Textos Históricos da Revolução

Organização e introdução de Orlando Neves


APOIO DA 5.ª DIVISÃO A AUTOCRÍTICA DO COPCON


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«Sobre a autocrítica revolucionária do COPCON e a sua proposta de trabalho político, a 5.ª Divisão do Estado-Maior General das Forças Armadas não pode deixar de se pronunciar. Fizemos hoje de manhã um plenário de oficiais, sargentos e praças e outros militares da 5.ª Divisão e do consenso geral, concluindo-se pelo apoio, na generalidade, à proposta de trabalho do COPCON». Esse é o início da opinião oficial da 5.ª Divisão do E. M. G. F. A., lido pelo capitão Clemente, através do Programa do M.F.A., na Emissora Nacional, segundo um telegrama da A. N. I.

Segundo a opinião da 5.ª Divisão, «isso não quer dizer que não haja aspectos desta proposta de trabalho que mereçam da parte da 5.ª Divisão do E. M. G. F. A., seus oficiais, sargentos e praças, críticas construtivas. A primeira crítica de fundo é que julgamos, num aspecto construtivo, que essa proposta de trabalho vem aglutinar as forças progressistas no sentido de travar a reacção, a escalada reaccionária que neste momento se assiste no País através de processos mais ou menos demagógicos, através de promessas que não conseguem esconder a sua raiz de classe, a sua raiz de interesses burgueses. É por isso que nessa proposta de trabalho do COPCON merece especial relevância o número 1 da proposta em que se afirma que um programa revolucionário para a solução da situação tem que passar, antes de tudo, pela realização do projecto de aliança Forças Armadas-Povo, o qual garante a direcção dos trabalhadores na resolução dos seus problemas. Este é um aspecto muito importante. Sem essa participação o socialismo é impossível».

Depois de comentar esse ponto importante do documento, o capitão Clemente prosseguiu na opinião oficiosa da 5.ª Divisão: «Parece que o documento está incompleto em vários aspectos. Por exemplo, o aspecto 1-8 da autocrítica, onde é analisada a acção das Campanhas de Dinamização Cultural. Isto não é uma questão de defesa das campanhas porque ela está a cargo da 5.ª Divisão, além de que nós não pretendemos ser sectários a defender aquilo que fazemos. Pretendemos sim assumir aspectos de uma crítica correcta, revolucionária. Reconhecemos e fazemos muitas vezes a nossa Própria autocrítica ás Campanhas de Dinamização Cultural. Não Podemos é embarcar ou ir em aspectos que não correspondem verdadeiramente à realidade. Diz, a dado passo, este documento, que essas campanhas, apoiadas em verbalismos, despidos de significado para quem eram dirigidos, foram na maioria dos casos, prejudiciais. Isso pode ter acontecido e elas podem ter sido prejudiciais. Prejudiciais como? Se provocaram confusão, se agrediram as pessoas. Mas agrediram quem? Agrediram os explorados ou exploradores? Os caciques ou o povo trabalhador? Os padres reacionários ou povo trabalhador? A quem incomodam as Campanhas de Dinamização Cultural? É uma pergunta que tem fácil resposta. E diz mais o documento que não foram acompanhadas de quaisquer medidas concretas, capazes de demonstrar ao povo que o objectivo era a real melhoria das suas condições de vida».

Sobre esse problema, afirma a 5.ª Divisão:

«Todas as campanhas de dinamização cultural têm por base a palavra, o abrir os espíritos. Provavelmente agrediram algumas pessoas porque elas estão alienadas e foram-lhes feitas promessas de vida que não visavam a justiça social, mas visava o bem-estar, que é diferente, visava dar uma casa ou um carro a um, quando cá fora outros não tinham comida, não tinham assistência médica, não tinham alimentação ou educação. Portanto, objectivos sociais numa sociedade capitalista. Nesse caso, é natural que sejam agredidos. Os militares progressistas chegam e falam uma linguagem que não é familiar às pessoas. Mas, pretender que se leve a palavra e que se leve a construção daquilo que falta, é efectivamente pretender algo de impossível e de irrealizável. Nós militares, nós M.F.A., nós Campanha de Dinamização Cultural, quando vamos e falamos, não podemos ao mesmo tempo falar e construir. É por isso que nesse documento, no seu ponto n.º 3 se diz que se devem criar mecanismos que permitam o apoio efectivo e imediato aos pequenos e médios comerciantes, industriais, desenvolvendo ao mesmo tempo condições que fomentem o associativismo e o cooperativismo».

Segundo a opinião oficializada da 5.ª Divisão do E. M. G. F. A., «é com a associação e organização que as pessoas que defendem os mesmos interesses da classe operária, dos camponeses devem agir.

Os camponeses que viveram isolados são facilmente permeáveis em pressões demagógicas exploradoras. Mas de uma maneira geral, ainda há um aspecto que nos parece importante referir como crítica.

«Nós não temos medo de falar dos partidos políticos», afirma a 5.ª Divisão. «Estamos fartos de que nos chamem a 5.ª Divisão do E. M. G. F. A. dos comunistas. Nós não temos nada a ver com isso. Entendemos que efectivamente a luta passa por todos os braços, todas as pessoas de esquerda, seja de que partido for. Provavelmente temos entre nós militantes de todos os partidos e com certeza devemos ter militantes do Partido Comunista Português. Não podemos confundir o Partido Comunista Português, com o Partido Popular Democrático, com o Partido Socialista, com o C.D.S., com o P.D.C., com a F.S.P., pois cada um tem o seu programa, sua forma de actuação. Mas ainda aqui temos de distinguir os grupos de actuação: os que actuam para a esquerda e os que actuam para a direita. Os que actuam na defesa dos trabalhadores e os que actuam contra os trabalhadores. Numa primeira fase, aqueles que actuam em favor dos trabalhadores, poderão actuar mal. Ainda nos falta tanta coisa e neste momento não podemos dizer quem é que actua melhor, para já temos de saber quem são os amigos da classe trabalhadora e quem são os inimigos da classe trabalhadora. Não nos interessam as promessas ou as intenções, nos aspectos subjectivos. Interessa-nos muito mais o aspecto objectivo. Sabemos muito bem quais são os partidos de esquerda que estão com os trabalhadores e quais são os partidos de direita que não estão com os trabalhadores. É por isso que não podemos aceitar numa análise menos fácil e linear, simplista, e confundir, pois temos que criticar a actuação dos partidos de esquerda, actuação dentro de uma família de esquerda. Temos que fazer críticas severas a determinadas actuações. Sentimos que neste documento há determinada crítica à actuação do Partido Comunista Português, que nos parece correcta, mas, e as críticas ao Partido Socialista?»

«E as críticas ao Partido Popular Democrático? E e as críticas ao C. D. S. e ao P.D.C.? Onde estão? Há que fazê-las honestamente, com coragem, sem receios, se não confundimos mais, em vez de aclarar. E um dos propósitos deste documento também é aclarar.

Portanto, a 5.ª Divisão do E. M. G. F. A. está com a classe trabalhadora. Estando com a classe trabalhadora, está com esta proposta de trabalho enquanto defende, como parece, os interesses da classe trabalhadora, e como tal, apoia na generalidade este documento e reserva o seu direito revolucionário de o criticar, como está fazendo neste momento».

Antes de terminar, o capitão Clemente afirmou que «não podemos esquecer aquelas pessoas que não estão ainda esclarecidas, mas estão com a revolução portuguesa. Não podemos esquecer que estamos a dar tempo de recuperação ao capitalismo, estamos a dar tempo à reacção, estamos a permitir que o capitalismo internacional se organize, organize seus ataques. Precisamos ter cuidado com aqueles que a podem infiltrar em defesa desta proposta de trabalho, em defesa deste projecto. Temos que o mais rapidamente possível darmos os braços uns aos outros e recuperar o tempo perdido, andar depressa, com cerrada vigilância porque a reacção e o capitalismo internacional se infiltram, querem destruir, dividir o M.F.A. e as forças progressistas portuguesas.»

(«Diário de Notícias» — 15-8-75)

continua>>>
Inclusão 19/05/2019