A Cognoscibilidade do Mundo e de Suas Leis

I. G. Gaidukov


Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1955. págs: 337-390. A presente edição foi traduzida do original russo "Materialismo Dialético", Moscou, edição da Academia de Ciências da URSS, Instituto de Filosofia, 1954.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
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O Materialismo Filosófico Marxista e a Cognoscibilidade do Mundo

Como já vimos, o problema da relação entre o pensamento e o ser, que é o problema fundamental da filosofia, pode ser resolvido de maneira materialista ou idealista, conforme se tome como primário, determinante, a matéria ou o espírito. Engels escreve:

"Mas o problema da relação entre o pensamento e o ser tem ainda um outro aspecto: que relação existe entre nossas ideias a respeito do mundo que nos cerca e esse próprio mundo? Nosso pensamento está em condições de conhecer o mundo real? Podemos nós, em nossas ideias e conceitos sobre o mundo real, reproduzir uma imagem exata da realidade?''(1)

O problema da cognoscibilidade, pelo homem, do mundo material que o cerca foi e continua a ser objeto de luta entre o materialismo e o idealismo. Se os representantes do materialismo partem do reconhecimento da cognoscibilidade do mundo material pelo homem, já os representantes do idealismo negam a possibilidade desse conhecimento: declaram que o mundo que nos cerca é misterioso e inacessível ao conhecimento humano, à ciência. A negação idealista da cognoscibilidade do mundo pelo homem é amplamente difundida na filosofia burguesa sob as formas de agnosticismo e de ceticismo. A tendência agnóstica na história da filosofia foi desenvolvida, da maneira mais completa e franca, pelo filósofo alemão E. Kant.

Depois de admitir a existência do mundo material como "coisa em si”, Kant declarou que ela pertence ao outro mundo e é inacessível ao conhecimento humano, à ciência. Considerava que o conhecimento humano se limita ao mundo dos fenômenos e que é incapaz de penetrar no mundo das "coisas em si”. Lênin escreve:

"Kant, em compensação, admite a existência da 'coisa em si', mas a declara ‘incognoscível', diferente em principio do fenômeno, pertencente a um domínio completamente diferente, ao domínio do ‘outro mundo' (Jenseits), inacessível ao saber, mas revelado pela fé."(2)

Afirmando a incognoscibilidade do mundo das "coisas em si”, Kant perfilhou a teoria subjetiva e idealista do conhecimento. Demonstrou que o sujeito, por meio de formas e categorias apriorísticas (independentes da experiência), que lhe são inerentes, ordena o caótico mundo dos fenômenos, empresta-lhe "harmonia”, "unidade interna", "necessidade” e "regularidade'. O agnóstico e cético inglês Hume não só negava a possibilidade do conhecimento do mundo pelo homem, mas também duvidava da própria existência do mundo, considerando absurda e anticientífica a simples ideia de que o mundo objetivo existe independente do homem. Lênin escreve:

"Hume, ademais, nada quer saber da ‘coisa em si’, e a própria ideia da 'coisa em si' parece-lhe inadmissível em filosofia, não passa a seus olhos de 'metafísica' (...)”.(3)

O agnosticismo de Kant e de Hume foi uma tentativa de conciliação do conhecimento com a fé, a ciência e a religião, por meio da limitação das "pretensões” da ciência e da ampliação dos direitos da religião.

O agnosticismo de Kant e de Hume foi posteriormente ressuscitado pela filosofia burguesa reacionária e no último terço do século XIX e começo do século XX teve ampla divulgação, principalmente sob a forma de neokantismo e posteriormente de machismo. Após haverem ressuscitado o agnosticismo de Kant e o idealismo subjetivo, os representantes do neokantismo e do machismo foram ainda mais longe no caminho do subjetivismo: submeteram o kantismo a uma crítica de direita e eliminaram de sua filosofia a "coisa em si" de Kant.

Os clássicos do marxismo-leninismo refutaram completamente o agnosticismo, demonstrando sob todos os aspectos sua absoluta inconsistência científica. Criticando o agnosticismo, Engels afirma que muitos dos argumentos teóricos contra o agnosticismo já haviam sido formulados pela filosofia anterior a Marx. Engels ressalta, porém, que a refutação mais decisiva dessa extravagância filosófica, assim como de quaisquer outras, não se deve à teoria, mas à prática, notadamente a experiência e a indústria.

"Se, todavia, os neokantistas procuram ressuscitar na Alemanha as ideias de Kant, e os agnósticos, na Inglaterra, as ideias de Hume (que ali nunca foram esquecidas), isso constitui, do ponto de vista científico, uma regressão em face da refutação teórica e prática que já sofreram há muito tempo (...)”.(4)

O absurdo idealista do agnosticismo de Kant e de Hume já foi severamente criticado não só pelos fundadores do marxismo-leninismo, mas também pelos representantes de vanguarda da filosofia materialista russa do século XIX: Hertzen, Bielinski, Tchernitchévski, Dobrolíubov, etc. Em complemento especial ao trabalho Materialismo e Empirocriticismo, Lênin observa que o eminente pensador russo N. G. Tchernitchévski elevou-se à altura de Engels na crítica ao agnosticismo.(5)

As concepções de Kant, dos neokantistas e dos machistas foram herdadas pelos modernos sistemas filosóficos idealistas, ainda mais místicos e reacionários do que o neokantismo — o pragmatismo, o neorrealismo, o personalismo, o positivismo lógico, o existencialismo, o semanticismo, etc. Todos esses sistemas filosóficos em moda, refletindo a putrefação e a decadência da filosofia burguesa no período da crise geral do capitalismo, dirigem seu ataque contra a ciência e a razão humana, contra tudo o que é avançado e progressista, e em primeiro lugar contra o marxismo. Os criadores desses sistemas proclamam a incognoscibilidade do mundo, a impossibilidade do conhecimento científico, deturpam as conquistas da ciência moderna, tentando demonstrar que ela confirma a conclusão de Kant a respeito dos limites do conhecimento humano, que só poderiam ser ultrapassados pela fé.

O ideólogo do imperialismo americano-inglês, B. Russel, por exemplo, propõe que se abandone a pesquisa científica, baseada na observação e na experiência, e que se recorra à análise lógica "pura”. Russel nega a cognoscibilidade do mundo, a verdade objetiva na ciência; considera a ciência apenas como um "sistema de proposições” sem nenhuma relação com a prática e com o mundo objetivo.

Outro obscurantista, o filósofo americano Santayana, afirma que só pode ser autêntica a ciência que baseie suas conclusões na fé. Os representantes da filosofia semanticista (Karnap, Chase, Morris, Neurat e outros) declaram que a realidade é misteriosa e incognoscível, afirmando que não pode ser explicada, expressa em palavras e refletida pela ciência, porque esta é apenas um sistema de sinais convencionais, privado de qualquer conteúdo objetivo.

Interpretando o processo de conhecimento de modo subjetivo e idealista, como processo de criação do mundo pelo sujeito, os pragmatistas americanos (J. Dewey e outros) também privam o conhecimento humano, a ciência, de qualquer conteúdo objetivo e declaram que a ciência é uma "arte prática”. Alegam que a ciência não deve sair dos limites da "utilidade”, do êxito prático, porque sua tarefa não é refletir o mundo objetivo, mas somente servir aos interesses do sujeito. Acompanhando seus colegas americanos, o existencialista francês Sartre coloca como seu objetivo a fundamentação da impossibilidade do conhecimento, tanto do mundo exterior, como do próprio homem.

O agnosticismo da filosofia burguesa moderna exerce nefasta influência sobre o desenvolvimento da atual ciência burguesa, intensificando e aprofundando sua situação de crise. Os sábios burgueses tentam valer-se dos dados da ciência moderna para fundamentar o princípio da incognoscibilidade do mundo e para introduzir o obscurantismo clerical nas ciências naturais. Os representantes do moderno idealismo "físico” (Bohr, Dirak, Schredinguer, Heisenberg, Einstein e outros) afirmam que quanto mais se aperfeiçoam os meios técnicos para as pesquisas físicas, tanto mais misterioso e incognoscível para nós se torna o mundo real, e que em geral "não se pode penetrar” nos segredos da natureza. O físico inglês Dirak afirma que é impossível "criar um quadro intelectual” dos processos físicos objetivos e que a física é impotente para explicá-los.

Os filósofos idealistas reacionários da burguesia são acompanhados pelos modernos socialistas de direita — Attlee, Morrison, Moch, Sherf, Spaak, Saragat e outros — que tentam difundir as corrompidas ideias da decadente filosofia burguesa entre as massas populares. A propagação da reacionária filosofia burguesa entre o povo é necessária a esses vis traidores como meio de envolver as massas trabalhadoras numa rede de mentiras, de impedir a divulgação da concepção do mundo científica do proletariado, o marxismo, que, vencendo todos os obstáculos, alcança os cérebros e corações de milhões de trabalhadores dos países capitalistas.

Rejeitando o absurdo idealista de que o mundo é incognoscível, o materialismo filosófico marxista insiste sobre a possibilidade de o homem conhecer o mundo material que o cerca e suas leis. O camarada Stálin escreve:

"Em oposição ao idealismo, que discute a possibilidade de conhecer o mundo e as leis por que se rege, que não acredita na veracidade de nossos conhecimentos, que não reconhece a verdade objetiva e considera que o mundo está cheio de ‘coisas em si', que jamais poderão ser conhecidas pela ciência, o materialismo filosófico marxista parte do principio de que o mundo e as leis por que se rege são perfeitamente cognoscíveis, de que nossos conhecimentos sobre as leis da natureza, comprovados pela experiência, pela prática, são conhecimentos verazes, que têm o valor de verdade objetiva, de que no mundo não há coisas incognoscíveis, mas simplesmente ainda não conhecidas, mas que serão descobertas e conhecidas pela ciência e pela prática."(6)

Toda a história da ciência e da atividade prática do homem confirma a justeza da doutrina marxista-leninista sobre a cognoscibilidade do mundo e de suas leis. A teoria do conhecimento marxista-leninista considera o conhecimento como reflexo, na consciência do homem, da realidade material que o cerca. Ao contrário dos representantes do materialismo metafísico, que interpretavam o processo do conhecimento humano como um ato espontâneo e simples que refletisse diretamente os objetos, como num espelho, não compreendendo o caráter histórico, complexo e contraditório do processo de conhecimento, o materialismo filosófico marxista considera o conhecimento humano como um processo complexo, contraditório e que se desenvolve historicamente, que procede da ignorância para o conhecimento, do conhecimento incompleto ao conhecimento mais completo, do conhecimento dos fenômenos do mundo objetivo ao conhecimento de sua essência, ao conhecimento das conexões internas e das conexões regulares entre os objetos e fenômenos.

A teoria do conhecimento materialista dialética, criada no século XIX por Marx e Engels, foi concretizada e desenvolvida nos trabalhos de Lênin e Stálin, na base da generalização criadora dos novos dados apresentados pelo desenvolvimento da ciência, na base da nova experiência da luta revolucionária do proletariado pela transformação da sociedade capitalista em socialista. A elaboração da teoria marxista do conhecimento por Lênin e Stálin foi condicionada não só pela necessidade de desmascarar definitivamente os neokantistas, os machistas e outros idealistas reacionários que concentravam, no domínio da gnosiologia, sua luta contra o marxismo, mas também pelas necessidades históricas da nova época e pelas tarefas relacionadas com a atividade prática revolucionária do proletariado e de seu Partido. Na época de renovação prática do mundo por via revolucionária, de colapso do velho mundo capitalista e da instauração do novo mundo — o comunista — de grandiosos êxitos da ciência no conhecimento dos mau profundos segredos da natureza, a teoria do conhecimento adquiriu importância ainda maior porque "a filosofia burguêsa se especializara particularmente na gnosiologia (...) (Lênin).

A tarefa de desmascarar a gnosiologia subjetiva e idealista dos filósofos burgueses, seus novos artifícios na luta contra o materialismo filosófico marxista, exigia a elaboração mais acabada da teoria marxista do conhecimento, a única científica. A elaboração da teoria do conhecimento materialista dialética era historicamente necessária não só para desmascarar os machistas e outros pregadores da filosofia reacionária da burguesia, mas também para que se generalizassem teoricamente os novos dados revelados pela ciência e pela atividade prática revolucionária do proletariado, do Partido bolchevique, e para que se conhecessem cientificamente as leis do desenvolvimento social e se formulassem a estratégia e a tática bolcheviques. Desenvolvida por Lênin e Stálin, a teoria marxista do conhecimento armou os quadros do Partido bolchevique e os cientistas soviéticos com uma poderosa arma teórica para o conhecimento científico das leis da natureza e da sociedade, para sua transformação com vistas a um objetivo determinado t de acordo com os interesses e tarefas históricas da construção do comunismo.

O Conhecimento Sensível (Sensação, Percepção, Representação)

A contemplação direta e viva da realidade ambiente, o conhecimento sensível, que inclui as sensações, as percepções e as representações é o grau inicial do conhecimento humano, que é complexo e se desenvolve historicamente. Como forma do reflexo direto dos objetos e fenômenos concretos do mundo material, o conhecimento sensível serve de fonte direta ou indireta de todos -os nossos conhecimentos. Lênin escreve:

"A não ser através da sensação nada poderemos saber de nenhuma forma da matéria e de nenhuma forma do movimento (...)“.(7)

Todo conhecimento começa com as sensações, as percepções, a observação, a comparação, a diferenciação, o confronto e elaboração do material percebido pelos sentidos. Todo o processo subsequente do conhecimento humano é baseado, em última instância, no conhecimento sensível. O conhecimento sensível, histórica e logicamente, constitui o grau inicial do processo de conhecimento. Isso é verdade tanto em relação ao reflexo do mundo material na consciência do homem, como em relação ao desenvolvimento histórico do conhecimento humano.

O conhecimento sensível da realidade material pelo homem verifica-se no processo de sua atividade prática, no processo da produção. Os clássicos do marxismo-leninismo observam que os homens não começam pela teoria, mas pela atividade prática, pela produção dos meios de existência. No processo de trabalho, de atividade prática, na produção, os homens exercem influência sobre os objetos e fenômenos do mundo material que os cerca e recebem determinadas sensações e percepções.

Em sua imortal obra Materialismo e Empirocriticismo, Lênin elabora minuciosamente a doutrina materialista da sensação. Lênin escreve:

”A sensação é o resultado da ação exercida sobre nossos órgãos dos sentidos pelas coisas que existem objetivamente fora de nós (...)(8)

Através da sensação, os homens obtêm certos conhecimentos sobre as propriedades e qualidades de determinados objetos e fenômenos. Assim, qualquer perturbação na atividade dos órgãos dos sentidos perturba inevitavelmente a conexão da consciência com o mundo exterior. V. I. Lênin afirma que

"a sensação é de fato o vínculo entre a consciência e o mundo exterior, é a transformação da energia da excitação exterior em fato de consciência."(9);

O mecanismo de transformação da excitação física no correspondente processo fisiológico e posteriormente em processo psíquico foi em grande parte descoberto pelos diferentes ramos da ciência soviética — física, biologia, fisiologia e psicologia.

A moderna fisiologia soviética, baseando-se na doutrina de I. P. Pávlov sobre a atividade nervosa superior, revelou as bases materiais, fisiológicas, dos processos da sensação e das funções dos órgãos sensoriais. A sensação é considerada como resultado do trabalho conjugado dos órgãos sensoriais do córtex cerebral. O córtex cerebral é o órgão superior de análise e síntese das excitações externas; orienta o trabalho dos analisadores nervosos.

A ciência soviética comprovou que a transformação da excitação exterior em processo nervoso (em excitação fisiológica e em ato psíquico), que se realiza no processo da sensação, se verifica em forma de salto, como passagem da energia físico-química a uma forma de movimento da matéria qualitativamente diferente, a forma orgânica.

I. P. Pávlov escreve:

"(...) Todo aparelho periférico é um transformador especial de determinada energia exterior em processo nervoso.”(10)

A influência da energia luminosa sobre nossos olhos provoca em sua retina determinados fenômenos fotoquímicos e elétricos que, por sua vez, provocam a modificação da concentração dos íons nas extremidades periféricas dos nervos ópticos. Esse processo de excitação óptica, que se inicia nos nervos sensíveis à luz — bastonetes e pequenas retortas — é transmitido por meio de filamentos ópticos aos centros correspondentes (ópticos) do córtex dos grandes hemisférios cerebrais, onde se transforma em determinado processo psíquico. I. P. Pávlov revelou a dialética do processo pelo qual a excitação fisiológica se transforma em ato psíquico. Demonstrou que a formação do reflexo condicionado é, ao mesmo tempo, um processo de surgimento de um ato psíquico elementar — a sensação.

As ligações nervosas no córtex cerebral, que são o aparelho fisiológico que reflete diretamente a realidade sob a forma de reflexos condicionados e incondicionados, foram denominados por I. P. Pávlov primeiro sistema de sinalização. I. P. Pávlov escreve:

"Nos animais a realidade é percebida quase exclusivamente por meio de excitações e de suas impressões nos grandes hemisférios, as quais chegam diretamente a células especiais dos receptores ópticos, auditivos, e outros do organismo. É isso que corresponde em nós às impressões, sensações e representações do meio exterior, tanto da natureza em geral, como da sociedade, com exceção da palavra, escrita e falada. E o primeiro sistema de sinalização da realidade, comum a nós e aos animais."(11)

Entretanto, no homem, o primeiro sistema de sinalização adquiriu características qualitativamente novas porque se desenvolveu sob a influência do segundo sistema de sinalização, que já se formara sob o influxo do trabalho, da produção material e de toda a prática social e histórica. No homem, o primeiro sistema de sinalização é um produto não só de toda a precedente evolução de seus antecessores animais, mas também de toda a história da humanidade. Uma vez que as leis biológicas que determinam o desenvolvimento dos animais foram substituídas, no homem, por leis sociais, seus órgãos dos sentidos perderam sua antiga agudeza animal e sua limitação biológica, adquirindo uma nova qualidade — tornaram-se órgãos humanos. Sob a influência do trabalho, da ação prática, sobre o mundo ambiente, os órgãos sensoriais do homem e sua atividade funcional se aperfeiçoaram e se desenvolveram, aumentou sua capacidade de perceber a imensa diversidade de qualidades e propriedades do mundo objetivo.

A capacidade de os órgãos dos sentidos perceberem adequadamente as diferentes propriedades e qualidades do mundo objetivo aperfeiçoou-se durante a evolução biológica dos organismos, em consequência do aumento de complexidade das formas de ação mútua entre eles e o meio. A fisiologia soviética comprovou, por exemplo, que a sensibilidade da visão à cor é produto da um desenvolvimento relativamente posterior do mundo orgânico. Nas fases iniciais da filogenia, a visão dos organismos animais não distinguia a cor. Em muitos animais altamente desenvolvidos a sensibilidade à cor ou não existe ou se acha muito pouco desenvolvida (é o caso do cão). Nos próprios macacos antropoides a sensibilidade cromática só distingue poucas cores. Somente no homem, no processo do trabalho e de mais profunda interação com o mundo exterior, é que se formou um aparelho fisiológico ricamente dotado para a percepção adequada das diferentes cores. O olho do homem moderno é capaz de distinguir até 180 tons de cada cor, e mais de dez mil cores diferentes (gradações de intensidade e de luminescência).(12)

Submetendo os objetos da natureza à elaboração prática e criando novos objetos, os homens modificaram o mundo ambiente e ao mesmo tempo modificaram o caráter de sua contemplação sensível. As percepções sensíveis do homem passaram a refletir os objetos e fenômenos da realidade já em grande parte modificados e transformados pelo processo de trabalho material de produção.

Marx e Engels observam que o

"mundo sensível” que nos cerca não é uma coisa imutável, "sempre idêntica a si mesma, mas um produto da indústria e da ordem social, porque é um produto histórico, o resultado da atividade de várias gerações, cada uma das quais se apoiou na geração precedente (...).(13)

Por isso, os órgãos dos sentidos e sua atividade funcional são, no homem, produto não só de toda a evolução precedente de seus antecessores animais, mas também do desenvolvimento histórico-social do próprio homem. Marx escreve:

"A formação dos cinco sentidos é um produto de toda a história universal.’’(14)

O olho humano, capaz de perceber a riqueza das formas e das cores, foi chamado à vida pelas necessidades práticas do homem, pela prática social e histórica. O ouvido musical só pôde formar-se como resultado da criação da música. Ainda em maior dependência para com a atividade produtiva, encontram-se as percepções gustativas do homem, que só se tornaram humanas no processo de desenvolvimento da produção dos alimentos e da arte de sua preparação.

Engels escreve:

"Do mesmo modo que o desenvolvimento progressivo da palavra é necessariamente acompanhado do aperfeiçoamento correspondente do órgão da audição, o desenvolvimento do cérebro é em geral acompanhado do aperfeiçoamento de todos os sentidos. A águia vê a uma distância consideravelmente maior do que o homem; mas o olho humano nota nas coisas muito mais do que o olho da águia. O cão possui um olfato consideravelmente mais fino do que o homem, mas não distingue a centésima parte dos odores que, para o homem, são indícios seguros de diversas coisas. E o sentido do tato, que no macaco apenas existe em seus rudimentos mais grosseiros, só se desenvolveu com a própria mão humana, graças ao trabalho.”(15)

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No homem, a sensação é um processo complexo que se verifica em seu aparelho sensorial sob a influência das excitações externas. Às sensações se caracterizam por o homem sentir, perceber, refletir sensorialmente não os próprios processos nervosos, físico-químicos e fisiológicos, mas os objetos e fenômenos que provocam esses processos.

Surge assim a seguinte pergunta: os objetos do mundo material refletem-se fielmente nas sensações e percepções do homem? Os representantes do agnosticismo e do idealismo filosófico e fisiológico afirmaram e continuam a afirmar que existe uma incapacidade congênita de os órgãos dos sentidos refletirem com acerto o mundo exterior. Helmholtz, fisiólogo alemão do século XIX, escreve:

"Não há nenhuma semelhança entre a qualidade das sensações e a qualidade dos agentes externos que as despertam e que são transmitidos por elas.”

Os agnósticos e os filósofos e fisiólogos idealistas afirmam que as sensações e as percepções sensíveis são sinais convencionais, símbolos ou hieróglifos que não têm nenhuma semelhança com os objetos exteriores que representam.

No seu trabalho Materialismo e Empirocriticismo, V. I. Lênin submete a uma crítica esmagadora a teoria dos símbolos ou dos hieróglifos. Lênin demonstra que essa teoria é anticientífica e falsa e leva água ao moinho do agnosticismo e do idealismo.

Criticando Helmholtz, Lênin escreve:

"Se as sensações, não sendo imagens dos objetos, não passam de sinais e símbolos sem 'nenhuma semelhança' com eles, a premissa materialista de Helmholtz está comprometida, a existência dos objetos exteriores torna-se duvidosa, porque os sinais ou símbolos podem dizer respeito também a objetos fictícios; e todos nós conhecemos modelos de sinais ou símbolos dessa espécie.”(16)

Lênin critica severamente a Plekhânov, que fazendo concessões ao kantismo, dizia que

"nossas sensações são hieróglifos de tipo especial, que trazem ao nosso conhecimento aquilo que se passa na realidade” e que "os hieróglifos não são semelhantes aos acontecimentos que transmitem”.

Em luta intransigente contra as diferentes escolas idealistas, Lênin desenvolveu com profundeza e consequência extraordinárias a doutrina dialética e materialista da sensação como imagem da realidade objetiva. Lênin escreve:

"Nossas sensações, nossa consciência são apenas a imagem do mundo exterior; ora, é evidente que a imagem não pode existir sem o objeto que ela representa, enquanto o objeto pode existir independentemente de sua imagem."(17)

O desmascaramento do machismo, do idealismo fisiológico e da teoria dos hieróglifos feito por Lênin em seu trabalho Materialismo e Empirocriticismo, tem grande importância e nos arma na luta contra a moderna filosofia reacionária americana e inglesa. Essa filosofia não se cansa de ressuscitar as velhas concepções idealistas sobre a impossibilidade de as sensações humanas refletirem fielmente o mundo exterior. Negando a exatidão da imagem que as sensações humanas nos dão do mundo objetivo, as velhas concepções idealistas reduzem toda a riqueza deste último ao mundo subjetivo, ao "complexo de sensações", à "energia específica” dos órgãos dos sentidos, etc.

A teoria que afirma o caráter subjetivo das qualidades secundárias (cor, som, odor, gosto, etc.), amplamente difundida na filosofia burguesa, foi usada no passado e é usada atualmente pelos diversos idealistas, na luta contra o materialismo em geral e particularmente contra a teoria marxista-leninista do reflexo. Os idealistas americanos e ingleses como Bradley, Mactaggart, Royce, Drake, Santayana, Broyd, Pratt, Strong e outros "demonstram”, por diferentes meios o caráter subjetivo das qualidades secundárias. Afirmam:

"A coisa só possui a qualidade secundária em sua relação com o órgão (...), de modo que podemos ter a sensação sem o objeto (...). Por isso, as qualidades secundárias são aparências.”

Para todos os idealistas, a negação do caráter objetivo das qualidades secundárias representa apenas uma preparação lógica para a negação do caráter objetivo das qualidades primárias e do caráter objetivo do mundo em geral. É da negação do caráter objetivo das qualidades secundárias que partem Russel, Moore, Wittguenstein e outros, para fundamentar o "positivismo lógico”. Desfazendo-se do caráter objetivo das qualidades secundárias, reduzem depois o mundo objetivo ao mundo subjetivo, a um conjunto de "dados sensíveis” (de sensações), declaram que estas são "elementos do mundo” e afirmam que todo o mundo que existe consiste "simplesmente de determinadas séries e combinações de dados sensíveis”. O pragmatista americano J. Dewey afirma que nossas percepções sensíveis são apenas uma "torrente da consciência”, instrumentos de nossa atividade prática, de nossas necessidades, mas não têm nenhuma relação com os objetos exteriores.

Perfeitamente de acordo com a experiência, com a prática e com a ciência, o materialismo dialético demonstra que a sensação é o reflexo, na consciência do homem, dai diferentes propriedades e qualidades dos objetos e fenômenos do mundo material (extensão, movimento, forma, cor, som, odor, etc.). A teoria leninista do reflexo rejeita com firmeza a negação, pelos subjetivistas e mecanicistas, da existência objetiva da cor, do som, do odor, etc. Não são nossos órgãos dos sentidos que fazem surgir, em nossa consciência, a cor, o som, o odor, etc., mas a existência objetiva da coloração (matizes) nos objetos e fenômenos do mundo material, sua sonoridade e odorância é que são percebidas pelos nossos órgãos dos sentidos, originando em nós as sensações de cor, som, odor, etc.

A ciência soviética de vanguarda fundamenta, com os dados das ciências naturais, a doutrina leninista da sensação como reflexo do mundo objetivo e refuta integralmente as diferentes teorias idealistas. Nossos órgãos dos sentidos possuem a capacidade de refletir, de maneira adequada, os atributos e as qualidades inerentes aos próprios objetos do mundo material. Nossos olhos, por exemplo, refletem o colorido do mundo material. As superfícies dos objetos do mundo material têm determinada coloração (cor), isto é, possuem a propriedade de emitir ou refletir oscilações eletromagnéticas de determinado comprimento de onda. O célebre sábio soviético Krávkov escreve:

"Tanto o Sol como todos os objetos por ele iluminados emitem uma grande quantidade de raios dos mais diferentes comprimentos de onda, emitidos ou refletidos por qualquer corpo, e dão os espectros de radiação ou reflexo que caracterizam as propriedades de cor desse corpo."(18)

Por conseguinte, as diferentes cores (vermelho, azul, verde, etc.) representam determinadas propriedades objetivas, certas qualidades dos objetos materiais, que existem independentemente do sujeito que as percebe.

No entanto, embora a cor seja uma propriedade objetiva do corpo que existe fora do sujeito, sua sensação depende do sujeito que percebe. A sensação é o reflexo subjetivo, na cabeça do homem, da realidade objetiva do mundo exterior. Lênin afirma:

"A sensação é uma imagem subjetiva do mundo objetivo (...).(19)

A sensação é uma imagem subjetiva, porque se verifica no sistema nervoso de um indivíduo, historicamente concreto, e não existe fora do sujeito atuante. Por isso, a sensação depende de certa maneira do estado do sujeito, do estado e do desenvolvimento tanto de todo o organismo, quanto de seus órgãos dos sentidos, do sistema nervoso e do cérebro. Sabe-se que a modificação no estado do organismo, nos órgãos dos sentidos e no sistema nervoso exerce influência sobre o processo da sensação, provoca maior ou menor capacidade de reação do sistema nervoso às excitações externas. A sensação não é uma imagem subjetiva no sentido de que a consciência do homem deturpe a realidade, mas no sentido de que é um processo psíquico ideal, de que representa a elaboração do material na cabeça do homem. A imagem que surge na cabeça do homem é apenas uma fotografia, uma cópia, aproximadamente fiel do objeto real; essa imagem não é, porém, idêntica ao objeto, não é seu reflexo absolutamente exato e sob todos os seus aspectos. Se nossas sensações refletissem, de modo imediato e completo, toda a complexidade dos processos materiais, então a ciência perderia sua finalidade. Lênin afirma:

"O homem não pode abrangerreproduzirrefletir a natureza, toda, completa, sua 'totalidade direta': só pode cada vez mais aproximar-se disso (...).(20)

A sensação é subjetiva pela sua forma, porque é uma função do cérebro, do sistema nervoso, da matéria organizada de determinada maneira. O conteúdo da sensação não é, porém, determinado pelo processo nervoso que se verifica no sujeito, mas pela natureza da realidade objetiva que a provocou. A sensação, sendo subjetiva pela sua forma, é objetiva pelo seu conteúdo originário. A sensação humana contém em si, em forma ideal, aquilo que realmente existe fora da sensação, aquilo que é seu objeto, a fonte real de sua existência. O camarada Stálin afirma:

"Se olho uma árvore e a vejo, isso quer dizer somente que, já antes de que em minha cabeça haja nascido a representação da árvore, existia a própria árvore que despertou em mim a correspondente representação (...)”.(21)

A sensação, sendo uma imagem da realidade objetiva, dá essencialmente um reflexo justo, fiel e adequado da realidade objetiva, o que é confirmado pela experiência diária e pela atividade prática dos homens.

Todos os imensos êxitos alcançados pela prática da humanidade tornaram-se possíveis em virtude de o homem refletir fielmente o mundo material que o cerca. Se as percepções sensíveis dessem, porém, um reflexo errado, deturpado, dos objetos, seria impossível uma justa interação entre o homem e o mundo que o cerca, seria impossível ao homem orientar-se nesse mundo e, mais ainda, sobre ele atuar prática e objetivamente.

Lênin escreve:

"O domínio sobre a natureza, realizado na prática humana, é o resultado do reflexo objetivamente exato, na cabeça do homem, dos fenômenos e dos processos naturais, e constitui a melhor prova de que esse reflexo (nos limites que a prática nos determina) é uma verdade objetiva, absoluta, eterna."(22)

Por meio das sensações, o homem reflete as diferentes propriedades e qualidades dos objetos do mundo exterior (resistência, aspereza, maciez, forma, cor, som, odor, etc.). Mas na realidade não existem qualidades e propriedades "puras”, isoladas dos objetos, e sim objetos completos, que possuem determinadas qualidades e propriedades. Por meio do processo de atuação prática sobre os objeto e de sua modificação alcançamos a compreensão total dos objetos. Em consequência disso, nosso conhecimento sensível desenvolveu-se historicamente, como capacidade de refletir objetivamente o mundo material. As sensações fornecidas pelos diferentes órgãos sensoriais, que refletem diferentes propriedades e qualidades dos objetos, sintetizando-se no córtex dos grandes hemisférios cerebrais e ligando-se aos dados da experiência passada, transformam-se em conceitos, que fornecem imagens completas dos objetos.

A sensação e a percepção são dois elementos, duas fases de um conhecimento sensível único. Sendo um ato psíquico mais complexo do que a sensação, a percepção não é, porém, possível, sem as sensações. No entanto, ela só surge e se desenvolve com base nas sensações, como capacidade de sintetizá-las e generalizá-las. Esse processo de transformação das sensações em percepções é condicionado pela unidade entre a natureza do próprio objeto percebido (a integridade objetiva dos objetos) e a atividade prática objetiva do sujeito que percebe.

A percepção sensível é uma observação viva, a forma do reflexo direto, na consciência do homem, dos objetos e dos fenômenos da realidade que o cerca. Todavia, num nível mais elevado de desenvolvimento histórico do homem, a sensação direta sempre se verifica com base em meios auxiliares fornecidos por toda a prática histórico-social precedente, pelo desenvolvimento da produção material, do conhecimento científico e do pensamento. O desenvolvimento da produção material e da ciência revela o caráter relativamente limitado das percepções sensíveis do homem e leva-o a empregar todos os possíveis métodos de percepção, com a ajuda de meios auxiliares, leva-o à invenção de diferentes instrumentos e aparelhos, que ampliam infinitamente os limites de sua sensibilidade, o campo dos fenômenos percebidos.

O apetrechamento dos órgãos sensoriais do homem com a aparelhagem correspondente (lente, telescópio, microscópio, espectroscópio, etc.) permitiu-lhe ampliar infinitamente os limites do conhecimento sensível e penetrar não só nos limites do distante mundo estelar, mas também no mundo microscópico, no mundo das minúsculas bactérias, no mundo das moléculas, dos átomos e dos elétrons. Graças a instrumentos tecnicamente aperfeiçoados de pesquisa física, o homem pôde penetrar no mundo dos processos intra-atômicos. conhecer suas leis e neles descobrir novas e inesgotáveis fontes de energia (energia intra-atômica), que podem ser colocadas a serviço da humanidade. Aquilo que está fora do alcance do conhecimento sensível num estágio do desenvolvimento histórico da humanidade, torna-se acessível em outro estágio, graças ao desenvolvimento da produção social, da técnica. Por isso, a limitação natural dos órgãos humanos dos sentidos não pode servir de limite para sua capacidade de conhecimento.

Na base das sensações e das percepções humanas, surgem as representações como forma mais complexa de reflexo da realidade. As representações se formam com base na ação prática do homem sobre os objetos do mundo material e são a forma mais geral do reflexo direto, sensível, desses objetos. Ao reproduzir um objeto anteriormente percebido, a representação não reflete todos os seus pormenores concretos (como a percepção), mas apenas os traços, aspectos e indícios mais característicos. A representação é, assim, uma forma generalizada de reflexo da realidade. A representação é, porém, apenas o estágio inicial da generalização, ainda conserva alguns traços da particularidade e da singularidade. A interpenetração entre o particular e o geral nas representações constitui uma característica destas, como elo da passagem dialética das percepções sensíveis aos conceitos, ao pensamento teórico.

O Pensamento Abstrato

O pensamento abstrato é o segundo e mais complexo grau do conhecimento. O conhecimento sensível do homem reflete apenas os aspectos e as conexões externas entre determinados objetos e fenômenos da realidade objetiva. As sensações e percepções não podem abranger as conexões gerais, as relações regulares entre os objetos do mundo material, e por isso são apenas o primeiro grau do conhecimento humano. Ao contrário, o pensamento abstrato permite penetrar na essência dos objetos e dos fenômenos, permite descobrir suas leis gerais. Mas, na realidade objetiva, o geral só se manifesta em objetos e fenômenos particulares. Lênin observa:

"O geral só existe no particular, através do particular . Todo particular tem (desta ou daquela forma) seu caráter de generalidade."(23)

A possibilidade de conhecer o geral, de formar conceitos abstratos, reside, por isso, no conhecimento sensível dos objetos isolados.

O primeiro passo para a generalização do singular sob a forma de representações surge na base das percepções e se realiza ainda dentro dos limites do conhecimento sensível. Todas as tentativas feitas pelos idealistas, no sentido de desligar o conhecimento racional (mental) de sua base sensível, deturpam a compreensão da essência do processo real, porque na realidade entre o conhecimento sensível e o conhecimento racional não existe nenhuma solução de continuidade, porque um e outro refletem uma única realidade material. O conhecimento sensível se transforma em conhecimento lógico, e este surge do conhecimento sensível e é seu desenvolvimento. Essa unidade dialética entre os elementos sensível e racional (mental) no processo do conhecimento não foi compreendida pelos filósofos anteriores a Marx. Se os representantes do sensualismo limitavam o conhecimento humano às percepções sensíveis de determinados objetos, subestimando o papel do pensamento teórico, já os raciona- listas, ao contrário, desligavam o pensamento abstrato da percepção sensível, considerando-o como processo independente .

O erro fundamental dos representantes clássicos do racionalismo (Descartes, Leibnitz, Spinosa e outros) residia cm subestimar a importância do conhecimento sensível, o que levou muitos deles ao idealismo. Os idealistas, por sua vez, ou ignoram em geral o conhecimento sensível, considerando-o duvidoso (Platão, Hegel), ou negam seu conteúdo objetivo (Berkeley, Hume, os machistas e outros).

A separação idealista entre o geral e o particular, entre o pensamento abstrato e sua base sensível, está muito difundida na moderna filosofia reacionária da burguesia. O místico americano Santayana, desligando o geral e abstrato do singular e concreto, transforma o místico "ser puro” constituído de essências ideais e inventado por ele, em natureza "divina” fora do tempo, colocando-o acima do mundo das coisas concretas, particulares. Tenta "provar” que "o reino das essências forma a base infinita de todas as coisas”, que "todas as coisas são abstrações do reino das essências”. Separação análoga entre o geral e o particular, entre o pensamento abstrato e os órgãos dos sentidos, e a contraposição dos mesmos, é realizada por muitos outros filósofos e cientistas burgueses.

Ao contrário dos metafísicos e dos idealistas, o marxismo-leninismo considera impossível a existência do pensamento abstrato sem base sensível. O exemplo dos surdos-mudos que não possuem a palavra falada e cujo pensamento se acha privado de envoltura sonora comprova isso com particular clareza. O camarada Stálin afirma:

''Os pensamentos dos surdos-mudos somente surgem e podem existir na base das imagens, das percepções, das representações que se formam em sua vida diária acerca dos objetos do mundo exterior e das relações desses objetos entre si, graças aos sentidos da visão, do tato, do paladar e do olfato. Fora dessas imagens, percepções e representações, o pensamento é vazio, desprovido de qualquer conteúdo, isto é, não existe."(24)

A passagem do conhecimento sensível das coisas e fenômenos ao pensamento teórico, ao conhecimento das conexões internas e das relações regulares entre os mesmos, verifica-se na base do desenvolvimento da prática histórico-social. A atividade prática dos homens forma suas faculdades cognoscitivas; com base nela, realiza-se o processo de formação dos conceitos a partir dos dados fornecidos pelos sentidos e o processo de desenvolvimento do pensamento lógico abstrato. Lênin afirma:

"(...) a atividade prática do homem, repetindo-se bilhões de vezes, e consolidada na consciência do homem pelas figuras da lógica."(25)

O aparelho fisiológico — que reflete de forma generalizada as conexões essenciais e as relações regulares entre os objetos do mundo real, aparelho indissoluvelmente ligado à palavra, à linguagem, e chamado por I. P. Pávlov de segundo sistema de sinalização — formou-se no processo do trabalho, da atividade prática, no processo da vida social dos homens.

O segundo sistema de sinalização formou-se na base do primeiro sistema de sinalização, no processo de desenvolvimento do encéfalo no sentido da complexidade e da diferenciação dos seus nexos e analisadores corticais, da formação dos lobos entre os analisadores, e do poderoso desenvolvimento das partes parietais, occipitais e frontais. I. P. Pávlov escreve:

"Se nossas sensações e representações relativas ao mundo que nos cerca são para nós os sinais primários da realidade, sinais concretos, a palavra e sobretudo as excitações cinéticas que vão dos órgãos da palavra ao córtex são os sinais secundários, os sinais dos sinais. São uma abstração da realidade e permitem a generalização, o que constitui precisamente nossa inteligência superior, especificamente humana, que cria primeiro o empirismo em geral e finalmente a ciência, instrumento superior de orientação do homem no mundo que o cerca e dentro de si mesmo.”(26)

Nos animais, há embriões de pensamento, mas estes estão circunscritos aos limites do primeiro sistema de sinalização. O segundo sistema de sinalização, no qual a palavra é o excitante, permitiu ao homem desenvolver o pensamento teórico por meio da abstração das excitações concretas, sensíveis. As palavras, como excitante específico do segundo sistema de sinalização, atuam não só pelo seu aspecto sonoro, mas sobretudo pelo seu conteúdo semântico, consolidado pela prática histórico-social do homem. O camarada Stálin escreve:

"A língua é um meio, um instrumento, com o auxílio do qual os homens se comunicam entre si, trocam pensamentos e conseguem entender-se. Diretamente ligada ao pensamento, a língua registra e fixa em palavras e em combinações de palavras, nas orações, os resultados do trabalho, do pensamento, os êxitos alcançados pelo trabalha cognoscitivo do homem e torna assim possível a troca de pensamentos na sociedade humana."(27)

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O conceito é uma das formas básicas do pensamento lógico. Os conceitos são necessariamente revestidos pela "envoltura material da linguagem”, fora da qual não existem. Na base da formação dos conceitos, está o processo de generalização, isto é, de unificação mental das propriedades gerais dos objetos e dos fenômenos da realidade. Inicialmente, a generalização estava estreitamente ligada à ação prática.

Eram unificados num só grupo os objetos que exerciam função idêntica na atividade prática. Os conceitos se formavam como resultado da generalização de muitos indícios importantes para a prática e da abstração dos indícios não essenciais para a atividade prática. Por exemplo, o conceito "machado” era a generalização de muitos instrumentos concretos de trabalho que exerciam função prática idêntica.

A princípio, os conceitos estavam estreitamente ligados às representações concretas e diretas, e se desenvolviam no sentido de uma abstração e generalização ainda maiores.

O surgimento de conceitos gerais, abstratos, assinalou um reflexo mais completo e profundo da realidade material, contribuindo para a descoberta dos aspectos mais essenciais, das ligações internas e das relações regulares entre os objetos do mundo. Lênin observa que

"a mais simples generalização, a primeira e mais elementar formação de conceitos (juízo, conclusão intelectual, etc.) já significa o conhecimento pelo homem da conexão objetiva, cada vez mais profunda, do mundo."(28)

Os filósofos e sábios da burguesia consideram o processo de formação das abstrações científicas como' empobrecimento do pensamento, seu afastamento da realidade objetiva. O físico V. Heisenberg, por exemplo, considera a história da física como um processo de seu afastamento cada vez maior da realidade e de empobrecimento do conhecimento humano. Afirma que todos os conceitos da física moderna (átomo, espaço, tempo, etc.) nada encerram de real, sendo apenas formas de nosso pensamento. É no mesmo sentido idealista que A. Einstein interpreta o processo de abstração científica. Considera a geometria como ciência puramente formal, privada de conteúdo objetivo, afirmando que os axiomas geométricos são "criações livres do espírito humano”.

Ao contrário do idealismo, o materialismo dialético considera a abstração científica como modo específico de reflexo da realidade material. A abstração, como todas as operações mentais, origina-se antes de tudo no processo da ação prática. A abstração na ação, que precede a abstração mental, residia em que os homens, em suas ações práticas, destacavam em primeiro lugar as propriedades e qualidades dos objetos que tinham significação mais importante e direta para suas necessidades, abandonando toda uma série de indícios menos importantes, desnecessários ou secundários.

O pensamento é capaz de analisar, desmembrar a realidade que pesquisa, suas partes, propriedades e aspectos constituintes, e estudá-los ordenadamente, retendo o que é necessário e abandonando o que é secundário e casual, com o objetivo de conseguir um conhecimento mais completo e profundo da realidade.

Por meio da abstração científica, o conhecimento humano assa da percepção da unidade para a generalização de um conjunto de fenômenos, cria conceitos, categorias e leis, nas quais se refletem as conexões e leis mais profundas do mundo material. Com extraordinária profundeza, o camarada Stálin revela o papel da abstração científica no desenvolvimento da geometria e da gramática. Escreve:

"A gramática é o resultado de um prolongado trabalho de abstração do pensamento humano, o expoente de grandes êxitos do pensamento.

Sob esse aspecto a gramática lembra a geometria, que estabelece suas leis abstraindo-as dos objetos concretos, considerando os objetos como corpos privados de qualquer caráter concreto e estabelecendo entre eles relações que não são relações concretas entre determinados objetos concretos, mas relações entre corpos em geral, privados de qualquer caráter concreto.”(29)

A abstração científica não só não empobrece o conhecimento humano, como os idealistas tentam demonstrar, mas, ao contrário, enriquece-o, é uma forma mais completa, profunda e ampla de refletir a realidade material do que o conhecimento sensível. V. I. Lênin observa:

"O pensamento, elevando-se do concreto ao abstrato, não se afasta, se é justo, da verdade, mas dela se aproxima. O conceito abstrato de matéria, de lei da natureza, de valor, etc., em uma palavra, todas as abstrações científicas (as justas, sérias, não arbitrárias) refletem a natureza de maneira mais profunda, mais justa mais completa. Da observação viva ao pensamento abstrato e dele para a práticatal é o caminho dialético do conhecimento da verdade, do conhecimento da realidade objetiva.”(30)

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A formação dos conceitos e a operação com os mesmos sob a forma de juízos e de conclusões intelectuais são importantes processos mentais. Todo conhecimento científico assume a forma de determinado juízo, que ou afirma algo (juízo afirmativo), ou nega algo (juízo negativo). Do ponto de vista do movimento progressivo do conhecimento humano, Engels classifica os juízos da seguinte maneira:

  1. juízo da singularidade (por exemplo, o juízo "a fricção é fonte de calor");
  2. juízo da particularidade (por exemplo, o juízo "todo movimento mecânico pode, por meio da fricção, transformar-se em calor”);
  3. juízo da universalidade (por exemplo, o juízo "qualquer forma de movimento pode e deve necessariamente, em condições determinadas para cada caso, converter-se direta ou indiretamente em qualquer outra forma de movimento”).

Esse último juízo é uma verdade absoluta, expressa uma lei absoluta da natureza.

A conclusão intelectual tem grande importância cognitiva. A conclusão intelectual é um processo lógico de tirar conclusões de determinados juízos. Na base da conclusão intelectual sempre estão determinados juízos (premissas), mas sua conclusão pode levar e efetivamente leva a um significado novo em comparação com o que está contido nas premissas.

Para que a conclusão intelectual seja justa e útil são necessárias, no mínimo, duas condições:

  1. os juízos (premissas) nos quais se baseia a conclusão intelectual devem ser verdadeiros, devem corresponder à própria realidade;
  2. a conclusão intelectual, isto é, a união, a combinação das ideias contidas nos juízos, deve ser feita com acerto, sem violação das regras do pensamento lógico.

A justeza das conclusões intelectuais deve ser confirmada pela prática, que é o seu critério da verdade. A conclusão intelectual justa, científica, da mesma forma que o juízo, reflete processos reais, as conexões e relações mútuas entre as coisas e os fenômenos da própria realidade material.

Os conceitos, os juízos e as conclusões intelectuais só podem ser autênticos, quando refletem a realidade objetiva, quando só ligam, unem ou separam aquilo que está ligado, unido ou separado na própria realidade.

Ao contrário dessa compreensão dos processos lógicos, que é a única justa, os modernos filósofos obscurantistas e reacionários da burguesia tentam demonstrar a independência entre as formas do pensamento e a realidade objetiva. Por exemplo, os representantes do "positivismo lógico” consideram a ciência como "sistema de proposições” e afirmam que estas devem concordar apenas com outras proposições. Russel afirma que a filosofia não trata do mundo objetivo, mas somente de fórmulas lógicas e que, por isso, "a lógica é a essência da filosofia”. Por sua vez, Karnap, representante da filosofia semanticista, foi ainda mais longe ao declarar que o objeto da filosofia é apenas a combinação de palavras e proposições privadas de qualquer conteúdo.

A dedução (modo de raciocínio que vai do geral para o particular) e a indução (modo de raciocínio que vai do particular para o geral) têm grande importância cognitiva. Na filosofia burguesa a indução e a dedução eram contrapostas uma à outra como dois métodos independentes. Os empíricos (Bacon e outros) emprestavam significação geral ao método indutivo. Os representantes do racionalismo (Descartes, Spinosa e outros), por sua vez, erigiram a dedução em método absoluto. O marxismo-leninismo considera a indução e a dedução como dois processos diferentes de um método único de pesquisa científica, que se completam (e não se excluem) um ao outro. Engels observa que toda dedução científica é o resultado de uma indução preliminar sem a qual é impossível qualquer conhecimento científico. Por sua vez, a indução só é método científico, quando se vale de conclusões gerais, quando o estudo de determinados fenômenos particulares se baseia no conhecimento de princípios ou leis gerais. Engels observa:

"A indução e a dedução estão ligadas entre si de maneira tão necessária quanto a síntese e a análise. Ao invés de elevar unilateralmente às nuvens uma delas às expensas da outra, é preciso procurar empregar cada qual em seu lugar, e isso só é possível se não se perder de vista que elas estão ligadas entre si, que se completam reciprocamente.”(31)

Ao invés de contrapor metafisicamente a análise à síntese como dois métodos independentes, a dialética materialista as considera em unidade, como diferentes processos de um único método dialético de conhecimento. Sem análise (desmembramento do fenômeno em suas partes constituintes), é impossível qualquer conhecimento científico da realidade concreta e variada. Só a análise, porém, não pode fornecer o conhecimento científico; ela deve ser completada pela síntese, que une as partes desmembradas e apresenta o objeto ou o fenômeno estudado como um todo único.

Frisando a unidade dialética entre a análise e a síntese, Lênin ressalta que entre os elementos da dialética

"a unidade entre a análise e a síntese significa desmembrar as partes isoladas e reunir, somar essas partes entre si.”(32)

Nas obras dos clássicos do marxismo-leninismo encontramos geniais modelos de unidade dialética entre a análise e a síntese. Em seu trabalho Imperialismo, Etapa Superior do Capitalismo, por exemplo, Lênin pesquisou, por meio da análise os diferentes aspectos e características do capitalismo em sua fase imperialista e depois, por meio da síntese, englobou-os, fazendo uma caracterização geral e completa do imperialismo, definindo seu lugar histórico.

No Informe ao XVIII Congresso do Partido, J. V. Stálin fez uma profunda análise dos êxitos da construção do socialismo e do desenvolvimento dos diferentes setores da economia nacional da URSS, e depois os sintetizou e englobou, fazendo uma caracterização geral das históricas vitórias alcançadas pelo socialismo na URSS e indicando as tarefas fundamentais de desenvolvimento no sentido do comunismo.

O Papel da Prática no Processo do Conhecimento

Pela primeira vez na história da filosofia, o marxismo-leninismo introduziu a prática na teoria do conhecimento. A teoria do conhecimento tornou-se realmente científica. Na solução marxista-leninista do problema do papel da prática na teoria do conhecimento, da unidade entre a teoria e a prática, se reflete a essência revolucionária da filosofia do marxismo, chamada não só a explicar o mundo, mas também a transformá-lo.

Na filosofia burguesa, a gnosiologia não tinha caráter científico principalmente porque não revelava o papel da prática no processo do conhecimento. Os representantes do materialismo metafísico em geral não viam nem compreendiam o papel ativo, realmente prático, do homem em relação à natureza; muito menos compreendiam a prática social, histórica e revolucionária, e seu papel no processo de conhecimento do mundo, no desenvolvimento da ciência e do pensamento humano. Embora às vezes tentassem ligar o processo do conhecimento com a prática, compreendiam esta última de maneira extremamente estreita e limitada, rebaixando-a a pesquisas e experiências de laboratório. Por isso, não viam a força motriz do conhecimento humano na prática social e histórica, mas na "curiosidade” e "sede de conhecimentos” do dentista, na tendência dos homens ao aperfeiçoamento do intelecto. Essa estreiteza, essa limitação na compreensão da prática e de seu papel na teoria do conhecimento estava condicionada pela estreiteza, pela limitação das tarefas práticas e cognitivas da burguesia como classe exploradora.

Os representantes do idealismo, interpretando a prática do homem como atividade da ideia abstrata, do espírito puro, limitavam e limitam a esfera da atividade prática ao campo do labor teórico.

Ao contrário das diferentes considerações místicas e reacionárias dos modernos filósofos da burguesia, o marxismo-leninismo reconhece o papel decisivo da prática, da atividade prática dos homens, tanto como ponto de partida ou base do conhecimento, quanto como critério da veracidade da teoria. Lênin ensina:

"O ponto de vista da prática, da vida deve ser o ponto de vista fundamental da teoria do conhecimento. Rejeitando de seu caminho as elucubrações intermináveis da escolástica professoral, ela leva infalivelmente, em linha reta, ao materialismo.''(33)

Na concepção marxista-leninista, a prática é antes de tudo a atividade do homem no trabalho, na produção material, que inclui todos os aspectos da atividade produtiva tanto na indústria como na agricultura. Além disso, a prática é a atividade social, universal, histórica, revolucionária e crítica do homem, orientada não só para a transformação da natureza, mas também da vida social. Nas condições da sociedade de classes, a prática inclui também a luta de classes, que é a força motriz de todo o processo histórico.

No conceito de prática, deve-se incluir também a pesquisa de laboratório, a experiência e a observação. No conhecimento dos processos da natureza inacessíveis à influência do homem (cósmicos, astronômicos, etc.), a prática se manifesta sob a forma de observações com o auxílio do aparelhamento necessário, que é, porém, produto da atividade do homem na produção material. Por isso, Lênin afirma que

"a prática, que nos serve de critério na teoria do conhecimento, deve incluir também as observações astronômicas, as descobertas, etc."(34)

Compreendida com essa amplitude, a prática é a base do conhecimento humano e o critério de sua verdade em todas as fases de seu desenvolvimento.

Somente no processo de influência ativa sobre o mundo material que o cerca, por meio do trabalho e da produção, é que o homem recebe determinadas sensações, percepções e representações. Elaborando praticamente os objetos da natureza, os homens recebem, por meio de seus órgãos dos sentidos, determinadas informações sobre as propriedades e qualidades desses objetos, passando a conhecê-los. As operações práticas com os objetos materiais estão na base da formação e do desenvolvimento dos conceitos e de todas as operações mentais: juízo e conclusão intelectual, dedução e indução, análise e síntese. Lênin observa:

"Todos esses elementos (passos, graus, processos) do conhecimento dirigem-se do sujeito ao objeto, sendo verificados pela prática e passando, através dessa verificação, a verdade (...).(35)

A significação da prática reside não só em que sem ela seriam impossíveis todas as formas da atividade mental, mas também em que sem ela seria impossível a descoberta das conexões internas e das leis da realidade objetiva por meio dos conceitos, categorias e leis abstratas. A prática histórico-social é a base de todo o complexo processo do conhecimento científico, a base do surgimento e do desenvolvimento da ciência.

Engels observa que o surgimento e o desenvolvimento da astronomia, da matemática e da mecânica foi condicionado pelas necessidades práticas dos povos antigos. Escreve:

"Assim, desde o começo, o nascimento e o desenvolvimento das ciências são condicionados pela produção.”(36)

As necessidades práticas dos homens condicionaram o nascimento da matemática. A necessidade do cálculo, da medida das áreas, das distâncias, etc., originaram a aritmética e a geometria. A princípio, todas as operações matemáticas estavam ligadas às operações práticas. Os homens só calculavam contrapondo objetos a outros. As primeiras cifras e unidades de medida estavam ligadas aos órgãos do corpo humano — mãos, dedos, palma da mão, pés, etc.

Engels escreve:

"Como todas as demais ciências, a matemática surgiu das necessidades práticas dos homens: da necessidade de medir a terra e a capacidade dos recipientes, do cálculo do tempo e da mecânica.”(37)

O surgimento e o desenvolvimento da biologia foi condicionado pelas necessidades da medicina, de melhoramento da agricultura, da pomicultura e da pecuária. A atividade prática precedeu a teoria e condicionou o desenvolvimento da teoria.

A experiência prática multissecular foi generalizada em princípios teóricos correspondentes da ciência biológica.

"A doutrina da seleção, pelo seu conteúdo, resulta da prática multissecular, considerada sob o aspecto mais geral, dos agricultores e dos pecuaristas, que, muito antes de Darwin, criaram empiricamente espécies vegetais e raças de animais (...). A prática agrícola serviu a Darwin de base material sobre a qual elaborou sua teoria evolucionista, que explica os princípios naturais da regularidade de estrutura do mundo orgânico.''(38)

A criação da agricultura socialista em nosso país e o desenvolvimento da prática colcosiana e sovcoziana condicionaram o desenvolvimento da nova ciência biológica soviética — a biologia mitchuriniana.

"A agricultura socialista, o regime colcosiano e sovcoziano originarem uma ciência biológica própria, nova, a ciência biológica mitchuriniana, soviética, que se desenvolve em estreita unidade com a prática agronômica, como biologia agronômica."(39)

Somente baseando-se na prática social e histórica é possível um aprofundamento cada vez maior do conhecimento humano, a descoberta de novos aspectos, conexões e relações entre os objetos e fenômenos materiais, o conhecimento de suas leis internas.

Separadamente da prática é impossível solucionar de modo científico as questões teóricas, é impossível conhecer as leis da natureza viva. Somente a solução de importantes questões práticas, como as da luta contra as ervas daninhas na agricultura, da seleção dos componentes de misturas de relvas, do cultivo rápido e amplo dos bosques nas regiões de estepes e muitas outras questões, permitiram que os mitchurinianos resolvessem muitos problemas teóricos fundamentais da ciência biológica. O acadêmico Lissenko observa:

"A solução científica de problemas práticos é o caminho mais seguro para conhecer profundamente as leis de desenvolvimento da natureza viva."(40)

A prática histórico-social é a base do conhecimento não só das leis da natureza, mas também das leis do desenvolvimento

O surgimento e o desenvolvimento da teoria marxista-leninista foi condicionado pelas necessidades práticas da luta de classe do proletariado. Somente quando o capitalismo alcançou determinada maturidade, quando se desenvolveu a luta de classes dos proletários contra os capitalistas, é que se criaram as condições necessárias para o nascimento da teoria revolucionária que reflete os interesses de classe do proletariado. Expressando essas necessidades históricas, Marx e Engels criaram uma teoria científica, que constitui nas mãos do proletariado uma poderosa arma de luta pela sua libertação. A concretização e o desenvolvimento do marxismo por Lênin e Stálin estavam ligados às novas necessidades práticas do movimento revolucionário na época do imperialismo e das revoluções proletárias, na época da construção do socialismo na URSS Generalizando a nova experiência da luta revolucionária do proletariado, Lênin e Stálin elevaram a teoria do marxismo a um grau novo e superior, desenvolvendo-a e concretizando-a.

A teoria marxista-leninista se desenvolve em ligação indissolúvel com a prática do movimento operário revolucionário.

Em seu genial trabalho O Estado e a Revolução, Lênin revela o papel decisivo da prática revolucionária na elaboração por Marx e Engels da doutrina relativa à ditadura do proletariado.

Em 1848, no Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels foram os primeiros a apresentar a ideia da ditadura do proletariado; mas só se referiram em forma geral às tarefas que o proletariado teria que enfrentar, quando se transformasse em classe dominante. Nessa ocasião, a História ainda não fornecera material para a solução concreta dessa questão, e somente a experiência viva, revolucionária e prática, dos acontecimentos de 1848-1851 permitiu a Marx chegar a uma conclusão concreta, exata e "praticamente palpável”: todas as revoluções anteriores se tinham limitado a aperfeiçoar a máquina estatal, mas a tarefa do proletariado é desmontá-la, destruí-la. Lênin escreve:

"Não foram as deduções lógicas, mas o desenvolvimento real dos acontecimentos, a experiência vivida dos anos de 1848-1851, que levaram a essa colocação do problema. A que ponto Marx se atém estritamente à experiência histórica é o que mostra o fato de que, em 1852, ainda não levanta a questão concreta de saber por que substituir essa máquina estatal que deve ser destruída. A experiência ainda não fornecera a documentação necessária a esse problema, que a História só colocará na ordem do dia mais tarde, em 1871."(41)

Lênin demonstra que Marx não caía em utopia, não elaborava tratados abstratos sobre as formas do futuro Estado, mas esperava que a experiência prática da luta revolucionária de massas do proletariado apresentasse a solução desse problema fundamental da teoria marxista. E somente a experiência da luta prática dos comunardos de Paris, a tentativa que fizeram de substituir a máquina estatal burocrática por um novo tipo de Estado — o Estado proletário — permitiram que Marx, após haver estudado atentamente a experiência da Comuna, visse nela a forma estatal da ditadura do proletariado.

Lênin e Stálin concretizaram e desenvolveram a doutrina marxista da ditadura do proletariado e do Estado na base da experiência prática das três revoluções russas e na da atividade prática do Estado soviético. Lênin descobriu que o poder soviético é a melhor forma estatal da ditadura do proletariado, ressaltou a fórmula da ditadura do proletariado sob o ponto de vista do problema dos aliados do proletariado, demonstrando que a ditadura do proletariado é uma aliança particular de classe entre o proletariado e o campesinato, um tipo superior de democracia, a democracia proletária.

A doutrina marxista-leninista do Estado e da ditadura do proletariado foi concretizada e desenvolvida pelo camarada Stálin. Generalizando criadoramente a experiência revolucionária do Partido bolchevique e das massas trabalhadoras de nosso país na criação e fortalecimento do novo Estado, o camarada Stálin descobriu a essência da ditadura do proletariado, criou a doutrina de seus três aspectos, a doutrina do sistema da ditadura do proletariado e do papel dirigente do Partido bolchevique na mesma. Apoiando-se na generalização criadora da experiência prática da construção socialista na URSS, nas condições do cerco capitalista hostil, o camarada Stálin elaborou a doutrina das funções e fases básicas de desenvolvimento do Estado socialista, solucionou o problema teórico dos destinos do Estado, não só no período do socialismo, mas também no período do comunismo.

Elaborando genialmente os problemas da teoria marxista, o camarada Stálin ensina que não devemos limitar-nos a decorar suas teses isoladas e que é necessário fazê-la avançar na base da generalização da riquíssima experiência da construção do socialismo e do comunismo na URSS

"(...) Podemos e devemos exigir que os marxistas-leninistas de nossa época não se limitem a decorar algumas teses gerais do marxismo, que penetrem na essência do marxismo, que aprendam a levar em conta a experiência de vinte anos de existência do Estado socialista em nosso país, que aprendam, finalmente, a concretizar, apoiando-se nessa experiência e baseando-se na essência do marxismo, algumas teses gerais do marxismo, a torná-las mais precisas e a melhorá-las."(42)

Sendo um reflexo das necessidades práticas já maduras e da generalização da experiência revolucionária das massas, a teoria marxista-leninista revela cientificamente os meios para transformar prática e revolucionariamente o mundo, não só esclarece o presente, mas também revela as características gerais do futuro.

O camarada Stálin forneceu-nos uma caracterização clássica da unidade entre a teoria e a prática revolucionárias. Afirma:

"A teoria é a experiência do movimento operário de todos os países, considerada em seu aspecto geral. Naturalmente, a teoria deixa de ter objeto, quando não está vinculada à prática revolucionária, exatamente da mesma forma que a prática é cega se a teoria revolucionária não ilumina seu caminho. Mas a teoria pode converter-se numa grandiosa força do movimento operário, se for elaborada em ligação indissolúvel com a prática revolucionária"(43)

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O marxismo-leninismo considera a prática não só como ponto de partida e base do conhecimento humano, mas também como critério da verdade dos conhecimentos. Os clássicos do marxismo-leninismo consideraram escolásticas todas as tentativas de resolver fora da prática os problemas da verdade ou da falsidade desta ou daquela teoria.

A prática não só desmascara o agnosticismo, demonstrando a completa cognoscibilidade do mundo material, mas também refuta todos os conceitos, ideias e teorias anticientíficos, confirmando apenas aquilo que é certo e científico. V. I. Lênin escreve:

"A prática humana demonstra a exatidão da teoria do conhecimento materialista, diziam Marx e Engels, qualificando de ‘escolástica’ e de ‘subterfúgios filosóficos’ as tentativas de resolver o problema gnosiológico fundamental sem recorrer à prática"(44)

A prática serve de critério da verdade, porque comprova a teoria com a realidade material, transfere as fórmulas teóricas do reino das ideias para o reino da realidade objetiva, revelando assim sua verdade ou falsidade. As tentativas sub-reptícias dos pragmáticos americanos no sentido de substituir a prática humana real pela "experiência” subjetiva, pelo "bom êxito”, pela "vantagem”, etc., são, na realidade, uma forma de negação idealista da verdade objetiva e da realidade do mundo exterior. Segundo os pragmáticos, o conceito "prática” é destituído de significação objetiva e real, é privado de ligação com o mundo real e, por isso, assume um caráter subjetivo e idealista, e pode confirmar, de acordo com seu ponto de vista, quaisquer considerações anticientíficas que sejam úteis e proveitosas ao imperialismo.

Ao contrário de todos os agnósticos e idealistas subjetivos, Lênin demonstra que

"a prática da humanidade tem um valor (...) objetivo e real.”(45)

Enquanto os homens contemplam os fenômenos da natureza sem intervir em sua marcha natural, não podem fazer mais do que simples suposições sobre a verdade ou falsidade de seus conceitos e ideias. Mas, logo que passam da contemplação passiva da realidade à ação prática sobre ela, têm a possibilidade de verificar se suas ideias correspondem à realidade. Influenciando praticamente os objetos do mundo material e elaborando-os, os homens verificam a verdade de suas ideias e conceitos, sua correspondência com os objetos refletidos. Lênin indica que justamente

"a atividade prática demonstra ao homem a verdade objetiva de suas ideias, conceitos, conhecimentos, ciência.”(46)

No desenvolvimento das ciências naturais, o papel da prática como critério da verdade manifesta-se sempre sob a forma de observações, pesquisas e experiências realizadas cientificamente. Na astronomia, por exemplo, o critério da prática, conservando integralmente seu valor, manifesta-se sob a forma de coincidência entre as conclusões da teoria e os dados reais da ciência astronômica, isto é, os dados fornecidos pelas observações científicas.

Analisando, na base dos dados da experiência, a doutrina da atividade nervosa superior, I. P. Pávlov comprovou cuidadosa e profundamente cada nova tese e cada nova conclusão de sua teoria com numerosas experiências realizadas especialmente com essa finalidade. Fundamentando cientificamente sua tese sobre a identidade entre o sono e a inibição, I. P. Pávlov afirma:

"Com essa conclusão concordaram perfeitamente todas as numerosas observações que acumulamos durante vinte anos de trabalho sobre os reflexos condicionados, e ela foi também confirmada pelas novas experiências que propositalmente fizemos a partir dessa conclusão."(47)

Com as experiências científicas que realizou de 1933 a 1945, O. B. Lepechínskaia refutou completamente os princípios de Virchow na citologia e demonstrou a existência da vida extracelular, a origem da célula não só de outra célula mas também de substância sem estrutura celular.

A prática é o critério universal da verdade da teoria, tanto para as ciências sociais, como para as ciências naturais. O camarada Stálin afirma:

"Os dados da ciência sempre sofreram a prova da prática, da experiência. Que espécie de ciência e essa que rompeu suas ligações com a prática, com a experiência? Se a ciência fosse tal como a representam alguns de nossos camaradas conservadores, há muito teria perdido o valor para a humanidade. A ciência se chama ciência justamente porque não reconhece fetiches, porque não teme acabar com o que se torna velho e caduco porque ouve atentamente a voz da experiência, da prática."(48)

A prática é a base do conhecimento e o critério de verdade da teoria. A prática é o primário em relação à teoria e determina seu desenvolvimento. A prática possui o atributo de universalidade; abarca inúmeros vínculos e relações recíprocas entre o homem e a realidade material, que a teoria só pode abranger com unilateralidade. Em comparação com a teoria, que é apenas o reflexo ideal da realidade, a prática tem o mérito de estar em contacto com a realidade direta, porque encarna a relação mútua, objetiva e real, entre o homem e a realidade material. Lênin observa:

"A prática é superior ao conhecimento teórico, porque possui não só o mérito da universalidade, mas também o da realidade imediata."(49)

Ao interpretar o papel da prática, é preciso também proceder de maneira dialética e não metafísica, dogmática. O critério da prática tem caráter absoluto, porque apresenta uma comprovação da verdade, do conhecimento, confirma tudo o que é real, científico, e rejeita tudo o que é anticientífico, falso. Ao mesmo tempo, porém, o critério da prática contém um elemento de relatividade, porque só demonstra a verdade desta ou daquela lei, tese, etc., em determinadas condições, e não em toda parte e sempre. Toda lei da ciência reflete, sob forma abstrata, um dos aspectos e momentos da conexão universal e interdependência da realidade objetiva, mas não todos os vínculos que existem na realidade. Pela prática, verifica-se e confirma-se a verdade objetiva de uma lei. Nenhuma verificação pode, porém, transformar esta ou aquela lei em absoluto, porque a prática só confirma a verdade da lei dentro dos limites em que a lei se manifesta.

Lênin escreve:

"(...) Não devemos certamente esquecer que o critério da prática nunca pode, no fundo, confirmar ou refutar integralmente uma ideia humana qualquer que seja. Esse critério é também bastante 'vago' para não permitir que os conhecimentos do homem se tomem 'absolutos'; é, no entanto suficientemente preciso para permitir uma luta implacável contra todas as variedades de idealismo e de agnosticismo. Se aquilo que nossa prática confirma é uma verdade objetiva, única, final, daí decorre que o único caminho para essa verdade é o da ciência que se apoia na concepção materialista."(50)

A própria prática não é algo estagnado, dado uma vez por todas, mas se aperfeiçoa, se enriquece e se desenvolve. Por exemplo, a prática, por vezes, confirmava as afirmações dos químicos sobre a impossibilidade de se criarem substâncias orgânicas a partir de substâncias inorgânicas (até que os homens se tornaram capazes de fazê-lo) . O desenvolvimento posterior da ciência e da prática levou, porém, a que se criasse artificialmente muitos compostos orgânicos e assim refutou a velha verdade, substituindo-a por uma nova verdade, que corresponde ao novo nível do desenvolvimento da prática.

O desenvolvimento da prática revolucionária, mundial e histórica, do proletariado e de seu partido, torna obsoletas certas teses da teoria marxista, presas a determinadas condições históricas, e exige sua substituição por novas teses. Lênin e Stálin, generalizando criadoramente a nova experiência acumulada pela prática revolucionária, concretizaram e desenvolveram o marxismo, aplicando-o às novas condições e às novas necessidades do proletariado e de seu partido, substituindo as teses obsoletas do marxismo por novas teses.

É assim que a prática histórico-social, sendo base do conhecimento e critério de sua verdade, impulsiona o progresso da ciência para novas conquistas do pensamento humano.

O Materialismo Dialético e a Verdade Objetiva. Verdade Absoluta e Verdade Relativa

Os fundadores do marxismo-leninismo, após haverem criado uma autêntica filosofia científica, o materialismo dialético e histórico, foram os primeiros a dar uma solução justa e científica ao problema da verdade objetiva — absoluta e relativa — e desmascararam a interpretação metafísica e idealista da verdade. Em seu trabalho Materialismo e Em piro criticismo, Lênin demonstra que a doutrina da verdade objetiva está indissoluvelmente ligada à solução materialista do problema básico da filosofia, que o materialismo filosófico está ligado ao reconhecimento da verdade objetiva e que a negação desta leva inevitavelmente ao agnosticismo e ao idealismo subjetivo. Lênin escreve:

"Para ser materialista é preciso reconhecer a verdade objetiva que nos é revelada pelos órgãos dos sentidos."(51)

Negando a realidade objetiva do mundo exterior, os machistas inevitavelmente negavam a própria existência da verdade objetiva: interpretavam a verdade no espírito do idealismo subjetivo, reduzindo-a a uma forma da experiência subjetiva do homem, ao pensamento coletivo dos homens. O machista Bogdânov afirmava que

"a verdade é uma forma ideológica — a forma organizadora de experiência humana”.

Combatendo com firmeza essa concepção machista da verdade, Lênin aponta seu sentido reacionário, demonstrando que essa interpretação da verdade justifica a existência não só de todas as ideias anticientíficas, mas também de dogmas e superstições religiosas. Lênin escreve:

''Mas se não existe verdade objetiva, se a verdade (inclusive a verdade cientifica) é apenas a forma organizadora da experiência humana, está admitido o postulado fundamental do obscurantismo clerical, a porta está aberta para este último, o terreno está preparado para as ‘formas organizadoras' da experiência religiosa."(52)

Elaborando com profundidade a questão da verdade objetiva, em oposição à concepção subjetiva e idealista do machismo, Lênin dá uma definição científica, dialética e materialista desse importantíssimo conceito da teoria do conhecimento.

No conceito de verdade objetiva, Lênin inclui o conteúdo objetivo dos conhecimentos humanos, isto é, o conteúdo que é dado de fora ao homem e que depende exclusivamente do mundo exterior, da realidade objetiva, e não da capacidade cognoscitiva de determinado homem e de toda a humanidade. A verdade objetiva é o reflexo fiel da realidade objetiva nas sensações, representações e conceitos humanos. Criticando o machismo de Bogdânov, Lênin pergunta:

"(...) Existe a verdade objetiva, em outras palavras, as representações mentais do homem podem ter um conteúdo independente do sujeito, do homem e da humanidade?”(53)

V. I. Lênin fundamenta exaustivamente a existência da verdade objetiva e ilustra essa tese com dados da ciência e com fatos da vida diária. A teoria leninista do reflexo parte do reconhecimento da realidade objetiva do mundo exterior e de seu reflexo, aproximadamente fiel, na cabeça do homem. Uma vez que os conhecimentos humanos refletem com justeza a realidade objetiva existente, eles contêm a verdade objetiva. Cada teoria e cada lei científica, se refletem fielmente a realidade objetiva, se são comprovadas pela experiência, pela prática da humanidade, são verdades objetivas. Assim, por exemplo, a doutrina heliocêntrica de Copérnico é uma verdade objetiva, enquanto -a teoria de Ptolomeu não é uma verdade objetiva, porque não corresponde à realidade objetiva. A doutrina mitchuriniana é uma verdade objetiva, enquanto a teoria do weismannismo-morganismo é uma teoria falsa, anticientífica, refutada pela prática do desenvolvimento da agricultura soviética socialista. O marxismo-leninismo é uma verdade objetiva, porque revela com acerto as leis do desenvolvimento da natureza e da sociedade, aponta com acerto os caminhos para a transformação da sociedade capitalista em socialista, os caminhos para a construção do comunismo. Sua verdade é confirmada pela prática revolucionária do povo soviético, do Partido bolchevique e também pela prática da construção socialista nos países de democracia popular, pela experiência da luta dos trabalhadores de todos os países contra a escravidão capitalista.

Uma vez que a verdade objetiva é um conteúdo dos conhecimentos humanos que independe do homem e da humanidade, sua existência não está subordinada a ser ou não reconhecida por todos. A burguesia e seus ideólogos, evidentemente, não admitem a verdade da teoria marxista-leninista, mas o marxismo-leninismo, como teoria verdadeira, não só continua a existir, mas se desenvolve e estende cada vez mais amplamente sua influência, penetrando na consciência das massas trabalhadoras.

Os modernos filósofos idealistas da burguesia (os pragmáticos, os positivistas lógicos, os neorrealistas, os semanticistas, etc.) fizeram do conceito de verdade objetiva o alvo principal de seus ataques reacionários no domínio da gnosiologia. A negação da verdade objetiva lhes serve de meio de luta contra a ciência e o conhecimento científico, de meio para defender o clericalismo. E justamente com tais objetivos que os representantes do positivismo lógico eliminam da ciência a verdade objetiva, "demonstram” que a ciência não trata do mundo objetivo, mas somente do conteúdo subjetivo da experiência. Tentando desviar a ciência do caminho' do conhecimento da realidade material para o caminho do puro formalismo, exigem que a ciência contenha apenas fórmulas logicamente harmoniosas. Já no começo do século XX, W. James, representante do pragmatismo, filosofia dos businessmen americanos, proclamou que verdade é tudo aquilo que "é útil” e que garante "êxito prático". Afirma cinicamente:

"Se as ideias religiosas preenchem essas condições, se, particularmente, verificamos que o conceito de Deus satisfaz a essas condições, sob que fundamento negará o pragmatismo a existência de Deus? Para o pragmatismo será simplesente um absurdo considerar-se como ‘falso’ um conceito tão benéfico no sentido pragmático."

Essa "filosofia” que afirma que é verdadeiro tudo aquilo que for vantajoso para o rapace imperialismo americano, é continuada pelo seu ideólogo contemporâneo, J. Dewey.

J. Dewey considera o mundo real como "existência tosca”. A realidade não existe por si mesma; é condicionada e criada pelo nosso conhecimento. Todo o processo de conhecimento humano não é considerado por ele do ponto de vista do reflexo da realidade objetiva, mas apenas do ponto de vista dos "resultados do êxito”. Concebendo a ciência no espírito do subjetivismo, J. Dewey elimina dela o conteúdo objetivo, a verdade objetiva, declara a ciência uma "arte prática”, uma "forma altamente especializada da prática”. Dewey reduz a ciência a simples indicações para a "ação”, considerando suas leis como "modo de realização eficiente dos negócios”. Essa concepção pragmática da ciência expressa a situação real da ciência nos Estados Unidos, onde se acha transformada em serva dos monopólios imperialistas e dos departamentos militares.

Nas condições da sociedade de classes, as ciências sociais, em virtude de estarem ligadas às ideias políticas das classes em luta, assumem inevitável e completamente um caráter de classe. As verdades objetivas das ciências naturais, porém, não tendo relação direta com as ideias políticas das classes, assumem caráter universal e existem durante milênios, passando de época a época e de povo a povo. Sabemos que as bases da geometria euclidiana, da mecânica clássica, da eletro- dinâmica, da química, são verdades objetivas, reconhecidas por todas as classes e utilizadas por elas na prática. Entretanto, também essas bases fundamentais das ciências, que são verdades objetivas, são envolvidas em determinadas formas ideológicas, formas de concepção do mundo, que têm um caráter de classe, de partido. Por isso, toda ciência contém não só verdades objetivas irrefutáveis, que representam suas bases fundamentais, mas também determinada concepção do mundo.

Os cientistas que fazem a apologia da burguesia envolvem as verdades objetivas numa forma reacionária e idealista, tentando conciliar a ciência com o obscurantismo clerical. O capitalismo monopolista dos Estados Unidos impôs grilhões imperialistas ao desenvolvimento da ciência e subordinou as pesquisas científicas aos objetivos estreitos e egoístas dos imperialistas e de sua luta pelo domínio do mundo.

Os imperialistas americanos, objetivando conquistar o domínio do mundo, pensam em exterminar a maior parte da humanidade com as armas atômicas e bacteriológicas e obrigam a ciência a servir a seus vis objetivos. Somente a abolição do capitalismo e a passagem ao socialismo pode salvar a ciência dos grilhões imperialistas e de sua total degradação. Somente no país do socialismo vitorioso, a ciência floresce plenamente, somente em nosso país as verdades científicas objetivas se revestem da correspondente forma ideológica científica, porque a ideologia dominante é uma concepção do mundo realmente científica, o marxismo-leninismo.

★ ★ ★

A questão da verdade relativa e absoluta envolve a pergunta:

"se (. . .) as representações humanas, que expressam a verdade objetiva, podem expressá-la de pronto, inteiramente, incondicionalmente, absolutamente, ou só podem expressá-la de modo aproximado, relativo?”(54)

Ao contrário da concepção metafísica e dogmática do processo do conhecimento como descoberta de verdades eternas, imutáveis e estabelecidas de uma vez por todas, o materialismo dialético considera o conhecimento humano como um processo que se desenvolve historicamente, que procede da ignorância para o conhecimento, de um conhecimento menos completo a um conhecimento mais completo.

Cada fase do conhecimento humano é limitada por marcos históricos, o que torna os conhecimentos adquiridos incompletos, aproximados e relativos. Por isso, a verdade não é algo estabelecido e assentado de uma vez por todas, mas um processo de aprofundamento do conhecimento humano sobre o mundo objetivo que o cerca. Lênin observa:

"A verdade é um processo. Partindo da ideia subjetiva, o homem chega à verdade objetiva através da ‘prática' (e da técnica)”.(55)

O conhecimento humano tomado em seu todo possui capacidade ilimitada, encerra a possibilidade de chegar ao conhecimento completo, absoluto, do mundo material, mas em cada estágio de seu desenvolvimento histórico acha-se inevitavelmente limitado pelo nível de desenvolvimento da ciência, da técnica e das condições sociais e históricas. A capacidade historicamente ilimitada do conhecimento humano está corporificada no pensamento de várias gerações, cujos conhecimentos são limitados pelas condições históricas de sua época e pelo nível de desenvolvimento da ciência e da prática social e histórica.

Engels escreve:

"Nesse sentido, o pensamento humano é e não é soberano, e sua capacidade de conhecer é simultaneamente ilimitada e limitada. Soberano e ilimitado por sua natureza, sua vocação, suas possibilidades, seu objetivo final na História; mas não soberano e limitado em cada uma de suas aplicações e em qualquer de suas realizações."(56)

Em cada fase histórica de seu desenvolvimento, o conhecimento humano é limitado não só pelo nível de desenvolvimento da produção material, da técnica e da ciência, mas também pelo caráter das relações sociais e econômico-sociais. Historicamente isso se manifesta na orientação de classe impressa ao processo de conhecimento, na influência exercida sobre o desenvolvimento da ciência pela ideologia dominante das classes exploradoras.

Na Idade Média, por exemplo, as relações feudais e a ideologia religiosa dominante entravaram o desenvolvimento do conhecimento científico, tornavam a filosofia e a ciência da época dependentes da religião, transformando-as em servas da teologia. Em sua fase imperialista, o capitalismo também agrilhoa o processo do conhecimento científico, o desenvolvimento da ciência. Somente a vitória da revolução socialistas abole as barreiras com que as relações sociais antagônicas da sociedade exploradora dificultam o avanço do conhecimento humano e cria possibilidades ilimitadas para o desenvolvimento livre e amplo da ciência.

Por conseguinte, em cada estágio do desenvolvimento do conhecimento humano, a verdade, sendo científica e objetiva, inevitavelmente tem caráter relativo, manifestando-se como verdade relativa. O caráter relativo da verdade não deve ser compreendido no sentido de que o reflexo que ela apresenta do objeto material seja convencional, mas no sentido de que esse reflexo não é integral, no sentido de que os conhecimentos alcançados em determinada fase do desenvolvimento histórico são incompletos. O caráter relativo da verdade reside em que cada tese científica, embora sendo uma verdade objetiva que reflete fielmente esse ou aquele processo da natureza, ainda não pode abranger todos os seus aspectos e facetas, conexões e leis, necessitando ser precisado. completado, aprofundado e concretizado, o que só pode ser alcançado com o desenvolvimento ulterior do conhecimento humano.

Lênin escreve:

"Assim, o pensamento humano é, pela sua natureza, capaz de nos dar e de fato nos dá a verdade absoluta, que não passa de uma soma de verdades relativas. Cada estágio do desenvolvimento das ciências acrescenta novos elementos a essa soma de verdade absoluta, mas os limites de cada tese científica são relativos, sendo ora ampliados, ora reduzidos, à medida que as ciências progridem.”(57)

A verdade objetiva expressa a correspondência entre os conhecimentos humanos e o objeto material que eles refletem, enquanto a verdade absoluta e a verdade relativa já expressam o grau em que ele é conhecido; em que é refletido com plenitude. A verdade é relativa se ainda não dá um conhecimento completo e amplo, se ainda não reflete completamente o objeto material ou a lei da realidade; quando, porém, o conhecimento atinge a plenitude e abrange o objeto em todos os seus aspectos, quando já não necessita de maior exatidão e complementação, a verdade adquire um caráter absoluto.

Reconhecer unilateralmente que os conhecimentos humanos são apenas relativos e negar seu caráter objetivo e absoluto conduz inevitavelmente ao relativismo e, em última instância, ao idealismo. Assim acontece com muitos físicos burgueses do século XX, que elevaram ao absoluto o caráter relativo dos conhecimentos humanos, declarando que os conhecimento científicos são privados de objetividade e de qualquer valor absoluto, o que os conduziu ao idealismo físico.

Lênin escreve:

"Todas as velhas verdades da física, inclusive as que foram consideradas indiscutíveis e garantidas, revelaram-se verdades relativas; portanto, não pode haver nenhuma verdade objetiva independente da humanidade. Este é o pensamento de toda a doutrina machista, e também de todo idealismo ‘físico’ em geral. Que a verdade absoluta resulte da soma das verdades relativas, que as verdades relativas sejam imagens relativamente exatas de um objeto independente da humanidade, que essas imagens se tornem cada vez mais exatas, que cada verdade científica, apesar de sua relatividade, contenha um elemento de verdade absoluta, todas essas proposições (...) são incompreensíveis para a teoria ‘contemporânea' do conhecimento.''(58)

Nessas palavras de Lênin, acha-se demonstrada, de maneira evidente, a unidade dialética entre a verdade absoluta e a relativa, unidade que se manifesta no desenvolvimento do conhecimento científico. Toda verdade científica (se é realmente uma verdade científica) é não só uma verdade relativa, mas também uma verdade objetiva e absoluta. É uma expressão da unidade entre a verdade objetiva absoluta e a relativa. É por isso que o materialista não pode limitar-se apenas ao reconhecimento de verdades relativas; é seu dever ver nelas o conteúdo objetivo, que é o reflexo, relativamente fiel, da realidade objetiva. Além disso, deve ir mais adiante e reconhecer que toda verdade objetiva é até certo ponto uma verdade absoluta, contém determinados elementos de verdade absoluta.

Lênin escreve:

"É preciso reconhecer a verdade objetiva, isto é, independente do homem e da humanidade, admitir desta ou daquela forma, a verdade absoluta.”(59)

A correlação entre a verdade objetiva absoluta e a relativa no processo do conhecimento pode ser ilustrada com o exemplo do desenvolvimento das ideias científicas a respeito do átomo. Sabemos que até fins do século XIX o átomo era considerado na ciência como última partícula material, absolutamente indivisível, sólido, impenetrável e inerte. Essa ideia do átomo, sendo uma verdade relativa, continha não só a verdade objetiva (isto é, era o reflexo da realidade objetiva na medida em que era conhecida), mas continha também elementos de verdade absoluta, porque representava conhecimentos irrefutáveis sobre o átomo como a menor partícula do elemento químico, sobre sua capacidade de combinar-se com outros átomos e formar as moléculas, sobre o peso atômico, sobre as dimensões do átomo, etc.

A descoberta da radioatividade dos elementos, o estudo das partículas intra-atômicas, os elétrons e os prótons, etc., modificou radicalmente a concepção existente sobre o átomo. Generalizando essas descobertas e comparando, a princípio, o átomo ao sistema planetário, os físicos criaram o modelo mecânico do átomo, que expressava um novo estágio no conhecimento da natureza e acrescentava novos elementos de verdade absoluta à ideia do átomo. Posteriormente, os físicos descobriram novas partículas atômicas, o nêutron, o pósitron, etc. Na base dessas novas descobertas, o físico soviético D. D. Ivanenko criou uma nova teoria neutrônica e protônica do núcleo, elaborando um modelo de interação das forças no interior do átomo. Essas novas descobertas aprofundaram consideravelmente nossos conhecimentos sobre o átomo e introduziram na concepção científica do átomo novos elementos de verdade absoluta. Todavia, essa concepção do átomo também ainda não é definitiva: tornar-se-á mais precisa, será completada e desenvolvida, à medida que avancem os conhecimentos sobre a estrutura da matéria.

Lênin escreve:

"‘A essência' das coisas ou a 'substância' são também relativas; expressam apenas o aprofundamento do conhecimento humano a respeito dos objetos; se ontem esse conhecimento não ia além do átomo e não vai hoje além do elétron e do éter, o materialismo dialético insiste sobre o caráter transitório, relativo, aproximado de todos esses passos no conhecimento crescente da natureza pela ciência humana. O elétron é tão inesgotável quanto o átomo; a natureza é infinita, mas existe de maneira infinita (...).(60)

Cada verdade relativa é um estágio do conhecimento, a expressão da verdade absoluta, e por isso contém obrigatoriamente elementos, grãos de verdade absoluta. O marxismo-leninismo de forma alguma nega a existência de verdades absolutas, eternas. Assim, por exemplo, as bases da geometria euclidiana, da mecânica clássica, da física, da química, etc., são até certo ponto verdades eternas. Engels escreve:

"certos resultados dessas ciências são verdades eternas, verdades definitivas e sem revisão, e por isso essas ciências são chamadas de ciências exatas.”(61)

Muitas teses do materialismo dialético, que refletem as leis gerais, eternas, da realidade objetiva, são verdades absolutas desse tipo. É uma verdade absoluta, por exemplo, o conceito filosófico de matéria.

Lênin escreve:

"Afirmar que esse conceito pode 'envelhecer' é uma balbucia infantil, é uma repetição sem sentido dos argumentos da filosofia reacionária em moda."(62)

As verdades relativas a fatos (por exemplo, as datas de determinados acontecimentos históricos, a localização geográfica, etc.) também são verdades eternas. A seu respeito Lênin observa que servem de exemplo

"dessas verdades eternas e absolutas, das quais só aos loucos é permitido duvidar (...).(63)

Todas as verdades científicas, porém, manifestam-se sempre de maneira concreta, em ligação com condições concretas e históricas da própria realidade material. Por isso, o marxismo-leninismo não admite verdades abstratas, mas somente verdades concretas, que dependem de condições concretas e históricas, do lugar e do tempo. Lênin escreve:

”(...) Não existe verdade abstrata; a verdade é sempre concreta (...).(64)

Por exemplo, as conclusões do marxismo sobre a inevitabilidade da vitória simultânea do socialismo nos principais países da Europa foram uma verdade nas condições concretas e históricas do capitalismo monopolista. Mas nas novas condições históricas da época do imperialismo, tornou-se verdade a doutrina de Lênin e Stálin sobre a possibilidade da vitória do socialismo num só país, considerado isoladamente.

Na resolução de todas as questões teóricas e práticas, os chefes do Partido bolchevique, Lênin e Stálin, sempre partiram da consideração de que não há verdade abstrata, de que a verdade é sempre concreta. O camarada Stálin afirma, empregando a tese da verdade concreta à solução da questão nacional:

"Uma nação tem o direito de decidir livremente do seu destino. Tem o direito de organizar-se como lhe aprouver, naturalmente sem tripudiar sobre os direitos das outras nações. Isso está fora de discussão. Porém, como precisamente deverá organizar-se, que formas deverá ter a sua futura constituição, se se tomarem em consideração os interesses da grande maioria da nação e antes de tudo do proletariado?

(...) qual é a decisão mais de acordo com os interesses das massas trabalhadoras? A autonomia, a federação ou a separação?

Todos esses são problemas cuja decisão depende das condições históricas concretas nas quais se encontra a nação dada.

Mais ainda. As condições, como qualquer outra coisa, mudam, e uma decisão, justa num dado momento, pode revelar-se absolutamente errada num outro momento.’’(65)

A doutrina marxista-leninista sobre o caráter concreto da verdade se acha indissoluvelmente ligada à atividade prática revolucionária, é uma expressão da unidade entre a teoria e a prática revolucionárias. Lênin e Stálin sempre ligaram a solução das questões teóricas à atividade prática revolucionária do proletariado e de seu partido e, por isso, as verdades teóricas que estabeleceram têm um caráter concreto, combativo e são orientadas para um objetivo determinado.

★ ★ ★

A doutrina marxista-leninista sobre a cognoscibilidade do mundo, doutrina que revela as leis gerais do conhecimento humano, tem grande importância não só para o desenvolvimento da ciência e do pensamento humano, mas também para a atividade prática do proletariado e de seu partido. A teoria marxista-leninista do conhecimento ensina que os homens, conhecendo as leis da natureza e da sociedade, têm a possibilidade de utilizar em sua atividade prática os dados do conhecimento científico e as leis da natureza e da sociedade, descobertas pelas ciências. O camarada Stálin escreve:

"Isso quer dizer que a ciência da história da sociedade, em que pese toda a complexidade dos fenômenos da vida social, pode tornar-se uma ciência tão exata quanto a biologia, por exemplo, e capaz de utilizar as leis do desenvolvimento da sociedade para aplicação prática.

Isso quer dizer que, em sua atividade prática, o partido do proletariado deve orientar-se não por quaisquer motivos fortuitos, mas pelas leis do desenvolvimento da sociedade e pelas conclusões práticas que decorrem dessas leis.

Isso quer dizer que o socialismo deixa de ser um sonho sobre Um futuro melhor para a humanidade, para converter-se numa ciência.

Isso quer dizer que a ligação entre a ciência e a atividade prática, a ligação entre a teoria e a prática, sua unidade, deve ser a estrela polar do partido do proletariado.”(66)

O marxismo-leninismo, como ciência das leis do desenvolvimento da sociedade, das leis da revolução proletária, das leis da construção do socialismo, da vitória do comunismo, é uma poderosa arma teórica na luta histórico-mundial do proletariado e do Partido bolchevique pela transformação prática revolucionária da sociedade capitalista em socialista. Sob a direção de Lênin e Stálin, o Partido bolchevique deu vida à tese marxista de que

"a teoria materialista não pode limitar-se a explicar o mundo; deve, além disso, transformá-lo.”(67)

Orientando-se pela teoria mais avançada do mundo, o marxismo-leninismo, o Partido bolchevique realizou na URSS transformações realmente gigantescas, em consequência das quais o país soviético passou de país atrasado, agrário, a potência industrial de vanguarda, a baluarte da paz, da democracia e do socialismo em todo o mundo. No processo da atividade prática revolucionária do proletariado e do Partido bolchevique, orientada para a transformação revolucionária do mundo, Lênin e Stálin, generalizando criadoramente a nova experiência revolucionária, concretizaram e enriqueceram a teoria do marxismo, desenvolveram-na, aplicando-a às novas condições da época do imperialismo e das revoluções proletárias, aplicando-a às necessidades da ditadura do proletariado e da construção do socialismo na URSS.

A vitória da Grande Revolução Socialista de Outubro abriu possibilidades ilimitadas para o conhecimento científico, para o desenvolvimento da verdadeira ciência, liberta da escravização ao capital e às teorias pseudocientíficas e reacionárias que lhe foram impostas pelo capitalismo. Nas condições do capitalismo contemporâneo, a ciência se encontra na mais profunda crise e degradação. O capitalismo colocou a ciência num beco sem saída e já não está mais em condições de retirá-la desse beco. Somente o socialismo libertou a ciência, assegurando seu livre desenvolvimento. O país do socialismo vitorioso apresenta-se a todo o mundo como verdadeiro baluarte e cidadela da ciência e da cultura avançada.

Amplas possibilidades para o desenvolvimento da ciência e da cultura abriram-se também nos países de democracia popular, onde as massas trabalhadoras puseram por terra o jugo capitalista e enveredaram pelo caminho da construção do socialismo.

A ciência soviética avançada acha-se a serviço do povo soviético, a serviço da construção vitoriosa do comunismo. A atividade científica na URSS já não é monopólio de um estreito círculo de cientistas de gabinete, porque se tornou uma tarefa das amplas massas trabalhadoras. A ciência na URSS já não está enclausurada nas universidades, institutos, e laboratórios científicos. Hoje as descobertas da ciência começaram a ser diretamente aplicadas na produção, e o trabalho de pesquisa científica se desenvolve em escala de massas, nas fábricas e nos campos colcosianos e sovcozianos que são amplos laboratórios. Esse vínculo entre o conhecimento científico e a prática da construção do comunismo se manifesta da maneira mais brilhante na cooperação criadora que se desenvolve na União Soviética entre os trabalhadores da ciência e da produção, cooperação que não só facilita a aplicação das conquistas da ciência à produção, mas também enriquece a pesquisa científica com a fértil experiência adquirida na produção.

O período da construção do comunismo na URSS apresenta ao povo soviético uma grande tarefa — a transformação revolucionária da natureza e a subordinação de suas forças elementares ao homem. O grande plano stalinista de transformação da natureza apoia-se em dados científicos exatos e no caráter prático e transformador da ciência soviética avançada. A realização de grandes medidas de transformação da natureza, indicadas pelo plano stalinista, exige imensos esforços harmônicos dos representantes de todos os setores da ciência soviética.

Assim, a transformação prática da natureza, que se desenvolve no país do socialismo, é, por si mesma, a base decisiva para um maior impulso no desenvolvimento da ciência soviética. Os trabalhos de transformação que estão sendo executados exigiram o estudo exaustivo das condições naturais vigentes nos desertos, de seu clima, do regime das águas no subsolo, o estudo da flora, a pesquisa minuciosa do solo, a elaboração de métodos para melhorá-lo, etc., etc.

A solução dos grandiosos problemas, colocados perante a ciência soviética pelo plano stalinista de transformação da natureza e pelas grandes obras do comunismo, eleva a ciência soviética a nível mais alto. E isso significa que a construção do comunismo, que se processa na URSS, é a base decisiva para o verdadeiro conhecimento científico da natureza, para o desenvolvimento da ciência e do pensamento humanos. Essa a mais brilhante manifestação do papel decisivo da prática social e histórica no desenvolvimento do conhecimento humano.


Notas de rodapé:

(1) F. Engels — Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã, ed. russa, 1952, pág. 16. (retornar ao texto)

(2) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed russa, t. XIV, pág. 90. (retornar ao texto)

(3) Ibid. (retornar ao texto)

(4) F. Engels — Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã, ed. russa, 1952, pág. 18. (retornar ao texto)

(5) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed russa, t. XIV, págs. 344-346. (retornar ao texto)

(6) J. V. StálinQuestões do Leninismo. 11ª ed. russa, pág. 543; ver História do P.C. (b) da URSS, 2ª ed. bras., Ed. Horizonte, Rio, 1947, pág. 47. (retornar ao texto)

(7) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed russa, t. XIV, pág. 288. (retornar ao texto)

(8) Ibid., pág. 106. (retornar ao texto)

(9) Ibid., pág. 39. (retornar ao texto)

(10) I. P. Pávlov — Obras Completas, ed. russa, da Academia ae Ciências da URSS, Moscou-Leningrado, 1951, t. III. livro 1, pág. 122. (retornar ao texto)

(11) I. P. Pávlov — Obras Completas, ed. russa, da Academia ae Ciências da URSS, Moscou-Leningrado, 1951, t. III. livro 2, págs. 335-336. (retornar ao texto)

(12) S. V. Krávkov — A Visão da Cor, ed. russa, 1951, págs. 15-16. (retornar ao texto)

(13) K. Marx e F. Engels — Obras Completas, ed. russa, 1938, t. IV, pág. 33. (retornar ao texto)

(14) K. Marx e F. Engels — Obras Completas, ed. russa, 1929, t. III, pág. 627. (retornar ao texto)

(15) F. Engels — Dialética da Natureza, ed. russa, 1952, págs. 135-136. (retornar ao texto)

(16) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed russa, t. XIV, pág. 222. (retornar ao texto)

(17) Ibid., pág. 57. (retornar ao texto)

(18) S. V. Krávkov — A Visão da Cor, ed. russa, 1951, pág. 18. (retornar ao texto)

(19) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed russa, t. XIV, pág. 106. (retornar ao texto)

(20) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, pág. 157.(retornar ao texto)

(21) J. V. StálinOBRAS. ed. russa, t. I, pág. 319; ver ed. bras., Ed. Vitória, Rio, 1952, pág. 288. (retornar ao texto)

(22) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed russa, t. XIV, pág. 177. (retornar ao texto)

(23) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, pág. 329. (retornar ao texto)

(24) J. V. StálinO Marxismo e os Problemas de Linguística, ed. russa, 1952, pág. 47; ver revista Problemas, no 35, págs. 51-52. (retornar ao texto)

(25) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, pág. 188. (retornar ao texto)

(26) I. P. Pávlov — Obras Completas, ed. russa, da Academia ae Ciências da URSS, Moscou-Leningrado, 1951, t. III. livro 2, págs. 232-233. (retornar ao texto)

(27) J. V. StálinO Marxismo e os Problemas de Linguística, ed. russa, 1952, pág. 22; ver revista Problemas, no 35, págs. 46-47. (retornar ao texto)

(28) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, pág. 153. (retornar ao texto)

(29) J. V. StálinO Marxismo e os Problemas de Linguística, ed. russa, 1952, pág. 24; ver revista Problemas, no 35, págs. 47-48.(retornar ao texto)

(30) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, págs. 146-147. (retornar ao texto)

(31) F. Engels — Dialética da Natureza, ed. russa, 1952, págs. 180-181. (retornar ao texto)

(32) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, pág. 193. (retornar ao texto)

(33) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed russa, t. XIV, pág. 130. (retornar ao texto)

(34) Ibid., pág. 127. (retornar ao texto)

(35) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, pág. 215. (retornar ao texto)

(36) F. Engels — Dialética da Natureza, ed. russa, 1952, pág. 145. (retornar ao texto)

(37) F. EngelsAnti-Dühring, ed. russa, 1951, pág. 37. (retornar ao texto)

(38) T. D. Lissenko — Agrobiologia, 4ª ed. russa, 1948, pág. 608. (retornar ao texto)

(39) Ibid., pág. 614. (retornar ao texto)

(40) Ibid. (retornar ao texto)

(41) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed russa, t. XXV, pág. 381. (retornar ao texto)

(42) J. V. StálinQuestões do Leninismo. 11ª ed. russa, págs. 603-604. (retornar ao texto)

(43) J. V. StálinOBRAS. ed. russa, t. VI, págs. 88-89. (retornar ao texto)

(44) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed russa, t. XIV, pág. 126. (retornar ao texto)

(45) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed russa, t. XIV, pág. 94. (retornar ao texto)

(46) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, pág. 164. (retornar ao texto)

(47) I. P. Pávlov — Obras Completas, ed. russa, da Academia ae Ciências da URSS, Moscou-Leningrado, 1951, t. III. livro 1, pág. 375. (retornar ao texto)

(48) J. V. StálinQuestões do Leninismo. 11ª ed. russa, pág. 502. (retornar ao texto)

(49) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, pág. 185. (retornar ao texto)

(50) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed russa, t. XIV, pág. 130. (retornar ao texto)

(51) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed russa, t. XIV, pág. 120. (retornar ao texto)

(52) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed russa, t. XIV, pág. 118. (retornar ao texto)

(53) Ibid., pág. 110. (retornar ao texto)

(54) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed russa, t. XIV, pág. 110. (retornar ao texto)

(55) V. I. Lênin — Cadernos Filosóficos, ed. russa, 1947, pág. 174. (retornar ao texto)

(56) F. EngelsAnti-Dühring, ed. russa, 1951, págs. 81-82. (retornar ao texto)

(57) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed russa, t. XIV, pág. 122. (retornar ao texto)

(58) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed russa, t. XIV, págs. 295-296.(retornar ao texto)

(59) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed russa, t. XIV, pág. 120. (retornar ao texto)

(60) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed russa, t. XIV, pág. 249. (retornar ao texto)

(61) F. EngelsAnti-Dühring, ed. russa, 1951, pág. 82. (retornar ao texto)

(62) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed russa, t. XIV, pág. 117. (retornar ao texto)

(63) V. I. Lênin — OBRAS, 4.ª ed russa, t. XIV, pág. 120. (retornar ao texto)

(64) Id., pág. 380. (retornar ao texto)

(65) J. V. StálinOBRAS. ed. russa, t. II, págs. 312-313; ver ed. bras., Ed. Vitória, Rio, 1952, págs. 297-298. (retornar ao texto)

(66) J. V. StálinQuestões do Leninismo, 11ª ed. russa, págs. 544-545; ver História do P.C. (b) da URSS, 2ª ed. bras., Ed. Horizonte. Rio, 1947, pág. 48. (retornar ao texto)

(67) J. V. StálinOBRAS. ed. russa, t. VI, pág. 92. (retornar ao texto)

Inclusão 12/04/2015