A importância da liderança da classe trabalhadora nas lutas de libertação dos povos do Terceiro Mundo, bem como o poder potencial da unidade proletária multinacional sob liderança do Terceiro Mundo, são fortemente evidenciados neste artigo. Os camaradas chicanos e latino-americanos que o escreveram descrevem como essa unidade deve ser construída através da luta, e sublinham a importância de uma organização comunista multinacional que assuma a direção no desenvolvimento da luta e na forja dessa unidade.
Em Maio de 1968, Mao Tsé-Tung fez uma declaração em apoio à luta do povo afro-americano contra a repressão violenta. Sublinhou que, em última instância, a contradição entre as massas Negras e a classe dominante dos EUA é uma contradição de classe; que, por essa razão, a luta do povo Negro está destinada a fundir-se com o movimento operário americano; e que isso acabará por pôr termo ao domínio criminoso do capitalismo monopolista dos EUA.
Enquanto membros chicanos da União Revolucionária (UR) acreditamos firmemente que a declaração de Mao se aplica igualmente à luta do povo chicano; que, em última instância, a libertação chicana é uma frase vazia, a menos que signifique levar a luta até ao fim — a destruição do imperialismo norte-americano pela revolução proletária.
Este artigo não pretende substituir uma análise aprofundada da relação entre a luta de libertação nacional chicana e a revolução proletária nos EUA. O que este artigo faz é relatar brevemente algumas experiências práticas de camaradas chicanos da UR na articulação do nosso entendimento do Marxismo-Leninismo-Pensamento de Mao Tsé-Tung com as lutas do nosso povo.
Em primeiro lugar, traçaremos o percurso através do qual viemos a compreender — num processo de luta e posterior balanço dos nossos sucessos e fracassos — a necessidade de nos basearmos na classe trabalhadora chicana.
No início de 1970, foi formado um coletivo da UR inteiramente composto por camaradas chicanos numa localidade específica. A criação deste coletivo “inteiramente pardo” (all-brown) não se baseava em qualquer princípio de “autodeterminação” no seio de uma organização comunista. Numa organização deste tipo, que pratica o centralismo democrático, não devem existir secções autónomas. Este coletivo surgiu a partir de uma formação de base em Marxismo-Leninismo-Pensamento de Mao Tsé-Tung iniciada por um membro do UR na comunidade.
Ao formar este coletivo, compreendíamos a necessidade de organizar os chicanos e sentíamos entusiasmo por desencadear a luta contra a opressão nacional dos chicanos. Mas tínhamos pouca noção sobre com que sector de La Raza deveríamos nos ligar e basear o nosso trabalho, ou como deveríamos fazê-lo. Esta indefinição estratégica levou-nos naturalmente à juventude e aos estudantes, pois era entre eles que tínhamos amigos e contactos, e porque nos parecia que eram os mais predispostos a lutar e a aceitar ideias revolucionárias.
Devido aos contactos que alguns jovens chicanos mantinham com a secção local do Black Panther Party, já se tinha formado um núcleo dos Brown Berets. Unimo-nos aos Brown Berets com a intenção de os ajudar a transformarem-se numa organização de massas viável. Tal não aconteceu, e, eventualmente, o grupo dos Brown Berets(11) desfez-se devido a contradições internas entre os seus membros. Não obstante, o grupo deixou a sua marca. No seu auge, os Brown Berets dirigiram uma paralisação escolar de centenas de jovens, que organizaram uma manifestação até uma loja Safeway local, onde manifestaram apoio à greve dos trabalhadores agrícolas e destruíram uvas colhidas por fura-greves.
Após isto, vários dos ex-Brown Berets politicamente mais avançados começaram a organizar uma campanha de defesa em torno de Los Siete de la Raza(12). Los Siete eram um grupo de jovens latino-americanos falsamente incriminados de terem assassinado um polícia de São Francisco. Mais uma vez, a maioria dos esforços dirigia-se à juventude da comunidade, mas, pela primeira vez, alguns dos seus pais envolveram-se. Exibiram-se filmes em casas particulares e realizávamos discussões sobre o papel dos tribunais no capitalismo e sobre a importância de construir um movimento de massas para libertar os prisioneiros políticos.
Com o passar do tempo, envolvemo-nos em trabalho juvenil ainda mais amplo, centrado sobretudo num centro chicano e na luta pelo seu desenvolvimento. Trabalhámos com um número considerável de jovens e levámos muitos deles a várias manifestações. Contudo, apesar de alguns sucessos pontuais, não se chegou a desenvolver nenhuma atividade contínua ou organização estável. Tal deveu-se, em parte, à nossa própria inexperiência, mas também à instabilidade política dos jovens com quem trabalhávamos. Por vezes revelavam enorme entusiasmo pela luta, mas, enquanto grupo, nunca demonstraram uma dedicação consistente em participar numa luta prolongada. Num momento estavam nas linhas de piquete do boicote à alface, e no seguinte perdiam o interesse, começando a discutir entre si, a consumir comprimidos ou a procurar alguma festa.
Fazendo o balanço das debilidades do nosso trabalho, decidimos procurar um sector mais estável da juventude chicana. Assim, concentrámo-nos no instituto politécnico local (junior college). Aí, a juventude chicana encontrava-se mais concentrada e muitos estudantes tinham empregos a tempo parcial. A nossa abordagem consistia em envolver-nos com as forças ativas na Associação de Estudantes Chicanos (Chicano Student Union).
Nas aulas de Estudos Chicanos, procurávamos orientar os debates para uma compreensão mais científica e materialista da história chicana, tentando isolar as ideias nacionalistas estreitas e de carácter burguês, contrapondo-lhes ideias proletárias e internacionalistas. Esperávamos que a Associação de Estudantes Chicanos se ramificasse e assumisse de forma ativa as lutas da comunidade chicana. Acreditávamos que, uma vez iniciado esse processo, poderíamos envolver também os sectores menos estáveis, mas combativos, da juventude chicana da comunidade.
Ao longo do ano houve lutas e algumas pessoas mais avançadas deram um passo em frente. Porém, quando surgiam questões exteriores à situação imediata, havia preocupação, mas pouca ação. Assim, quando surgiram lutas relacionadas com trabalhadores chicanos locais, muito se falou, mas pouco se fez.
Foi então que algo aconteceu que nos abriu os olhos para a necessidade de basearmos o nosso trabalho prático junto da classe trabalhadora chicana no próprio ponto de produção. Tratou-se da luta ideológica que eclodiu no outono de 1970 no seio da União Revolucionária.
Os camaradas do Terceiro Mundo participaram ativamente nos três meses de luta ideológica que ocorreu no seio da UR. Ao combatermos a abordagem pequeno-burguesa da revolução defendida por alguns elementos da nossa organização, percebemos o papel particularmente importante que os membros do Terceiro Mundo no interior da UE tinham no desenvolvimento da compreensão da nossa organização sobre a luta nacional e a sua relação com a luta de classes em geral. O que nos vinha a travar, em certa medida, era não termos realmente apreendido a importância de basear o nosso trabalho prático na classe trabalhadora do Terceiro Mundo e de desenvolver a direção da classe trabalhadora no seio das lutas de libertação nacional.
Começámos a compreender a importância vital que tinha, para o movimento revolucionário, desenvolver experiência prática neste domínio. Assim, os membros do Terceiro Mundo recomendaram coletivamente uma mudança, de modo a que a maioria dos nossos membros oriundos do Terceiro Mundo passassem a organizar trabalhadores no local de trabalho.
Alguns dos membros chicanos da UR conseguiram emprego numa fábrica bem conhecida em toda a comunidade chicana: primeiro, por ser uma fábrica que contratava chicanos; segundo, pelo modo como o proprietário e a sua administração branca tratavam os trabalhadores chicanos. A composição nacional dos trabalhadores nesta fábrica era aproximadamente 90% chicanos e mexicanos, 8% portugueses, e apenas um punhado de trabalhadores brancos e Negros.
Toda esta indústria, da qual a fábrica fazia parte, empregava muitos trabalhadores mexicanos. Como disse um proprietário: “Os mexicanos são bons metalúrgicos!” O sindicato tinha também muitos membros mexicanos e alguns representantes fiduciários. Muitos delegados sindicais eram chicanos, embora não houvesse dirigentes sindicais chicanos. A maioria das unidades fabris organizadas pelo sindicato eram pequenas (5 a 100 trabalhadores – quase todos homens), e a maior parte podia ser justamente designada por “oficinas de exploração intensiva” (sweatshops). O sindicato não lutava com vigor e a maioria dos seus próprios associados não se identificava de todo com ele.
Na fábrica específica onde nos organizámos, a situação dos trabalhadores era muito má. Por exemplo, o ritmo de trabalho era intolerável devido ao período probatório de 90 dias, e porque a antiguidade não contava para promoções. Quanto ao período probatório, costumava ser mais curto, mas quando surgiram fundos federais para o programa de Formação no Trabalho (On the Job Training - OJT), o proprietário conseguiu negociar a sua extensão para 90 dias. Assim, começou a contratar trabalhadores ao abrigo do programa OJT, sendo que o governo federal pagava um terço do salário dos “estagiários”.
Como os contratos OJT apenas cobriam um “período de formação” de 90 dias, o proprietário despedia os “estagiários” perto do fim do período probatório, antes de estes adquirirem qualquer proteção sindical. Em dois ou três anos, a empresa “formou” cerca de 100 homens – mas atualmente não se encontram mais de dois ou três destes trabalhadores na empresa.
No que respeita às promoções, uma vez que estas não se baseavam na antiguidade, era promovido o homem que trabalhasse mais arduamente. Além disso, a empresa contratava mexicanos que podiam ter problemas de imigração, dificuldades linguísticas ou que preferiam trabalhar intensamente num emprego industrial em vez de nos campos. Por esta razão, o ritmo de trabalho era extremamente duro.
Com isto, surgia a discriminação. Por exemplo, por mais que um mexicano trabalhasse, as promoções eram sempre atribuídas primeiro a trabalhadores brancos ou portugueses. Em termos gerais, tudo o que a empresa quisesse era imposto. O sindicato nada fazia, exceto comparecer de três em três anos para negociar um contrato de rendição.
Na realidade, os salários deveriam ser muito mais altos do que são atualmente. Mas o sindicato permitia que o proprietário cortasse os salários de entrada todos os anos, a fim de compensar os aumentos salariais dos trabalhadores com mais antiguidade.
O poder sindical (isto é, o cargo de delegado sindical (shop steward) e quaisquer outras posições de direção sindical na fábrica) era detido por um pequeno grupo de trabalhadores mais velhos, vendidos, na sua maioria brancos e portugueses, mas incluindo alguns mexicanos. Tratava-se principalmente de capatazes e operários especializados, com uma média de cerca de 10 a 12 anos de casa. Recordavam-se de quando trabalhavam lado a lado com o proprietário, quando a empresa ainda era pequena. Achavam que o proprietário era razoável: pagava-lhes mais do que o estipulado no contrato, não os pressionava e, em geral, tratava-os bem.
Um segundo grupo na fábrica era composto por chicanos contratados nos últimos dois anos, quando a empresa entrou em “expansão”. Eram sobretudo jovens, mas também se agrupavam em torno de alguns trabalhadores de meia-idade com pouca antiguidade. O que tinham em comum era o facto de ocuparem os postos de trabalho pior remunerados, sofrerem o maior assédio por não aceitarem trabalhar como bois, e serem alvo da discriminação racial mais intensa. Este grupo, naturalmente, odiava o proprietário e a empresa.
Um terceiro grupo na fábrica era constituído por alguns homens com cerca de 10 a 12 anos de antiguidade, que ocupavam alguns dos melhores postos, mas que nunca se prestaram a ser lambe-botas. Sempre tinham lutado pelos seus direitos, tentaram organizar-se para conquistar melhores contratos e zelavam pelos trabalhadores com menos tempo de casa. Por exemplo, assinalavam-nos riscos de segurança. Pressionavam o sindicato a intervir e a tomar algumas medidas, mas este recusava, porque o grupo de capatazes que controlava o sindicato se opunha a esses trabalhadores.
O segundo grupo de jovens com pouca antiguidade não se opunha ao terceiro grupo, mas também não se unia a ele. Os membros da UR basearam a sua organização no segundo grupo, mas sobretudo por razões subjetivas. Estes trabalhadores eram jovens, odiavam a empresa e eram mais acessíveis ao diálogo. Contudo, os membros da UR confundiam essa retórica militante com “consciência de classe”. Além disso, o segundo grupo interpretava incorretamente que o terceiro grupo apenas agitava por razões egoístas. Os membros da UR não viam necessidade de se unir ao terceiro grupo, pois estavam “a organizar” os militantes faladores.
Há cerca de um ano, o terceiro grupo de trabalhadores iniciou uma campanha de petição para destituir o delegado sindical amarelo, um chicano. Três quartos dos trabalhadores assinaram uma petição pedindo novas eleições. O grupo que liderava a campanha levou a petição a uma reunião sindical e foi-lhe dito que a questão seria resolvida em poucos dias. Tal não aconteceu com essa rapidez. A empresa começou a perseguir fortemente o grupo, exigindo maior produção e tentando, em geral, intimidar os seus membros. Intimidavam-se os homens com exigências como a de manterem a cabeça sempre baixa nas máquinas e recusavam-lhes horas extraordinárias, mesmo quando lhes cabia o direito de as fazer em vez de outros. Atribuíam a este grupo de “perturbadores” a culpa de tudo o que se passava na fábrica.
Este grupo de trabalhadores, de facto, causava problemas. Quando o sindicato não realizou eleições, o grupo recorreu à direção nacional. Esta, naturalmente, remeteu novamente a questão para o local. Os dirigentes do sindicato local, como já dissemos, estavam alinhados com a empresa e com o delegado sindical amarelo. Nas reuniões sindicais faziam comentários sarcásticos sobre o grupo e afirmavam que tudo estava muito bem na fábrica.
Finalmente, vários meses após o início de todo o processo, e porque os homens mantiveram a pressão apesar da perseguição da empresa e da atitude do sindicato, os dirigentes sindicais apareceram numa tarde para realizar eleições. Supostamente votar-se-ia nesse mesmo dia – sem preparação, sem reuniões para discutir os problemas – nada. Os trabalhadores mais experientes perceberam a manobra e exigiram que a votação fosse adiada por três dias. Três dias depois a votação realizou-se. Porém, em vez de eleições com candidatos, o sindicato submeteu a votação a questão de saber se queríamos eleições, apesar de três quartos dos trabalhadores já terem assinado uma petição a exigir eleições.
O representante sindical distribuiu boletins com “SIM” e “NÃO”. Mas o que estávamos a votar? Muitos trabalhadores, sobretudo os que não entendiam inglês, disseram mais tarde que não sabiam sequer como tinham votado. A eleição perdeu-se por 8 votos, mas era difícil analisar os resultados devido à enorme confusão. O que faltou foi organização e informação acerca da questão.
Mais tarde, nessa mesma semana, circulou uma nova petição, declarando que os signatários apoiavam os esforços para melhorar as condições de trabalho. Tratava-se sobretudo de uma demonstração de confiança nos trabalhadores mais velhos, com consciência de classe, que tinham vindo a dirigir a luta. No primeiro dia em que foi distribuída, o líder da campanha da petição foi despedido. Nesse momento, os dois grupos – o segundo e o terceiro – perceberam que o despedimento constituía um ataque grave contra todos. Nesse fim-de-semana, um pequeno número de trabalhadores de ambos os grupos reuniu-se e planeou uma estratégia para organizar a fábrica e reconquistar o posto de trabalho do camarada despedido. Outros membros do Terceiro MundoThird da UR, que não trabalhavam na fábrica, estiveram presentes nessa reunião e ajudaram os trabalhadores a redigir um panfleto.
O panfleto pedia aos trabalhadores que colocassem questões sobre o despedimento. Não teria o homem sido despedido por lutar no interesse de todos os trabalhadores? O que estava o sindicato a fazer? Será que o sindicato tinha realmente concordado com o despedimento, como dizia a empresa? Porque é que o delegado sindical foi tão rápido a alinhar com a empresa e a despedir o homem? O panfleto aterrorizou a empresa, e desde então nunca mais foi a mesma!
Os restantes trabalhadores da fábrica aproximaram-se dos membros da UR e dos operários com consciência de classe que dirigiam a luta. Disseram: vamos à reunião sindical e vamos fazer barulho. Nessa altura, os membros da UR na fábrica, juntamente com outros membros da organização oriundos do Terceiro Mundo, estavam firmemente aliados ao terceiro grupo de trabalhadores mais velhos. O segundo e o terceiro grupos uniram-se e realizaram uma reunião numa casa particular. Apenas trabalhadores de confiança foram informados. O local nunca foi anunciado; em vez disso, os trabalhadores limitavam-se a seguir um carro que servia de guia. Tomaram-se todas estas precauções e, mesmo assim, compareceu quase um terço da fábrica. Foi elaborada uma estratégia: tornar a empresa o alvo principal e deixar que os dirigentes sindicais corruptos revelassem as suas verdadeiras cores no processo.
Levar o despedimento à arbitragem e ao Conselho Nacional para as Relações Laborais (National Labor Relations Board - NLRB), mas exercer tanta pressão que pudéssemos conseguir resolver o caso antes da arbitragem.
Alguns de nós escreveram artigos para o jornal local dos trabalhadores. Distribuímos panfletos, unimo-nos e defendemo-nos mutuamente. Todos os que faziam parte do comité começaram a zelar pelos seus camaradas de trabalho. A unidade estava lá – era evidente. E, em todas as oportunidades, hostilizávamos a empresa. Começámos a exigir formulários de queixa, a apresentar objeções às políticas da empresa e do sindicato, e deixámos claro ao sindicato que representávamos uma grande parte da fábrica e que estávamos ali para ficar.
O trabalhador recuperou o seu posto e o sindicato concedeu-nos eleições. Apresentámos um operário chicano militante e ativo como candidato a delegado sindical – venceu por esmagadora maioria. Os delegados sindicais, com o total apoio dos trabalhadores e os esforços pouco convictos do sindicato, começaram a resolver algumas das questões económicas do dia-a-dia. As vagas de emprego passaram a ser afixadas, a empresa foi obrigada a devolver férias que tinha roubado a alguns trabalhadores, e já não é exigido aos trabalhadores o mesmo ritmo quase insuportável de antes.
Mas a organização política também prossegue. Por exemplo, o jornal local dos trabalhadores vende-se amplamente na fábrica. Alguns trabalhadores participaram em fóruns sobre o socialismo na China e sobre a história do movimento operário. Um grupo considerável de trabalhadores e das suas famílias participou, este ano, na manifestação do 1.º de Maio. E estamos neste momento a investigar formas de ligar as lutas dos trabalhadores chicanos desta fábrica às lutas dos trabalhadores chicanos de outras fábricas da nossa região e às lutas de outros sectores do povo chicano.
Enquanto comunistas, através do estudo e da nossa experiência prática, chegámos a ver com muita clareza a importância de fazer dos trabalhadores chicanos a base principal do movimento chicano. Os trabalhadores chicanos possuem uma consciência nacional muito elevada e, por enfrentarem discriminação no local de trabalho, são fortemente anti empresa. Além disso, como trabalhadores no ponto de produção, têm uma consciência muito clara da exploração. Na primeira reunião de organização para recuperar o posto de trabalho do chicano despedido, um trabalhador mais velho, oriundo do México, levantou-se e disse: “O problema que enfrentamos na fábrica resulta de uma só coisa – o sistema de exploração. E devemos destruir esse sistema!”
Isto demonstra o verdadeiro potencial revolucionário dos trabalhadores mexicanos e mexicano-americanos (chicanos). Por exemplo, estamos a ver o serviço de imigração ser cada vez mais utilizado contra os trabalhadores de nacionalidade mexicana. Isto deve-se à atual crise económica. Os trabalhadores da fábrica podem perceber o papel do Estado na repressão do movimento de La Raza através do assédio por parte dos serviços de imigração. Podem também compreender que é o imperialismo que obriga os mexicanos a abandonar as suas casas para procurar emprego aqui. E os trabalhadores da fábrica veem igualmente a guerra no Vietname como uma guerra de exploração.
Os trabalhadores desta fábrica estão prontos a apoiar tudo o que faça avançar La Raza; estão prontos a apoiar outros trabalhadores nas suas lutas. Enquanto comunistas e chicanos, devemos envolver-nos cada vez mais na organização da classe trabalhadora chicana. O movimento de La Raza no seu conjunto deve ser dirigido pela classe trabalhadora. Os trabalhadores chicanos desempenharão um papel dirigente no movimento revolucionário e, enquanto comunistas, devemos levar o Marxismo-Leninismo Pensamento de Mao Tsetung aos trabalhadores de La Raza.
Foi isto que compreendemos mais claramente através do trabalho naquela oficina de exploração com os trabalhadores chicanos e mexicanos. Com uma melhor compreensão da questão de classe e de como esta se insere no movimento de La Raza, deslocámos alguns camaradas chicanos para um grande armazém, onde havia alguns trabalhadores chicanos e Negros, mas onde a maioria dos trabalhadores era branca. Também tínhamos camaradas brancos a trabalhar nesse armazém.
Nesse armazém, acumulavam-se numerosas queixas. Os nossos camaradas, chicanos e brancos, passaram muito tempo a fazer agitação em torno dessas queixas. Os trabalhadores avançaram de forma súbita e espontânea, com uma greve selvagem, primeiro nesse armazém e depois noutro, organizado no mesmo grande sindicato.
A primeira greve selvagem ocorreu num complexo que empregava cerca de 1.000 trabalhadores. Na secção específica onde a greve começou, havia cerca de 400 trabalhadores. No total, participaram 600 trabalhadores na paralisação, à medida que outras secções do complexo encerravam e se juntavam à greve. A vasta maioria dos trabalhadores era branca. Como de costume, a discriminação racial mantinha o número de trabalhadores do Terceiro Mundo muito abaixo do dos brancos. A maioria dos trabalhadores Negros tinha menos de 4 anos de antiguidade, alguns no máximo 8 anos. Os trabalhadores chicanos encontravam-se um pouco melhor, com alguns a terem até 10 anos de antiguidade.
A tensão vinha-se acumulando há meses antes da greve selvagem. A empresa adiava e recusava aceitar as queixas que se acumulavam contra si. Todas as semanas surgiam novos “regulamentos internos” da empresa, regimentando e controlando ainda mais a vida dos trabalhadores. Cartas de advertência eram distribuídas à menor infração.
A empresa conseguiu acelerar o ritmo de trabalho e manter os operários divididos entre si através do velho estratagema de opor empregados a desempregados. Em média, cerca de 60 homens provenientes do centro de contratação eram utilizados diariamente para substituir trabalhadores regulares ausentes. Estes trabalhadores ocasionais não tinham qualquer proteção ao abrigo do contrato sindical, nunca eram contratados permanentemente e podiam ser colocados numa lista negra ao menor pretexto. Assim, enquanto a quota de produção para um trabalhador regular era de 800 a 900 peças por dia, o trabalhador ocasional era forçado a produzir entre 1.200 e 1.300 peças. Por diversos meios, a empresa pressionava os trabalhadores regulares a acompanhar a elevada produtividade do trabalhador ocasional.
Uma semana antes da greve selvagem, ocorreram dois acontecimentos que revoltaram os trabalhadores do Terceiro Mundo e alguns dos operários brancos mais ativos e com maior consciência de classe. Um dos incidentes envolveu racismo descarado por parte de um supervisor da empresa. Este supervisor disse a um grupo de trabalhadores chicanos que queria vê-los a “trabalhar arduamente e a suar como um preto (nigger).” Estando próximos e ouvindo-o, encontravam-se vários trabalhadores Negros.
Apanhada em flagrante, a empresa apresentou uma carta de desculpas a ser afixada no quadro de avisos da oficina. Nessa carta, o supervisor racista afirmava ter utilizado a palavra “nigger” como uma “figura de estilo” e sem qualquer intenção depreciativa. Naturalmente, os trabalhadores Negros não se deram por satisfeitos com esta desculpa sem sentido e começaram a agitar-se pela demissão ou transferência do supervisor.
O segundo incidente foi o despedimento de um trabalhador Negro mais velho, noutra secção do complexo. Poucos operários (mesmo entre os Negros) da secção onde a greve selvagem começou o conheciam pessoalmente. A notícia do despedimento chegou até nós por boca a boca. Ele foi despedido por, alegadamente, ter roubado um cacho de bananas. Vários seguranças da empresa seguiram-no até ao carro à hora de saída, agrediram-no e revistaram o veículo, arrastaram-no de volta e acorrentaram-no à vedação da empresa. Os supervisores intimidaram o trabalhador com ameaças de acusações criminais para o forçar a assinar uma confissão. Tendo obtido a assinatura, a empresa recusou-se a acionar qualquer procedimento de reclamação, alegando que o assunto estava resolvido.
Os trabalhadores Negros reconheceram, no tratamento dado a este trabalhador Negro mais velho, a prática comum da opressão policial fascista nas comunidades Negras, bem como a opressão de classe exercida sobre os trabalhadores em geral. Trabalhadores brancos mais avançados também o compreenderam dessa forma. Mas a maioria dos trabalhadores brancos viu o incidente apenas como um exemplo de opressão de classe, como mais um caso da empresa a tratar injustamente um trabalhador.
Foi apenas com o despedimento de um delegado sindical chicano, por se recusar a cumprir uma ordem direta, uma semana depois desses dois acontecimentos, que a grande maioria dos trabalhadores brancos passou a reconhecer estes ataques como ataques racistas contra os trabalhadores do Terceiro Mundo, bem como como ataques contra todos os trabalhadores. Este delegado sindical chicano era o mais combativo e o mais respeitado de todos os delegados na fábrica. Para além de participar e assumir a liderança nas lutas nacionais dos trabalhadores chicanos e Negros dentro da fábrica, era também o principal dirigente das lutas económicas quotidianas de todos os operários. A empresa já havia tentado despedi-lo três vezes no último ano devido às suas atividades. No dia seguinte ao seu despedimento, 400 trabalhadores Negros, chicanos e brancos abandonaram os postos de trabalho. No dia seguinte, mais 200 juntaram-se e paralisaram outra secção.
Analisando dialeticamente o desenrolar dos acontecimentos na fábrica, percebemos como o acirramento da luta nacional conduziu a um nível superior de unidade na luta de classes. Algum tempo antes da greve selvagem, os membros da UR procuravam desenvolver uma campanha contra o aumento do ritmo de trabalho na fábrica. Mas os trabalhadores efetivos permaneciam divididos em relação aos trabalhadores ocasionais “desempregados”. Ao apoiarem ativamente a luta nacional dentro da fábrica, os membros da UR conseguiram desenvolver um nível superior de unidade em torno da questão dos trabalhadores ocasionais. Quando os grevistas elaboraram a sua lista de reivindicações à empresa, além do reinício de funções do delegado sindical chicano e do trabalhador Negro mais velho, e do despedimento do supervisor racista, incluíram também a exigência contra o assédio e os abusos específicos sofridos pelos trabalhadores ocasionais, bem como outras reivindicações de carácter económico.
A primeira greve selvagem durou três dias, tendo a empresa acabado por satisfazer todas as reivindicações. A readmissão do delegado sindical chicano não ocorreu de imediato, mas os trabalhadores regressaram ao trabalho sob o entendimento de que a questão seria submetida a arbitragem imediata. O delegado sindical chicano foi readmitido poucas semanas depois, mas apenas porque os trabalhadores não deixaram que a luta morresse após o regresso ao trabalho. Ao abrandar o ritmo e sabotar a produção, “convenceram” a empresa de que o tribunal arbitral deveria decidir a favor do delegado sindical.
Durante a greve selvagem, as reivindicações dos trabalhadores foram em certa medida atenuadas, sobretudo devido à intervenção de um delegado sindical chicano que via o elevado nível de combatividade e unidade dos trabalhadores como uma ameaça, não apenas para a empresa, mas também para as posições de autoridade dos dirigentes sindicais. Com um discurso aparentemente combativo, procurou usurpar a liderança da greve selvagem e, fazendo circular rumores através dos seus acólitos, que provocaram alguma divisão, conseguiu pôr fim à paralisação antes que esta se estendesse a outras secções do complexo.
Na segunda greve selvagem, os trabalhadores, já conscientes do papel desempenhado pelo delegado sindical chicano, mantiveram a liderança nas suas próprias mãos. Não regressaram ao trabalho até que todas as suas reivindicações fossem imediatamente e integralmente satisfeitas.
O contexto da segunda greve selvagem foi semelhante ao da primeira. Um delegado sindical Negro assumira a dianteira na luta contra a empresa e tornara-se conhecido como o porta-voz mais combativo dos interesses de classe de todos os trabalhadores. Quando a empresa o despediu, os trabalhadores entraram em greve para o reintegrar. Os acontecimentos desenrolaram-se da seguinte forma:
As queixas relativas às condições de segurança acumulavam-se e a empresa ignorava-as. O dirigente sindical não comparecia havia três meses. O delegado sindical Negro convocou uma reunião de todos os trabalhadores, a realizar diante dos portões da empresa, antes do início do turno da tarde. Notificou o representante sindical e o secretário-tesoureiro desta reunião, tendo-lhe sido dito que compareceriam. Quando se tornou evidente que não viriam, conduziu os trabalhadores de volta à oficina. Dois dias depois, convocou uma reunião do mesmo tipo. Mais uma vez, os dirigentes sindicais não compareceram.
À hora de início do turno, a empresa ordenou ao delegado sindical que dissesse aos trabalhadores para irem trabalhar. O delegado transmitiu-lhes essa ordem, mas acrescentou que, da sua parte, tencionava esperar fora da fábrica pelos dirigentes sindicais, mesmo que isso levasse toda a noite. A empresa despediu-o de imediato. Quando a seguir ordenou aos trabalhadores que retomassem o trabalho, recebeu como resposta um firme “De modo nenhum!”: permaneceriam cá fora até que os dirigentes sindicais comparecessem e até que o delegado sindical fosse readmitido.
Os operários brancos mais avançados começaram então a agitar em torno do facto de a empresa empregar apenas três trabalhadores Negros e dois chicanos, e de ser, na realidade, tão racista quanto a empresa onde ocorrera a primeira greve selvagem — sobretudo no que dizia respeito à discriminação na contratação e na promoção a cargos qualificados. Quando, uma semana mais tarde, os trabalhadores regressaram ao trabalho, a empresa teve de aceitar a exigência de pôr fim às suas práticas racistas, bem como a reivindicação da reintegração do delegado sindical. Foi decidido que um comité de trabalhadores do Terceiro Mundo se reuniria regularmente com a empresa para garantir que estas exigências fossem cumpridas.
Qual foi o papel dos membros da RU, brancos e chicanos, nestas greves selvagens, e quais as principais lições que retirámos?
Antes da primeira greve selvagem, agitámos bastante, falando sobre a necessidade de nos unirmos para lutar contra as queixas que se acumulavam. Uma vez iniciada a paralisação, passámos muito tempo a dialogar com os trabalhadores, salientando junto dos operários brancos a discriminação nacional em causa e colaborando com os trabalhadores chicanos para combater o representante sindical chicano, que procurava desmobilizar a greve. Mantivemos também a pressão sobre os outros dirigentes sindicais que apareceram depois do início da paralisação, tentando convencer os camaradas a regressarem ao trabalho antes de conquistarmos as nossas reivindicações.
O representante sindical chicano, ao perceber que a greve selvagem estava a “fugir ao controlo”, percorreu os postos de trabalho, dizendo a muitos trabalhadores chicanos que os Negros os iriam trair. A readmissão do operário Negro mais velho foi uma das primeiras reivindicações conquistadas, antes ainda da reintegração do delegado sindical chicano. Assim, o representante sindical dizia aos trabalhadores chicanos: agora que já obtiveram o que queriam, os Negros não se manterão em greve por vós. Mas os trabalhadores Negros deixaram claro que não regressariam enquanto todos não estivessem prontos para regressar, e até que houvesse uma resposta satisfatória no caso do delegado sindical chicano.
Para combater esta narrativa espalhada pelo representante sindical, os camaradas chicanos, juntamente com alguns trabalhadores chicanos mais avançados, dirigiram-se cedo à fábrica durante a greve selvagem, quando muitos operários chicanos ainda estavam a chegar. Falámos com eles — muitas vezes em espanhol, pois muitos falavam melhor essa língua do que inglês — e mostrámos-lhes qual era a intenção do representante sindical: quebrar a nossa unidade e virar os chicanos contra os Negros. Os trabalhadores chicanos perceberam isso e não caíram na armadilha do representante sindical. Assim, quando regressámos, regressámos juntos e firmes, e o delegado sindical chicano acabou por ser reintegrado.
Na segunda greve selvagem, não tínhamos camaradas a trabalhar diretamente nessa fábrica, mas os nossos camaradas da primeira deslocaram-se até lá durante a paralisação, antes e depois do trabalho, para conversar com os operários sobre a nossa experiência e as lições aprendidas na nossa própria greve. Vários dos trabalhadores mais avançados — brancos e do Terceiro Mundo — da primeira paralisação acompanharam-nos e desempenharam um papel muito ativo no apoio à segunda greve selvagem.
Ao sintetizar as lições destas greves selvagens, voltámos a ver a importância de os trabalhadores chicanos e do Terceiro Mundo assumirem a liderança, tanto nos movimentos do Terceiro Mundo como nas lutas de todos os trabalhadores. Aprendemos também algo sobre a atitude dos trabalhadores do Terceiro Mundo em relação aos sindicatos. Nas greves selvagens nos armazéns, tal como nas lutas nas fábricas de exploração intensiva (sweatshops), os trabalhadores viam claramente a empresa como o principal inimigo. Enfrentavam os dirigentes sindicais sempre que estes se interpunham na luta contra a empresa e batalhavam para obrigar o sindicato a lutar realmente por eles e a ser uma organização combativa dos trabalhadores. Mas não pretendiam destruir o sindicato, nem alhear-se dele, muito menos quando estavam a enfrentar a empresa.
Agiam em conjunto e, uma vez que sentiam a sua própria força, obrigavam os dirigentes sindicais a alinhar ou a sair do caminho. Não esperavam pela autorização do sindicato, mas também não atacavam o sindicato no seu todo. Especialmente nas greves selvagens, os trabalhadores sentiam grande orgulho em pertencer ao seu sindicato — este era visto como um sindicato “duro”, o que lhes dava confiança de que podiam enfrentar a empresa. A experiência de estarem sindicalizados — ainda que num sindicato que sabiam ser bastante corrupto — facilitava a sua organização e a forma de lidar com a empresa. Esta foi uma lição.
Uma lição ainda mais importante foi a forma como os trabalhadores, em particular os brancos, encaram a questão da “liderança do Terceiro Mundo”. Os trabalhadores em ambas as greves selvagens — sendo a esmagadora maioria de brancos — seguiram a liderança dos chicanos e dos Negros, porque viam que, ao lutar contra a discriminação e por questões económicas, estes conduziam uma luta em prol de todos os trabalhadores. Por outro lado, o facto de os trabalhadores Negros e chicanos enfrentarem a opressão nacional no trabalho e na comunidade significa que a sua luta e a sua consciência se encontram num patamar mais elevado, colocando-os na melhor posição para liderar as lutas de todo o conjunto da classe trabalhadora. É assim que surge a “liderança do Terceiro Mundo” no seio da classe operária. Durante a primeira greve selvagem, um trabalhador branco disse a alguns amigos que não trabalhavam na fábrica e que lhe perguntaram o que se passava: “Há muitas queixas, mas o principal é o maldito racismo da empresa!”.
Ao mesmo tempo, pelas nossas conversas com os trabalhadores brancos, é claro que ainda não compreendem a luta nas comunidades Negras e chicanas, nem a veem ainda como uma luta de todos os trabalhadores. Essa compreensão, para os trabalhadores brancos, virá através de novas lutas contra a discriminação e por reivindicações económicas, dirigidas pelos trabalhadores do Terceiro Mundo. É tarefa nossa, enquanto comunistas, ajudar os trabalhadores brancos a aprender, pela sua experiência de luta contra a discriminação — enquanto luta de todos os trabalhadores no local de trabalho — que isso constitui apenas uma parte de lutas nacionais mais amplas, também nas comunidades, que são igualmente do interesse de todos os trabalhadores.
Por fim, através destas greves selvagens compreendemos melhor a importância de uma organização comunista multinacional. Como tínhamos camaradas chicanos e brancos na fábrica onde ocorreu a primeira greve selvagem, pudemos estabelecer uma “divisão de trabalho”, em que os camaradas chicanos passavam a maior parte do tempo com os chicanos e também com os trabalhadores Negros, enquanto os camaradas brancos passavam a maior parte do tempo com os trabalhadores brancos. Mas esta “divisão de trabalho” ajudou-nos realmente a unificar todos os trabalhadores.
Além disso, por pertencerem à mesma organização comunista, os nossos camaradas Negros e brancos podiam reunir-se e planear conjuntamente como apoiar o desenvolvimento da greve selvagem, com base numa linha política e estratégia comuns. Aprendemos, de forma viva, que uma organização comunista multinacional pode construir a unidade da classe operária multinacional e fazer avançar a luta em direção à revolução proletária e à libertação de chicanos, Negros e de todos os trabalhadores.