O Futuro Era Agora
O movimento popular do 25 de Abril
Os 580 dias - Depoimentos orais e citações

Edições Dinossauro


Recordando o soldado Luís
Valdemar Abreu, operário, 60 anos


capa

Do tempo da resistência à PIDE, relembro a saudação-contacto de olhar ao de leve entre camaradas e a confraternização que havia, não nas casas de ninguém mas em subterrâneos que hoje têm a sua história. Por isso estivemos na barricada no contragolpe do 28 de Setembro, na serra do Marão-Aboboreira, e no contragolpe do 11 de Março, expressando a nossa dor e rancor quando o soldado Luís descia ao túmulo, ele que tinha sido um operário explorado nas indústrias Tabopan, aqui em Amarante.

Estas passagens da nossa luta são inesquecíveis e as gerações vindoiras, para fazerem a sua história de libertação, hão-de conhecer a nossa que não está libertada e tem no poder actual uma camarilha hipócrita de bandidos sem alma nem coração. Por isso prevejo para o nosso futuro próximo mais miséria, mais desertificação, mas também uma mata bravia de nova gente revolucionária. Deixo-vos este poema, dedicado ao soldado Luís:

Nessa campa
ficou teu corpo morto

por mãos fascistas, assassinas.
Se revejo o trajecto
da tua despedida
não vejo
a traça
do teu corpo,
só vejo
o trajecto
da tua vida
de operário,
de soldado,
de explorado.

Se me dizes
que é
a luta de classes,
luta entre
a barriga cheia
e barriga vazia,
a paz e a guerra,
entre explorados
e exploradores,
então juro-te,
daqui

da minha casa,
como se fosse
a teus pés
que cada vez
fico mais duro,
mais de ferro
e que na tua
sepultura
não jaz
o teu corpo
mas a candura,
a chama
de uma nova aurora,
de uma
nova vida
que há-de vir
para a nossa
Pátria.

continua>>>


Inclusão 23/11/2018