ecléticos".

Recapitulação do Capítulo Anterior
I

Em Economia Política o método é muito importante, até ao ponto em que as escolas se dividem de acordo com os método que cada uma sustenta.

O método empregado por Karl Marx é o dialético materialista. É materialista porque considera que existe uma realidade material exterior à nossa consciência e anterior a ela; essa realidade é praticamente cognoscível e a unidade do mundo reside na sua materialidade. É dialético porque considera essa realidade em seu movimento como um conjunto de processos.

Temos exemplo do método dialético na análise econômica, na teoria do valor de Marx, quando este analisa a mercadoria, conforme veremos no próximo capítulo.

Um exemplo da dialética aplicada à História é apresentado pela luta entre a burguesia e o proletariado.

Estas duas classes são dois poios de uma unidade, a sociedade capitalista atual.

Perguntas de Controle
  1. Que é o método?
  2. Que foi que apareceu primeiro: a matéria ou a consciência?
  3. A natureza é cognoscível?
  4. Que é tese? Que é antítese? Que é síntese?
  5. Como se desenvolve o processo dialético?
  6. Como investigava Marx?
  7. Analisando a mercadoria, que descobriu Marx?
  8. A sociedade capitalista é uma unidade? Em seu seio existem contradições?

Inclusão 21/07/2016