O Plano Marshall à Luz dos Fatos

A. Lêontiev


XI — Colonização da Europa Ocidental


O EX-PRESIDENTE do Conselho Robert Schuman, ao tomar a palavra a 12 de julho em Lille, declarou que o plano Marshall é «o maior empreendimento de solidariedade humana que história européia jamais conheceu».

Canção já velha! Foi com idênticas palavras servis que os homens do governo de Vichy, que antecederam Schuman, admiravam, ao dirigirem-se aos hitleristas residentes, a «solidariedade européia».

É necessário dizer que os imperialistas americanos falam muito mais claramente que seus lacaios da Europa. A revista americana «Nations Business», por exemplo, publicou em julho de 1947, sob o título significativo «Nossa geo-economia», um artigo cujo sentido ó o seguinte:

«Nossa arma é a economia, e nunca existiu país tão bem preparado para a guerra econômica como os Estados Unidos».

Deixemos de lado a fanfarronada a respeito da «boa preparação». Tenhamos paciência e veremos no que acabará esta «preparação» sob onda inevitável e destruidora da crise econômica. O que importa é a confissão aberta de que os Estados Unidos levam aos povos não a paz econômica e sim a guerra econômica. O plano Marshall encarna precisamente a política americana de guerra econômica, que tem para os países europeus as mais desastrosas conseqüências.

A participação de qualquer país no plano Marshall tem como condição, prévia um apoio sem reservas, de sua parte, à política americana de divisa) da Europa. A lei votada pelo Congresso autoriza a administração encarregada de realizar o plano Marshall a suspender as entregas de todos os materiais que possam servir à produção com fins de exportação para os países da Europa Oriental, de mercadorias que os Estados Unidos não exportam para lá. A lista destes produtos acha-se do ministério americano do comércio. É uma lista secreta. É sem dúvida um desses «segredos de Estado» que se devem guardar, no qual o governo Truman achou pretexto para fazer votar as odiosas leis anti-comunistas, copiadas dos modelos hitleristas. Oficialmente, trata-se de produtos que têm um «valor militar potencial». Mas, é fácil de compreender que nas condições atuais, qualquer artigo pode ser incluído nesta rubrica.

A casuística grosseira da lei americana tem por objetivo minar todo o comércio normal entre o Oeste e o Este da Europa. Os fantoches europeus do imperialismo do outro lado do Atlântico, pretendiam ainda recentemente que a limitação do comércio com a Europa Oriental atinge unicamente os produtos preparados com os materiais recebidos pelo plano Marshall. Os monopolistas americanos dissiparam igualmente, neste sentido, a ilusão propagada por seus sócios na Europa.

A 30 de junho de 1948, Hoffman, ao tomar a palavra durante uma conferência da imprensa em Washington, não deixou a menor dúvida quanto ã sua pretensão a um controle ilimitado de toda a exportação dos países da Europa Ocidental no Este do continente. Tendo lembrado que certos produtos americanos não são exportados para a Europa Oriental aparentemente por «razões estratégicas», Hoffman declarou que:

«se estes produtos não são exportados pelos Estados Unidos, também não devem ser exportados pelos países que tomam parte do plano Marshall».

Poderia alguém se expressar mais claramente? Hoffman pretende demonstrar que é pelo encorajamento do comércio de todos os produtos que não são «contrabando». Mas esta afirmação hipócrita nada muda aos fatos. Pois o essencial é que o delegado dos monopólios americanos para os negócios dos países da Europa Ocidental deu a entender, com a mais completa sem cerimônia, que considera estes países como colônias americanas.

Os jornais ingleses, especialmente o «Manchester Guardian», informaram que a resposta de Hoffman «provocou confusão em Londres». Esta confusão explica-se facilmente: Hoffman com sua franqueza brutal arrancou a máscara. Ora, seus clientes europeus teriam preferido esconder, como doença secreta, este grau vergonhoso de dependência aos Estados Unidos. Teriam preferido calar a verdade a respeito de uma tão completa perda de sua independência, pois esta verdade não pode deixar de levantar a indignação de milhões e milhões de europeus.

A política de divisão dá Europa é funesta, acima de tudo, para os países do Oeste europeu, do ponto de vista de seus interesses econômicos e políticos vitais.

Os países da Europa Ocidental sempre tiveram na Europa Oriental um mercado, amplo e vantajoso, para os produtos manufaturados, assim uma fonte certa de abastecimento de produtos alimentícios e matérias primas. O fato de um certo número de países da Europa central e sul-oriental terem seguido o caminho da democracia popular, não diminuiu de modo nenhum a importância desta relações econômicas para os países da Europa Ocidental. Claro, as democracias populares não serão, nunca mais, objeto de dominação dos monopólios estrangeiros nem da exploração colonial pelo capital vindo dos outras países. Mas em compensação, estas democracias, tendo se empenhado no caminho da industrialização em grande escala, podem constituir um vasto mercado para as máquinas e ferramentas produzidas na Europa Ocidental. Por outro lado estes países que estão em perspectiva de elevar rapidamente e modernizar sua agricultura, poderiam fornecer aos países do Oeste europeu, em condições vantajosas, para ambos os lados, quantidades crescentes de produtos alimentícios e matérias primas.

Segue-se assim que o rompimento previsto por Washington, das relações tradicionais que sempre existiram entre os países da Europa Ocidental e seus vizinhos do continente, aumenta imensamente a instabilidade da economia do Oeste europeu e cria-lhe inúmeras dificuldades suplementares.

A divisão sob o plano político, isto é o desmembramento da Europa, estipulada no plano Marshall, como uma de suas cláusulas essenciais, enfraquece seriamente a capacidade de resistência dos países da Europa Ocidental à pressão, ao americano. A política de cisão da Europa impede estes países de manobrarem na arena internacional, colocando os mesmos, finalmente, na necessidade de renunciarem a uma política externa independente, que corresponda a seus próprios interesses nacionais. Tornaram-se cada vez mais uns piões nas mãos dos negocistas de Washington.


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Inclusão 28/03/2008