O Futuro Era Agora
O movimento popular do 25 de Abril
Os 580 dias - Depoimentos orais e citações

Edições Dinossauro


Revistar os carros da polícia
Luís Chambel, jornalista, 40 anos


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Há vinte anos, eu era, quanto muito, um aprendiz de militante. Antes do 25 de Abril, tinha participado numa greve na Faculdade de Economia, vendia o Comércio do Funchal, andava num círculo de teatro onde se discutiam textos políticos. Era ainda um pré-militante, que não teve tempo de chegar bem lá.

Depois do 25 de Abril, participei num grupo de vigilância antifascista de Ermesinde. Fizemos umas vigilâncias, tirámos uns comunicados, borrámos as paredes... Também estive em algumas das acções mais marcantes deste período, mas com um papel muito pouco protagonista. Estive no boicote ao congresso do CDS, a 25 de Janeiro, no assalto à sede do CDS, no Partido do Progresso, no assalto à embaixada de Espanha, etc. mas sempre com muito pouca informação. Havia malta que me dizia que vai haver isto, aparece, e eu lá ia, mas muitas vezes cheio de medo. No 28 de Setembro, estive numa barricada, na Areosa. Lembro-me que a certa altura passa um carro um pouco diferente — um carro da PSP. A malta decide mandar parar. Eles param, são revistados e seguem depois sem protestar.

Entretanto, eu começo a fazer umas coisas para a UCML mas, à medida que me empenho mais e mais na vida militante, noto que me vou afastando do movimento popular. As organizações em que militei, a UCML e, depois, a UCRP (m-l) defendiam posições baseadas na teoria dos três mundos. Com medo do contágio do PC, afastaram-se do movimento popular e meteram-se num beco sem saída. Eu estava de acordo com esta posição anti-soviética, que não julgava suficientemente vincada em organizações como a OCMLP ou a UDP, mas lastimava o isolamento a que ela conduzia. Lembro-me de que a posição tomada no 25 de Novembro foi de apoio ao golpe, por se considerar que ele barrava definitivamente o caminho ao social-fascismo. Por causa desta orientação, não chego a ir ao RASP nem ao CICAP. Só muito mais tarde, já eu trabalhava na fábrica — a Sepsa — e participava aí no movimento operário, é que fui militante a sério. Redigi então um documento que deu azo a uma grande discussão interna e até foi um bom contributo para rebentar com aquela tendência.

★★★

Os milhares de antifascistas reunidos hoje na cidade do Porto na manifestação promovida pelos GAAFs vêm exigir a rápida satisfação das seguintes reivindicações:

  1. Dissolução imediata dos partidos fascistas PDC e CDS.
  2. Prisão imediata dos membros dos bandos fascistas armados do CDS.
  3. Publicação imediata das provas que comprometem inapelavelmente numerosos membros activos do CDS em acções terroristas.
  4. Cessação imediata das prisões e outras formas de repressão que se têm abatido sobre trabalhadores”.

(Comunicado das GAAFs do Porto, 22/4/75)

continua>>>


Inclusão 23/11/2018