Textos Históricos da Revolução

Organização e introdução de Orlando Neves


O M. F. A. PERANTE A CRISE


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«O Movimento das Forças Armadas, através da 5.ª Divisão do E. M. G. F. A., face às declarações do secretário-geral do Partido Socialista, proferidas no comício-manifestação de ontem, dia 1º de Julho, e fazendo uso da legitimidade revolucionária conquistada no 25 de Abril, confirmada pela imediata e sempre presente adesão do povo português, faz saber:

1. Não reconhece representatividade bastante a nenhuma organização partidária para que se pronuncie sobre a designação do chefe do Governo, que é da competência exclusiva do M. F. A. e, ainda muito menos, quando a evocada representatividade é de uma organização partidária que pela via eleitoral é mandatada, apenas, para colaborar na elaboração da Constituição.

2. As dúvidas insinuadas pelo secretário-geral do Partido Socialista sobre a isenção partidária do general Vasco Gonçalves, são consideradas caluniosas e, como tal, merecem o repúdio e a censura do Movimento das Forças Armadas.

3. As frequentes manifestações populares de apreço ao primeiro-ministro Vasco Gonçalves e os votos de confiança aprovados em sucessivas assembleias do M. F. A., são a prova cabal de que o general Vasco Gonçalves não só personifica a coesão militar e a unidade nacional, como, ainda, a sua permanência na direcção do Governo Provisório constitui a garantia de que o processo revolucionário português avançará com firmeza para o socialismo.

4. Neste momento de grande significado histórico, o M. F. A. reafirma o seu inteiro apoio ao camarada general Vasco Gonçalves e confia no seu comprovado espírito revolucionário para levar a bom termo a tarefa de formação do novo Governo Provisório.

«O Copcon considera oportuno tornar pública, através da 5ª Divisão do E. M. G. F. A., a firme disposição em que se encontram as autoridades revolucionárias de reprimir, com a maior energia, toda e qualquer tentativa de alteração da ordem pública. Neste sentido, estão dadas rigorosas instruções às forças de intervenção.

Espera este Comando Operacional que o civismo da população torne dispensável o uso da força.

Ficam, portanto, prevenidos todos os indivíduos e grupos de provocadores, que não será admitido nenhum pretexto de índole política como cobertura para ataques a pessoas e destruição de bens e instalações.

Muito concretamente se recomenda aos militantes de partidos e organizações políticas evitarem deixar-se envolver em provocações à autoridade revolucionária, as quais estão sendo fomentadas por elementos contra-revolucionários que procuram a destabilização da situação política e a criação de condições propícias ao regresso do fascismo.»

«Foram convocadas para este fim-de-semana movimentações partidárias que, menosprezando os reais problemas do País, fornecem campo de infiltração para manobras da reacção contra-revolucionária.

O M. F. A. verifica que, em alguns pontos do País, se registam incidentes, embora reduzidos em número e gravidade, que alertam para a possibilidade de elementos ligados às antigas estruturas repressivas — P.I.D.E-D.G.S., Legião, E.L.P., etc. — procurarem criar pontos de agitação social na tentativa de lançar trabalhadores contra trabalhadores.

Ao M. F. A., às classes trabalhadoras, aos pequenos e médios comerciantes e industriais, aos intelectuais, a todos os portugueses interessados em construir uma sociedade sem exploradores impõe-se uma serena e lúcida reflexão sobre os acontecimentos, o que implica:

  1. Vigilância sobre possíveis provocações exercidas sobre forças progressistas, com o obectivo de dividir os trabalhadores e recuperar a Revolução portuguesa para o campo do capitalismo internacional;
  2. Firme mobilização e unidade em volta do M. F. A. numa acção conjunta e coordenada de todos os militantes socialistas que contrarie qualquer tentativa reaccionária;
  3. Actuação atenta e serena desmascarando com firmeza perante o povo português os objectivos contra-revolucionários que os provocadores pretendem atingir.»
continua>>>
Inclusão 14/05/2019